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possibilidades e nas diferentes regiões, nos diferentes<br />

locais, a prática corporal possa ter lugar, ou seja,<br />

possa se desenvolver de fato a cultura corporal de<br />

movimento. Eu insisto muito na ideia de cultura aqui,<br />

porque isso é mais aberto, permite a gente pensar o<br />

corpo em movimento de forma mais ampliada e menos<br />

restritiva que o esporte; o problema, talvez, que<br />

faça com que o esporte acabe tendo esse poder de<br />

exclusão que ele tem, diz respeito ao fato de que o<br />

tempo em inteiro, a ênfase na comparação competitiva,<br />

a ênfase de que o resultado esportivo na prática,<br />

na experiência seja mais importante, portanto todos<br />

aqueles que não contribuem tanto assim para o resultado,<br />

e eu estou falando da pelada, das práticas<br />

de lazer, porque se reproduzem. Na sessão que eu<br />

estava acompanhando com vocês antes, as pessoas<br />

mencionavam: é a torcida, são as reações e todo tipo<br />

de brincadeira que são depreciativas, que provocam<br />

rebaixamento, a experiência de rebaixamento das<br />

pessoas, as brincadeiras correm muito soltas na atividade<br />

esportiva porque parece que o senso crítico baixa<br />

enquanto você está praticando esporte, acho que<br />

todo mundo já fez essa experiência, é mais fácil perder<br />

a cabeça, é muito mais fácil expressar os seus preconceitos<br />

e as suas discriminações, mas isso faz com<br />

que seja muito mais importante que pensemos como<br />

qualificar o ambiente esportivo de uma maneira que<br />

não precisemos reproduzir isso e ficar dizendo que é<br />

brincadeira, que não faz mal nenhum, o outro tem que<br />

entender que é brincadeira. Acho que esse é um elemento<br />

importante, porque acho que as pessoas vão<br />

ficando cada vez menos convidadas porque se sentem<br />

envergonhadas a, por exemplo, talvez isso seja<br />

uma experiência comum. Então é nesse sentido que<br />

eu pensaria em pensar, como vocês dizem, um direito<br />

em larga escala, que diz respeito diretamente também<br />

às experiências de autoconfiança e possibilidades de<br />

estímulo, ou seja, de saber que vai ter acolhimento, reconhecimento<br />

e valorização das formas particulares<br />

de ser, de ter, de mover um corpo, de ser alguém com<br />

um corpo no mundo. Eu acho que a dimensão da nossa<br />

corporeidade é muito mais negligenciada do que a<br />

gente imagina na nossa identidade pessoal.<br />

Paula: Confesso que nunca tinha pensado<br />

nisso e talvez passasse o microfone para você falar<br />

mais para nós sobre o assunto, mas vou dar dois “pitacos”<br />

de quem é do esporte e contribuições, eu vou<br />

responder também porque você não fez pergunta,<br />

mas o modelo canadense tem sido a principal fonte<br />

de inspiração para se pensar no esporte. O brasileiro,<br />

e foi uma surpresa muito feliz para mim, porque eu fui<br />

muito cética para esse grupo e tenho tido surpresas<br />

muito boas e o conceito central desse sistema para<br />

o Canadá é o que eles chamam de physical literacy,<br />

que é baseado na fenomenologia para explicar a relevância<br />

das experiências corporais para a formação<br />

humana em uma compreensão muito mais integral e<br />

unissona do que o que a gente vive hoje no esporte,<br />

nas práticas corporais em geral, que a gente precisa<br />

justificar os benefícios do esporte, das atividades físicas<br />

sempre puxando alguma outra coisa. Estou falando<br />

isso porque acho que dá um pouco da medida<br />

da importância e da relevância da forma de pensar<br />

da Psicologia, da forma de interpretar os fenômenos<br />

e a sociedade e a interação que temos com a cultura<br />

e o esporte, como cultura também, para nos ajudar<br />

a entender quais são as reais demandas, quais são<br />

os direitos que precisamos garantir para a população<br />

brasileira quando falamos de esporte. Então,<br />

acho que pensar num conceito que embasa todo o<br />

sistema de política pública, não só no Canadá, é um<br />

conceito que vem da inglaterra, e eu convido vocês<br />

a pesquisarem, coloquem lá physical literacy e vocês<br />

verão o tanto de coisas interessantes que têm sido<br />

feitas em termos de políticas públicas em várias instâncias.<br />

E eu consigo enxergar o que você fala, e eu<br />

nunca tinha pensado em larga escala em política pública,<br />

mas penso que quando discutimos o papel do<br />

profissional de Psicologia do Esporte na instituição,<br />

ele também tem isso no nível micro, ele não está, e aí<br />

acho que vocês também devem ter falado sobre isso<br />

de manhã, e quem já tem experiência percebe que a<br />

influência do psicólogo do esporte em uma equipe, ou<br />

em uma instituição esportiva, vai muito além de ajudar<br />

o atleta a ter controle emocional e a conseguir ter<br />

um bom desempenho de uma maneira saudável, ele<br />

tem um papel político de transformação das relações<br />

institucionais e do código de ética institucional e de<br />

construção de um outro jeito de se entender e de se<br />

fazer esporte que é muito relevante, e aí fico imaginando<br />

como é que seria maravilhoso pensar isso ampliado<br />

para uma secretaria de esporte, um município;<br />

em Ribeirão Preto, talvez possamos começar o diálogo<br />

aqui: convido Ribeirão Preto para testar a experiência,<br />

já que temos um psicólogo e um ex-atleta, gestor<br />

esportivo, mas acho que é esse o desafio mesmo,<br />

de ampliar a visão e as possibilidades. Eu diria para<br />

vocês, aqueles que sonham em ter o ápice da carreira<br />

no esporte de rendimento, acho que vocês podem,<br />

devem e merecem ter sonhos melhores, eu não falo<br />

que é ruim esporte de rendimento, mas Bilé sabe (sou<br />

casada com um psicólogo que trabalha) como é duro<br />

no esporte de rendimento hoje, como é que a gente<br />

pode transformar o esporte de rendimento transformando<br />

essas relações políticas e institucionais e<br />

acho que começamos no micro, na instituição que vocês<br />

estão hoje para influenciar, de repente a articula-

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