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18 | 1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008 | SOCIEDADE | OPINIÃO | JORNAL DE LEIRIA || O p i n i ã o |Socieda<strong>de</strong> Espectáculo“ Oespectáculo constitui a produçãoconcreta da alienação na socieda<strong>de</strong>.A expansão económica é, antes<strong>de</strong> mais, a expansão <strong>de</strong>sta produçãoindustrial concreta. O que crescecom a economia que se auto alimentanão po<strong>de</strong> ser outra coisa que a alienaçãoque se encontrava justamente no seu núcleo original”- Guy Debord.Por volta do ano 0, quando se iniciava o primeiromilénio da nossa era, por todo o impérioromano, esten<strong>de</strong>u-se uma perigosa revolta <strong>de</strong>escravos. Espártaco ficou como o protótipo <strong>de</strong>herói daquele tempo. O movimento foi esmagadocom inúmeras crucificações mas só uma<strong>de</strong>las, que aconteceu simbolicamente em Jerusalém,serviu para sublimar esta subversão geral.O cristianismo foi criado para controlar a rebeldiaconcreta dos humilhados transformando-anuma vaga esperança celestial, com a qual seanulou qualquer acção da sua vingança na terra.Também o Messias dos ju<strong>de</strong>us que ia ser umguerreiro glorioso e vingador contra Roma ficouconvertido apenas em Cristo re<strong>de</strong>ntor dos pecados.Aos mansos <strong>de</strong> coração estava-lhes reservadoum infinito banquete <strong>de</strong> leite e mel para<strong>de</strong>pois da morte.Por volta do ano 1000 por toda a Europa alastravaa peste, erguiam-se templos, fundavamseabadias e proliferavam as seitas <strong>de</strong> hereges eiluminados enquanto surgia igualmente umarebelião <strong>de</strong> servos da gleba. As gárgulas abriamas partes superiores da boca sobre o vazio <strong>de</strong>s<strong>de</strong>os arcobotantes das catedrais como símbolos<strong>de</strong> terror. Se no ano zero se fundou o céucomo um remédio doce para serenar os escra-No ano zero criouseo céu, e no ano1000 instituiu-se oinferno e se aofinalizar o segundomilénio o céu e oinferno foramabolidos é porqueos po<strong>de</strong>rosos têmhoje armas másmo<strong>de</strong>rnas parasubmeter osrebel<strong>de</strong>s.ANTÓNIO DELGADOprofessor universitárioa_<strong>de</strong>lgado@netcabo.ptvos, no final do primeiro milénio, esta fórmulaesgotou-se e criou-se o inferno para submeteros servos ainda mais com a ameaça do fogo eterno.Durante 2000 anos a esperança e o medoforam a lei alternativa <strong>de</strong> domínio absoluto sobreos <strong>de</strong>serdados ao qual a Igreja tinha dado umcarácter sagrado. No ano zero criou-se o céu, eno ano 1000 instituiu-se o inferno e se ao finalizaro segundo milénio o céu e o inferno foramabolidos é porque os po<strong>de</strong>rosos têm hoje armasmás mo<strong>de</strong>rnas para submeter os rebel<strong>de</strong>s.Como uma trapezista, Marilyn Monroe balanceia-senua, com a cabeça virada para baixosobre um mar <strong>de</strong> mendigos e emigrantes envoltosem cartões e todos esten<strong>de</strong>m a mão para odólar ensanguentado que ela leva na boca. Aalienação do espectador em favor do objectocontemplado expressa-se <strong>de</strong>ste modo; quantomais contempla menos vê. O espectáculo tornou-sena afirmação da ilusão e <strong>de</strong> toda a vidasocial e humana transformando-as em aparência.A realida<strong>de</strong> reduzida à sua forma mais elementar(comer, habitar), só po<strong>de</strong> existir enquantofechada na riqueza ilusória e numa sobrevivênciaampliada e idílica. Estes aspectos que são a basereal da aceitação da ilusão generalizada e assenteagora no consumo <strong>de</strong> mercadorias mo<strong>de</strong>rnas.O consumidor real transformou-se em crente(consumidor) e a mercadoria numa fé que é ailusão real efectiva, e o espectáculo transformousena sua manifestação geral. Eu próprio acabo<strong>de</strong> trocar o banquete do céu por uma fatia <strong>de</strong>bolo <strong>de</strong> laranja e o fogo do inferno pelo suavecalor do rum na garganta enquanto a voz negra<strong>de</strong> Barry White canta o tema Staying Power quesignifica consolidando o po<strong>de</strong>r. ■| O p i n i ã o |Quando não há pão tem-se razãoUm bom alimentopo<strong>de</strong> tornar-semau quando nãohá <strong>de</strong> comer. Nãohá que se saibaqualquer relação,entre o famoso homem e a doutrinado naturismo. Digo eu, comere beber do que todas as gentescomiam e bebiam no seu tempo.Época fechada à inovação eque não facilitava ambiente aonaturismo, se porventura estadoutrina da preconização doregresso à Natureza teria queridoabrir caminho, na época, porentre as fomes, que passaram eque passarão.Falo eu que nasci em épocaafastadas da liberda<strong>de</strong> da expressãoaberta e pobreza. Hoje, somoslivres na palavra mas, não vamosalém disso. A pobreza ficou eduplicou. Liberda<strong>de</strong> da expressãotemos, mas nada mais, poisque o po<strong>de</strong>r e po<strong>de</strong>rio ganhoualtura, ambição, e ganância. Apóso 25 <strong>de</strong> Abril, que veio com ocravo vermelho, símbolo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>e igualda<strong>de</strong>, o povo saiupara as ruas contente com o acontecimento,gritando: “Somos livres,VIVA, VIVA.” Julgando ele, povomo<strong>de</strong>sto e trabalhador – poisassim somos conhecidos mundialmente-, que iria sair da fome.Isto julgava, mas nada suce<strong>de</strong>u.Começaram os partidos, forças,facciosismo político, proselitismoexcessivo. Suce<strong>de</strong>ram-segovernos após governos, mas seo primeiro não era bom, os outros,até hoje, não foram melhores.Eu vejo os governos <strong>de</strong>stamaneira. Quando fui chamadopara a guerra colonial em Angola.Fui obrigado a cantar em vozalta: “Angola é nossa, Angola énossa.” Hoje, vejo os governosdizer: “Portugal é meu, Portugalé meu, o po<strong>de</strong>r é meu. O comeré meu, o po<strong>de</strong>rio é meu, a justiçaé minha, etc.” Por que nãotambém dizer, não vejo o que sepassa lá fora; que são gentes semcasa, sem comer, sem luz e água,vivendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> latas?Eu digo: pobres governantescomo alguns políticos e outros,gran<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>rosos. É precisoserem muito <strong>de</strong>sumanos. Às vezespergunto, como é que esta genteconsegue dormir sem preocupações?Mas isto só não chega.É como agora tirarem 1% do IVApara ganhar votos. Que penaPerante amultiplicação dosmodos <strong>de</strong> buscar oprazer e<strong>de</strong>cadência, restalheso relaxamentodos costumes quecriou outra forte edas mais perigosas<strong>de</strong>generescênciasfísica e mental,substituindo a vida<strong>de</strong> casa e oscostumes sábios <strong>de</strong><strong>de</strong>itar cedo e cedoerguerVICTOR MANUELCORREIA MOREIRAafinador e reparador <strong>de</strong> pianos.tenho da época 60, on<strong>de</strong> tinhaapenas 16 anos, quando conhecio general Humberto Delgado,na se<strong>de</strong> <strong>de</strong> campanha na PraçaCarlos Alberto no Porto, on<strong>de</strong> fizparte do organismo. Do gran<strong>de</strong>homem chamado <strong>de</strong> “sem medo”,que por querer fazer <strong>de</strong> Portugaluns dos países fortes, teria feitoaquilo que vós governos não quereisou não sabeis fazer.O general Humberto Delgadofoi <strong>de</strong>rrotado <strong>de</strong>vido a diversasfrau<strong>de</strong>s <strong>de</strong> votos. Mas isso nãobastou, foi também seguido pelaPIDE, obrigado a exilar-se emEspanha, até que foi encontradoem 14/02/1965 e assassinadopela polícia política.O problema da fome assemelha-se,infelizmente, cada vezmais, àquela “casa on<strong>de</strong> não hápão” todavia, por ironia das coisas,nesta casa “todos tem razão”.Têm razão as populações que,afectadas por um número crescente<strong>de</strong> pobreza, acorrem emmassa em busca <strong>de</strong> caminhosperdidos, cada vez mais difíceis<strong>de</strong> recuperar.Têm razão os povos médiospedindo cada vez mais aosgovernos. Pois são dispensadosmilhões <strong>de</strong> trabalhadores. Situaçãoque se tem agravado, talcomo os casos em que os trabalhadorestem <strong>de</strong> conservarselongas horas em ambientesinfectos e em condições penosase <strong>de</strong>sumanas em fábricas,construção civil, escolas, até nafunção pública, etc. Perante amultiplicação dos modos <strong>de</strong>buscar o prazer e <strong>de</strong>cadência,resta-lhes o relaxamento doscostumes que criou outra fortee das mais perigosas <strong>de</strong>generescênciasfísica e mental,substituindo a vida <strong>de</strong> casa eos costumes sábios <strong>de</strong> <strong>de</strong>itarcedo e cedo erguer, pois os mandamentosda fome continuamos mesmos <strong>de</strong>pois do 25 <strong>de</strong> AbrilTudo isto não basta. Quemgoverna Portugal e os portuguesesque tenha o mínimo <strong>de</strong>compreensão geral humana.Pois têm tudo aquilo que ospobres não têm, povo que sealimenta apenas com pão, águae sopa, no chamado o limiteda alimentação. Pergunto comoé possível viver com apenas236 euros por mês? POBREPOVO chamado estéril semrecursos. ■

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