13.03.2015 Views

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong>,<br />

a anti-celebrida<strong>de</strong><br />

Não gosta <strong>de</strong> se mostrar fora das personagens para não<br />

distrair as atenções e porque é pessoa pouco atreita<br />

à exposição pública – afinal, o seu trabalho é apanhar<br />

figuras públicas <strong>de</strong>sarmadas.<br />

ver com pôr ou não o <strong>de</strong>do na ferida.<br />

Há bom e mau humor que põe<br />

o <strong>de</strong>do na ferida e o mesmo se aplica<br />

ao que não põe o <strong>de</strong>do na ferida. Pôr<br />

o <strong>de</strong>do é uma opção”.<br />

Já Rui Sinel <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>s é fervoroso<br />

a<strong>de</strong>pto do humor das partes on<strong>de</strong> o<br />

sol não brilha. “Faço humor negro<br />

porque gosto. E se gosto existem mais<br />

pessoas que gostam”. Ao pensar em<br />

<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong>, lembra-se da comédia<br />

<strong>de</strong> Bill Hicks e George Carlin –<br />

que <strong>de</strong>safiaram limites humorísticos<br />

e culturais há duas, três décadas. “Nos<br />

EUA fazia falta um humorista que voltasse<br />

a <strong>de</strong>safiar o sistema. <strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong><br />

<strong>Cohen</strong> é capaz <strong>de</strong> ser o humorista que<br />

conseguiu, nos últimos 20 anos, seguir<br />

o trabalho <strong>de</strong>les”.<br />

São tempos bons para a comédia,<br />

assegura-nos Thompson. “Especialmente<br />

agora, neste ambiente em que<br />

há tantos programas, filmes e séries<br />

televisivas que apostam nesse género<br />

<strong>de</strong> temas não-acredito-que-eles-fizeram-isto.<br />

Na Comedy Central, o ‘South<br />

Park’ fá-lo todas as semanas e mesmo<br />

nos generalistas, temos o ‘Family<br />

Guy’ e afins. No breve período <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que ‘Borat’ se estreou, estranhamente,<br />

a noção <strong>de</strong> comédia escandalosa e<br />

excessiva tornou-se praticamente ortodoxa”.<br />

Como as comédias <strong>de</strong> Judd<br />

Apatow (“Virgem aos 40 anos”, “Um<br />

Azar do Caraças”) têm comprovado,<br />

professor Thompson? “Sim, são um<br />

exemplo <strong>de</strong> quão ‘mainstream’ isto se<br />

está a tornar.”<br />

<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong> é, então, como<br />

um miúdo com fósforos num mundo<br />

regado a querosene, e on<strong>de</strong> há já fogueiras<br />

a bruxulear lá ao longe. A polémica,<br />

os tais temas fracturantes, são<br />

o seu ponto <strong>de</strong> partida. Depois, resta<br />

marcar a diferença. Nas semanas que<br />

antece<strong>de</strong>ram a estreia <strong>de</strong> “Brüno”, ele<br />

assombrava as redacções dos jornais<br />

e a Internet. Exímio manipulador,<br />

KEVIN WINTER/GETTY IMAGES/AFP<br />

Jel (à<br />

esquerda) e<br />

Rui Sinel <strong>de</strong><br />

Cor<strong>de</strong>s, dois<br />

humoristas<br />

portugueses<br />

que se revêem<br />

no humor<br />

“kamikaze”<br />

Exímio<br />

manipulador,<br />

<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong><br />

<strong>Cohen</strong> tem<br />

estado em<br />

digressão<br />

promocional:<br />

aparições em<br />

figurinos<br />

surreais em<br />

todas as<br />

cida<strong>de</strong>s<br />

LUCY NICHOLSON/REUTERS<br />

Perfil<br />

É um ju<strong>de</strong>u que cumpre o<br />

regime kosher, que respeita o<br />

Sabat sempre que possível e<br />

que tem uma filha com a actriz<br />

Isla Fisher. São-lhe conhecidas<br />

escassas entrevistas e há<br />

poucas imagens <strong>de</strong> <strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong><br />

<strong>Cohen</strong> fora <strong>de</strong> uma personagem:<br />

para não distrair as atenções e<br />

porque é pessoa pouco atreita à<br />

exposição pública e ao conceito<br />

<strong>de</strong> celebrida<strong>de</strong>; afinal, o seu<br />

trabalho é apanhar figuras<br />

públicas <strong>de</strong>sarmadas, sejam<br />

elas um furioso Harrison<br />

Ford ou um complacente e,<br />

<strong>de</strong>pois, indignado Ron Paul,<br />

congressista republicano.<br />

O mais novo <strong>de</strong> três<br />

irmãos, nasceu em 1971 em<br />

Hammersmith, Londres. O pai<br />

tinha uma loja <strong>de</strong> roupa em<br />

Picadilly Circus e a mãe, nascida<br />

em Israel, era professora <strong>de</strong><br />

dança. Nos primeiros anos <strong>de</strong><br />

escola não se <strong>de</strong>stacou. Era,<br />

aliás, discreto. Os colegas não<br />

sabiam que adorava breakdance<br />

e rap. Numa entrevista<br />

à “Rolling Stone”, recorda que,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 12 anos, a mãe o levava<br />

(e à sua “crew”, os Black on<br />

White) até Covent Gar<strong>de</strong>n, on<strong>de</strong><br />

actuava com amigos – todos<br />

É fortemente<br />

influenciado pelos<br />

Monty Python e<br />

sobretudo pelo seu<br />

ídolo, Peter Sellers – o<br />

actor que se queixava<br />

<strong>de</strong> não ter<br />

personalida<strong>de</strong> fora<br />

das personagens<br />

ju<strong>de</strong>us, brancos e aculturados<br />

pelo hip-hop.<br />

Estudou em Cambridge e<br />

actuava no famoso Footlights ao<br />

mesmo tempo que se centrava<br />

na construção <strong>de</strong> personagens...<br />

na vida real. Para entrar em<br />

sítios sem pagar, por exemplo.<br />

Fortemente influenciado<br />

pelos Monty Python (um dos<br />

irmãos fê-lo entrar à socapa<br />

num cinema para ver “A<br />

Vida <strong>de</strong> Brian”) e sobretudo<br />

pelo seu ídolo, Peter Sellers<br />

– o actor que se queixava <strong>de</strong><br />

não ter personalida<strong>de</strong> fora<br />

das personagens –, <strong>Cohen</strong><br />

estabeleceu metas: tinha cinco<br />

anos para vingar na comédia e<br />

ganhar dinheiro ou <strong>de</strong>sistia.<br />

Teve uma série <strong>de</strong> pequenos<br />

trabalhos na TV (Windsor TV,<br />

London Weekend Television,<br />

Paramount Comedy Channel)<br />

e até foi mo<strong>de</strong>lo em catálogos.<br />

E <strong>de</strong> repente Ali G, cujas raízes<br />

estão no amor <strong>de</strong> adolescente<br />

pelo break-dance, nasceu. Um<br />

dia estava em filmagens e viu<br />

um grupo <strong>de</strong> skaters, com ar<br />

durão mas brancos como a cal, a<br />

comportarem-se como membros<br />

da anti-elite do gangsta rap. Isto<br />

juntou-se a uma personagem<br />

que construía a partir do DJ<br />

da Radio One da BBC, o filho<br />

<strong>de</strong> um bispo que falava como<br />

um “dread”. Mergulhou nessa<br />

composição e anos mais tar<strong>de</strong><br />

nasceria Ali G, o “rapper” branco<br />

inconveniente que tornou o fato<br />

<strong>de</strong> treino amarelo icónico muito<br />

antes <strong>de</strong> Tarantino e “Kill Bill”.<br />

Entretanto, sem dinheiro,<br />

<strong>Sacha</strong> foi convidado a integrar<br />

o programa <strong>de</strong> humor The 11<br />

O’Clock Show, do Channel 4,<br />

on<strong>de</strong> Ali G daria os primeiros<br />

passos até ganhar autonomia<br />

televisiva em 2000. A SIC<br />

Radical começou a exibir o<br />

programa e em 2002 saía o filme<br />

“Ali G Inda-House”. A série<br />

migraria para a americana HBO<br />

e, entretanto, Ali G tornavase<br />

o motorista <strong>de</strong> Madonna<br />

no vi<strong>de</strong>oclip <strong>de</strong> “Music”. No<br />

programa “Da Ali G Show” já<br />

apareciam as personagens<br />

Brüno, o correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

moda <strong>de</strong> um canal austríaco que<br />

enviava as suas histórias,<br />

e Borat Sagdiyev, que fazia<br />

reportagens e entrevistas<br />

– Borat “nasceu” a partir <strong>de</strong><br />

Alexi Krickler, jornalista<br />

moldavo que um dia se<br />

cruzou com <strong>Cohen</strong> e<br />

o divertiu com o seu<br />

inglês macarrónico e a<br />

admiração por tudo o<br />

que era anglo-saxónico.<br />

<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong><br />

apareceu em “Calma,<br />

Larry” e no “Saturday<br />

Night Live”, fez “Talla<strong>de</strong>ga<br />

Nights: The Ballad of<br />

Ricky Bobby” (2006)<br />

com o amigo Will Ferrell,<br />

<strong>de</strong>pois juntou-se a Tim<br />

Burton e foi dramático em<br />

“Sweeney Todd”. Agora,<br />

está na rua com “Brüno”,<br />

mas já está garantido num<br />

filme, ainda sem título,<br />

sobre Sherlock Holmes.<br />

J.A.C.<br />

Borat<br />

“nasceu” a<br />

partir <strong>de</strong> Alexi<br />

Krickler,<br />

jornalista<br />

moldavo que<br />

um dia<br />

divertiu<br />

<strong>Cohen</strong> com o<br />

seu inglês<br />

macarrónico<br />

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!