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As montanhas haviam-se transformado em altas cordilheiras e vales distantes. A<br />

vegetação era mais grosseira agora, as árvores menores e açoitadas pelo vento.<br />

Inspirando profundamente, notei que o ar estava mais rarefeito e frio.<br />

— Melhor vestir esta jaqueta — disse Wil, tirando um blusão de brim marrom<br />

de uma sacola.—Vai fazer frio aqui esta tarde.<br />

Adiante, onde a estrada fazia uma curva, vimos um cruzamento estreito. De um<br />

lado, perto de uma loja branca de madeira e um posto de gasolina, havia um veículo<br />

estacionado com o capo aberto. Ferramentas espalhavam-se sobre um pano que cobria<br />

o pára-choque. Quando passamos por ele, um homem louro saiu da loja e nos olhou<br />

por um breve instante. Tinha a cara redonda e usava óculos de armação escura.<br />

Olhei atentamente o homem, a mente voltando cinco anos atrás.<br />

— Sei que não era ele — eu disse a Wil. — Mas aquele cara parece com um<br />

amigo com quem eu trabalhava. Não pensava nele há anos.<br />

Notei que Wil me estudava.<br />

— Eu disse para você observar as coisas com atenção — disse. — Vamos voltar<br />

e ver se o cara precisa de alguma ajuda. Não parece uma pessoa do lugar.<br />

Encontramos um local onde os braços da estrada eram suficientemente largos e<br />

viramos. Quando voltamos à loja, o homem trabalhava no motor. Wil encostou na<br />

bomba de gasolina e se esticou para fora da janela.<br />

— Você parece estar com problemas — disse.<br />

O homem empurrou os óculos nariz acima, um hábito que meu amigo também<br />

tinha.<br />

— É — ele respondeu. — Perdi a bomba d'água.<br />

Parecia ter quarenta e poucos anos, e era de constituição franzina. Falava um<br />

inglês formal, com sotaque francês.<br />

Logo Wil estava fora do veículo, apresentando-nos. O homem me estendeu a<br />

mão com um sorriso que me pareceu familiar. Chamava-se Chris Reneau.<br />

— Você parece francês — eu disse.<br />

— E sou — ele respondeu. — Mas ensino psicologia no Brasil. Estou aqui no<br />

Peru em busca de informação sobre um artefato arqueológico que descobriram, um<br />

manuscrito.<br />

Hesitei um instante, incerto sobre o quanto podia confiar nele.<br />

— Estamos aqui pelo mesmo motivo — disse afinal. Ele me olhou com<br />

profundo interesse.<br />

— Que pode me dizer a respeito. Viu cópias? Antes que eu conseguisse<br />

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