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quase metade das abordagens no interior de ônibus ou trem, e<br />

particularmente obrigatório nas abordagens de pedestres (77% <strong>do</strong>s<br />

casos). Mais da metade (55%) das pessoas autoclassificadas como<br />

pretas e metade <strong>do</strong>s jovens de 15 a 24 anos para<strong>do</strong>s pela polícia, a<br />

pé ou em outras situações, disseram ter sofri<strong>do</strong> revista corporal,<br />

contra 33% <strong>do</strong> total de brancos par<strong>do</strong>s e 25% de pessoas na faixa<br />

etária de 40 a 65 anos. As pessoas com renda mensal até cinco<br />

salários mínimos sofreram revista em mais de 40% <strong>do</strong>s casos,<br />

enquanto aquelas com renda superior a cinco salários, somente em<br />

17% <strong>do</strong>s casos (Ramos, Musumeci, 2005, p. 211).<br />

Isso gera uma enorme falta de legitimidade da polícia, conforme<br />

demonstra o estu<strong>do</strong> sobre o controle externo da Polícia no Brasil que culminou com<br />

a obra ―Quem Vigia os Vigias?‖ 70 . Nesse trabalho, os autores relatam a falta de<br />

legitimidade das instituições de segurança pública, percebidas com desconfiança,<br />

descrédito e me<strong>do</strong> pela população. E, não por acaso, o grau de desconfiança é<br />

maior entre os segmentos que se sentem mais visa<strong>do</strong>s pela arbitrariedade policial,<br />

como os jovens de baixa renda, os negros, os mora<strong>do</strong>res de favelas e outras<br />

minorias sociais.<br />

Observam os pesquisa<strong>do</strong>res que a Polícia trata todas as pessoas pobres<br />

e negras como suspeitas ou, pior, como não cidadãos aos quais não se aplicam as<br />

leis <strong>do</strong> País – atitude muito diferente da que a mesma polícia exibe nos bairros ricos<br />

da cidade ou junto aos segmentos da população que podem fazer valer seus<br />

direitos:<br />

Olha só, um desvio de conduta que eu acho, e que infelizmente a<br />

gente passa, é a conduta de vários policiais quan<strong>do</strong> estão fazen<strong>do</strong><br />

um blitz dentro <strong>do</strong> ônibus. Está um negro senta<strong>do</strong> la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> (...),<br />

justamente naquela pessoa que está ali humilde, descansan<strong>do</strong> (...),<br />

levanta, <strong>do</strong>cumento, essa coisa toda, você passa pelo<br />

constrangimento, às vezes, tira você <strong>do</strong> veículo. Às vezes, você só<br />

tem aquele dinheiro da passagem, tem que pedir carona, como já<br />

aconteceu comigo. Até estava com a minha filha. Me tiraram <strong>do</strong><br />

veículo com a minha filha, porque acharam que eu era suspeito.<br />

Foram lá, viram que eu não tinha nada, e aí, como é que eu faço? É<br />

uma realidade <strong>do</strong> que fazem conosco contra os negros. (Lemgruber<br />

et al, 2003, p. 48)<br />

Na citada pesquisa, os relatos <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da classe média, que,<br />

embora tendessem a enfatizar mais a corrupção, a omissão e a ineficácia como<br />

motivos de seu descrédito em relação à polícia, ao serem ouvi<strong>do</strong>s nos grupos focais,<br />

sublinharam também o tratamento diferencia<strong>do</strong> que a Polícia dispensa às distintas<br />

70 LEMGRUBER, Julita et al. Quem vigia os vigias?. Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

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