13.03.2015 Views

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

no casamento. Nas práticas sociais<br />

foi reconfigurado sob a forma da pura<br />

relação, <strong>de</strong> que fala [o sociólogo<br />

inglês] Anthony Gid<strong>de</strong>ns. Cada vez<br />

mais, o casamento é supostamente<br />

por amor, supostamente para durar<br />

enquanto os sentimentos durarem,<br />

para mútua gratificação das pessoas,<br />

feito na base do elogio da igualda<strong>de</strong><br />

máxima possível entre os membros<br />

do casal, etc. O reconhecimento simbólico<br />

tem a ver com isto: consi<strong>de</strong>rar<br />

que aquelas pessoas [gays e lésbicas]<br />

são exactamente como as outras, porque<br />

po<strong>de</strong>m ace<strong>de</strong>r a tudo. A prova<br />

<strong>de</strong> que isso é verda<strong>de</strong> está em que<br />

quem se opõe ao casamento ainda<br />

tenta dizer que há uma diferença [entre<br />

casais gay e “hetero”].<br />

Admite que o <strong>de</strong>bate público<br />

sobre o casamento gay estava<br />

por fazer quando em Outubro o<br />

Partido Socialista inviabilizou no<br />

Parlamento as propostas do BE<br />

e <strong>de</strong> Os Ver<strong>de</strong>s para o casamento<br />

gay?<br />

Admitira que sim se essa tivesse sido<br />

a verda<strong>de</strong>ira razão. Mas a razão foi<br />

apenas uma clara estratégia políticopartidária.<br />

O <strong>de</strong>bate já estava a acontecer<br />

e houve sempre a recusa <strong>de</strong><br />

admitir isso. Tinha havido uma petição,<br />

<strong>de</strong>bates na TV e nos jornais, crónicas,<br />

livros recentes… Mas isso agora<br />

é pouco relevante. Houve uma<br />

aceleração extraordinária nos últimos<br />

meses e resulta <strong>de</strong> um trabalho<br />

<strong>de</strong> sapa feito durante muitos anos,<br />

quando muitas pessoas achavam que<br />

não havia <strong>de</strong>bate.<br />

Acha que se vai casar ainda este<br />

ano?<br />

Este ano já não, ainda temos <strong>de</strong> ir a<br />

eleições, ver o resultado das ditas e<br />

em função disso ver os “timings” legislativos.<br />

Antes das Europeias estava mais<br />

convicto <strong>de</strong> que o casamento gay<br />

seria uma realida<strong>de</strong> este ano?<br />

A maioria política existe. Os partidos<br />

que apoiam a alteração do Código Civil<br />

têm uma maioria, mesmo comparando<br />

com os resultados das Europeias.<br />

Estou convencido <strong>de</strong> que não<br />

esperaremos muito tempo. Agora, digo<br />

sinceramente, se o PSD tiver uma<br />

maioria absoluta é uma <strong>de</strong>rrota para<br />

nós e teremos <strong>de</strong> esquecer o assunto<br />

durante quatro anos.<br />

Tem <strong>de</strong>fendido que se <strong>de</strong>ve<br />

discutir a adopção por casais gay<br />

ao mesmo tempo que se discute<br />

o casamento, para não dar<br />

argumentos aos opositores. Mas<br />

o que é facto é que ninguém fala<br />

<strong>de</strong> adopção. Porquê?<br />

O que digo é que não <strong>de</strong>ve haver<br />

receio <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a qualquer pergunta<br />

sobre a adopção. E a resposta<br />

que se <strong>de</strong>ve dar é a <strong>de</strong> que o assunto<br />

está mal colocado. Está a ser utilizado<br />

como espantalho para assustar as<br />

pessoas em relação ao casamento. A<br />

adopção não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da alteração à<br />

lei do casamento, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros<br />

articulados da lei. E é apenas uma<br />

parte <strong>de</strong> um conjunto mais vasto <strong>de</strong><br />

questões que são a homoparentalida<strong>de</strong><br />

e a reprodução. Quando um<br />

certo tipo <strong>de</strong> opositores elegem a<br />

adopção como questão, não posso<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer que estão a mexer<br />

no fantasma da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma<br />

criança a viver com um casal <strong>de</strong><br />

homens – com um casal <strong>de</strong> mulheres<br />

aceita-se melhor. Tem <strong>de</strong><br />

se dar uma resposta a<br />

esse argumento falacioso<br />

e explicar que<br />

o que está em<br />

causa é a igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acesso<br />

ao casamento,<br />

o que não<br />

CARLOS MANUEL MARTINS<br />

“‘Lobby’ é o que<br />

o movimento social<br />

tem <strong>de</strong> fazer. Falar<br />

com <strong>de</strong>putados,<br />

jornalistas, ven<strong>de</strong>r<br />

o seu peixe.<br />

É absolutamente<br />

salutar”<br />

JOÃO HENRIQUES<br />

quer dizer que não haja outras coisas<br />

por cumprir. A luta contra a homofobia<br />

não acabará <strong>de</strong>pois da aprovação<br />

do casamento. O casamento é<br />

apenas uma <strong>de</strong> muitas formas jurídicas<br />

que garantem que a homofobia<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> acontecer.<br />

Não lhe parece que a luta contra<br />

a homofobia passa também por<br />

acabar com a falta <strong>de</strong> respeito<br />

entre os próprios homossexuais<br />

e o tratamento pouco humano<br />

que por vezes dispensam uns aos<br />

outros?<br />

Respon<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> duas maneiras. Precisamos<br />

<strong>de</strong> tornar os homossexuais<br />

mais visíveis e visíveis na sua enorme<br />

diversida<strong>de</strong>, porque a questão da<br />

orientação sexual é absolutamente<br />

transversal à socieda<strong>de</strong>. Muitas vezes<br />

passamos a imagem <strong>de</strong> que o homossexual<br />

é homem, e não mulher, urbano,<br />

<strong>de</strong> classe média, com algum dinheiro<br />

e gosta <strong>de</strong> ir às discotecas. Ao<br />

fazer isso estamos a esquecer o canalizador<br />

e a lava<strong>de</strong>ira.<br />

Por outro lado, temos <strong>de</strong> fazer uma<br />

luta contra a homofobia interiorizada.<br />

Os gays e as lésbicas crescem na mesma<br />

socieda<strong>de</strong> que os heterossexuais,<br />

por isso interiorizam também a homofobia.<br />

Gran<strong>de</strong> parte da sua luta é<br />

para se aceitarem a si próprios, mas<br />

muitas vezes projectam a homofobia<br />

nos outros. É preciso esse respeito<br />

mútuo, <strong>de</strong> facto. Agora, não me parece<br />

que haja nenhuma pecha particular<br />

dos gays e lésbicas em termos <strong>de</strong> falta<br />

<strong>de</strong> respeito que seja diferente da falta<br />

<strong>de</strong> respeito que há entre qualquer outro<br />

grupo social.<br />

Fica bem em televisão,<br />

argumenta bem, está à-vonta<strong>de</strong>.<br />

De on<strong>de</strong> lhe vem esse jogo <strong>de</strong><br />

cintura mediático?<br />

Não sei, mas vou-lhe dizer uma coisa<br />

que é capaz <strong>de</strong> ter piada: só me sinto<br />

bem na televisão. Descobri que gosto<br />

imenso daquele meio e em particular<br />

<strong>de</strong> estar em directo. As coisas gravadas<br />

tiram-me completamente o tesão, como<br />

se costuma dizer. No entanto, sou<br />

um bocado tímido e pouco sociável.<br />

Tem razões <strong>de</strong> queixa dos media<br />

em relação a si ou ao movimento<br />

gay?<br />

Em relação a mim, não. Em relação<br />

ao movimento gay, há cada vez menos<br />

razões <strong>de</strong> queixa e que já foi muito<br />

pior. Muitas vezes faziam coisas mal<br />

por ignorância e não por malva<strong>de</strong>z.<br />

Houve um gran<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> pedagogia<br />

feito movimento, no sentido <strong>de</strong><br />

enviar materiais, contactar as pessoas,<br />

chamar a atenção.<br />

Fazer “lobby”.<br />

Sim, sim, excelente palavra, sem qualquer<br />

problema. É irreal como certas<br />

expressões são apropriadas e transformadas<br />

numa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> maçonaria<br />

ou socieda<strong>de</strong> secreta. “Lobby” é o que<br />

o movimento social tem <strong>de</strong> fazer. Falar<br />

com <strong>de</strong>putados, jornalistas, ven<strong>de</strong>r o<br />

seu peixe. É absolutamente salutar.<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!