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— E estamos. É por isso que estou voltando ao Peru. Represento dez cientistas<br />

de renome, todos exigindo que o Manuscrito original seja dado a público. Mandei<br />

uma carta para os chefes de departamento que atuam no governo peruano,<br />

informando-os de que estava vindo e esperava cooperação.<br />

— Entendo. Me pergunto como eles vão reagir.<br />

— Provavelmente com negativas. Mas pelo menos será um começo oficial.<br />

Ele se virou para o outro lado, absorto em pensamentos, e eu voltei a olhar para<br />

fora da janela. Olhando para baixo, ocorreu-me que o avião em que viajávamos<br />

continha em sua tecnologia quatro séculos de progresso. Muito havíamos aprendido<br />

sobre a manipulação dos recursos que encontráramos na Terra. Quantas pessoas,<br />

pensei, quantas gerações foram necessárias para criar os produtos e a compreensão<br />

que permitiram a existência deste avião? E quantas passaram toda a sua vida<br />

concentradas num único aspecto mínimo, um pequeno passo, sem jamais erguer a<br />

cabeça daquela preocupação?<br />

De repente, naquele instante, o período histórico que eu e Dobson estivéramos<br />

discutindo pareceu integrar-se plenamente em minha consciência. Eu podia ver o<br />

milênio claramente, como se fosse parte da história da minha própria vida. Há mil<br />

anos, vivíamos num mundo em que Deus e a espiritualidade humana eram claramente<br />

definidos. E depois o perdêramos, ou melhor, decidíramos que havia outras coisas na<br />

história. Portanto, enviáramos exploradores para descobrir a verdadeira realidade e<br />

nos relatá-la na volta, e como eles tinham levado demasiado tempo, nós nos<br />

interessáramos por um objetivo novo e secular, o de dominar o mundo e ficar mais à<br />

vontade.<br />

E nos instaláramos. Descobríramos que podíamos fundir minérios metálicos e<br />

modelá-los em todos os tipos de engenhocas. Inventamos fontes de energia, primeiro<br />

a vapor, depois a gás, elétrica e atômica. Programamos a agricultura e a produção em<br />

massa, e agora éramos donos de imensos estoques de bens materiais e vastas redes de<br />

distribuição.<br />

Propulsionando tudo isso estava o apelo ao progresso, o desejo do indivíduo de<br />

proporcionar-se segurança, seu próprio objetivo enquanto esperava pela verdade.<br />

Decidíramos criar uma vida mais confortável e agradável para nós e nossos filhos, e<br />

em breves quatrocentos anos nossa preocupação havia criado um mundo onde todos<br />

os confortos da vida podiam agora ser produzidos. O problema era que nosso impulso<br />

concentrado, obsessivo, de conquistar a natureza e ficar mais à vontade deixara os<br />

sistemas naturais do planeta poluídos e à beira do colapso. Não podíamos continuar<br />

nesse caminho.<br />

Dobson tinha razão. A Segunda Visão fazia nossa nova consciência parecer de<br />

fato inevitável. Estávamos atingindo um clímax em nosso objetivo cultural.<br />

Estávamos conseguindo o que coletivamente tínhamos decidido fazer e, enquanto isso<br />

ocorria, nossa preocupação desmoronava e despertávamos para uma outra coisa. Eu<br />

quase podia sentir o impulso da Idade Moderna diminuindo à medida que nos<br />

aproximávamos do final do milênio. Uma obsessão de quatrocentos anos fora<br />

concluída. Tínhamos criado os meios de segurança material e agora parecíamos<br />

prontos — em posição, na verdade — para descobrir por que tínhamos feito isso.<br />

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