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2008, p. 119). Contra essa ideia, lembra Amossy, que nas críticas <strong>do</strong> mesmo a<br />

Austin em O que falar quer dizer, Bourdieu propunha:<br />

[...] um poder exterior ao verbo, ancora<strong>do</strong> nos quadros institucionais<br />

e nos rituais sociais. Segun<strong>do</strong> o autor, a ação exercida pelo ora<strong>do</strong>r<br />

sobre seu auditório não é de ordem linguageira, mas, social; sua<br />

autoridade não depende da imagem de si que ele produz em seu<br />

discurso, mas de sua posição social e de suas ‗possibilidades de<br />

acesso à palavra oficial orto<strong>do</strong>xa, legítima‘ (AMOSSY, 2008, p. 119-<br />

120).<br />

No esquema analítico de Bourdieu, ethos não se confunde com habitus,<br />

sen<strong>do</strong> um componente deste. Em Questões de Sociologia, o autor ao responder<br />

sobre a relação entre ethos e habitus, esclarece que ethos significa que a conduta<br />

<strong>do</strong>s atores é efetivamente regulada por princípios de escolhas práticas<br />

valorativamente orientadas, por princípios interioriza<strong>do</strong>s que guiam nossa conduta.<br />

De forma que, ―a força <strong>do</strong> ethos é ter-se torna<strong>do</strong> uma moral‖ (BOURDIEU, 1983, p.<br />

104), influencian<strong>do</strong> a forma como percebemos o mun<strong>do</strong>. Sobre isso, esclarece<br />

Bonnewitz:<br />

[...] podemos distinguir <strong>do</strong>is componentes <strong>do</strong> habitus. Falaremos de<br />

ethos para designar os princípios ou os valores em esta<strong>do</strong> prático, a<br />

forma interiorizada e não-consciente da moral que regula a conduta<br />

cotidiana: são os esquemas em ação, mas de maneira inconsciente<br />

(o ethos se opõe assim à ética, que é a forma teórica, argumentada,<br />

explicitada e codificada da moral). A hexis corporal corresponde às<br />

posturas, disposições <strong>do</strong> corpo, relações ao corpo, interiorizadas<br />

inconscientemente pelo indivíduo ao longo de sua história (2003, p.<br />

77).<br />

E, esclarecen<strong>do</strong> um pouco mais, o mesmo autor exemplifica:<br />

O habitus é simultaneamente a grade de leitura pela qual<br />

percebemos e julgamos a realidade e o produtor de nossas<br />

práticas; estes <strong>do</strong>is aspectos são indissociáveis. O habitus está na<br />

base daquilo que, no senti<strong>do</strong> corrente, define a personalidade de<br />

um indivíduo. Nós mesmos temos a impressão de termos nasci<strong>do</strong><br />

com essas disposições, com esse tipo de sensibilidade, com essa<br />

maneira de agir e reagir, com essas “maneiras” e com esse<br />

estilo. Na verdade, gostar mais de cerveja <strong>do</strong> que de vinho, de<br />

filmes de ação <strong>do</strong> que de filmes políticos, votar na direita mais<br />

<strong>do</strong> que na esquerda são produtos <strong>do</strong> habitus. Do mesmo mo<strong>do</strong>,<br />

andar com o tronco ergui<strong>do</strong> ou curva<strong>do</strong>, ser desajeita<strong>do</strong> ou ter<br />

facilidade nas relações interpessoais são manifestações da hexis<br />

corporal. Enfim, considerar determina<strong>do</strong> indivíduo como<br />

pequeno, mesquinho, ou, generoso, brilhante, depende <strong>do</strong> ethos<br />

(BONNEWITZ, 2003, p. 78). (negrito nosso)<br />

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