Implante <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória97Observou-se melhora significativa nos valoresceratométricos e em diversos parâmetros topométricosapós implante <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> anel em casos <strong>de</strong>ceratocone. Adicionalmente, o estudo tomográfico foieficiente para i<strong>de</strong>ntificar aumento da espessura da córneana região temporal, a 3,8 e 4mm do ápice. Tal aumento<strong>de</strong> espessura reflete exatamente a posição do anel. Entretanto,não representa o aumento da espessura do anel,o que po<strong>de</strong> ser explicado por haver uma reorganizaçãolamelar. Tal observação po<strong>de</strong> ser correlacionada comachados do mapa paquimétrico diferencial antes e apósa cirurgia (Figura 5).Nenhuma variável biomecânica apresentou diferençaestatisticamente significante após a cirurgia (teste<strong>de</strong> Wilcoxon, p>0,05). Tal observação corrobora como conceito <strong>de</strong> que o implante <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> anel nãomuda a estrutura da córnea, mas é capaz <strong>de</strong> equilibrar“ortopedicamente” a instabilida<strong>de</strong> ectásica, pois reduzo comprimento <strong>de</strong> arco das lamelas. A diminuição doarco reduz o “estresse” pressórico na córnea, equilibrando-ano seu aspecto biomecânico, o que contribui paraestabilizar a progressão ectásica (afinamento eprotrusão). Po<strong>de</strong>-se fazer uma analogia ao efeito <strong>de</strong> umapestana no braço <strong>de</strong> um instrumento <strong>de</strong> cordas como oviolão. O encurtamento da corda muda o som pela diferençana vibração acústica, mas não muda a composiçãoda corda que mantém suas proprieda<strong>de</strong>s estruturais.Os parâmetros Δ foram calculados para representaro resultado da cirurgia. Desse modo, foram possíveisestudos estatísticos das correlações entre o estadobiomecânico pré-operatório e o efeito da cirurgia.Os parâmetros <strong>de</strong>rivados das pressões <strong>de</strong>aplanamento do ORA (CH, CRF) e as medidaspressóricas (IOPg e IOPcc) não apresentaram correlaçõessignificantes com os parâmetros <strong>de</strong>lta (Δ). Entretanto,15 das 38 novas variáveis biomecânicas <strong>de</strong>rivadasdo sinal <strong>de</strong> reflexo da córnea do ORA apresentaramcorrelações significantes com pelo menos umparâmetro Δ. Tal observação mostra que é fundamentalatenção para as informações do sinal do ORA, que refletemo comportamento da córnea frente ao jato <strong>de</strong> ar.O estudo da <strong>de</strong>formação da córnea com o ORA se dácom o reflexo infravermelho que monitora a região <strong>de</strong>1mm em torno do ápice.De forma geral, uma córnea com estrutura maisestável apresenta um sinal mais elevado e com menosirregularida<strong>de</strong>. A maioria dos parâmetros encontra-sereduzida em casos <strong>de</strong> ceratocone, com a exceção dosparâmetros path e aplhf, que representam a irregularida<strong>de</strong>do sinal do ORA durante a medida com o sopro <strong>de</strong>ar, e aumentam <strong>de</strong> acordo com a severida<strong>de</strong> da ectasia.Observou-se <strong>de</strong>slocamento inferior significativoda posição do KMáx (teste <strong>de</strong> Wilcoxon, p
98Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velar<strong>de</strong> GCresidual superior a 5DC, o exemplo 2 apresentou umamaior correção do astigmatismo e um astigmatismo residual<strong>de</strong> 0,3DC. Observam-se diferenças no sinal doORA pré-operatório em ambos os casos.As correlações foram significativas com coeficientesem torno <strong>de</strong> 0.5 (média dos valores absolutos foi0,50, variando entre 0,46 e 0,57). Estudos com análisesmultivariadas são necessários para criar um mo<strong>de</strong>lo quetraga uma possível equação com base em parâmetrosbiomecânicos para <strong>de</strong>terminar uma correlação maior.Tal estudo fornecerá maior precisão para fatores prognósticosdo implante <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> anel paraceratocone. Tais observações <strong>de</strong>verão ser utilizadas paraaprimorar os nomogramas <strong>de</strong>stas cirurgias. O presentetrabalho <strong>de</strong>monstra estatisticamente diversas correlaçõesentre o aspecto biomecânico pré-operatório e o resultadoda cirurgia <strong>de</strong> implante <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> anelestromal, o que abre novos horizontes para o uso <strong>de</strong>stasvariáveis com o objetivo <strong>de</strong> melhorar o planejamentodas cirurgias para ceratocone.REFERÊNCIAS1. Alió JL, Piñero DP, Sögütlü E, Kubaloglu A. Implantation ofnew intracorneal ring segments after segment explantationfor unsuccessful outcomes in eyes with keratoconus. J CataractRefract Surg. 2010;36(8):1303-10.2. AlióJL, Shabayek MH, Artola A. Intracorneal ring segmentsfor keratoconus correction: long-term follow-up. J CataractRefract Surg. 2006;32(6):978-85.3. Alió JL, Shabayek MH, Belda JI, Correas P, Feijoo ED. Analysisof results related to good and bad outcomes of Intacs implantationfor keratoconus correction. J Cataract Refract Surg.2006;32(5):756-61.4. Boxer Wachler BS, Christie JP, Chandra NS, Chou B, Korn T,Nepomuceno R. Intacs for keratoconus. Ophthalmology.2003;110(5):1031-40. Erratum in Ophthalmology. 2003;110(8):1475.5. Colin J, Cochener B, Savary G, Malet F. Correcting keratoconuswith intracorneal rings. J Cataract Refract Surg.2000;26(8):1117-22.6. Coskunseven E, Kymionis GD, Grentzelos MA, Karavitaki AE,Portaliou DM, Jankov MR 2nd, Arslan E. INTACS followed byKeraRing intrastromal corneal ring segment implantation forkeratoconus. J Refract Surg. 2010;26(5):371-4.7. Daxer A, Mahmoud H, Venkateswaran RS. Intracorneal continuousring implantation for keratoconus: One-year followup.J Cataract Refract Surg. 2010;36(8):1296-302.8. Ertan A, Colin J. Intracorneal rings for keratoconus and keratectasia.J Cataract Refract Surg. 2007;33(7):1303-14.9. Ertan A, Kamburoglu G, Bahadir M. Intacs insertion with thefemtosecond laser for the management of keratoconus: oneyearresults. J Cataract Refract Surg. 2006;32(12):2039-42.10. Hellstedt T, Mäkelä J, Uusitalo R, Emre S, Uusitalo R. Treatingkeratoconus with intacs corneal ring segments. J RefractSurg. 2005;21(3):236-46.11. Kwitko S, Severo NS. Ferrara intracorneal ring segments forkeratoconus. J Cataract Refract Surg. 2004;30(4):812-20.12. Kymionis GD, Siganos CS, Tsiklis NS, Anastasakis A, Yoo SH,Pallikaris AI, et al. Long-term follow-up of Intacs in keratoconus.Am J Ophthalmol. 2007;143(2):236-44.13. Piñero DP, Alio JL. Intracorneal ring segments in ectatic cornealdisease - a review. Clin Experiment Ophthalmol.2010;38(2):154-67. Review.14. Jhanji V, Sharma N, Vajpayee RB. Management of keratoconus:current scenario. Br J Ophthalmol. 2010 Aug 7. [Epubahead of print].15. El Dib RP, <strong>de</strong> Freitas D. A systematic review of Ferrara’s ring inthe treatment of keratoconus. J Refract Surg. 2008;24(9):865-6.16. Tan DT, Por YM. Current treatment options for corneal ectasia.Curr Opin Ophthalmol. 2007;18(4):284-9.17. Güell JL. Are intracorneal rings still useful in refractive surgery?Curr Opin Ophthalmol. 2005;16(4):260-5.18. Colin J, Velou S. Current surgical options for keratoconus. JCataract Refract Surg. 2003;29(2):379-86.19. Pesando PM, Ghiringhello MP, Di Meglio G, Romeo S. Treatmentof keratoconus with Ferrara ICRS and consi<strong>de</strong>ration ofthe efficacy of the Ferrara nomogram in a 5-year follow-up.Eur J Ophthalmol. 2010;20(5):865-73.20. Moreira H, Oliveira CS, Godoy G, Wahab SA. Anelintracorneano <strong>de</strong> Ferrara em ceratocone. Arq Bras Oftalmol.2002;65(1):59-63.21. Piñero DP, Alio JL, Teus MA, Barraquer RI, Uceda-MontañésA. Mo<strong>de</strong>ling the intracorneal ring segment effect in keratoconususing refractive, keratometric, and corneal aberrometricdata. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2010;51(11):5583-91.22. Piñero DP, Alió JL, Teus MA, Barraquer RI, Michael R, JiménezR. Modification and refinement of astigmatism in keratoconiceyes with intrastromal corneal ring segments. J CataractRefract Surg. 2010;36(9):1562-72.23. Klyce SD. Computer-assisted corneal topography. High-resolutiongraphic presentation and analysis of keratoscopy. InvestOphthalmol Vis Sci. 1984;25(12):1426-35.24. Wilson SE, Ambrosio R. Computerized corneal topographyand its importance to wavefront technology. Cornea.2001;20(5):441-54.25. Ambrósio R Jr, Belin MW. Imaging of the cornea: topographyvs tomography. J Refract Surg. 2010;26(11):847-9.26. Ambrósio R Jr, Alonso RS, Luz A, Coca Velar<strong>de</strong> LG. Cornealthicknessspatial profile and corneal-volume distribution: tomographicindices to <strong>de</strong>tect keratoconus. J Cataract RefractSurg. 2006;32(11):1851-9.27. Fontes BM, Ambrósio R Jr, Jardim D, Velar<strong>de</strong> GC, Nosé W.Corneal biomechanical metrics and anterior segment parametersin mild keratoconus. Ophthalmology. 2010;117(4):673-9.28. Fontes BM, Ambrósio R Jr, Salomão M, Velar<strong>de</strong> GC, Nosé W.Biomechanical and tomographic analysis of unilateral keratoconus.J Refract Surg. 2010;26(9):677-81.29. Luce DA. Determining in vivo biomechanical properties ofthe cornea with an ocular response analyzer. J Cataract RefractSurg. 2005;31(1):156-62.30. Charman WN. Wavefront technology: past, present and future.Cont Lens Anterior Eye. 2005;28(2):75-92.31. Rabinowitz YS. Keratoconus. Surv Ophthalmol.1998;42(4):297-319. Review.32. Krachmer JH, Fe<strong>de</strong>r RS, Belin MW. Keratoconus and relatednoninflammatory corneal thinning disor<strong>de</strong>rs. Surv Ophthalmol.1984;28(4):293-322. Review.33. Szczotka LB, Barr JT, Zadnik K. A summary of the findingsfrom the Collaborative Longitudinal Evaluation of Keratoconus(CLEK) Study. CLEK Study Group. Optometry.2001;72(9):574-84.34. Moreira LB, Alchieri JC, Belfort Júnior R, Moreira H. Aspectospsicossociais do paciente com ceratocone. Arq Bras Oftalmol.2007;70(2):317-22.Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99