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3 A ESTRUTURA DA PM E A ESTRUTURAÇÃO DAS AÇÕES POLICIAIS<br />
MILITARES<br />
A compreensão da influência <strong>do</strong> ethos policial militar sobre as condutas<br />
concretas <strong>do</strong>s agentes da PM pressupõe um delineamento da relação entre a<br />
coletividade PM e o policial singular, entre o indivíduo e a sociedade, no que tange à<br />
relação entre estrutura e ações individuais, destacan<strong>do</strong>-se que a relação entre os<br />
indivíduos e a sociedade é uma coisa ímpar, que não encontra analogia em<br />
nenhuma outra esfera da existência (ELIAS, 1994, p. 25).<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, é de se notar inicialmente que os conceitos de sociedade e<br />
de individuo na tradição sociológica, conforme adverte Norbert Elias, fazem com que<br />
o ser humano singular e a pluralidade das pessoas pareçam ser duas entidades<br />
ontologicamente diferentes 28 (idem, p. 7). De forma que, houve na evolução da<br />
teoria sociológica uma polarização entre a concepção da sociedade como algo<br />
supra-individual e a ideia de que o indivíduo existe antes e independentemente da<br />
sociedade. Por isso, na análise <strong>do</strong>s problemas sociais, quase sempre se tencionou a<br />
discussão entre esses <strong>do</strong>is extremos. Nas palavras <strong>do</strong> próprio Elias:<br />
Qualquer ideia que aluda a essa disputa, por mais remotamente que<br />
seja, é infalivelmente interpretada como uma tomada de posição a<br />
favor de um la<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> outro, como uma apresentação <strong>do</strong> indivíduo<br />
enquanto ―fim‖ e da sociedade enquanto ―meio‖, ou uma visão da<br />
sociedade como o mais ―essencial‖, o ―objetivo mais alto‖, e <strong>do</strong><br />
indivíduo como o ―menos importante‖, o ―meio‖ (1994, p. 18).<br />
A advertência de Elias nos permite considerar que a organização de uma<br />
análise em termos de duas entidades ontologicamente diferentes, ou seja, como se<br />
o policial singular e a pluralidade de policiais, a PM, fossem duas substâncias<br />
distintas, compromete a interpretação <strong>do</strong>s problemas sociais daí decorrentes. Nas<br />
palavras <strong>do</strong> mesmo, esse tipo de esquema analítico acaba abrin<strong>do</strong> ―um<br />
intransponível abismo mental entre os fenômenos sociais e individuais‖ (Elias, 1994,<br />
p. 25), que para serem compreendi<strong>do</strong>s não podem ser pensa<strong>do</strong>s em termos de<br />
substâncias isoladas únicas, antes, porém, precisam ser pensa<strong>do</strong>s em termos de<br />
relações e funções.<br />
28 Segun<strong>do</strong> Elias, é um erro aceitar sem questionamento a natureza antitética <strong>do</strong>s conceitos de<br />
‗indivíduo‘ e ‗sociedade‘. Em suas palavras, ―o uso lingüístico que nos inclina a fazê-lo tem data<br />
relativamente recente‖. Cf. ELIAS, Norbert. A Sociedade <strong>do</strong>s Indivíduos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de<br />
Janeiro: Jorge Zahar ed., 1994, p. 129.<br />
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