pdf-2016-08-04-18-35-30
pdf-2016-08-04-18-35-30
pdf-2016-08-04-18-35-30
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
64<br />
possibilidades e nas diferentes regiões, nos diferentes<br />
locais, a prática corporal possa ter lugar, ou seja,<br />
possa se desenvolver de fato a cultura corporal de<br />
movimento. Eu insisto muito na ideia de cultura aqui,<br />
porque isso é mais aberto, permite a gente pensar o<br />
corpo em movimento de forma mais ampliada e menos<br />
restritiva que o esporte; o problema, talvez, que<br />
faça com que o esporte acabe tendo esse poder de<br />
exclusão que ele tem, diz respeito ao fato de que o<br />
tempo em inteiro, a ênfase na comparação competitiva,<br />
a ênfase de que o resultado esportivo na prática,<br />
na experiência seja mais importante, portanto todos<br />
aqueles que não contribuem tanto assim para o resultado,<br />
e eu estou falando da pelada, das práticas<br />
de lazer, porque se reproduzem. Na sessão que eu<br />
estava acompanhando com vocês antes, as pessoas<br />
mencionavam: é a torcida, são as reações e todo tipo<br />
de brincadeira que são depreciativas, que provocam<br />
rebaixamento, a experiência de rebaixamento das<br />
pessoas, as brincadeiras correm muito soltas na atividade<br />
esportiva porque parece que o senso crítico baixa<br />
enquanto você está praticando esporte, acho que<br />
todo mundo já fez essa experiência, é mais fácil perder<br />
a cabeça, é muito mais fácil expressar os seus preconceitos<br />
e as suas discriminações, mas isso faz com<br />
que seja muito mais importante que pensemos como<br />
qualificar o ambiente esportivo de uma maneira que<br />
não precisemos reproduzir isso e ficar dizendo que é<br />
brincadeira, que não faz mal nenhum, o outro tem que<br />
entender que é brincadeira. Acho que esse é um elemento<br />
importante, porque acho que as pessoas vão<br />
ficando cada vez menos convidadas porque se sentem<br />
envergonhadas a, por exemplo, talvez isso seja<br />
uma experiência comum. Então é nesse sentido que<br />
eu pensaria em pensar, como vocês dizem, um direito<br />
em larga escala, que diz respeito diretamente também<br />
às experiências de autoconfiança e possibilidades de<br />
estímulo, ou seja, de saber que vai ter acolhimento, reconhecimento<br />
e valorização das formas particulares<br />
de ser, de ter, de mover um corpo, de ser alguém com<br />
um corpo no mundo. Eu acho que a dimensão da nossa<br />
corporeidade é muito mais negligenciada do que a<br />
gente imagina na nossa identidade pessoal.<br />
Paula: Confesso que nunca tinha pensado<br />
nisso e talvez passasse o microfone para você falar<br />
mais para nós sobre o assunto, mas vou dar dois “pitacos”<br />
de quem é do esporte e contribuições, eu vou<br />
responder também porque você não fez pergunta,<br />
mas o modelo canadense tem sido a principal fonte<br />
de inspiração para se pensar no esporte. O brasileiro,<br />
e foi uma surpresa muito feliz para mim, porque eu fui<br />
muito cética para esse grupo e tenho tido surpresas<br />
muito boas e o conceito central desse sistema para<br />
o Canadá é o que eles chamam de physical literacy,<br />
que é baseado na fenomenologia para explicar a relevância<br />
das experiências corporais para a formação<br />
humana em uma compreensão muito mais integral e<br />
unissona do que o que a gente vive hoje no esporte,<br />
nas práticas corporais em geral, que a gente precisa<br />
justificar os benefícios do esporte, das atividades físicas<br />
sempre puxando alguma outra coisa. Estou falando<br />
isso porque acho que dá um pouco da medida<br />
da importância e da relevância da forma de pensar<br />
da Psicologia, da forma de interpretar os fenômenos<br />
e a sociedade e a interação que temos com a cultura<br />
e o esporte, como cultura também, para nos ajudar<br />
a entender quais são as reais demandas, quais são<br />
os direitos que precisamos garantir para a população<br />
brasileira quando falamos de esporte. Então,<br />
acho que pensar num conceito que embasa todo o<br />
sistema de política pública, não só no Canadá, é um<br />
conceito que vem da inglaterra, e eu convido vocês<br />
a pesquisarem, coloquem lá physical literacy e vocês<br />
verão o tanto de coisas interessantes que têm sido<br />
feitas em termos de políticas públicas em várias instâncias.<br />
E eu consigo enxergar o que você fala, e eu<br />
nunca tinha pensado em larga escala em política pública,<br />
mas penso que quando discutimos o papel do<br />
profissional de Psicologia do Esporte na instituição,<br />
ele também tem isso no nível micro, ele não está, e aí<br />
acho que vocês também devem ter falado sobre isso<br />
de manhã, e quem já tem experiência percebe que a<br />
influência do psicólogo do esporte em uma equipe, ou<br />
em uma instituição esportiva, vai muito além de ajudar<br />
o atleta a ter controle emocional e a conseguir ter<br />
um bom desempenho de uma maneira saudável, ele<br />
tem um papel político de transformação das relações<br />
institucionais e do código de ética institucional e de<br />
construção de um outro jeito de se entender e de se<br />
fazer esporte que é muito relevante, e aí fico imaginando<br />
como é que seria maravilhoso pensar isso ampliado<br />
para uma secretaria de esporte, um município;<br />
em Ribeirão Preto, talvez possamos começar o diálogo<br />
aqui: convido Ribeirão Preto para testar a experiência,<br />
já que temos um psicólogo e um ex-atleta, gestor<br />
esportivo, mas acho que é esse o desafio mesmo,<br />
de ampliar a visão e as possibilidades. Eu diria para<br />
vocês, aqueles que sonham em ter o ápice da carreira<br />
no esporte de rendimento, acho que vocês podem,<br />
devem e merecem ter sonhos melhores, eu não falo<br />
que é ruim esporte de rendimento, mas Bilé sabe (sou<br />
casada com um psicólogo que trabalha) como é duro<br />
no esporte de rendimento hoje, como é que a gente<br />
pode transformar o esporte de rendimento transformando<br />
essas relações políticas e institucionais e<br />
acho que começamos no micro, na instituição que vocês<br />
estão hoje para influenciar, de repente a articula-