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O que fizemos à memória do século XX? - Fonoteca Municipal de ...

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William Boy<strong>de</strong>m busca da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> perdidaTeve “um passa<strong>do</strong> complica<strong>do</strong>”e por isso não consegue parar <strong>de</strong>inventar personagens<strong>que</strong> andam à procura: ele próprioainda não se encontrou. No novoromance, “Tempesta<strong>de</strong>”, prosseguea busca nas ruas <strong>de</strong> Londres, aon<strong>de</strong>foi parar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma infânciaafricana e <strong>de</strong> uma educaçãoescocesa. Helena VasconcelosPEDRO MARTINHOLivrosWilliam Boyd é um gran<strong>de</strong>leitor <strong>de</strong> Pessoa, ten<strong>do</strong> até jáprefacia<strong>do</strong> uma edição eminglês <strong>do</strong> “Livro <strong>do</strong> Desassossego”:é por causa <strong>do</strong> poeta<strong>que</strong> Lisboa aparece tãofre<strong>que</strong>ntemente nos seusromancesWilliam Boyd é um homem <strong>de</strong> múltiplostalentos: romancista, contista,argumentista, crítico literário, cronista,produtor <strong>de</strong> rádio, realiza<strong>do</strong>r <strong>de</strong>cinema. Esteve recentemente em Lisboapela primeira vez e mostrou-sefascina<strong>do</strong> com a cida<strong>de</strong>, <strong>que</strong> já tinhaimagina<strong>do</strong> como porto <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong>Carriscant e Kay, no romance “A Tar<strong>de</strong>Azul” (Relógio d’Água, 1993). Lisboaincita-o a falar <strong>do</strong>s países africanoson<strong>de</strong> nasceu e cresceu (Gana eNigéria) e a afirmar <strong>que</strong> esse privilégiolhe formou a imaginação e a personalida<strong>de</strong>.Recorda a sua exótica infânciasem sau<strong>do</strong>sismo mas com intensida<strong>de</strong>,e faz <strong>que</strong>stão <strong>de</strong> enfatizar o facto<strong>de</strong> se sentir “africano”, embora tenhasi<strong>do</strong> educa<strong>do</strong> na Escócia, viva há anosem Londres e mantenha uma casa emFrança, país cuja cultura conhecebem.Numa sala com vista para o Tejo,conversámos sobre o seu último romance,“Tempesta<strong>de</strong>”, edita<strong>do</strong> pelaCasa das Letras.Quer falar-nos <strong>do</strong> seu interessepor Fernan<strong>do</strong> Pessoa?Quan<strong>do</strong> li um <strong>do</strong>s seus poemas eminglês, há já bastante tempo, fi<strong>que</strong>ifascina<strong>do</strong> com esse homem extraordinário<strong>que</strong> consi<strong>de</strong>ro a figura central<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rnismo europeu. Escrevi entãoum pe<strong>que</strong>no texto para o “TLS”[“Times Literary Supplement”] e, emseguida “Cork”, um conto <strong>do</strong> volume“The Destiny of Nathalie X and OtherStories”. Mais tar<strong>de</strong> fiz a introduçãoa uma nova edição em inglês <strong>do</strong> “Livro<strong>do</strong> Desassossego”. É por causa<strong>de</strong>sta figura maior da literatura <strong>que</strong>Lisboa surge com frequência na minhaobra. A personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pessoaé fascinante, tal como as <strong>do</strong>s poetasWallace Stevens e T.S. Eliot; o primeirotrabalhava em seguros e o segun<strong>do</strong>num banco, o <strong>que</strong> <strong>de</strong>monstra comoa figura pública po<strong>de</strong> ser tão diferenteda verda<strong>de</strong>ira personalida<strong>de</strong>. Tu<strong>do</strong>isto tem a ver com a <strong>que</strong>stão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>- e Pessoa, com os seus heterónimos,é mais e melhor <strong>do</strong> <strong>que</strong> to<strong>do</strong>sos outros, é um universo em si próprio.Com 50 anos <strong>de</strong> atraso, ele está,agora, a tornar-se conheci<strong>do</strong> em Inglaterra.Os seus <strong>do</strong>is últimos romances,“Inquietu<strong>de</strong>” e “Tempesta<strong>de</strong>”,tratam exactamente <strong>de</strong> um<strong>do</strong>s temas “canónicos” da pósmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>:a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>indivíduo, a sua perda, procuraou transformação.Creio <strong>que</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é uma das preocupaçõesmais prementes <strong>do</strong> serhumano. Hoje em dia estamos maisconscientes <strong>de</strong>sse facto e colocamos,continuamente, as eternas <strong>que</strong>stões:po<strong>de</strong>ríamos ter ti<strong>do</strong> uma vida diferente?Será <strong>que</strong> somos sempre aÍpsilon • Sexta-feira 15 Outubro 2010 • 23

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