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O que fizemos à memória do século XX? - Fonoteca Municipal de ...

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“Hitler’s Hit Para<strong>de</strong>” é uma obra terrível. Alemanha nazi:já conhecíamos o terror; a surpresa é o glamour <strong>que</strong> oescondia. Mário Lopesprogramou para a secçãoHeartbeat (dia 17, na sala 3 <strong>do</strong> SãoJorge, às 19h; dia 24, na sala 1 <strong>do</strong>São Jorge, às 21h30).Realiza<strong>do</strong> pelos alemães OliverAxer e Susanne Benze, “Hitler’sHit Para<strong>de</strong>”, estrea<strong>do</strong> em 2005, foimonta<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> programas<strong>de</strong> entretenimento, filmespublicitários e <strong>de</strong> propagandae filmagens caseiras registadasentre 1936, no auge <strong>do</strong> nacionalsocialismo,e a sua agonia final.Ao longo <strong>de</strong> 75 minutos, as duasdimensões <strong>que</strong> suportam o filme,a música escapista, próxima <strong>do</strong>swing <strong>que</strong> reinava nos EUA, eas imagens <strong>que</strong> a acompanham,unem-se para criar uma trágicasinfonia. Não sabemos <strong>que</strong>msão a<strong>que</strong>les cantores, nãosabemos <strong>que</strong>m é a<strong>que</strong>la locutoratelevisiva jovem e sorri<strong>de</strong>nte<strong>que</strong> se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais umaemissão com o obrigatório “HeilHitler”. Não percebemos, por<strong>que</strong>sabemos o <strong>de</strong>pois e conhecemosos maquinações <strong>de</strong> então, comoera possível a felicida<strong>de</strong> emtempos assim. Esse é o cho<strong>que</strong><strong>que</strong> “Hitler’s Hit Para<strong>de</strong>” provoca.Conhecemos a máquina <strong>de</strong>repressão e o barroquismoda representação <strong>do</strong> nazismo,conhecemos “O Triunfo daVonta<strong>de</strong>” e restante a obra <strong>de</strong> LeniRiefenstahl, mas não conhecíamosisto. “Os aviões eram gran<strong>de</strong>s ebonitos. Havia barcos elegantes,os carros mais maravilhosos,boa roupa, cafés <strong>de</strong> bom gosto”,<strong>de</strong>screvia Oliver Axer, em 2005, aodiário alemão “Die Tageszeitung”.Continuava: “Os bares <strong>de</strong> Berlimeram vistos como chi<strong>que</strong>s emo<strong>de</strong>rnos, gran<strong>de</strong>s e vistosos.Tu<strong>do</strong> tinha standard internacional.Não se tem a sensação <strong>de</strong> <strong>que</strong> algoestivesse ausente”.Axer, provoca<strong>do</strong>r, referiu-se aofilme como “uma mistura <strong>de</strong> TexAvery com Leni Riefenstahl” enão é por acaso <strong>que</strong>, enquanto oglamour sexualiza<strong>do</strong> das cenas<strong>de</strong> cabaret se cruza com <strong>de</strong>senhosanima<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um grotesco antisemitismo,o <strong>de</strong>sconforto se torneinsuportável. Não só por<strong>que</strong>a guerra se há-<strong>de</strong> atravessarna<strong>que</strong>le oásis <strong>de</strong> harmonia, enão só por<strong>que</strong> também veremosgente feliz acenar aos vagões <strong>que</strong>se encaminham para campos <strong>de</strong>concentração.“Hitler’s Hit Para<strong>de</strong>” é umaobra fascinante, tanto quanto étenebroso o <strong>que</strong> mostra. Nele,revela-se como um esta<strong>do</strong>totalitário anestesia e formataum povo. E por isso torna-se umfilme <strong>que</strong> não se fixa no seu tempo.Aos nossos olhos, o nazismoO realiza<strong>do</strong>r, provoca<strong>do</strong>r, referiu-se ao filmecomo “uma mistura <strong>de</strong> Tex Avery com LeniRiefenstahl”Recorren<strong>do</strong> a arquivos daAlemanha nazi, é a sinfonia <strong>de</strong>uma tragédiaé a verda<strong>de</strong>ira encarnação <strong>do</strong>mal, e torna-se inquietanteperceber <strong>que</strong> os seus méto<strong>do</strong>s<strong>de</strong> controlo da cultura popular,salvaguardadas as distâncias a<strong>que</strong> o seu terrível objectivo finalobriga, não estão distantes dacultura <strong>do</strong> espectáculo <strong>de</strong> hoje,on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>mina um discursopublicitário infantil, <strong>de</strong>sgoverna<strong>do</strong>e subjuga<strong>do</strong> à lógica da reality TVe <strong>do</strong> consumo pelo consumo.Na altura da sua estreia, “Hitler’sHit Para<strong>de</strong>” foi critica<strong>do</strong> comouma banalização <strong>do</strong> nazismo.Tal posição ignora um pormenoressencial: a<strong>que</strong>la “banalida<strong>de</strong>”surge como parte integrante <strong>do</strong>regime em si. Como referiu naentrevista supracitada OliverAxer, filho da geração <strong>que</strong> viveuo nazismo, “como estética <strong>do</strong>Terceiro Reich apresentavamnosLeni Riefenstahl. [...] Amo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>que</strong> nos tentavamensinar na escola parava em1933, e recomeçava na RepúblicaFe<strong>de</strong>ral [da Alemanha]”. O vazio<strong>que</strong> “Hitler’s Hit Para<strong>de</strong>” preencheé uma revelação terrível, nuncabanal. O seu mérito está na formacomo <strong>de</strong>svenda a infiltração dai<strong>de</strong>ologia em to<strong>do</strong>s os aspectos davida – algo <strong>que</strong> o contraste com amúsica suave, quase encantatória,torna ainda mais pungente.“Hitler’s Hit Para<strong>de</strong>”: a criançaà janela <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> brincarem cujas pare<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>scobreum retrato <strong>do</strong> Führer. O Führerele mesmo como estrela pop,distribuin<strong>do</strong> autógrafos às fãs,brincan<strong>do</strong> com cães e crianças,afastan<strong>do</strong> a ma<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> cabelosob a testa num gesto <strong>que</strong> aquiparece o <strong>de</strong> um galã. Os rapazesda Juventu<strong>de</strong> Hitleriana, to<strong>do</strong>srepetin<strong>do</strong> os mesmos gestos,to<strong>do</strong>s ouvin<strong>do</strong> a mesma voz:“atravessas os meus sonhos /vens até mim todas as noites”. E,mais directo, o homem <strong>que</strong> alertana televisão para os músicos <strong>que</strong>tocam <strong>de</strong>safina<strong>do</strong>s, “guia<strong>do</strong>s porinfluência estrangeira”, e para osquais tem solução, “um ‘campo <strong>de</strong>música’” on<strong>de</strong> os ensinarão a tocarafina<strong>do</strong>s novamente.À medida <strong>que</strong> o filmeavança, mantém-se a cadênciamusical, mas tu<strong>do</strong> se torna maisescancara<strong>do</strong>: o Zyklon B, filma<strong>do</strong>como uma caixa Berio <strong>de</strong> Warhol,e as câmaras <strong>de</strong> gás on<strong>de</strong> foiutiliza<strong>do</strong>, as estrelas <strong>de</strong> David nopeito <strong>do</strong>s ju<strong>de</strong>us, as <strong>de</strong>portações,o gueto <strong>de</strong> Varsóvia, a guerra e osmortos e uma grotesca parada <strong>de</strong>próteses.Um eléctrico atravessauma cida<strong>de</strong> em escombros.Uma mulher chora à saída <strong>de</strong>um campo <strong>de</strong> concentração.Desaparece a narrativa gloriosa <strong>do</strong>regime, extingue-se a banalida<strong>de</strong>.Sobra o horror. Esgotaram-se osêxitos da parada.Four em tempos <strong>de</strong> inocência (dia 22,21h30, São Jorge). Três anos <strong>de</strong>pois,em 1967, a inocência pintava-se comas cores garridas <strong>do</strong> psica<strong>de</strong>lismo.Peter Whitehead filmou-a no<strong>do</strong>cumentário <strong>de</strong>finitivo da “swingingLon<strong>do</strong>n”, “Tonite Let’s All Make LoveIn Lon<strong>do</strong>n” (dia 21, 23h, São Jorge - 3,e dia 24, 17h30, São Jorge). Entre<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> Vanessa Redgrave,David Hockney, Michael Caine ou osAnimals, Mick Jagger fala <strong>de</strong> umfuturo em <strong>que</strong> as máquinastrabalharão para <strong>que</strong> a humanida<strong>de</strong>se entregue ao lazer e à arte. O mesmoJagger em “Stones In Exile”, <strong>de</strong>Stephen Kijak, está diferente. Quan<strong>do</strong>os Stones se refugiaram numamansão da Côte D’Azur, o sonhogeracional acabara e restavam osexcessos e o blues <strong>que</strong> conduziram asgravações <strong>de</strong> “Exile On Main St”,edita<strong>do</strong> em 1972 (dia 20, 23h, SãoJorge; dia 23, 21h30, São Jorge).A Beatlemania no auge: “TheBeatles in The USA”, <strong>do</strong>s irmãosMayslesPara compor a narrativa, surge oretrato <strong>de</strong> Frank Zappa, outsi<strong>de</strong>rgenial, <strong>que</strong> o holandês FrankScheffer realizou em 2006 - divi<strong>de</strong>seem duas partes e passará hoje(22h15, Alvala<strong>de</strong>), dia 20 (16h15,Alvala<strong>de</strong> 3), dia 21 (21h30, São Jorge)e dia 24 (19h, São Jorge). Surgeainda “Uma Noite em 67”, <strong>que</strong>acompanha o final <strong>do</strong> Festival daMúsica Popular Brasileira <strong>de</strong> 1967,momento em <strong>que</strong> o tropicalismo<strong>de</strong> Gil e Caetano se anunciou e em<strong>que</strong> Chico Buar<strong>que</strong> e Edu Loboforam “velhos” por um brevemomento (realiza<strong>do</strong> Renato Terra eRicar<strong>do</strong> Calil, passa <strong>do</strong>mingo nasala 1 <strong>do</strong> São Jorge, às 21h30, erepete dia 24, às 15h, no mesmocinema, sala 3).O outro eixo <strong>de</strong> “Heartbeat” levanosaté ao mosaico <strong>de</strong> Istambu(“Crossing The Bridge: The SoundOf Istambul”; segunda-feira, 21h30,no São Jorge – 1, e dia 23, 23h, noSão Jorge – 3). Leva-nos aacompanhar Youssou N’Dour pelarota musical da escravatura até aoregresso a Gorée, no Senegal, omaior entreposto <strong>de</strong> escravosafricano no tempo da escravatura(“Retour À Gorée”, <strong>de</strong> Pierre-YvesBorgeaud: segunda-feira, 17h30, SãoJorge – 1, e dia 23, 21h, São Jorge – 3).mecenas principalmecenas <strong>do</strong>s espectáculosHITTHITT é conheci<strong>do</strong> pelo seu visual irreverente (relaciona<strong>do</strong> com o movimentomuito em voga entre a juventu<strong>de</strong> japonesa, o visual kei) e pelo <strong>que</strong> ele próprioclassifica como o seu estilo musical “piano rock”. Há muito aguarda<strong>do</strong> emPortugal, HITT chega agora ao Museu <strong>do</strong> Oriente com um espectáculo on<strong>de</strong>apresenta as suas mais aclamadas composições.INFORMAÇÕES E RESERVAS: 213 585 244707 234 234 (TICKETLINE) | www.ticketline.sapo.ptBILHETES À VENDA: MUSEU DO ORIENTE, FNAC, WORTEN, LOJAS VIAGENS ABREU,BLISS, LIV. BULHOSA (Oeiras Par<strong>que</strong> e C. C. <strong>do</strong> Porto) e pontos MEGAREDE.Av. Brasília, Doca <strong>de</strong> Alcântara (Norte) | 1350-352 Lisboa | Tel.: 213 585 200 | E-mail: info@foriente.pt | www.museu<strong>do</strong>oriente.ptÍpsilon • Sexta-feira 15 Outubro 2010 • 9

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