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| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | ENTREVISTA |1 de Maio de 2008 | 17cio, dizem que não somos interventivos,que somos uns bananase cúmplices com o poder. Se falamos,acusam-nos de fundamentalismo,como já vi escrito porquem se diz intelectual que, peranteum bispo que se bate por questõessociais, diz que isso é fundamentalismo,querendo roubar aesse eclesiástico a sua dimensãode cidadania. Um bispo ou umpadre não devem entrar na políticapartidária. Mas a política é umserviço ao bem comum. E tudo oque é comum na sociedade, deviaser tema de reflexão e de mensagem.E aí, a Igreja deve ser muitomais interventiva. Não faltam vozesnem movimentos. Mas ainda nãonos educámos integralmente pararesponder ao sofrimento social.Numa entrevista ao JORNALDE NOTÍCIAS admitia que tinhavindo da Direita. Mas é umhomem extremamente preocupadocom as questões sociais.A Igreja deve estar aberta àEsquerda e à Direita e dialogarcom todos. Mas parece-me queé apenas a Direita que predomina.Há certos sectores da Direitaque têm sensibilidade, mas ésó nas campanhas eleitorais queos problemas surgem. A defesadas questões sociais e dos favorecidossão aspectos fundamentaisdefendidos pelo Evangelho.É aí que nós, cristão, nos devemossentir como peixes na água:a defender o pobre, o preso, oseparado e a criança violada e asujar as mãos, metendo-as nestasociedade apodrecida. Umapessoa descrente, que pratiqueeste humanismo cristão, já seencontrou com Deus. Mas, alémde estendemos a mão para ajudaro pobre, deveríamos levantara voz para dizer que o pobreé pobre, porque os seus direitosnão foram respeitados. É essedesrespeito pelos direitos da pessoaque, em Portugal, gera o fossocada vez maior entre os quetêm e os que não têm. E a Igrejadeve bradar e falar contra isso.E fá-lo.Concorda com os ‘novos pecados’que o Vaticano quer introduzir?Alguém da Igreja chamou aatenção para o facto de haver hojetemas que podem passar em grandesilêncio na consciência das pessoas.As pessoas não foram educadaspara preservar o ambiente.Devido à nossa incultura e insensibilidadeestamos a estragar omundo climático. O bispo em questãochamava a atenção para problemassobre os quais é precisoganhar nova consciência. Poucosforam educados para conduzircom prudência. Não estou a julgarquem matou outro, mas temhavido autênticos assassinatos nasestradas.Essa lista devia incluir aO que mais o preocupa nasociedade actual?O desemprego, o não empregopara os jovens, o desânimo,o tédio e o desinteresse em quecaem multidões de jovens, porquenão realizaram as suas aspirações.O que gera certas formasde agressividade e violência.Como analisa a situação emque se encontra o sector daeducação em Portugal?É um sector com dificuldades.Mas também existem escolasmagníficas. Há universidadescom departamentos, investigaçãoe projectos de raro prestígionacional e internacional. Mas hádepois o lado negativo. De umaescola que não é participada pelafamília, onde os alunos não sesentem construtores do projectoeducativo e onde os professoresnão são respeitados. O maisimportante, que é gosto em sabere em ensinar de forma activa,que não se aprende na universidade.A escola actual espelha acrise dos adultos, quer da famíliaquer dos que nos servem, doponto de vista intelectual e magistral.■corrupção?É inegável. A corrupção emPortugal é a causa de muita turbulênciae de muita injustiça. Éuma forma de violência terrível.O povo português, tendo muitasvirtudes, tem muito a mentalidadede que roubar ao Estado nãoé roubo. Como forma de nos desculparmos,dizemos que é um desvio.Uma pessoa que vandalizabens públicos, devia ser culpabilizada,porque isso é um delitograve contra o bem comum. Falta-nosessa mentalidade de defesado bem comum. Não se tratade criar critérios de culpa, mas derigor e de cidadania“Gostaria de ter uma fétão forte como a de muitosperegrinos de Fátima”O que sente perante o tipo de fé vivenciada em Fátima?Admiração e inveja. Gostaria de ter uma fé tão forte como a de muitosperegrinos que tenho encontrado em Fátima. Mas não será a expressãode fé que mais me toca. Fátima é um mundo onde as pessoas pedeme buscam um modelo de vida. Tento respeitar mas, por vezes, fico escandalizadocom a falta de cultura de certas pessoas. Tenho algum receioda emoção e do sentimentalismo relevados por uma certa forma místicade viver a fé. As pessoas podem viver amancebadas, levar umavida de escândalo e afastadas da Igreja, mas perante um problema vãobater a Nossa Senhora, como último recurso. Tenho de respeitar isso.Algumas dessas pessoas serão uma fonte de decepção para quem andaà procura do verdadeiro rosto de Deus e da justiça.Como vê as penitências feitas na Cova da Iria?Não concordo com essas formas penitência. Quase que deviam serproibidas. O santuário fez um grande esforço na educação das pessoas.Os peregrinos ficam escandalizados quando um bispo lhes diz para nãofazerem determinadas promessas. Já o disse algumas vezes e ouvi repostasduras. Encanta-me muito mais ver jovens que abdicam das suasférias ou deram anos da sua vida profissional para ir tratar dos pobrese dos doentes em países do terceiro mundo. Isto é amor. Em Fátima,as pessoas também são movidas pelo amor. Mas também agem muitoa pensar em si. ■Como princípio de defesa da vida,o uso do preservativo é “uma obrigação”O uso do preservativo é pecado?Se for uma expressão de egoísmoe o ponto de partida para aanarquia, claro que é. Se for umprincípio de defesa da vida, seráuma obrigação. Se uma mulherdesconfia que o marido anda numavida de anarquia, deveria obrigá--lo a utilizar processos que impeçamque ela seja infectada. Emcertas momentos, [o preservativo]tem de ser um factor de segurançae de defesa. Isso está noespírito da Igreja. Não posso concordarcom assassinatos. Da mesmaforma que não se pode mataruma criança antes dela nascer, oser humano tem de se defenderde alguém que o possa assassinar.A internet pode ser um bommeio de evangelização?É indiscutível. É um meio decomunicação extraordinário. Possibilitao diálogo, a circulação deideias, a transmissão de propostase de programas e a formaçãopermanente. É uma biblioteca circulante.Uma globalização da cultura.Qual a sua posição face àeutanásia?Perante o doente, o médicosó deve ter saber, respeito, sensibilidadefraterna e solidariedade.Um médico não pode, emnenhuma circunstância, matar.A medicina actual tem possibilidadesde abolir o sofrimentoda pessoa. Reconheço que hácasos extremos e defendo quenão se pode cultivar o sofrimento.Mas não consigo admitirque a medicina intervenhae mate. ■Perguntasdos outrosTomás Oliveira Dias, presidenteda Comissão Diocesana de Justiçae Paz da Diocese de Leiria-FátimaA pobreza é a face mais dolorosados problemas do nossoPaís. Que actuações urgentesdefende no combate à pobrezae incremento da justiça social?Gostaria que o País ouvisse muitomais as propostas que vêm daIgreja, nomeadamente, da pastoralsocial das dioceses e dos leigosque integram as comissões dejustiça e paz. É também fundamentalque cada cristão assumaas suas responsabilidades cívicas,uma mentalidade que ainda estámuito por formar. Não há dúvidasde que a pobreza é uma dasgrandes avenidas que a Igreja há--de percorrer, defendendo a cabeçae o coração.Anselmo Borges, padre e teólogoPor que é que há um bispo paraas Formas Armadas e de Segurançae não existe um bispopara as escolas em todos os grausde ensino, do básico ao superior?A partir do momento em que osmilitares saem do País em missãoe pedem serviço espiritual, faztodo o sentido haver um bispopara este sector. Mas, devia certamenteexistir um bispo para omundo da educação e da cultura.Embora, neste momento, consideremais premente haver umprelado para o sector da emigração.Temos cinco milhões de portuguesesespalhados pelo mundo.A Igreja, que esteve na origemda universidade e da estruturacultural, devia ser muito mais exigenteno domínio da produçãocultural e da formação permanente.Até na forma como transmitea sua mensagem. Há hojesectores ditos intelectuais que nemum jornal lêm. Oxalá houvesseum bispo para o ensino. Porque,talvez o principal problema dePortugal seja a Educação. A educaçãopara os valores, para a fraternidadee para a cidadania.Valente dos Santos, coronel membroda Direcção da Fundação Batalhade AljubarrotaComo é que Portugal pode aproveitara canonização de BeatoNuno de Santa Maria, previstapara breve, que é um modelode ética moral e fraternidade?Beato Nuno é um modelo referencialindiscutível, porque descobriuCristo. Não há maior modeloque Cristo, que assumiu a nossafigura, tornou-se pobre, pôs-sede joelhos diante de nós e foiliquidado pelos homens. Aindanão corremos a maratona nessesentido. O Beato Nuno, porquefoi de condição humana eserviu o mundo militar, vai serum referencial muito importante,apontando para Cristo. Temostido muita gente que o viveu eserviu. Oxalá, Portugal utilizeessa campanha como dinamizadorada sua fé. ■