View - Universidade Estadual do Ceará
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partir <strong>do</strong>s parâmetros teóricos <strong>do</strong> modelo da dualidade da estrutura de Giddens pode<br />
contribuir para a compreensão de nosso problema. Cumpre, pois, passar em revista<br />
alguns conceitos da teoria da estruturação.<br />
No pensamento de Giddens, a estrutura é ―o conjunto de regras e recursos<br />
implica<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> recursivo, na reprodução social‖ (2003, p. 29) e não somente<br />
um sistema de constrangimento ou coerção 38 . Ela é formada pela atividade humana,<br />
mas é também e concomitantemente meio para a constituição dessa atividade, de forma<br />
que, não há primazia da estrutura ou da ação 39 . Nesse senti<strong>do</strong>, o próprio autor<br />
esclarece seu conceito de estrutura:<br />
Falo de propriedades estruturais de organizações e sistemas, e não<br />
de algo análogo à estrutura física de um prédio, algo que se poderia<br />
ver de um mo<strong>do</strong> concreto. A estrutura tem de ser pensada em termos<br />
da recursividade da vida social. Não é algo que esteja lá<br />
simplesmente, ela passa pela ação <strong>do</strong>s indivíduos, e nesse senti<strong>do</strong><br />
há semelhanças interessantes entre as estruturas de sistemas e a<br />
estrutura da lingüagem 40 , pois esta só existe na medida em que as<br />
pessoas falam, mas tem continuidade dentro de comunidades,<br />
através <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaço. E as pessoas falam uma determinada<br />
língua enquanto sabem as formas e regras para fazê-lo. Há algo<br />
coercitivo nisso, mas não é preciso recorrer a Durkheim para explicar<br />
essas questões. Na sociologia orto<strong>do</strong>xa buscam-se causas sociais,<br />
mas estas na verdade só existem através da ação <strong>do</strong>s indivíduos. A<br />
estrutura para mim tem <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s: é tanto habilita<strong>do</strong>ra como<br />
coercitiva (DOMINGUES; HERZ; REZENDE; 1992).<br />
No que concerne à configuração das ações <strong>do</strong>s agentes da PM, a dualidade da<br />
estrutura implica constrangimentos ou limitações e habilitações ou possibilidades para as<br />
ações <strong>do</strong>s mesmos, de forma a viabilizar ou restringir mo<strong>do</strong>s de comportamento policial<br />
no contexto sócio-histórico próprio da instituição. Dessa forma, pode-se atribuir à<br />
estrutura da PM um papel importante no que tange à práxis policial militar.<br />
38 Giddens observa que há três senti<strong>do</strong>s de coerção. A coerção material que é aquela resultante <strong>do</strong><br />
caráter <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> material e das qualidades físicas <strong>do</strong> corpo. A que diz respeito à sanção, que é a<br />
coerção resultante de respostas punitivas por parte de alguns agentes em relação a outros. E, a<br />
coerção estrutural, aquela resultante da contextualidade da ação, isto é, <strong>do</strong> caráter ―da<strong>do</strong>‖, de<br />
propriedades estruturais vis-à-vis com atores situa<strong>do</strong>s. É com este último senti<strong>do</strong>, é claro, que<br />
estamos empregan<strong>do</strong> a expressão. Cf. GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. Tradução:<br />
Álvaro Cabral. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 205 e ss.<br />
39 Como se sabe, a ênfase num destes senti<strong>do</strong>s conduz respectivamente ao que se chama<br />
objetivismo e subjetivismo.<br />
40 Noutro local, Giddens faz a seguinte analogia da estruturação com a linguagem: ―a linguagem tem<br />
de ser estruturada socialmente — existem características da utilização da linguagem que qualquer<br />
ora<strong>do</strong>r tem de observar. O que alguém diz num determina<strong>do</strong> contexto, por exemplo, não faria senti<strong>do</strong><br />
se não seguisse um certo conjunto de regras gramaticais. Contu<strong>do</strong>, as qualidades da linguagem<br />
apenas existem, na medida em que os indivíduos que a utilizam seguem realmente estas regras na<br />
prática. A linguagem está constantemente em processo de estruturação‖. Ibidem, p. 670.<br />
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