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EspEciAl dE AnivErsário<br />
Anunciantes precisam questionar<br />
presença feminina em agências<br />
Profissionais <strong>de</strong>batem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mulheres na comunicação para que indústria não se torne jurássica<br />
Cristiane Marsola<br />
Incluir mulheres na li<strong>de</strong>rança<br />
das empresas <strong>de</strong> comunicação<br />
e atentar para a importância<br />
da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero é<br />
muito mais do que o discurso<br />
da moda. Esse foi um dos temas<br />
<strong>de</strong>batidos durante o painel<br />
sobre diversida<strong>de</strong> no evento <strong>de</strong><br />
aniversário do PROPMARK.<br />
“Acho que sou talvez a única<br />
CCO e é uma vergonha”. Foi<br />
assim que Joanna Monteiro, da<br />
CCO da FCB, iniciou a discussão<br />
sobre as mulheres em cargos <strong>de</strong><br />
li<strong>de</strong>rança na publicida<strong>de</strong> brasileira.<br />
“A questão econômica<br />
complica porque as ca<strong>de</strong>iras são<br />
poucas e os homens não têm<br />
problema em dar algumas coisas<br />
para as mulheres, mas não<br />
as melhores ca<strong>de</strong>iras. ‘Estamos<br />
aqui há um tempão, bicho, tem<br />
gente na fila. Não vamos dar<br />
isso para uma mulher’. Os caras<br />
que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m isso ainda têm um<br />
pensamento arcaico. Não conseguem<br />
sequer ter a visão <strong>de</strong> quem<br />
vai substituí-los. No Brasil, se<br />
prepara muito mal quem vem<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> você. A possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> o plano <strong>de</strong> sucessão - quando<br />
existe - privilegiar uma mulher é<br />
muito pequena”, completa.<br />
Joanna ainda <strong>de</strong>stacou que<br />
há uma certa cumplicida<strong>de</strong><br />
entre homens e, muitas vezes,<br />
eles dão preferência para discutir<br />
entre eles e excluir as mulheres<br />
do <strong>de</strong>bate. “Não importa<br />
o que é. Está tendo uma discussão<br />
com mulher, entra um outro<br />
homem, eles se olham e têm<br />
um quentinho, sabe? A mulher<br />
historicamente é mais <strong>de</strong>sconfortável”,<br />
explica.<br />
Uma solução apresentada<br />
por ela é abrir esse questionamento<br />
nos espaços em que<br />
é possível fazê-lo, como nos<br />
anunciantes, já que a presença<br />
feminina já é <strong>maio</strong>r. “Esse<br />
questionamento por parte dos<br />
clientes sobre quem você tem<br />
<strong>de</strong>ntro da sua agência é fundamental.<br />
É preciso dar esse espaço,<br />
senão não vai mudar”, fala.<br />
O presi<strong>de</strong>nte da J. Walter<br />
Thompson, Ricardo John, também<br />
acredita que é preciso ter<br />
ações afirmativas para corrigir<br />
as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.<br />
“O soft power, que é<br />
uma coisa feminina, precisa ser<br />
trazido para as agências cada<br />
vez mais, mas para isso precisa<br />
ter uma lógica <strong>de</strong> mentoria e recrutamento<br />
muito diferente da<br />
que temos hoje. A gente tem <strong>de</strong><br />
forçar a mão. Precisa fazer um<br />
processo seletivo em que sempre<br />
tenha uma mulher no final<br />
do processo. Esse brotherhood<br />
que a Joanna falou é exceção e<br />
está sumindo”, afirma.<br />
A CCO da FCB reafirmou que<br />
a situação ainda está longe do<br />
i<strong>de</strong>al. “Preocupa-me entrar no<br />
Clube <strong>de</strong> Criação e ter, sei lá,<br />
95 homens e cinco mulheres e<br />
Marçal Neto/Divulgação<br />
Joanna Monteiro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que anunciantes questionem a falta <strong>de</strong> mulheres na criação<br />
“os homens não<br />
têm problema<br />
em dar algumas<br />
coisas para as<br />
mulheres, mas<br />
não as melhores<br />
ca<strong>de</strong>iras”<br />
eu pensar: ‘o que estou fazendo<br />
aqui?’. E foi o que aconteceu na<br />
última entrega do Anuário. Você<br />
precisa forçar a mão mesmo”,<br />
fala. A executiva chamou a atenção<br />
para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir<br />
no <strong>de</strong>bate aqueles que são mais<br />
resistentes às mudanças. “Queria<br />
que esta mesa tivesse outros<br />
diretores <strong>de</strong> criação que fossem<br />
ficar mais <strong>de</strong>sconfortáveis. Tem<br />
gente que está fazendo, claro.<br />
Assim como tem muita mulher<br />
machista, tem muito homem<br />
que enten<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ter algo mais inteligente, <strong>de</strong> ser<br />
mais plural. A gente trabalha<br />
com comunicação e isso é fundamental”,<br />
completa.<br />
John concordou com a colega.<br />
“A gente agoniza se não mudar.<br />
Se ninguém acordar para<br />
este fato, a gente vai ser uma<br />
indústria jurássica”, concorda o<br />
executivo.<br />
“Todo mundo aqui é medido<br />
por resultados e a oportunida<strong>de</strong><br />
é enorme. A gente como<br />
anunciante tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> usar<br />
nossa mídia para falar disso e<br />
questionar nossas agências. Se<br />
a gente achar que está certo só<br />
ter homem na criação, vai continuar<br />
assim. A gente tem esse<br />
po<strong>de</strong>r. Principalmente para as<br />
categorias da P&G, em que a<br />
mulher tem a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra.<br />
Se a gente só tem homem<br />
criando para essa mulher é um<br />
total fracasso”, exemplifica Poliana<br />
Sousa, diretora <strong>de</strong> comunicação<br />
e marketing da P&G.<br />
A executiva citou que até para<br />
um produto masculino, como<br />
Gillette, a mulher é responsável<br />
pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra em 65%<br />
dos casos.<br />
A diretora sênior <strong>de</strong> marketing<br />
da divisão <strong>de</strong> dispositivos<br />
móveis da Samsung Brasil, Loredana<br />
Sarcinella, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que<br />
o que <strong>de</strong>veria valer é a capacida<strong>de</strong><br />
das pessoas e não pelo gênero.<br />
“A gente está capacitando<br />
cada vez mais as mulheres para<br />
que elas ocupem cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />
e a gente está muito preocupado<br />
com valores”, diz.<br />
94 <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark