View - Universidade Estadual do Ceará
View - Universidade Estadual do Ceará
View - Universidade Estadual do Ceará
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
XVIII, até as leituras foucaultianas sobre o desenvolvimento e a<br />
aplicação de tecnologias de poder, as discussões tomavam a polícia<br />
como um objeto inteiro, aparato funcional que "realizava" ações,<br />
avaliadas de forma positiva ou negativa (2008, p. 1).<br />
Nessas imagens, a cultura da polícia recebeu pouca importância para a<br />
compreensão <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> aparelho policial, não se dan<strong>do</strong> conta de que na<br />
interação cotidiana entre os agentes da polícia com suas tarefas e o público se<br />
constitui e se reproduz uma cultura profissional. Isso gerou um déficit de<br />
conhecimento sobre o policiamento real pratica<strong>do</strong> pela PM.<br />
A carência de conhecimento sistematiza<strong>do</strong> sobre a cultura policial militar, em<br />
parte, deve-se ao fato de a polícia, enquanto interesse da Sociologia como objeto e<br />
campo de estu<strong>do</strong>, ser relativamente recente. No mun<strong>do</strong>, as pesquisas sobre o tema<br />
surgiram na década de 1960 (BITTNER, 2003). No Brasil, as primeiras pesquisas só<br />
foram realizadas nos anos de 1980.<br />
De acor<strong>do</strong> com Reiner (2002), até anos relativamente recentes a maior parte<br />
das pesquisas acadêmicas e teorias sobre o policiamento eram dentro de apenas<br />
duas problemáticas críticas. Essa duas fases de análise <strong>do</strong> policiamento<br />
denominadas por ele de ‗estágio da controvérsia‘ e ‗estágio <strong>do</strong> conflito‘ se<br />
desenvolveram durante os anos 1970 e 1980. O primeiro foi caracteriza<strong>do</strong> pela<br />
preocupação com a análise <strong>do</strong> desvio da policia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de direito e como isso<br />
poderia ser regulamenta<strong>do</strong>. O segun<strong>do</strong>, nas palavras <strong>do</strong> autor:<br />
foi caracteriza<strong>do</strong> por análises mais estruturalistas e radicais, que<br />
identificavam as raízes da pratica policial não na cultura ou<br />
microinteração <strong>do</strong>s policiais de baixas patentes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
policial, mas no lugar que a polícia ocupava dentro o aparato <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>. [...] A preocupação central, nesta perspectiva, era a<br />
construção de canais adequa<strong>do</strong>s para a responsabilização<br />
democrática da organização policial (REINER, 2002, p. 85). (negrito<br />
nosso)<br />
Entre nós, Alba Zaluar, em estu<strong>do</strong> sobre violência e crime, realizou um<br />
amplo levantamento da produção acadêmica sobre a segurança pública na década<br />
de 1990. Aí, as pesquisas sobre polícia aparecem apenas como um subtema.<br />
Mesmo assim, o diagnóstico da pesquisa<strong>do</strong>ra serve para nos dar uma noção da<br />
importância que esse objeto de estu<strong>do</strong> recebia à época da redemocratização <strong>do</strong><br />
país. Em suas palavras:<br />
no balanço da produção acadêmica <strong>do</strong>s cientistas sociais brasileiros,<br />
14