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• HISTÓRIAS<br />
H ISTÓRIAS<br />
cURITIBANAS<br />
Adeus zapzap<br />
Não há quem discorde,<br />
este sem dúvida foi o século<br />
dos adventos tecnológicos.<br />
O computador e mais tarde<br />
a internet, que deixou tudo o<br />
que conhecíamos no chinelo,<br />
fez até mesmo a televisão<br />
perder o reinado. De uns anos<br />
para cá as redes sociais foram<br />
grandes aliadas para achar<br />
aqueles amigos que estavam<br />
afastados, o colega que nem<br />
lembrávamos da existência e<br />
o primo distante que mal dávamos<br />
oi no Natal. Agora está<br />
todo mundo junto de novo,<br />
compartilhando histórias e<br />
sabendo os detalhes do que<br />
acontece na vida de cada um.<br />
Aí paramos para pensar,<br />
melhor assim, não? A Diana,<br />
personagem dessa história,<br />
discordaria. Quando veio do interior para a capital em busca<br />
de melhores oportunidades de emprego não imaginava<br />
o quanto a internet a aborreceria. Mais especificamente<br />
um programinha específico - que ela mesmo não estava<br />
muito familiarizada - o zapzap.<br />
Quando finalmente conseguiu o tão disputado trabalho<br />
Diana se pôs à disposição para o que aparecesse.<br />
Mergulhou de cabeça naquela empreitada. Viajou longas<br />
distâncias, virou madrugadas trabalhando, desperdiçou<br />
finais de semana, feriados e perdeu até mesmo o aniversário<br />
do marido.<br />
Até aí estava tudo bem. O terror mesmo foi quando o<br />
zapzap entrou na vida dela. No início, ela até achava divertido,<br />
porque se comunicava com os amigos que estavam<br />
longe com bastante facilidade. Até sua mãe havia aderido<br />
à moda o que reduziu consideravelmente a conta de telefone.<br />
Mas quando o zapzap<br />
virou acessório de trabalho, foi<br />
o começo do fim.<br />
Diana não conseguia nem<br />
calcular em quantos grupos<br />
de trabalho havia sido inserida.<br />
De noite, quando estava<br />
em casa assistindo novela, o<br />
celular apitava. No sábado,<br />
saboreando um almoço com<br />
a família em Santa Felicidade,<br />
sentiu o bendito vibrar no<br />
bolso. Passeando com a sogra<br />
na Rua XV, não deu outra: o<br />
dever a chamou. E até mesmo<br />
na consulta médica, que havia<br />
avisado que estaria offline,<br />
insistiram por uma resposta.<br />
Ela estava enlouquecendo<br />
com tanta cobrança. Não<br />
podia dormir que o trabalho<br />
a chamava por meio daquele<br />
som que ela tinha passado a odiar. Foi então que tomou<br />
uma decisão! Começou a procurar no fundo das gavetas<br />
aquele celular antigo, um dos primeiros que adquiriu há<br />
uns 10 anos. Quando o encontrou encheu-se de felicidade,<br />
ele era grande, feio e nada moderno, mas a sensação foi a<br />
mesma de quando deu o primeiro beijo. Alegria descrevia<br />
muito bem o momento.<br />
Deu uma carga de bateria e torceu para ele ligar.<br />
Quando a luz acendeu sorriu e respirou aliviada. Mexeu<br />
nas configurações e confirmou: sem vestígios de internet.<br />
No dia seguinte teria que justificar no trabalho que não<br />
tinha mais como participar dos grupos do zapzap porque<br />
alguma fatalidade havia levado seu celular, mas isso não<br />
seria problema, ela tinha a noite inteira para bolar uma<br />
desculpa. Nessa hora ela percebeu como a criatividade<br />
supera a tecnologia.<br />
Texto: Larissa Angeli / Ilustração: Fernanda Domingues<br />
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