19.05.2018 Views

edição de 21 de maio de 2018

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

EspEciAl dE AnivErsário<br />

Anunciantes precisam questionar<br />

presença feminina em agências<br />

Profissionais <strong>de</strong>batem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mulheres na comunicação para que indústria não se torne jurássica<br />

Cristiane Marsola<br />

Incluir mulheres na li<strong>de</strong>rança<br />

das empresas <strong>de</strong> comunicação<br />

e atentar para a importância<br />

da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero é<br />

muito mais do que o discurso<br />

da moda. Esse foi um dos temas<br />

<strong>de</strong>batidos durante o painel<br />

sobre diversida<strong>de</strong> no evento <strong>de</strong><br />

aniversário do PROPMARK.<br />

“Acho que sou talvez a única<br />

CCO e é uma vergonha”. Foi<br />

assim que Joanna Monteiro, da<br />

CCO da FCB, iniciou a discussão<br />

sobre as mulheres em cargos <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>rança na publicida<strong>de</strong> brasileira.<br />

“A questão econômica<br />

complica porque as ca<strong>de</strong>iras são<br />

poucas e os homens não têm<br />

problema em dar algumas coisas<br />

para as mulheres, mas não<br />

as melhores ca<strong>de</strong>iras. ‘Estamos<br />

aqui há um tempão, bicho, tem<br />

gente na fila. Não vamos dar<br />

isso para uma mulher’. Os caras<br />

que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m isso ainda têm um<br />

pensamento arcaico. Não conseguem<br />

sequer ter a visão <strong>de</strong> quem<br />

vai substituí-los. No Brasil, se<br />

prepara muito mal quem vem<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> você. A possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o plano <strong>de</strong> sucessão - quando<br />

existe - privilegiar uma mulher é<br />

muito pequena”, completa.<br />

Joanna ainda <strong>de</strong>stacou que<br />

há uma certa cumplicida<strong>de</strong><br />

entre homens e, muitas vezes,<br />

eles dão preferência para discutir<br />

entre eles e excluir as mulheres<br />

do <strong>de</strong>bate. “Não importa<br />

o que é. Está tendo uma discussão<br />

com mulher, entra um outro<br />

homem, eles se olham e têm<br />

um quentinho, sabe? A mulher<br />

historicamente é mais <strong>de</strong>sconfortável”,<br />

explica.<br />

Uma solução apresentada<br />

por ela é abrir esse questionamento<br />

nos espaços em que<br />

é possível fazê-lo, como nos<br />

anunciantes, já que a presença<br />

feminina já é <strong>maio</strong>r. “Esse<br />

questionamento por parte dos<br />

clientes sobre quem você tem<br />

<strong>de</strong>ntro da sua agência é fundamental.<br />

É preciso dar esse espaço,<br />

senão não vai mudar”, fala.<br />

O presi<strong>de</strong>nte da J. Walter<br />

Thompson, Ricardo John, também<br />

acredita que é preciso ter<br />

ações afirmativas para corrigir<br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.<br />

“O soft power, que é<br />

uma coisa feminina, precisa ser<br />

trazido para as agências cada<br />

vez mais, mas para isso precisa<br />

ter uma lógica <strong>de</strong> mentoria e recrutamento<br />

muito diferente da<br />

que temos hoje. A gente tem <strong>de</strong><br />

forçar a mão. Precisa fazer um<br />

processo seletivo em que sempre<br />

tenha uma mulher no final<br />

do processo. Esse brotherhood<br />

que a Joanna falou é exceção e<br />

está sumindo”, afirma.<br />

A CCO da FCB reafirmou que<br />

a situação ainda está longe do<br />

i<strong>de</strong>al. “Preocupa-me entrar no<br />

Clube <strong>de</strong> Criação e ter, sei lá,<br />

95 homens e cinco mulheres e<br />

Marçal Neto/Divulgação<br />

Joanna Monteiro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que anunciantes questionem a falta <strong>de</strong> mulheres na criação<br />

“os homens não<br />

têm problema<br />

em dar algumas<br />

coisas para as<br />

mulheres, mas<br />

não as melhores<br />

ca<strong>de</strong>iras”<br />

eu pensar: ‘o que estou fazendo<br />

aqui?’. E foi o que aconteceu na<br />

última entrega do Anuário. Você<br />

precisa forçar a mão mesmo”,<br />

fala. A executiva chamou a atenção<br />

para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir<br />

no <strong>de</strong>bate aqueles que são mais<br />

resistentes às mudanças. “Queria<br />

que esta mesa tivesse outros<br />

diretores <strong>de</strong> criação que fossem<br />

ficar mais <strong>de</strong>sconfortáveis. Tem<br />

gente que está fazendo, claro.<br />

Assim como tem muita mulher<br />

machista, tem muito homem<br />

que enten<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ter algo mais inteligente, <strong>de</strong> ser<br />

mais plural. A gente trabalha<br />

com comunicação e isso é fundamental”,<br />

completa.<br />

John concordou com a colega.<br />

“A gente agoniza se não mudar.<br />

Se ninguém acordar para<br />

este fato, a gente vai ser uma<br />

indústria jurássica”, concorda o<br />

executivo.<br />

“Todo mundo aqui é medido<br />

por resultados e a oportunida<strong>de</strong><br />

é enorme. A gente como<br />

anunciante tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> usar<br />

nossa mídia para falar disso e<br />

questionar nossas agências. Se<br />

a gente achar que está certo só<br />

ter homem na criação, vai continuar<br />

assim. A gente tem esse<br />

po<strong>de</strong>r. Principalmente para as<br />

categorias da P&G, em que a<br />

mulher tem a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra.<br />

Se a gente só tem homem<br />

criando para essa mulher é um<br />

total fracasso”, exemplifica Poliana<br />

Sousa, diretora <strong>de</strong> comunicação<br />

e marketing da P&G.<br />

A executiva citou que até para<br />

um produto masculino, como<br />

Gillette, a mulher é responsável<br />

pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra em 65%<br />

dos casos.<br />

A diretora sênior <strong>de</strong> marketing<br />

da divisão <strong>de</strong> dispositivos<br />

móveis da Samsung Brasil, Loredana<br />

Sarcinella, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que<br />

o que <strong>de</strong>veria valer é a capacida<strong>de</strong><br />

das pessoas e não pelo gênero.<br />

“A gente está capacitando<br />

cada vez mais as mulheres para<br />

que elas ocupem cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />

e a gente está muito preocupado<br />

com valores”, diz.<br />

94 <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!