Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O humor<br />
tira<br />
as calças<br />
Hoje é preciso escândalo para chamar<br />
a atenção. <strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong><br />
consegue-o com “Brüno”, filme sobre<br />
o jornalista <strong>de</strong> moda, austríaco,<br />
homossexual. Mostra tudo. E <strong>de</strong>ixa o<br />
espectador nu. Que limites, hoje, para<br />
o humor? Joana Amaral Cardoso<br />
Nu<strong>de</strong>z frontal masculina (e dançante).<br />
Dildos, muitos. Sexo com pigmeus.<br />
Mães e pais que admitem expor os<br />
filhos bebés a ácido ou emagrecê-los<br />
rapidamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entrem numa<br />
sessão fotográfica. Um pastor evangélico<br />
com o dom <strong>de</strong> curar a homossexualida<strong>de</strong>.<br />
Adopção <strong>de</strong> uma criança<br />
negra – chamada O.J. para fazer<br />
justiça à herança afro-americana – por<br />
um jornalista <strong>de</strong> moda que quer ser<br />
célebre à força, usa maquilhagem,<br />
pinta o cabelo, é gay.<br />
O que o choca mais nesta lista? Nada?<br />
Tudo? Perante <strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong><br />
e “Brüno” o espectador não po<strong>de</strong><br />
ficar passivo: <strong>de</strong>sconforto, riso,<br />
confronto. Tudo, da nu<strong>de</strong>z masculina<br />
aos pais se<strong>de</strong>ntos por uma gota <strong>de</strong><br />
fama por interposto bebé, está em<br />
“Brüno”. E está lá para si.<br />
“São temas incontornáveis porque<br />
são os mais importantes, que trazem<br />
divisão, polémica”, diz o humorista<br />
Nuno Duarte, aliás Jel, ao Ípsilon. Sexo,<br />
raça, género. Um “buffet” que faz<br />
dos temas ditos sensíveis aquilo a que<br />
Jel, o Homem da Luta que provoca os<br />
homens com o seu machista gay, chama<br />
<strong>de</strong> “hiper-realismo”.<br />
Os métodos são os que tornaram<br />
<strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong> <strong>Cohen</strong> ou, melhor dizendo,<br />
Borat, numa celebrida<strong>de</strong>. “Brüno”<br />
é mais uma viagem <strong>de</strong> um jovem em<br />
busca da fama na terra das oportunida<strong>de</strong>s.<br />
E, pelo caminho, e com a fiabilida<strong>de</strong><br />
que o género “mockumentary”<br />
permite, coloca um espelho em<br />
frente à cultura oci<strong>de</strong>ntal. Surpreen<strong>de</strong><br />
gente mais ou menos conhecida com<br />
as suas perguntas, com a sua sexualida<strong>de</strong>,<br />
com a sua estupi<strong>de</strong>z. E <strong>de</strong>sarmaos<br />
e <strong>de</strong>sarma-nos. Forçando-nos a<br />
pensar nos limites do humor, do bom<br />
gosto. Pelo caminho, o “walk of fame”<br />
<strong>de</strong> Brüno torna-se “walk of shame”.<br />
“Brüno” é, verda<strong>de</strong>, “Borat” com<br />
melhor guarda-roupa. E Brüno é Borat,<br />
que é Ali G, que é <strong>Sacha</strong> <strong>Baron</strong><br />
<strong>Cohen</strong>.... No trabalho do humorista<br />
“Não existem limites<br />
no humor. O limite é<br />
se tem piada ou não.”<br />
Rui Sinel <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>s,<br />
humorista<br />
britânico, uma máscara mediática escon<strong>de</strong><br />
sempre outra. Descodifique-se,<br />
para se avançar: ele encara as personagens,<br />
exageros dos exagerados, “diseurs”<br />
do indizível, como ferramentas.<br />
Sobre Borat, disse, em rara entrevista<br />
à “Rolling Stone” (2006): “Pelo<br />
facto <strong>de</strong> ele ser anti-semita, ele permite<br />
às pessoas baixarem as <strong>de</strong>fesas e<br />
exporem o seu próprio preconceito,<br />
seja o anti-semitismo ou a aceitação<br />
do anti-semitismo”.<br />
Capa<br />
PAWEL KOPCZYNSKI/REUTERS<br />
Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 5