Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
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Teatro<br />
NELSON GARRIDO<br />
Estreias<br />
A Me<strong>de</strong>ia<br />
está na moda<br />
O encenador Nuno Cardoso<br />
também é actor nesta<br />
recriação intimista do texto<br />
<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s pelas Boas<br />
Raparigas. Mariana Duarte<br />
Me<strong>de</strong>ia<br />
De Eurípi<strong>de</strong>s. Pelas Boas Raparigas.<br />
Encenação <strong>de</strong> Luís Mestre. Com<br />
Carla Miranda, Daniel Pinto, Maria<br />
do Céu Ribeiro e Nuno Cardoso.<br />
Porto. Estúdio Zero. R. do Heroísmo, nº 86. Tel.:<br />
225373265. 3ª a Sáb. às 21h45; Dom. às 16h. De<br />
10/07 a 26/07 e <strong>de</strong> 18/09 a 30/09. Bilhetes entre<br />
2,5€ e 8€.<br />
As Boas Raparigas gostam <strong>de</strong> ir<br />
buscar a actualida<strong>de</strong> à dramaturgia<br />
clássica. Desta vez, foram à procura<br />
da mulher contemporânea que existe<br />
em “Me<strong>de</strong>ia”. Na recriação do texto<br />
<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, a companhia formada<br />
por Carla Miranda e Maria do Céu<br />
Ribeiro privilegia a dimensão privada<br />
da estória, que se traduz,<br />
principalmente, na relação entre<br />
Me<strong>de</strong>ia e Jasão.<br />
“Temos uma ligação muito forte<br />
aos textos fundadores, não só por<br />
funcionarem como arquétipo, mas<br />
também por se conseguir encontrar<br />
sempre neles uma gran<strong>de</strong><br />
contemporaneida<strong>de</strong>”, diz Carla<br />
Miranda ao Ípsilon. Afinal, Me<strong>de</strong>ia<br />
matou por amor, foi traída por Jasão<br />
e assassinou os filhos como vingança.<br />
Daniel Pinto (Jasão) e Maria do Céu Ribeiro (Me<strong>de</strong>ia)<br />
O Teatro Maria Matos<br />
<strong>de</strong>u-lhes um prazo - três<br />
semanas para fazerem<br />
três espectáculos - e eles<br />
E tudo isto é “incrivelmente<br />
contemporâneo”, dizem eles.<br />
Resumindo, “é aquilo a que se chama<br />
dor <strong>de</strong> corno”, graceja Nuno<br />
Cardoso, o encenador que é actor “<strong>de</strong><br />
vez em quando” (mas já lá vamos).<br />
O texto foi cortado cirurgicamente<br />
“num trabalho conjunto entre todos<br />
os actores”. “Mantivemos os pontos<br />
prepon<strong>de</strong>rantes do texto – a relação<br />
entre a Me<strong>de</strong>ia e o Jasão, a expulsão<br />
<strong>de</strong>la da cida<strong>de</strong> pelo rei, Creonte, o<br />
relato do mensageiro, o coro e a ama”<br />
[protagonizados por Carla Miranda,<br />
num grito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa das mulheres] –<br />
para conservar a “linearida<strong>de</strong> da<br />
narrativa” e “<strong>de</strong>ixámos partes <strong>de</strong><br />
fora, como a intervenção das<br />
crianças”, explica Carla Miranda.<br />
Nesta tragédia “sem ‘frou-frou’”, o<br />
<strong>de</strong>safio mais complicado coube a<br />
Daniel Pinto, o Jasão que enfrenta<br />
uma Me<strong>de</strong>ia (Maria do Céu) irascível.<br />
“Quando comecei senti alguma<br />
dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o Jasão<br />
porque o acho estúpido”, atira. “A<br />
Me<strong>de</strong>ia sacrifica tudo por ele.<br />
Ajudou-o a conseguir o velo <strong>de</strong> ouro,<br />
fez-lhe a papinha toda para ele po<strong>de</strong>r<br />
ser consi<strong>de</strong>rado um herói. E ele não<br />
reconhece que a Me<strong>de</strong>ia foi quem fez<br />
<strong>de</strong>le o homem que é. Depois fica<br />
embasbacado com uma jovem<br />
rapariga com posses e abandona-a.<br />
Exactamente como se vê hoje em<br />
dia”, lembra Daniel Pires.<br />
“A Me<strong>de</strong>ia faz tudo por amor mas<br />
comete crimes [para além dos filhos,<br />
matou o irmão]. Não é propriamente<br />
simpática! E consegue sempre<br />
escapar”, contrapõe Carla Miranda. E<br />
isto também está na moda. “A vida<br />
privada do Jasão está muito presente<br />
no nosso quotidiano”, consi<strong>de</strong>ra<br />
Nuno Cardoso. “Este sentimento <strong>de</strong><br />
traição e o facto <strong>de</strong> o traidor achar<br />
que tem razão estão no cerne <strong>de</strong><br />
muitos divórcios”. Já Nuno Cardoso<br />
simboliza a dimensão pública da<br />
peça: o rei Creonte, pai da futura<br />
mulher <strong>de</strong> Jasão, que entra pela casa<br />
<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia dizendo que a vai expulsar<br />
da cida<strong>de</strong>. “O mais refrescante<br />
quando se faz uma tragédia é que ela,<br />
na sua simplicida<strong>de</strong> e acutilância,<br />
recorda-nos cenários sociais e<br />
políticos <strong>de</strong> agora”, diz. Mas não foi só<br />
por isso que Nuno Cardoso <strong>de</strong>spiu o<br />
traje <strong>de</strong> encenador. Foi também para<br />
nos lembrar que nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser<br />
actor. “Meia volta faço-o para<br />
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />
estão a cumprir. “Sempre”,<br />
que está <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ontem e até<br />
amanhã na Sala Principal,<br />
é a primeira criação<br />
colectiva dos portugueses<br />
Cláudia Gaiolas, Paula<br />
Diogo e Tiago Rodrigues<br />
com os brasileiros Felipe<br />
Rocha, Michel Blois,<br />
perceber porque é que os meus<br />
actores bloqueiam”. É uma questão<br />
<strong>de</strong> “pôr o corpo on<strong>de</strong> costumo pôr as<br />
minhas palavras”, afirma. E, afinal, o<br />
Estúdio Zero é um lugar especial para<br />
Nuno Cardoso. “Depois do TeCA (o<br />
meu último e primeiro amor), gosto<br />
muito <strong>de</strong>sta casa. Fiz aqui coisas <strong>de</strong><br />
que me orgulho muito, como ‘Os<br />
Purificados’ e ‘Os Parasitas’”. Nesta<br />
“Me<strong>de</strong>ia”, eles são todos produtos<br />
“<strong>de</strong> uma época feliz no Porto, os anos<br />
90”. Por isso, estes encontros dão<br />
“um gozo” que, “com sorte, passará<br />
também para o público”, remata.<br />
Acto sem<br />
palavras<br />
Um trabalho do Projecto<br />
Teatral sobre uma figura<br />
ausente: o actor. Óscar Faria<br />
vazio do teatro<br />
Pelo Projecto Teatral. Com Gonçalo<br />
Ferreira <strong>de</strong> Almeida, Helena<br />
Tavares, João Rodrigues, Maria<br />
Duarte, André Maranha.<br />
<strong>Lisboa</strong>. O Negócio. R. do O Século, 9 - Páteo <strong>de</strong> Santa<br />
Clara Ptª 5. Tel.: 213430205. De 10/7 a 11/07, das 22h<br />
às 23h. Entrada livre.<br />
mmmmm<br />
Há uma figura ausente <strong>de</strong>ste trabalho:<br />
o actor. Esse vazio, que é também o<br />
do teatro, sublinha essa falta, porque<br />
ninguém sabe quando será possível a<br />
voz regressar à cena. Um lugar,<br />
contudo, está disponível para quem<br />
Thiare Maia e Alex Casal,<br />
construída no âmbito<br />
do projecto Estúdios.<br />
A seguir vêm “Pedro<br />
Procura Inês” (<strong>de</strong> 16 a 18) e<br />
“Bobby Sands Vai Morrer<br />
Thatcher Assassina” (<strong>de</strong><br />
23 a 25).<br />
“o vazio do teatro”, gesto radical <strong>de</strong> renúncia ao actor<br />
vê, aquele que se move entre dois<br />
abismos, à procura <strong>de</strong> um acontecer<br />
sempre adiado. Uma espera diante <strong>de</strong><br />
um entrançado <strong>de</strong> luz e <strong>de</strong> um<br />
volume em terra. Não existem<br />
palavras, porque os palcos estão<br />
povoados <strong>de</strong> frases, tutelas,<br />
distracções. Aqui convida-se a um<br />
recolhimento: em certos instantes, o<br />
calar é mesmo a melhor forma <strong>de</strong> se<br />
dizer. Nesse intervalo tudo é possível:<br />
uma comunida<strong>de</strong> sem nome, um<br />
texto sem corpo, uma troca sem<br />
comércio. De um ao outro lado, em<br />
volta, imóvel: tantos gestos por<br />
cumprir nesse percurso entre<br />
vislumbres da morte – a que se<br />
prepara em vida, a que se anuncia<br />
através <strong>de</strong> um silêncio vindo do<br />
passado.<br />
Neste gesto radical <strong>de</strong> renúncia ao<br />
actor, figura colocada em potência,<br />
numa espécie <strong>de</strong> bartlebiano<br />
“preferia não fazer”, coloca-se<br />
sempre esta questão: <strong>de</strong> que falamos<br />
quando falamos <strong>de</strong> teatro. É que, tal<br />
como acontece hoje com tantas<br />
palavras – arte, cultura, política, etc. –<br />
, há uma homonímia que afecta a<br />
distinção entre uma prática ancorada<br />
num diálogo com a tradição e uma<br />
activida<strong>de</strong> absolutamente veiculada<br />
ao instante da sua realização,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da economia e variantes<br />
(publicida<strong>de</strong>, mercado). Distante<br />
<strong>de</strong>sta submissão, o Projecto Teatral<br />
tem vindo a apontar para outras<br />
formas <strong>de</strong> activar o exercício <strong>de</strong><br />
representar: construindo-o em filme,<br />
convocando-o através <strong>de</strong> uma<br />
sucessão <strong>de</strong> momentos – o trabalho<br />
“Estufa”, realizado entre 2005 e 2007<br />
–, manifestando-o em textos<br />
entretanto publicados.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 39