Gestão Hospitalar N.º 8 2016
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mentar tem a duração que pode variar entre quatro e seis<br />
anos, de acordo com a especialidade médica\cirúrgica.<br />
Somos “educados” para ouvir os doentes, a compilar<br />
histórias clínicas, a ganhar técnica cirúrgica (ou várias),<br />
a aperfeiçoá-la. Trabalhamos com diferentes equipas de<br />
urgência, operamos com diversas equipas, chegamos a<br />
diagnósticos com várias linhas de pensamento, apoiados<br />
por vários especialistas. “Educar” parece-me então o verbo<br />
mais indicado. Na minha opinião, devemos sentir que<br />
integramos uma nova família, que somos o elemento mais<br />
novo do clã. Num serviço é importante que haja a preocupação<br />
com a formação do interno, que haja um sentimento<br />
pedagógico, a preocupação de colmatar o que nos falta<br />
no curriculum, de ensinar mais que a ciência médica - falar<br />
com os doentes, passar informações quanto ao seu estado<br />
de saúde, falar com as famílias, comunicar decisões<br />
médicas\cirúrgicas ‒ discutir no que podemos melhorar. É<br />
importante também que haja a perceção de que o interno<br />
está a perder a luta contra o cansaço, porque isto também<br />
acontece. Existindo esta união e sentimento de família,<br />
facilmente se percebe quando isto sucede, ajudando a reverter<br />
este ciclo.<br />
Opiniões de outros internos<br />
Para escrever este artigo contactei colegas de curso<br />
‒ da mesma e de outras especialidades ‒ colocados<br />
em diferentes hospitais, centros hospitalares e centros<br />
de saúde (cuidados de saúde primários). Ouvi as suas<br />
opiniões e o relato das suas experiências.<br />
Infelizmente uma experiência positiva no internato<br />
complementar não é transversal, como seria expectável<br />
para todos. Há colegas internos de especialidades cirúrgicas<br />
com dificuldade em realizar as cirurgias ou que sentem<br />
que servem apenas para “tapar buracos”, colmatando,<br />
frequentemente, a carência das equipas de urgência.<br />
Não sentem o apoio esperado nem a preocupação que<br />
deveria existir, atendendo à responsabilidade de formação<br />
que recai sobre estes serviços. Outro lamento ouvido<br />
repetidamente foi do excesso de horas, não pagas, com<br />
horários a ultrapassar as horas esperadas ou a falta de<br />
compreensão quanto à vida pessoal e familiar. Acredito<br />
que a diminuição do respeito pela classe médica, excesso<br />
de trabalho e as remunerações diminuídas fortaleçam<br />
este cenário. Na realidade, a mão de obra de um interno é<br />
económica se calcularmos o preço líquido da hora-extra.<br />
Será esta a principal razão deste novo fenómeno que é a<br />
emigração médica? Ou será que o número cada vez maior<br />
de internos complementares e a dificuldade na sua formação<br />
causa este aumento? Um grande número dos internos<br />
com quem falei pondera a emigração, alguns até mesmo<br />
antes de concluir a especialidade. Na verdade ‒ e pelo contacto<br />
que tive com alguns internos e recém-especialistas<br />
que já emigraram ‒ a nossa formação, a licenciatura e a<br />
formação complementar, é considerada de excelência,<br />
pelo que somos muito bem recebidos nas instituições de<br />
destino. Quem ficará a perder com esta saída de médicos<br />
formados no nosso país?<br />
Experiência pessoal<br />
Antes de integrar o internato complementar de Ginecologia\Obstetrícia,<br />
frequentei o internato médico<br />
da especialidade de Medicina Interna. A falta de procedimentos<br />
cirúrgicos incentivaram-me a repetir o exame<br />
de acesso à especialidade. Podemos resumir a preparação<br />
para este exame da seguinte forma: ler a Bíblia Sagrada<br />
o número máximo de vezes. Depois, trata-se de fazer um<br />
exame de escolha múltipla em que muitas perguntas se<br />
baseiam em percentagens. Cada um de nós esteve, seguramente,<br />
um ano completamente absorvido na preparação<br />
para este exame. Para quem o repetiu, como eu, sente<br />
que perdeu dois anos de vida, tendo agora que procurar<br />
compensar de alguma forma; talvez com uma alimentação<br />
saudável!<br />
Felizmente, a minha experiência como interno tem<br />
superado todas as minhas expetativas. Faço parte de<br />
um serviço que sinto como uma família. Existe um sentimento<br />
pedagógico em todos os especialistas. Em altura<br />
alguma senti-me desamparado numa decisão. Há sempre<br />
um especialista disponível para discutir casos clínicos. O<br />
desejo de querer transmitir conhecimentos é transversal<br />
em todo o serviço. Tenho tido a oportunidade de trabalhar<br />
com todos os especialistas e tenho sentido sempre<br />
que existe orgulho na passagem de conhecimentos, um<br />
Infelizmente uma experiência<br />
positiva no internato<br />
complementar não é transversal,<br />
como seria expectável para<br />
todos. Há colegas internos de<br />
especialidades cirúrgicas com<br />
dificuldade em realizar as cirurgias<br />
ou que sentem que servem apenas<br />
para “tapar buracos”, colmatando,<br />
frequentemente, a carência das<br />
equipas de urgência.<br />
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