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16 | 1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008 | SOCIEDADE | ENTREVISTA | JORNAL DE LEIRIA |D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas e <strong>de</strong> Segurança“A socieda<strong>de</strong> portuguesanão é <strong>de</strong>spertadora <strong>de</strong> génios”O bispo das Forças Armadas e <strong>de</strong> Segurança não acredita que a nova lei do divórcio possa banalizar os processos<strong>de</strong> separação e afirma que a legislação não <strong>de</strong>ve ser “uma espécie <strong>de</strong> tampão à liberda<strong>de</strong>”. Defen<strong>de</strong> uma Igrejamais interventiva na <strong>de</strong>fesa do bem comum e “mais exigente nos domínios da produção cultural e formaçãopermanente”. E confessa sentir “inveja” da fé vivida por muitos peregrinos que tem encontrado em Fátima, mas<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que algumas formas <strong>de</strong> penitência usadas na Cova da Iria <strong>de</strong>veriam ser proibidas.Textos: Maria Anabela Silva Fotos: Ricardo GraçaCom o Porto no coraçãoD. Januário Torgal nasceu no Porto há 70 anos, cida<strong>de</strong> do seu clube do coração, o FC Porto, do qual é sócio. Ofutebol é, aliás, uma das suas gran<strong>de</strong>s paixão. “Des<strong>de</strong> miúdo que tenho um gran<strong>de</strong> culto pelo <strong>de</strong>sporto, emgeral, e pelo futebol, em particular”, confessa o bispo, que jogou hóquei em patins, an<strong>de</strong>bol e futebol. A suaor<strong>de</strong>nação sacerdotal teve lugar em 1960, ficando ao serviço da Diocese do Porto, on<strong>de</strong> foi responsável diocesanopelas pastorais da família e universitária e assistente diocesano do centro <strong>de</strong> preparação para o matrimónio.Leccionou no Colégio da Formiga, em Ermesin<strong>de</strong>, e na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> do Porto,on<strong>de</strong> <strong>de</strong>u aulas <strong>de</strong> Filosofia e foi assistente, e integrou a comissão <strong>de</strong> ética do Hospital <strong>de</strong> S. João. Com a or<strong>de</strong>naçãoepiscopal, em 1989, o car<strong>de</strong>al D. António Ribeiro, então patriarca <strong>de</strong> Lisboa, nomeou-o para bispo auxiliardas Forças Armadas e <strong>de</strong> Segurança. “Foi um privilégio trabalhar com D. António Ribeiro. Era umhomem muito contido, silencioso e profundamente respeitador dos outros, muito inteligente e sagaz”, recordaD. Januário, que, em 2001, foi nomeado bispo titular das Forças Armadas e Segurança, <strong>de</strong>pois do car<strong>de</strong>alpatriarca <strong>de</strong> Lisboa D. José Policarpo, a quem esse cargo é atribuído por inerência, ter solicitado ao Papa paraser dispensado das funções.O que pensa da nova lei dodivórcio?A Igreja não po<strong>de</strong> ter qualquerrelação com esta lei, a não ser a <strong>de</strong><strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os valores da família. AIgreja não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o divórcio, masnão po<strong>de</strong> ausentar-se <strong>de</strong> nenhumdos problemas da vida e tem <strong>de</strong> dartestemunho <strong>de</strong> compreensão diante<strong>de</strong> tantos casos sem solução.O facto da lei tornar os processos<strong>de</strong> separação mais célerespo<strong>de</strong>rá banalizar o divórcio?Não quero uma lei que seja umaespécie <strong>de</strong> tampão à liberda<strong>de</strong>. Umalei <strong>de</strong>ve encarnar um i<strong>de</strong>al para asocieda<strong>de</strong> e mostrar uma porta aseguir, que é a da comunhãoda unida<strong>de</strong> e da felicida<strong>de</strong><strong>de</strong> um homem e <strong>de</strong>uma mulher. Não gostariaque houvesse rupturas. Mas,perante tantos casais quese têm acercado <strong>de</strong> mim achorar na busca <strong>de</strong> umasolução, tenho <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rque esses problemas <strong>de</strong>vemser encarados com toda a serieda<strong>de</strong>.Não acredito que haja a banalização.Mas evitá-la com normasque comprimam a pessoa, com grilhetasque forcem a pessoa a umaobrigatorieda<strong>de</strong> que a repugna,também não resolve nada.Sendo o divórcio uma realida<strong>de</strong>dos dias <strong>de</strong> hoje, faz sentidoa Igreja continuar a impedirpessoas divorciadas <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r àcomunhão?No acto do divórcio as pessoassabem as consequências. Mas aIgreja não fecha as portas aos divorciados.A questão que se <strong>de</strong>ve colocaré se, após o divórcio, esses católicosmantêm contacto com a Igreja,se participam na eucaristia, se falamcom o padre ou se se <strong>de</strong>ixam formardo ponto <strong>de</strong> vista cristão. Seabandonam a Igreja, não faz sentidoirem lá só para comungarem.Era fundamental que os divorciadosnão se sentissem renegados oumarginalizados diante da Igreja.Há casos em que a pessoa é umavítima, e, como tal, po<strong>de</strong> comungar.Porque ninguém nos veda acapacida<strong>de</strong> da consciência e daliberda<strong>de</strong>.A Conferência Episcopal Portuguesa<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u recentementeque o Estado <strong>de</strong>mocrático nãopo<strong>de</strong> ser militantemente ateu.Mas a Constituição diz que o Estado<strong>de</strong>ve ser laico.A Constituição diz que o Estadonão é confessional. Não po<strong>de</strong>ser católico, protestante ou muçulmano.Mas também não po<strong>de</strong> seroposto às concepções religiosas dasocieda<strong>de</strong>. O Estado é, e muito bem,laico, mas a socieda<strong>de</strong> não o é. Seriaterrível que o Estado <strong>de</strong>mocráticocontrariasse valores religiosos eimpedisse a liberda<strong>de</strong>. Por um lado,o Estado é não confessional. Poroutro, atenta contra a confissão.Há um contra-senso absoluto. OEstado não quer ter expressão religiosa,mas <strong>de</strong>pois passa ao ataque.O Papa apelou, no ano passado,a uma mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>e <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> organizaçãoda Igreja em Portugal. Quais osprincipais pontos a alterar?Por um lado,o Estado é nãoconfessional.Por outro, atentacontra a confissão.Há um contra-sensoabsoluto. O Estadonão quer terexpressão religiosa,mas <strong>de</strong>pois passa aoataqueA Igreja <strong>de</strong>via, primordialmente,estar muito ao lado da cultura.Um dos problemas da socieda<strong>de</strong>portuguesa é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensãoe <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> paracertas formas <strong>de</strong> saber. As pessoasestão completamente <strong>de</strong>sinteressadas<strong>de</strong> uma formação permanente.Não critico a socieda<strong>de</strong> portuguesapor não ser <strong>de</strong>spertadora<strong>de</strong> génios. Mas lê-se muito pouco.E a mentalida<strong>de</strong> muda-se pela cultura.Outro aspecto, on<strong>de</strong> pensoque estamos razoavelmente bem,é ao nível da solidarieda<strong>de</strong> social.A Igreja é, em Portugal, a instituiçãoque mais serve os humil<strong>de</strong>s eos pobres.Enten<strong>de</strong>, então, que Igreja temcumprido o seu papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesados mais <strong>de</strong>sfavorecidos?É inegável. Ao nível da solidarieda<strong>de</strong>,a Igreja é a instituição maispujante e fraterna. Teremos muitoque andar e <strong>de</strong>vemos falar muitomais. Mas, se há um gran<strong>de</strong> silên-

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