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Gestão Hospitalar N.º 8 2016

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A (I)LITERACIA EM SAÚDE:<br />

FORÇAS E OPORTUNIDADES DO<br />

SISTEMA DE SAÚDE PORTUGUÊS<br />

MARTA DO CARMO<br />

Jurista em regulação da saúde<br />

A literacia em saúde implica<br />

que o indivíduo seja capaz de,<br />

designadamente, descrever e comunicar<br />

sintomas físicos e mentais, compreender<br />

as orientações dos profissionais, tomar<br />

decisões acerca de tratamentos médicos<br />

e do quando e como procurar ajuda<br />

médica, compreender instruções<br />

e prescrições, folhetos médicos,<br />

de consentir de forma livre e esclarecida<br />

e, ainda, seja capaz de negociar<br />

com outras entidades financiadoras<br />

dos cuidados.<br />

Os temas relacionados com a saúde são recorrentes<br />

nas conversas diárias que partilhamos e têm,<br />

como sabemos, um impacto relevante na economia, nas<br />

opções jurídico-legais e nas estratégias políticas adotadas<br />

pelos governos. Não obstante, é sensato afirmar que subsiste<br />

um efetivo desconhecimento e, pior, uma incapacidade<br />

de entendimento dos mesmos, transversal a toda a<br />

população, seja pela sua complexidade, seja pela sua recorrente<br />

novidade. Falamos da (i)literacia em saúde.<br />

Em Portugal, muito há a fazer neste domínio ao nível<br />

do sistema para que se torne mais aberto e transparente,<br />

mais conhecedor e próximo das necessidades e expectativas<br />

do indivíduo e das comunidades; especialmente junto<br />

dos profissionais de saúde que devem ser responsabilizados<br />

pela informação que transmitem e parceiros nas decisões,<br />

e, também, de cada cidadão que deve tornar-se mais<br />

interventivo e interessado pela sua saúde e pela da sua<br />

comunidade.<br />

A definição de “literacia em saúde” nem sempre se revelou<br />

consensual e conheceu diferentes abordagens nas últimas<br />

décadas. Foi primeiramente utilizada em 1978, num<br />

relatório que propunha standards mínimos para a educação<br />

em saúde no sistema de ensino secundário americano (Simonds,<br />

1978; Mancuso, 2009), mas foi na década de 90<br />

do pretérito século que se apresentaram definições mais<br />

claras assentes, essencialmente, na promoção e educação<br />

para a saúde (Kickbusch, 1997; Nutbeam, 2000 1 ).<br />

A literacia em saúde implica que o indivíduo seja capaz<br />

de, designadamente, descrever e comunicar sintomas físicos<br />

e mentais, compreender as orientações dos profissionais,<br />

tomar decisões acerca de tratamentos médicos e<br />

do quando e como procurar ajuda médica, compreender<br />

instruções e prescrições, folhetos médicos, de consentir<br />

1 Em 2000, este A definiu três tipos ou níveis de literacia ‒ a funcional (ou básica),<br />

a interativa (comunicacional) e a crítica ‒ e, desta forma, possibilitou que a literacia<br />

fosse prespetivada em crescendo de autonomia e capacitação ou empoderamento<br />

(empowerment) dos indivíduos (Nutbeam, 2000). Sumariamente, a literacia<br />

funcional/básica importa competências suficientes para ler e escrever, permitindo<br />

um funcionamento efetivo nas atividades do dia a dia; a literacia interativa/comunicativa<br />

implica aptidões cognitivas e de literacia mais avançadas que, em conjunto<br />

com as aptidões sociais, podem ser usadas para participar nas atividades no dia<br />

a dia, para extrair informação e significados a partir de diferentes formas de comunicação<br />

e aplicar essa nova informação e, ainda, a literacia crítica refere-se às<br />

competências cognitivas mais avançadas que, juntamente com as aptidões sociais,<br />

pode ser aplicada para analisar criticamente a informação e usar esta informação<br />

para exercer maior controlo sobre os acontecimentos e situações da vida (Nutbeam,<br />

2000 e Revista de Enfermagem Referência ‒ III ‒ n.° 6, “Literacia em saúde<br />

mental de adolescentes e jovens: conceitos e desafios”, 2012).<br />

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