Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

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A nova pele d Ele detestava-se. Os fãs adoravam-no. Ele é Brian Molko, líder dos Placebo, grupo que procura regene r Um cantor rock desequilibrado, com problemas de dependência de álcool e drogas, olhos pintados, pele pálida, sexualmente ambíguo, solitário, apesar de ter banda, os Placebo. Era essa a nossa imagem de Brian Molko, cantor, guitarrista, líder dos Placebo desde há quinze anos, quando entrámos num hotel de Paris para o entrevistar. À saída, a nossa perspectiva tinha mudado. O próprio admite-o: está a transformar-se. Por agora é mais desejo que realização, mas está a acontecer. Depois de anos de excessos, o grupo mudou de baterista, está a encarar o negócio da música de forma diferente, tendo saído da editora de há muitos anos, e quis, no novo álbum, “Battle Of The Sun”, deixar a claustrofobia do anterior “Meds”, concentrando-se num rock mais solto. Também neste capítulo, a ambição ainda não se materializou por completo, mas já esteve mais longe. Hoje os Placebo tocam no Festival Optimus Alive, ao lado dos Prodigy, Eagles Of Death Metal ou Ting Tings. Em Paris, fomos encontrar Brian Molko na companhia dos outros dois membros dos Placebo: Steven Forrest e Stefan Olsdal. Nos dois últimos concertos em Lisboa sentia-se tensão entre os músicos. Num deles [Creamfields 2007] abandonaram o palco antes do previsto. De vez em quando são notícia por situações semelhantes. Têm essa percepção? Brian Molko - Sim. Mas é necessário separar as histórias. Um concerto envolve sempre uma série de riscos. Muitos deles podem ser preparados, mas também existem aqueles que não se podem controlar, do clima à reacção do público. Isso é uma coisa. A outra é a relação que se estabelece entre os músicos, no palco. Claro que, nesse contexto, aquilo que é exposto é a relação que se estabelece entre os músicos e, no nosso caso, nos últimos anos, essa relação era tensa. Pouco amistosa. O desejo de mudança exposto neste álbum nasce daí? B.M. - Não só, mas também. Claro que havia divergências musicais, e também pessoais, com o baterista Steven Hewitt, daí termos optado por mudar. No final da última digressão já quase não falávamos, existia tensão constante entre nós. E, sim, claro que isso devia ser amplificado para o palco, onde há uma energia especial. Necessitávamos de alguém que tivesse uma atitude mais disponível e, depois de alguma procura, encontrámos a pessoa certa - Steven Forrest. Como é entrar para um grupo - que acaba por ser um duo - já com dinâmicas instituídas? Steven Forrest - Foi fácil. Fui muito bem recebido. A minha anterior banda, os Evaline, abriram para os Placebo numa altura em que mal os conhecia. Mais tarde, quando soube que Steve Hewitt tinha saído, abriu-se esta possibilidade. Sei que parece um cliché mas estávamos destinados a encontrarnos numa banda, de tal forma as nossas mentes funcionam bem quando 14 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon Brian Molko, Steven Forrest e Stefan Olsdal Música
dos Placebo e rar-se em “Battle Of The Sun”, o álbum que apresenta hoje no Optimus Alive! Vítor Belanciano, em Paris estamos a compor. O primeiro concerto com eles foi no Camboja, junto a um templo budista do séc. XII. Estávamos nervosos, mas correu bem. Foi superdivertido. De repente, com eles, estava a tocar para 60 ou 80 mil pessoas e isso muda tudo. É uma experiência que muda a tua vida. É incrível! Stefan Olsdal - Ao nosso lado não diz “toda a verdade”... [risos]. S.F. - Tocar ao lado deles, começou por ser uma grande responsabilidade, para se transformar num grande prazer. B.M. - Foi este optimismo, californiano, que nos conquistou. É muito entusiasta e positivo e isso é, sem dúvida, importante. O novo álbum é, precisamente, mais optimista. “Meds” era claustrofóbico. “Battle Of The Sun” já é uma declaração de intenções. B.M. - Sim, depois de “Meds” estávamos à beira do fim. A relação entre nós era difícil, estávamos no final do contrato com a editora, não sabíamos o que fazer. Mas essa parede que se levantou à nossa frente obrigou-nos a pensar o que queríamos para o futuro. Não sabemos fazer mais nada. Esta é a nossa vida. Percebemos que se queríamos ter um grupo iríamos precisar uns dos outros e demo-nos a nós próprios espaço para reflectir. Pusemonos em causa e isso foi fundamental. De alguma forma, os Placebo haviamse transformado num emprego com rotinas, e também defesas, que nos isolaram. Quisemos tentar recuperar o espírito de grupo dos primeiros tempos. Sou sincero: não sei se o iremos conseguir por completo, mas estamos no processo de tentar e estamos a divertir-nos como há muito não acontecia. E, sim, devemos isso também a Steven. Na forma como abordaram o disco o que resultou diferente? B.M. - Desta vez fomos um verdadeiro grupo. Não vou mentir. Claro que existe a consciência de que é sobre mim que recaem muitas das atenções, mas também existe a consciência de que precisamos uns dos outros. Quando isso terminar, mais vale cada um ir para o seu canto. S.O. - Quase que nos obrigámos a ouvir todos os géneros de música, menos rock. Quisemos sair das rotinas. Foi também por isso que optámos por sair de Londres e acabámos em Toronto. “Meds” respirava muito Londres e queríamos uma coisa mais isenta. B.M. - Ninguém nos pressionou e essa foi outra diferença importante. Não tivemos ninguém a dizer-nos: “Deviam ir por aqui ou por ali” ou a propor para single esta ou aquela canção. Não é que essas coisas nos tenham influenciado no passado, mas também não nos passam completamente ao lado. Desta vez, estávamos entregues a nós próprios e funcionou muito bem. Se o grupo terminasse, imaginavam-se a fazer o quê? B.M. - Desde a adolescência que não faço outra coisa. Inicialmente aquilo que me seduzia era o cinema. Depois foi a música. Sempre me interessaram coisas onde fosse possível encontrar a minha voz. Na música encontrei o meu lugar. A música salvou-me a vida. Deu-me a determinação para enfrentar a minha família, que nunca me apoiou quando decidi ir por aqui. Em parte, os Placebo são isso: a minha família de substituição. Foi-lhe colada a imagem de rebelde do rock, como se incarnasse uma espécie de marginalidade. Revê-se nela? B.M. - Sim, porque existe qualquer coisa em mim que me leva para esses territórios. Não, porque também me defendo, como todas as pessoas: do sucesso, dos outros, dos meus fantasmas. Nesse sentido, sou eu, sempre, mas por excesso. Já tive a minha dose “Para mim, a música funciona como terapia. É ela que me permite atravessar estados de depressão e tristeza. É ela que me permite confrontar comigo próprio e isso é qualquer coisa que agradeço, profundamente” Brian Molko de álcool e drogas. Por fuga. Por rejeição da realidade. Por rejeitar que os Placebo iam mal, também. É lixado quando temos milhares e milhares de pessoas à nossa frente, prontas para nos amarem, para fazerem tudo o que quisermos delas, e nós nos sentimos a maior merda do mundo. Pensamos: se vocês me conhecessem realmente, talvez não me amassem. Mas essa imagem da estrela à beira do precipício acaba por fazer também parte da mitologia rock. E o público acaba por gostar. Não é por isso que Amy Winehouse inspira tantos instintos protectores? B.M. - Talvez, mas também só embarca nessa história quem quer. Para além de ser perigoso. Só posso responder por mim. Para mim, a música funciona como terapia. É ela que me permite atravessar estados de depressão e tristeza. É ela que me permite confrontar comigo próprio e isso é qualquer coisa que agradeço, profundamente. O resto não me interessa muito. Ver agenda de concertos págs. 44 e 45 Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 15
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