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me emocionou. Sem medo algum, saí correndo para falar com ele. Sabia exatamente o<br />

que dizer e fazer. Tinha uma sensação de perfeito bem-estar. Mas para minha surpresa<br />

ele desaparecera. À direita, outra estrada voltava para o vale lá embaixo, mas não vi<br />

ninguém daquele lado. Segui em frente na estrada principal, mas também não vi<br />

ninguém. Pensei em retornar e tomar a estrada pela qual passara, mas sabia que a<br />

aldeia ficava em frente, e por isso continuei andando naquela direção. Contudo, voltei<br />

a pensar várias vezes mais na outra estrada.<br />

Uns cem metros adiante, ao dobrar outra curva, ouvi o roncar de veículos.<br />

Através das árvores, vi uma fila de caminhões militares aproximando-se em alta<br />

velocidade. Hesitei por um momento, achando que podia enfrentá-los, mas aí me<br />

lembrei do terror do tiro na montanha.<br />

Só tive tempo de me jogar fora da estrada à direita e ficar deitado imóvel. Dez<br />

jipes passaram zunindo por mim. Eu caíra num lugar completamente exposto, e minha<br />

única esperança era que ninguém olhasse em minha direção. Cada veículo passava a<br />

uns sete metros de mim. Eu podia sentir o cheiro da fumaça dos canos de descarga e<br />

ver a expressão em cada rosto.<br />

Felizmente, ninguém me viu. Depois que todos haviam passado, eu me arrastei<br />

para trás de uma árvore grande. Tinha as mãos trêmulas, e fora-se inteiramente minha<br />

sensação de paz e concentração. Uma ponta de já conhecida ansiedade me<br />

embrulhava o estômago. Finalmente, fui-me aproximando aos poucos da estrada. O<br />

barulho de outros veículos me fez descer de novo a encosta correndo, enquanto dois<br />

outros jipes passavam em alta velocidade. Eu me sentia enjoado.<br />

Desta vez me mantive bem longe da estrada e retrocedi por onde viera,<br />

movendo-me com cuidado. Cheguei à estrada por onde passara antes. Depois de<br />

escutar atentamente, tentando ouvir algum som ou movimento, decidi caminhar pela<br />

floresta ao lado dela, voltando ao vale num arco. Sentia de novo o corpo pesado. Que<br />

andara eu fazendo, perguntava-me. Por que estivera andando pela estrada? Devia ter<br />

estado louco, iludido pelo choque do tiro, em transe devido a um estado de euforia.<br />

Entre na realidade, disse a mim mesmo. Precisa tomar cuidado. Tem gente aqui que o<br />

mata se você cometer o menor engano!<br />

Parei. À minha frente, talvez a uma centena de metros, estava o padre. Sentavase<br />

sob uma árvore frondosa, cercada de inúmeras rochas. Enquanto eu o olhava, ele<br />

abriu os olhos e olhou direto para mim. Recuei, mas ele apenas sorriu e me fez um<br />

sinal para que me aproximasse.<br />

Aproximei-me cautelosamente dele, que continuou imóvel, um homem alto e<br />

magro, de seus cinqüenta anos. Tinha o cabelo cortado curto e castanho-escuro,<br />

combinando com os olhos.<br />

— Parece estar precisando de alguma ajuda — disse, em inglês perfeito.<br />

— Quem é você? — perguntei.<br />

— Sou padre Sanchez. E você?<br />

Expliquei quem eu era e de onde viera, desabando tonto sobre um joelho, e<br />

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