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Repousava as mãos no colo. Um dos soldados sentados atrás me ofereceu um<br />

cantil com água e aceitei, embora não conseguisse beber. O soldado era jovem e<br />

quando lhe devolvi o cantil, sorriu sem nenhum traço de malícia no rosto. A imagem<br />

de Phil em pânico me passou pela mente. Que iam fazer com ele?<br />

Ocorreu-me a idéia de que o encontro com Phil naquele cume tinha sido uma<br />

coincidência. Qual o seu significado? Sobre o que teríamos conversado se não<br />

tivéssemos sido interrompidos? Na verdade, eu só fizera acentuar a importância do<br />

Manuscrito, e ele só fizera me advertir do perigo ali e me aconselhar a cair fora antes<br />

que fosse capturado. Infelizmente, esse aviso chegara tarde demais.<br />

Durante várias horas rodamos sem ninguém falar. O terreno lá fora tornava-se<br />

cada vez mais plano. O ar esquentava. Num certo ponto, o jovem soldado me passou<br />

uma lata de ração C, uma coisa semelhante a picadinho, porém mais uma vez não<br />

consegui que nada descesse. Depois do pôr-do-sol, a luz diminuiu rapidamente.<br />

Eu seguia sem pensar, olhando direto em frente os faróis do caminhão, e depois<br />

resvalei para um sono agitado, durante c qual sonhei que estava em fuga. Corria<br />

desesperado de um inimigo desconhecido, em meio a fogueiras imensas, certo de que<br />

em algum lugar havia uma chave secreta que abriria o caminho ao conhecimento e à<br />

segurança. No meio de uma dessas fogueiras gigantes, vi a chave. Lancei-me ao fogo<br />

para recuperá-la.<br />

Acordei num sobressalto. Os soldados me olharam nervosos. Balancei a cabeça<br />

e encostei-a na porta do caminhão. Durante longo tempo fiquei olhando pela janela<br />

lateral as formas escuras da paisagem, lutando contra a tendência a entrar em pânico.<br />

Eu estava só e sob guarda, penetrando na escuridão, e ninguém se preocupava com<br />

meus pesadelos.<br />

Lá pela meia-noite paramos junto a um prédio pouco iluminado, feito de pedra<br />

talhada e de dois andares. Atravessamos a porta da frente por um passadiço e<br />

entramos numa porta lateral. Uma escada levava a um corredor estreito. As paredes<br />

internas também eram de pedra, e o teto de vigas grandes e pranchas não aparelhadas.<br />

Lâmpadas fracas iluminavam o caminho, penduradas do teto. Cruzamos uma outra<br />

porta e entramos numa área de celas. Um dos soldados que desaparecera nos<br />

alcançou, abriu uma das portas da cela e me indicou com um gesto que entrasse.<br />

Dentro havia três catres, uma mesa de madeira e um vaso de flores. Para minha<br />

surpresa, a cela estava muito limpa. Quando entrei, um jovem peruano, de não mais<br />

de dezoito ou dezenove anos, me olhou mansamente de trás da porta. O soldado<br />

passou a chave atrás de mim e afastou-se. Sentei-me num dos catres, enquanto o<br />

jovem estendia o braço e acendia um lampião a óleo. Quando a luz iluminou seu<br />

rosto, notei que era índio.<br />

— Você fala inglês? — perguntei.<br />

— Sim, um pouco — ele respondeu.<br />

— Onde estamos?<br />

— Perto de Pullcupa.<br />

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