Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
Sacha Baron Cohen - Fonoteca Municipal de Lisboa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
é a colaboração que surge evocada<br />
através <strong>de</strong> um metáfora (histórica)<br />
da música pop: o grupo rock. Filmado<br />
em ví<strong>de</strong>o, num registo caseiro,<br />
mostra-nos o quotidiano <strong>de</strong> um conjunto<br />
com as suas tensões, expectativas<br />
e estratégias. De fora estão os<br />
concertos, as canções, o palco; sobra<br />
apenas o grupo como estrutura que<br />
revelar o artista enquanto sujeito e<br />
colaborador (Kai Althoff, um dos<br />
membros do Filmgruppe West, é músico<br />
na banda alemã Workshop)<br />
Já o último trabalho projectado,<br />
“File Un<strong>de</strong>r Sacred Music”, <strong>de</strong> Iain<br />
Forsyth & Jane Pollard (25, 28, 29 e<br />
30 <strong>de</strong> Julho), é aquele que mais explicitamente<br />
cita as narrativas da<br />
música popular urbana. Trata-se <strong>de</strong><br />
uma “reconstrução” <strong>de</strong> um concerto<br />
que os Cramps realizaram em 1978<br />
para os doentes do Napa State Mental<br />
Institute, na Califórnia. Com uma<br />
série <strong>de</strong> amigos e colaboradores, a<br />
dupla britânica reconstituiu o registo<br />
do espectáculo para inventar uma<br />
reprodução “imperfeita” on<strong>de</strong> a comunhão<br />
se confun<strong>de</strong> com a encenação<br />
e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da autoria artística<br />
se dilui na participação; uma crítica<br />
do “espectáculo” através <strong>de</strong> uma<br />
celebração diferida <strong>de</strong> um acontecimento<br />
da história do rock.<br />
Museus e música pop<br />
Marz Live é, provavelmente, a primeira<br />
exposição colectiva em Portugal<br />
exclusivamente subordinada às<br />
incursões da arte contemporânea no<br />
território da música popular. Não<br />
esgota todas as possibilida<strong>de</strong>s, mas<br />
torna-se significativa, para além das<br />
obras apresentadas, pela sua oportunida<strong>de</strong><br />
ou não reflectisse uma realida<strong>de</strong><br />
sobretudo internacional: o<br />
interesse dos curadores e dos museus<br />
por exposições sobre música<br />
pop. Fiquemo-nos só por 2009: no<br />
Kunsthalle <strong>de</strong> Düsseldorf esteve, até<br />
Maio, “Sensational Fix”, <strong>de</strong>dicada<br />
aos Sonic Youth e o Kunsverein <strong>de</strong><br />
Colónia recebeu, em Abril, “Après<br />
Crépuscule”, mostra que reunia a<br />
produção visual da editora Les Disques<br />
du Crépuscule. “Rock - Paper<br />
- Scissors” é a exposição mais recente,<br />
inaugurou no Kunsthaus Graz, na<br />
Aústria, com obras <strong>de</strong> Cory Arcangel,<br />
Sam Durant, Kim Gordon e Jutta Koether,<br />
Renée Green, Mike Kelley e<br />
Albert Oehlen.<br />
Po<strong>de</strong>mos aventar três hipóteses<br />
que explicam a aparição recorrente<br />
<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> iniciativas. Resultam <strong>de</strong><br />
tendências efémeras (vulgo modas);<br />
são organizadas com o intuito <strong>de</strong> cruzar<br />
e atrair públicos ou espelham tão<br />
somente um interesse genuíno sobre<br />
uma realida<strong>de</strong> complexa e, por isso,<br />
merecedora <strong>de</strong> uma perspectiva mais<br />
analítica.<br />
João Paulo Feliciano, artista, mentor<br />
do Real Combo Lisbonense e ex-<br />
Tina and The Top Ten, subscreve a<br />
três “teses”, não sem antes lembrar<br />
antigas genealogias: “Por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>ssas<br />
modas há antece<strong>de</strong>ntes históricos,<br />
remotos ou não tão remotos<br />
como foram os anos 60, quando se<br />
<strong>de</strong>u um miscigeneganção das artes<br />
estáticas e performativas. Acontece<br />
que hoje o contexto propicia essa<br />
miscigenação. A arte contemporânea<br />
tornou-se uma componente da cultura<br />
pop contemporânea e ao fazê-lo<br />
pisou o território da produção musical.<br />
Por outro lado a produção <strong>de</strong><br />
música expandiu-se e incorporou os<br />
componentes visuais e sonoros que<br />
implicam uma outra relação com o<br />
espaço e aproximam a experiência<br />
sonora e musical das experiências<br />
da instalação”.<br />
À evolução da produção musical<br />
juntaram-se necessida<strong>de</strong>s pragmáticas<br />
cuja existência o artista reconhece:<br />
“O catálogo <strong>de</strong> temas para os curadores<br />
inventarem exposições tem que<br />
ser alargado. E este é apetecível pois<br />
através da música po<strong>de</strong>-se chegar a<br />
públicos que não estão muito próximos<br />
da arte, mas que também não<br />
estão assim tão distantes”.<br />
Diedrich Die<strong>de</strong>richsen é dos poucos<br />
autores internacionais que pensa<br />
e escreve, ao mesmo tempo, sobre<br />
Captain Beefheart e os Melvins e John<br />
Bal<strong>de</strong>ssari ou Martin Kippenberger.<br />
“Rock - Paper – Scissors”, aliás, resulta<br />
da sua curadoria, o que não o impe<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> criticar as exposição que se<br />
limitam fazer da música pop um tema:<br />
“Detesto-as, pois prejudicam ou<br />
menosprezam as especificida<strong>de</strong>s da<br />
práticas e das obras, embora a música<br />
pop seja, <strong>de</strong> facto, um dos poucos<br />
temas abordados pelos artistas <strong>de</strong><br />
uma forma que permite comparações<br />
ou justaposições. Creio que a história<br />
das relações entre os dois campos já<br />
é conhecida. O que está por investigar<br />
é o modo como os artistas <strong>de</strong>senvolvem<br />
a sua arte através do olhar que<br />
vertem sobre a música pop”<br />
É nesta pesquisa que tem centrado<br />
a sua activida<strong>de</strong>, pesquisa a que não<br />
é alheio um entendimento aberto da<br />
própria música pop: “Interessa-me<br />
como um híbrido feito <strong>de</strong> formatos<br />
artísticos distintos, <strong>de</strong> práticas, medias,<br />
sociologias. Ora as artes visuais<br />
também são um híbrido. Por isso vejo-a<br />
como o único espelho disponível<br />
à arte contemporânea. Ao contrário<br />
do cinema e do teatro, acontece em<br />
todo lado e os seus receptores limitam-se<br />
a reunir coisas que viram,<br />
<strong>de</strong>scobriam ou fizeram. Em casa,<br />
diante da capa <strong>de</strong> um disco, <strong>de</strong> um<br />
disco ou <strong>de</strong> uma revista. Numa sala<br />
<strong>de</strong> concertos, num espaço público,<br />
com os amigos”.<br />
spelho<br />
uma pergunta: o que motiva o<br />
interesse genuíno? José Marmeleira<br />
Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 27