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| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | OPINIÃO |1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008 | 19Realizou-se há poucosdias em <strong>Leiria</strong>um colóquio sobreo tema recorrente dapobreza. Apesar <strong>de</strong>vivermos numasocieda<strong>de</strong> consumista, muita gentetem má consciência sobre esteproblema infelizmente tão actual.Sabe-se que a nível mundial a pobrezaronda um bilião <strong>de</strong> pessoas; àescala nacional atingirá cerca <strong>de</strong>dois milhões, das quais 200.000 emsituação <strong>de</strong> extrema pobreza. Verda<strong>de</strong>iramentenão sabemos qual éo número dos nossos pobres, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>logo porque não há um critériounânime para a <strong>de</strong>finição da pobrezae, <strong>de</strong>pois, porque há uma extremadificulda<strong>de</strong> em recolher dadosrigorosos que permitam classificaralguém com pobre.Em todo o caso, segundo dadosdivulgados pela Re<strong>de</strong> Europeia Anti-Pobreza / Portugal, em Setembro<strong>de</strong> 2007 a taxa <strong>de</strong> pobreza da nossapopulação cifrava-se em 2005em 20% dos portugueses, enquantona mesma data a percentagemmédia europeia era <strong>de</strong> 16%. A pricipalrazão <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> tinhaorigem na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição<strong>de</strong> rendimento, uma vez que,segundo a Eurostat, enquanto anível europeu 20% da populaçãocom maior rendimento recebia cincovezes mais do que os 20% dapopulação com rendimento maisbaixo, essa diferença em Portugalalargava-se 7.2 vezes mais. Quantoao <strong>de</strong>semprego, no segundo trimestre<strong>de</strong> 2007 a taxa referente aonúmero <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempregados era <strong>de</strong>7.9% que correspondia a 440,5 milpessoas.E não parece que estes númerostenham entretanto melhorado.Como é evi<strong>de</strong>nte, não sendo especialistano assunto, não é sobre estese outros aspectos estatísticos queme vou pronunciar. Nem tal meparece necessário porque a pobrezaé notória e só quem não quiserver é que a ignora. Arriscamos,porém, dizer, a partir <strong>de</strong> um inquéritorealizado em 2006 na diocese<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, embora os limites <strong>de</strong>stanão coincidam com os do distrito,que a nossa região tem os mais elevadosíndices <strong>de</strong> pobreza em zonasa que po<strong>de</strong>mos chamar mais proletarizadas,com é o caso da MarinhaGran<strong>de</strong>, Marrazes e Vieira <strong>de</strong><strong>Leiria</strong>. E, ainda intuímos que o interiornorte do distrito, zona <strong>de</strong>sertificada,será também atingido porelevados níveis <strong>de</strong> pobreza.A nível nacional não ignoramosque os subsídios <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego,assim como as prestações do RendimentoSocial <strong>de</strong> Inserção (antesRendimento Mínimo Garantido),| O p i n i ã o |A política é para as pessoasA nossa região temos mais elevadosíndices <strong>de</strong> pobrezaem zonas a quepo<strong>de</strong>mos chamarmais proletarizadas,com é o caso daMarinha Gran<strong>de</strong>,Marrazes e Vieira<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>TOMÁS OLIVEIRA DIASadvogado e dirigente associativona maioria dos casos não bastampara retirar os benficiários da situaçãoda pobreza. E sabemos aindaque os agregados familiares quevivem apenas <strong>de</strong> um salário mínimonacional como fonte <strong>de</strong> rendimentovivem também na pobrezaou no limiar da pobreza.A nível da nossa região e tendoem conta os dados recolhidosno referido inquérito, estima-se emcerca <strong>de</strong> 1300 o número <strong>de</strong> famíliaspobres na área da diocese, númeroeste extremamente falível porqueas pessoas vivem muitas vezesem pobreza envergonhada evitandorevelar a sua situação. As razõescausadoras da pobreza são apontadaspor esta or<strong>de</strong>m: a falta <strong>de</strong>recursos, o isolamento, o alcoolismo,a ruptura familiar e a doençamental.Há <strong>de</strong>pois que acrescentar outroscasos como o <strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong>senquadrados,alguns <strong>de</strong>les em situação<strong>de</strong> miséria e mendicida<strong>de</strong>, e odos excluidos qualquer que sejamas razões <strong>de</strong>ssa exclusão, droga,prostituição, falta <strong>de</strong> habitação condigna,etc.É certo que todos sabemos quea nossa região não se situa entre asmais pobres no plano nacional. Pelocontrário. Mas nem por isso nospo<strong>de</strong>mos conformar com a situaçãosocial.Soluções? Julgo que a Socieda<strong>de</strong>Civil em geral em especiala Igreja Católica e outras Religiõestêm dado importantes contributospara a resolução <strong>de</strong>staproblemática. Recordo as Conferências<strong>de</strong> S. Vicente <strong>de</strong> Paulo, aCaritas, o Banco Alimentar,asMisericórdias, o Voluntariado. Sóque não basta. Parecia-me <strong>de</strong> basilarimportância que, além do mais,fosse feito pelos serviços sociaisdo Estado com a colaboração dasinstituições particulares um inquéritoexaustivo às situações <strong>de</strong>pobreza e, <strong>de</strong>pois tomadas as <strong>de</strong>cisõespertinentes no mesmo espírito<strong>de</strong> colaboração.Vivemos tempos em que a generalida<strong>de</strong>das pessoas se preocupapouco com os outros, em especialcom os mais carenciados.Discutem-se os problemas económicos,analisam-se as picardiaspolíticas, aprofundam-se exaustivamenteos resultados do futebole evita-se falar da pobreza. Particularmentea classe política temespeciais responsabilida<strong>de</strong>s emlevar ao concreto a justiça socialque apregoa, o que muitas vezesnão tem acontecido. Nunca po<strong>de</strong>mosesquecer, como escreveu umainesquecível política inglesa, ShirleyWilliams, que “a política é paraas pessoas”. ■À semelhança <strong>de</strong> anos anteriores,a “Associação 25 <strong>de</strong> Abril”encabeçou, neste dia, mais um <strong>de</strong>sfile,em Lisboa, comemorativo daqueleacontecimento, marcante na Históriado Portugal recente.O respectivo planfleto-conviteera subscrito também por outras26 organizações promotoras, algumaspouco mais que existentes nopapel, e sendo cerca <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong>stasconsi<strong>de</strong>radas próximas do PCP.E a fronteira, à direita, <strong>de</strong>sta frenteabrilista terminava nas organizaçõesdo Partido Socialista, e (aparentementejá com boa-vonta<strong>de</strong>)na UGT que inclui, como se sabe,militantes socialistas e do PSD.Significativo ainda 34 anos <strong>de</strong>pois...Curiosamente, muitos dos integrantesdo sobredito <strong>de</strong>sfile nãoostentam no seu curriculo, talvezpor terem apanhado o comboio emandamento, isto é, já não no diaimediato ao 25 <strong>de</strong> Abril mas... apóso 25 <strong>de</strong> Novembro, a passagempelas prisões do anterior regime,ao contrário <strong>de</strong> vários dos velhosmilitantes dos Partidos excluídos:escrutine-se, a propósito, o actualPS e PSD e veja-se o número <strong>de</strong>neo-convertidos.Não estão em causa os avanços,no domínio do exercício individuale colectivo da <strong>de</strong>mocracia, incluindoa sindical, proporcionados, emPortugal, pelo Movimento militardo 25 <strong>de</strong> Abril. Nem os progessosexponenciais no estatuto da mulherportuguesa (que em 30 anos fez oque, noutra fases da história europeia,levou quase 200 ) assim tornadospossíveis, bem como a melhoriaos esquemas <strong>de</strong> segurança social,nesta III República em construção.Nem a libertação da criativida<strong>de</strong>dum Po<strong>de</strong>r Local <strong>de</strong>mocrático, atéentão nomeado por Lisboa, <strong>de</strong> figurasque lhe eram afins. Nem a novaperspectiva que se abriu a Portugal,após 1976, <strong>de</strong> relacionamentoe sua integração na esfera docontexto mundial e <strong>de</strong> organizaçõesinternacionais, ou inter-regionais,como a União Europeia..Quem, na prória pele, viveu apobreza do regime autoritário e castrantedo velho Salazar e as in<strong>de</strong>cisões<strong>de</strong> Marcelo Caetano, participouna guerra dita “colonial” emÁfrica, esteve na rua do 25 <strong>de</strong> Abril<strong>de</strong> 74 e no primeiro <strong>de</strong> Maio seguinte,se envolveu igualmente na construçãoda Democracia, à data, apelidada<strong>de</strong> “burguesa” por não poucosdos actuais “<strong>de</strong>mocratas” no po<strong>de</strong>r,e não recebeu soldos, pensões oubenesses do Estado Português, serlhe-à<strong>de</strong>certo permitido expressar,sem o correlativo <strong>de</strong>ver do “politicamentecorrecto”, alguns comentáriosao processo sequente, a pretextodo acontecimento transformanteque, justamente, mais| O p i n i ã o |A outra face da exaltaçãoAo contrário dagénese do 25 <strong>de</strong>Abril, amplamenteassoalhada nacomunicação social,muitos factos etragédias da<strong>de</strong>scolonizaçãoportuguesa ainda hojeestão vedados aogran<strong>de</strong> público poruma crivantecomunicação socialJOAQUIM HELENOadvogadouma vez recordámos.É que, ao contrário da génesedo 25 <strong>de</strong> Abril, amplamente assoalhadana comunicação social, muitosfactos e tragédias da <strong>de</strong>scolonizaçãoportuguesa ainda hoje estãovedados ao gran<strong>de</strong> público por umacrivante comunicação social, nesseperíodo controlada por umaEsquerda radical que, à cautela,logo a seguir ao 25 <strong>de</strong> Novembropassou a fazer cursos <strong>de</strong> jornalismo...nos Estados Unidos.Aconteceu, nomeadamente, emrelação a morticínios <strong>de</strong> europeusem Moçambique e certas humilhaçõesàs Forças Armadas portuguesasnesse processo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scolonizaçãoque não foi <strong>de</strong> factoexemplar. E conduzida por <strong>de</strong>masiados“estrangeirados” que <strong>de</strong>ficientementeconheciam a realida<strong>de</strong>portuguesa e africana, a qual,anos <strong>de</strong>pois, um dos seus principaisintervenientes, o major MeloAntunes, haveria <strong>de</strong> classificar -perante o drama dos “retornados”e as sequentes guerras civis emAngola e Moçambique - como “tragédia”.E que podia ter sido, na suainevitabilida<strong>de</strong> histórica, algo diferente!...A <strong>de</strong>lapidação, por <strong>de</strong>siquilíbrioabissal da balança <strong>de</strong> pagamentos,pós revolução, <strong>de</strong> boa parte das700 toneladas <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> Banco<strong>de</strong> Portugal, herança das convicçõesfinanceiras do velho Autocrata.Os solavancos das ocupações,nacionalizações/<strong>de</strong>snacinalizaçõese o fosso que tais políticasforam criando em relação ao continuadocrescimento do sectorprodutivo na vizinha Espanha,levadas aquelas a cabo por quem,ainda hoje continua instalado nasse<strong>de</strong>s do po<strong>de</strong>r em Portugal, eassobia para o lado, ao falar-se<strong>de</strong>ssa faseFinalmente a promiscuida<strong>de</strong>que rapidamente se instalou, nopós 25 <strong>de</strong> Abril, nas relações <strong>de</strong>quadros <strong>de</strong> partidos políticos principalmenteà direita do PCP., emrodagem frequente dos Governose A.R. para as empresas públicase privadas e gran<strong>de</strong>s escritórios<strong>de</strong> advocacia e vice-versa, vários<strong>de</strong>les sem provas profissionais eque, sujeitos à normal crivagem<strong>de</strong> mercado, não chegariam sequera técnicos <strong>de</strong> primeira.Por isso <strong>de</strong>ve também ser lido,mais numa perspectiva estimulante<strong>de</strong> nós todos, o recente estudo--inquérito promovido pelaPresidência da República e queespelha um estado <strong>de</strong> alma <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> parte da população portuguesa,34 anos <strong>de</strong>pois: a tal“maioria silenciosa”, não do agradodos jornalistas nem dos políticos.■

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