Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
s STAN juntos e em<br />
s com os pés na terra.<br />
só os quatro? O que é que isso tem <strong>de</strong><br />
especial? “Claro que é diferente. É<br />
fantástico porque só temos <strong>de</strong> mexer<br />
um <strong>de</strong>do para saber: ‘Oh, ele quer<br />
dizer isto’. Estamos juntos há mais<br />
<strong>de</strong> 20 anos, conhecemo-nos tão, tão<br />
bem que isso tem vantagens e também<br />
<strong>de</strong>svantagens. Mas, ao fim e ao<br />
cabo, quando olhamos para o resultado,<br />
sabe tão bem trabalhar num<br />
ambiente com estas três outras pessoas<br />
em quem posso confiar, com<br />
quem me sinto segura para correr<br />
riscos, para ser frágil, para cometer<br />
falhas. Tem sido um longo, longo percurso.<br />
E por vezes foi muito difícil<br />
atingir o ponto em que estamos agora.<br />
Houve altos e baixos. Mas sentimo-nos<br />
tão bem a fazer esta peça, ela<br />
lembra-nos o gozo que é estarmos os<br />
quatro juntos em palco.”<br />
Humor e uma guerra lá fora<br />
“of/niet” é uma montagem <strong>de</strong> duas<br />
peças, “Party Time”, escrita em 1991,<br />
por Harold Pinter, e “Relatively Speaking”,<br />
do também britânico Alan<br />
Ayckbourn (escrita em 1965, e representada<br />
em Londres em<br />
1967, foi a peça que trouxe<br />
notorieda<strong>de</strong> ao dramaturgo,<br />
que ainda<br />
não tinha 30 anos). O<br />
Ou/Não<br />
De Alan Ayckbourn<br />
e Harold Pinter<br />
<strong>Lisboa</strong>, Culturgest – Gran<strong>de</strong><br />
Auditório, sáb. 11 às 21h30,<br />
e dom., 12, às 17h<br />
texto <strong>de</strong> Pinter é uma alegoria ácida<br />
sobre um mundo <strong>de</strong> conforto e privilégio,<br />
isolado e indiferente à realida<strong>de</strong><br />
do exterior - o ambiente é o <strong>de</strong> uma<br />
“cocktail party” num clube selecto, e<br />
a peça é composta pelas conversas<br />
que os membros vão tendo entre si -<br />
sobre a piscina do clube, ilhas paradisíacas<br />
e outras frivolida<strong>de</strong>s - enquanto<br />
lá fora <strong>de</strong>corre uma guerra (a<br />
cida<strong>de</strong> está vazia, há soldados nas ruas,<br />
estradas bloqueadas). Pinter escreveu<br />
“Party Time” no ano em que<br />
eclodiu a primeira Guerra do Golfo.<br />
É uma sátira com uma violência e um<br />
sadismo latentes.<br />
“Relatively Speaking”, <strong>de</strong> Ayckbourn,<br />
é uma sofisticada comédia <strong>de</strong><br />
enganos envolvendo dois casais - um<br />
jovem visita o que julga ser a casa dos<br />
pais da namorada, quando, na verda<strong>de</strong>,<br />
trata-se da residência do antigo<br />
amante <strong>de</strong>la. Um hilariante enredo<br />
<strong>de</strong> mentiras e equívocos.<br />
A peça <strong>de</strong> Ayckbourn -<br />
dramaturgo que tem interessado<br />
o cinema <strong>de</strong><br />
Alain Resnais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
“Fumar”/ “Não Fumar”<br />
- constitui 85 por cento<br />
<strong>de</strong> “of/niet”, resume Jolente,<br />
e a <strong>de</strong> Pinter os restantes<br />
15 por cento. Esta<br />
última abre e fecha a versão dos<br />
STAN, e vai pontuando o espectáculo<br />
como interlúdios.<br />
Para lá dos temas comuns que po<strong>de</strong>mos<br />
apontar às peças <strong>de</strong> Pinter e<br />
Ayckbourn - dois microcosmos <strong>de</strong> falsas<br />
aparências sob o pano <strong>de</strong> fundo<br />
<strong>de</strong> uma “Britishness” emproada, dois<br />
mundos <strong>de</strong> faz-<strong>de</strong>-conta, cada um à<br />
sua maneira -, o que é que levou os<br />
STAN a juntá-las? “Sentimos que estava<br />
na altura <strong>de</strong> fazer uma comédia<br />
outra vez. Às vezes escolhemos peças<br />
que são, digamos, um pouco mais pesadas,<br />
mas isso tem muito a ver com<br />
o espírito e o momento em que se está.<br />
Sei lá, se há uma guerra em curso<br />
no mundo, qual é a nossa resposta a<br />
ela? Se calhar, temos <strong>de</strong> fazer qualquer<br />
coisa ligeira... A dada altura, foi<br />
uma coisa do género: ‘Vamos fazer<br />
uma comédia, vamos rir’.”<br />
O que explica a escolha da peça <strong>de</strong><br />
Ayckbourn, “o exemplo perfeito da<br />
comédia <strong>de</strong> enganos, sobre dois casais<br />
que estão no lugar errado à hora<br />
errada”, resume Jolente, em que “a<br />
única coisa que po<strong>de</strong>mos fazer é rir<br />
com os erros tão típicos <strong>de</strong> todos os<br />
seres humanos - enganar, cometer<br />
erros, mentir e não admitir a verda<strong>de</strong>,<br />
ter medo”. Mas não explica Pinter.<br />
Os STAN são conhecidos por as<br />
suas escolhas <strong>de</strong> textos e <strong>de</strong> espectáculos<br />
terem, implícita ou explicitamente,<br />
uma carga política. “Se me<br />
perguntar se [a escolha <strong>de</strong> Ayckbourn]<br />
tem algum significado político,<br />
diria que não. Claro que é um<br />
manifesto [“statement”, em inglês]<br />
dizer: não se esqueçam das pessoas<br />
nestes tempos <strong>de</strong> cinismo. Mas faltava<br />
mais qualquer coisa. Tínhamos <strong>de</strong><br />
trazer [a peça] <strong>de</strong> volta para o mundo.<br />
E o Pinter faz-nos assentar os pés<br />
na terra outra vez. ‘Party Time’ também<br />
é uma comédia mas tem uma<br />
nuance perversa, tem uma camada<br />
política subterrânea, é mais cínica e<br />
irónica. Isso é<br />
u m a<br />
“Eu também sou<br />
burguesa, e estou a<br />
criticar os burgueses.<br />
Também estamos<br />
a falar <strong>de</strong> nós. Na<br />
sexta-feira [hoje] vou<br />
apanhar um avião<br />
para actuar num<br />
teatro em <strong>Lisboa</strong><br />
- o que é muito<br />
confortável,<br />
obviamente”<br />
Jolente De<br />
Keersmaeker<br />
das coisas que gostamos muito no<br />
Pinter: as peças têm sempre uma dupla<br />
camada. Ao misturar ‘Party Time’<br />
na peça <strong>de</strong> Ayckbourn estamos como<br />
que a inserir pequenas agulhas. Para<br />
nós, isso era um bom equilíbrio. Se<br />
fosse só o Ayckbourn, teria sido <strong>de</strong>masiado<br />
fácil. O Pinter também tem<br />
imenso humor, mas ele lembra-nos<br />
que há um mundo lá fora - que há<br />
uma guerra em curso. O que nos pareceu<br />
uma bela metáfora do que estamos<br />
a fazer quando representamos<br />
a peça - somos actores e estamos a<br />
representar e a divertir-nos, mas aqui<br />
ao lado o mundo continua.”<br />
A actriz conclui: “Sem ser moralista,<br />
ele faz-nos pensar que estamos a<br />
viver num mundo extremamente privilegiado,<br />
rico e luxuoso. As pessoas<br />
que vão ao teatro não são as pessoas<br />
que não conseguem ganhar a vida...<br />
Claro que houve a crise financeira<br />
mas isso não é nada comparado com<br />
o que as pessoas em África, na América<br />
do Sul ou na Índia têm <strong>de</strong> fazer<br />
para ganhar a vida.”<br />
Não é a primeira vez que os STAN<br />
afiam as facas na mira da nossa burguesia<br />
<strong>de</strong> costumes (não é por acaso<br />
que um dos autores mais representados<br />
pela companhia é o austríaco Thomas<br />
Bernhard). Perguntamos a Jolente<br />
se a velha expressão “épater le bourgeois”<br />
(chocar a classe média) ainda<br />
faz sentido, para eles. “A primeira coisa<br />
que tem <strong>de</strong> perguntar é: quem é<br />
burguês? Eu também sou burguesa, e<br />
estou a criticar os burgueses. Também<br />
estamos a falar <strong>de</strong> nós. Na sexta-feira<br />
[hoje] vou apanhar um avião para actuar<br />
num teatro em <strong>Lisboa</strong> - o que é<br />
muito confortável, obviamente.”<br />
A comédia serve-se fria, e isso também<br />
se vê no dispositivo cénico. O<br />
palco é <strong>de</strong>scarnado em “of/niet”, o<br />
“décor” quase inexistente, os figurinos<br />
sóbrios e básicos. “Representamos<br />
com quatro ca<strong>de</strong>iras e quatro<br />
sacos <strong>de</strong> plástico, e tudo o que precisamos<br />
está <strong>de</strong>ntro do saco <strong>de</strong> plástico.<br />
Não há cenário”, nota. Porquê? “De<br />
outro modo, isso iria distrair da força<br />
e da espirituosida<strong>de</strong> do texto. Seria<br />
<strong>de</strong>masiada explicação, a nosso ver.<br />
Queremos dar ao público a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> construir a sua própria história.<br />
Não é preciso construir um cenário<br />
realista, com cortinas, isto e<br />
aquilo. Quanto mais <strong>de</strong>spido for, mais<br />
se consegue ir à essência da coisa.”<br />
“Of/niet” é representado em<br />
neerlandês, com legendas em<br />
francês.<br />
Ver agenda <strong>de</strong><br />
espectáculos págs. 39 e segs.<br />
MUSEU DO ORIENTE<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 21