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— Que diz o Manuscrito exatamente? — perguntei.<br />
— Diz que no fim do segundo milênio, ou seja, agora, seremos capazes de ver<br />
todo esse período histórico como um todo, e identificaremos uma determinada<br />
preocupação que surgiu durante a última metade deste milênio, no que foi chamado de<br />
Idade Moderna. Nossa consciência das coincidências hoje representa uma espécie de<br />
despertar dessa preocupação.<br />
— Que preocupação? — perguntei. Ele me lançou um sorriso meio maroto.<br />
— Está disposto a tornar a viver o milênio?<br />
— Lógico, me conte.<br />
— Não basta que eu lhe conte. Lembre-se do que eu disse antes: para<br />
compreender a história, temos de compreender como se desenvolveu nossa própria<br />
visão cotidiana do mundo, como foi criada pela realidade das pessoas que nos<br />
precederam. Foram necessários mil anos para a evolução do modo moderno de ver as<br />
coisas, e para você entender realmente onde está hoje, é preciso remontar ao ano<br />
1000, e daí avançar por todo o milênio, experimentando-o, como se você próprio<br />
tivesse de fato vivido todo o período numa única vida.<br />
— Como faço isso?<br />
— Eu o oriento.<br />
Hesitei um momento, olhando pela janela as formações de terra muito abaixo. O<br />
tempo já parecia diferente.<br />
— Vou tentar — eu disse por fim.<br />
— Tudo bem — ele respondeu. — Se imagine vivendo no ano 1000, no que<br />
chamamos de Idade Média. A primeira coisa que tem de entender é que a realidade<br />
dessa época está sendo definida pelos poderosos eclesiásticos da Igreja cristã. Devido<br />
à sua posição, esses homens exercem grande influência sobre a mente da população. E<br />
o mundo que esses eclesiásticos descrevem como real é, acima de tudo, espiritual.<br />
Estão criando uma realidade que põe a idéia que eles fazem do plano de Deus para a<br />
humanidade no centro mesmo da vida.<br />
"Visualize isso", ele prosseguiu. "Você se descobre na classe de seu pai —<br />
essencialmente camponês ou aristocrata — e sabe que vai ficar sempre confinado<br />
nessa classe. Mas independentemente da classe a que pertença, ou do trabalho<br />
determinado que faça, logo compreende que a posição social é secundária em relação<br />
à realidade espiritual da vida como definida pelos clérigos.<br />
"Descobre que a vida é passar numa prova espiritual. Os eclesiásticos explicam<br />
que Deus pôs a humanidade no centro de seu universo, cercado por todo o cosmos,<br />
para uma finalidade solitária: conquistar ou perder a salvação. E nesse julgamento<br />
você tem de escolher corretamente entre duas forças opostas: a força de Deus e as<br />
tentações ocultas do diabo.<br />
"Mas entenda que você não enfrenta essa disputa sozinho", ele continuou. "Na<br />
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