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O que fizemos à memória do século XX? - Fonoteca Municipal de ...

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DiscosAo ouvirmos estes temas, agora, é dificil imaginar<strong>que</strong> tenham si<strong>do</strong> grava<strong>do</strong>s no final <strong>do</strong>s anos 50JazzOrnette!Uma das matrizes essenciaispara to<strong>do</strong> o jazz mo<strong>de</strong>rno.Rodrigo Ama<strong>do</strong>Ornette ColemanToo Much, Too Soon!Fresh Sound, dist. MbarimmmmmReunin<strong>do</strong> em <strong>do</strong>isCD os três primeirosálbuns <strong>de</strong> OrnetteColeman,“Something Else”,“The Shape of JazztoCome” e “Tomorrow is theQuestion!”, este “Too Much,Too Soon!” dá´continuida<strong>de</strong> aumexcelente programa <strong>de</strong>cuidadas reedições leva<strong>do</strong> acabopor Jordi Pujol, patrão daFresh Sound. Incluin<strong>do</strong> ainda <strong>do</strong>istemas retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s álbuns “The Artof the Improvisers” e “Twins”, estacolectânea possui como principaisatractivos o som - cristalino, coloca ocontrabaixo e a bateria naperspectiva correcta -, uma série <strong>de</strong>fotografias inéditas – uma <strong>de</strong>lasmostra Ornette senta<strong>do</strong> numa cerca,no meio <strong>do</strong> campo, com a mala <strong>do</strong>saxofone pousada no chão – e,sobretu<strong>do</strong>, uma série <strong>de</strong> textos -incluin<strong>do</strong> um ensaio <strong>de</strong> CannonballAd<strong>de</strong>rley sobre a música <strong>de</strong> Ornette,um comentário <strong>de</strong> Charles Mingus eas “liner notes” originais <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s osdiscos - <strong>que</strong> ajudam a compreen<strong>de</strong>rmelhor a importância <strong>do</strong> saxofonistae a enorme luta <strong>que</strong> travou parapreservar a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ein<strong>de</strong>pendência musical.Ao ouvirmos estes temas, agora, édificil imaginar <strong>que</strong> tenham si<strong>do</strong>grava<strong>do</strong>s no final <strong>do</strong>s anos 50.Poucos músicos têm hoje uma talcapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> congregarmo<strong>de</strong>rnismo, abstracção,forma e elegânciacomo OrnetteColeman e DonCherry fizeramnestes registos.Temas como“The blessing”,“When will theblues leave?”,“Turnaround” ou“Lonely Woman”tornaram-seclássicos apesar daferozaMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelenteperseguição a <strong>que</strong> Ornette e a suamúsica foram sujeitos. BobBrookmeyer, reputa<strong>do</strong> trombonista,compositor e arranja<strong>do</strong>r, encontrousecom Ornette e Cherry nafaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> jazz <strong>de</strong> Lenox e, <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> inúmeras noites em <strong>que</strong> tinha <strong>de</strong>ouvir a sua música, tocada noscorre<strong>do</strong>res da escola, gritan<strong>do</strong> pelajanela para afinarem osinstrumentos, <strong>de</strong>cidiu, por isso,aban<strong>do</strong>nar a faculda<strong>de</strong>. No entanto,anos mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> Ornette semu<strong>do</strong>u para Nova Ior<strong>que</strong>, começoua ir ouvi-lo ao Five Spot,confessan<strong>do</strong> <strong>que</strong> a sua rejeiçãoinicial se tinha <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a umaintolerância com algo <strong>que</strong> não lheera familiar, <strong>que</strong> não compreendiana altura.CaminhocerteiroAo terceiro disco o bateristacontinua a manter o nível.Nuno CatarinoJoão Lencastre’s CommunionSound It OutTone of a Pitch, dist. DargilmmmmnO disco arrancacom uma versão<strong>do</strong>s mal-ama<strong>do</strong>sColdplay, “God puta smile on his face”,<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se aguitarra <strong>de</strong> André Matos e osaxofone <strong>de</strong> David Binney, duo <strong>que</strong>não per<strong>de</strong> o andamento rápi<strong>do</strong>marca<strong>do</strong> por João Lencastre, obaterista, <strong>que</strong> acumula ainda afunção <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r. O grupo consegueinjectar energia na música da banda<strong>de</strong> Chris Martin e isso é à partidaprenúncio muito positivo. Deseguida a música abranda, para maisnova versão, <strong>de</strong>sta vez “Oaxaca”<strong>de</strong>Daniel Lanois, uma toadapaisagística com o trompete te <strong>de</strong>Phil Grenadier em evidência.Segue-se a ornettiana“Happy house”, com ogrupo a entrar nosuníssonos com umaprecisão milimétrica. Asequência <strong>de</strong> versõestermina com “EarlyMinor”, nova <strong>de</strong>scida <strong>de</strong>rotação, <strong>de</strong>sta vez comvariações <strong>de</strong>intensida<strong>de</strong><strong>de</strong>ntro<strong>do</strong>tema (composição original <strong>de</strong> JoeZawinul). Seguem-se <strong>de</strong>pois quatrooriginais, diferentes ambientes <strong>que</strong>funcionam como veículo para aimaginação <strong>do</strong>s solistas - além <strong>do</strong>s járeferi<strong>do</strong>s Matos, Binney e Grenadier,registe-se a presença <strong>de</strong> Ben VanGel<strong>de</strong>r e Jacob Sacks. Confirma-se oacerto <strong>do</strong> baterista, sempre atento ebem acompanha<strong>do</strong> pelo contrabaixo<strong>de</strong> Thomas Morgan, com capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> adaptação a distintas situações efazen<strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s seus varia<strong>do</strong>srecursos.Dos temas <strong>que</strong> compõem asegunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> disco há <strong>que</strong>referir especialmente umaimprovisação a quatro, <strong>que</strong> só pecapela curta duração, e a belíssimabalada “Be my love”, término i<strong>de</strong>alpara o disco (ou para qual<strong>que</strong>rmomento na vida). Depois <strong>do</strong>sóptimos “One!” e “B-Si<strong>de</strong>s”, nesteterceiro disco Lencastre já não seráuma revelação, nem se<strong>que</strong>r umaconfirmação: é uma certeza <strong>que</strong> não<strong>de</strong>ixa dúvidas. Este é o caminho.PopObsessão liberta<strong>do</strong>raMur<strong>de</strong>ring Tripping BluesShare The FireRaging PlanetmmmnnO rock’n’roll <strong>do</strong>sMur<strong>de</strong>ringTripping Bluescontinua a sernegro econvulsivo,perverso e explosivo. Ao segun<strong>do</strong>álbum, nada se alterousignificativamente. Gritam-sepesa<strong>de</strong>los Caveanos (“come into mywaters / let the water choke you”),inventam-se psica<strong>de</strong>lismos <strong>de</strong> ritualíndio guia<strong>do</strong>s por <strong>de</strong>scarga eléctricae ouvem-se blues lamacentosassombra<strong>do</strong>s pelo espírito <strong>de</strong> JimiHendrix e pela carga profana <strong>de</strong> umJeffrey Lee Pierce em busca dare<strong>de</strong>nção (<strong>que</strong> não existe).Ou seja, o espírito <strong>de</strong>stamúsicaé amesma:luxúriaLencastre já não será uma revelação, nem se<strong>que</strong>ruma confirmação: é uma certezaMur<strong>de</strong>ring Tripping Blues:As canções prolongam-se como se o estúdio fosse o espaço<strong>de</strong> tensa liberda<strong>de</strong> <strong>do</strong> palco40 • Sexta-feira 15 Outubro 2010 • Ípsilon

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