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da FFLCH-USP. Além desse movimento, um outro,<br />

uma articulação que não avançou, não obteve um<br />

espaço na mídia convenientemente, e por isso não<br />

permitiu a compreensão correta do significado das<br />

jornadas de junho de 2013, que foi a Articulação<br />

Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP).<br />

Por trás da ANCOP havia dezenas de entidades e<br />

movimentos sociais no Brasil, significativamente<br />

articulados à mesma. Vou citar alguns: o projeto<br />

“Jovens Limpos”; o instituto ETHOS; o Movimento<br />

dos Trabalhadores Sem Teto; a União Nacional Por<br />

Moradia Popular, movimentos que ganharam muita<br />

força por conta das desapropriações realizadas em<br />

diversas cidades do Brasil, por conta da construção<br />

de estádios, inclusive o de itaquera. A Frente<br />

Nacional dos Torcedores, a Associação Nacional<br />

dos Torcedores, a Central dos Movimentos Populares,<br />

isto é bem significativo que duas situações<br />

que se entrelaçam, que esses movimentos tenham<br />

se articulado em torno da ANCOP, e é significativo<br />

que a gente tenha tido, desde a chegada do PT ao<br />

poder em 2003, um recuo dos movimentos sociais,<br />

um arriamento das bandeiras dos movimentos sociais<br />

em torno de uma espécie de compromisso e<br />

de aparelhamento que o governo do PT fez com os<br />

movimentos sociais de todo o Brasil. Então essas<br />

bandeiras arriadas, esses movimentos que foram,<br />

de certa maneira, amortecidos pela chegada do<br />

PT ao poder, rearticulam-se num contexto de Copa<br />

do Mundo ligados à ANCOP; é o futebol que permite<br />

a articulação política desses movimentos. No<br />

momento em que as centrais sindicais, cada uma<br />

delas hoje correspondendo a um conjunto de partidos<br />

políticos, as centrais sindicais hoje no Brasil<br />

defendem interesses partidários muito claramente:<br />

esses movimentos sociais, órfãos, vão se articular<br />

em torno da Copa do Mundo. Eu diria que essas<br />

manifestações dramatizaram alguns dos principais<br />

conflitos de algumas das principais tensões que<br />

estamos vivendo até hoje. E que estavam atordoadas,<br />

estavam paradas, estavam esquecidas.<br />

Críticas à organização da Copa (críticas existem<br />

desde 2009, 2010), os elementos, as indicações de<br />

que haveria desperdício de dinheiro público, que<br />

alguns estádios seriam desnecessários, já haviam<br />

sido feitas desde 2009, mas parece que a sociedade<br />

recusava-se a se mobilizar, e vai estourar, a<br />

coisa vai “pipocar” em 2013, um pouco antes da<br />

Copa das Confederações, e que geram um elemento<br />

novo que estava amortecido também no Brasil<br />

e que aparece hoje nitidamente: as polarizações<br />

ideológicas, à direita e à esquerda. O Brasil hoje é<br />

um país dividido; em 2012 e 2013, durante a gestão<br />

do governo, dos dois governos Lula e no início do<br />

governo Dilma, parecia que não existia direita, não<br />

existia esquerda, estava tudo acomodado dentro<br />

do mesmo guarda-chuva, e essas polarizações da<br />

direita e da esquerda revelam para nós o ponto<br />

de vista sociológico e político, o esgotamento de<br />

um modelo de presidencialismo de coalisão; esse<br />

grande acordo, essa grande aliança que o Fernando<br />

Henrique fez, à direita e à esquerda, chamando<br />

o PSDB para se aliar aos Democratas (o antigo PFL)<br />

- era a direita; e a mesma coisa que o governo Lula<br />

fez, articulando-se também à direita para governar.<br />

Esse presidencialismo de coalisão esgotou-se;<br />

esse modelo esgotou-se; esse modelo político de<br />

concessão, de privilégios e de divisão do dinheiro<br />

público e do estado entre diversos partidos está<br />

esgotado; resta saber até aonde ele vai, mas a<br />

realidade caducou. isso aparece em relação ao futebol.<br />

À direita vocês viram, a gente vê até hoje o<br />

resgate desse nacionalismo autoritário, de falas<br />

autoritárias, que fazem apologia à ditadura militar,<br />

significativamente, 50 anos depois, com relação ao<br />

golpe, e algumas falas que estão na nossa sociedade.<br />

O rechaço a todos os partidos políticos, os<br />

discursos nas ruas, “o povo unido não precisa de<br />

partido”, é um discurso extremamente autoritário.<br />

“Com relação à esquerda, os<br />

movimentos sociais começaram com<br />

uma discussão interessante, com uma<br />

indagação interessante, uma palavra<br />

de ordem que era “Copa para quem”? E<br />

como “para quem” era extremamente<br />

interessante, extremamente bacana,<br />

quem que se beneficiaria com a Copa?”<br />

O Brasil é o meu partido; essa ideia de unidade<br />

nacional como partido, a queima de bandeiras e<br />

agressões a militantes de esquerda que vimos na<br />

Avenida Paulista, a criminalização dos movimentos<br />

sociais, que é um processo em curso no Brasil, e é<br />

ao mesmo tempo significativo, ao mesmo tempo<br />

em que se mantém, montam-se essas alianças,<br />

criminaliza-se qualquer tipo de movimento social,<br />

e a reverberação daquilo que eu chamo de “neolacerdismo”<br />

na imprensa brasileira. “Neolacerdismo”<br />

é uma alusão a Carlos Lacerda, apelidado de “Corvo”,<br />

jornalista e político da UDN (União Democrática<br />

Nacional) que atacou sistematicamente e articulou<br />

o golpe de 1964. Atacou Getúlio Vargas, atacou<br />

Juscelino Kubitschek, atacou João Goulart, atacou

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