JUNHO 2018 - Nº 242

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20 LUSITANO de Zurique Comunidades Quanto vou receber na reforma da AHV ? CARLOS LOPES Para obter uma reforma completa é necessário trabalhar 44 Anos A quantia da reforma pode variar de acordo com seu salário em media dos anos de cotização. Exemplo: Se contribuiu sem nenhuma interrupção durante os 44 anos e a media não excedeu os 14,100 francos. Recebe 1.175 francos. Se contribuiu sem nenhuma interrupção durante 44 anos e com um salario igual ou superior a 84.600 francos. Recebe o pagamento máximo que é de 2.350 francos. A lei Suíça prevê que a reforma máxima não pode ser maior que o dobro da reforma mínima. Como calcular a reforma de um casal? A soma das reformas de um casal não pode ser superior a 150% da reforma individual máxima, ou seja 2.350 x 150% = 3.525 francos por mês. Se seu calculo e superior será reduzido individualmente no casal ate atingir o valor de 3.525. Para mais informações: Carlos Lopes 079 400 76 35 Vende-se Jornal Para mais informações contacte: manuel.araujo@protonmail.ch Título jornalístico regional do Minho activo há mais de duas décadas. Projecto operacional pronto a ir para as bancas “de um dia para o outro”. Há a possibilidade de o novo proprietário obter apoio comunitário para revitalizar e ampliar o actual projecto.
Opinião <strong>JUNHO</strong> <strong>2018</strong> 21 “Mundo cruel e distorcido” PEDRO BARROSO EMPAREDADOS EM CASA, HOJE, TEREMOS TALVEZ TUDO; MAS TAMBÉM TALVEZ O MAIS CONVIVIDO DOS QUOTIDIANOS DE SOLIDÃO E DAS NOITES NUNCA ACONTECIDAS. Dantes havia gente atrás dos olhos das pessoas. Íamos ao banco, ao mercado, ao quiosque e alguém nos respondia com um bom dia e aviava-nos cenouras, jornais ou créditos. Enfim, negociava-se conversando com alguém. E a cara dos outros era-nos importante referência. Dantes, o professor, com todos os defeitos e preferências, lacunas e méritos, era uma pessoa; hoje há ensino net proporcionando cursos inteiros, sem nunca vermos tal outrora imprescindível personagem. Dantes o senhor do talho dizia: “olá D.ª Fernanda como vai? Tenho aqui uma peça q vou encetar só para si.” E a manteiga vinha em tigelões, batida com mais ou menos sal, outra com alho e coentros; o atum estava na barrica e a dúzia de ovos levava sempre 13; por cortesia da D.ª Micas do lugar de hortaliças e assuntos afins, por a minha mãe ser cliente habitual. Numa sociedade onde os robots substituíram as pessoas, é notícia de hoje os carros sem condutor em aprovação, com rotas e vias já previstas de Mérida a Évora, e do Porto a Vigo. Dantes a música era feita por músicos; agora qualquer DJ encartado é um produtor de sucesso, fazendo uma base martelada e apondo uma espécie de melodia oculta, distorcida, de preferência alta e contundente para abanar o capacete; e um programa de computador - para quem saiba tais técnicas, claro - pode facilmente suprir orquestras inteiras. Em tudo - transacções bancárias, certidões, reservas hoteleiras, conversas de simpatia tornaram-se em bookings assépticos, onde não dá para pedirmos aquela cama verde que tanto apreciáramos na última vez, e o quarto com vista para a torre Eiffel, os Clérigos, ou talvez Cacilhas. Nos ticket lines compram-se bilhetes, sem falar com a senhora da bilheteira que nos disponibilizava as cadeiras F23 e F25 que tinham mais espaço para as pernas, mas ninguém sabia. E piscávamos-lhe o olho, agradecidos. Onde pára tudo isso? A cumplicidade? Todo esse exército de gente viva que comunicava connosco? Como testar o queijo, o presunto, ou a melancia, para saber se os queremos mesmo levar para casa? Como resolver, se do outro lado do balcão apenas existem pacotes de todos os formatos? Carnes frias empacotadas com um ar tristíssimo de estar ali e abertura fácil sempre dificílima? Como? - se a própria caixa virou balança automática, o boletineiro já não nos traz telegramas e os carregadores de piano viraram empresa? Emparedados em casa, hoje, teremos talvez tudo; mas também talvez o mais convivido dos quotidianos de solidão e das noites nunca acontecidas. Resta a arte, a opinião, a ruralidade, a cozinha tradicional, o artesanato, a florista talvez, o encontro acidental e meia dúzia de coisas que vossências edificantemente reunirão, para ainda vivermos o contraditório desespero de nos sentirmos culpados de menos modernidade. O toque e o sorriso. Por favor. Consideram-nos então uma espécie de velhos do Restelo da tecnologia e do tão complexo e inextricável simplex que inundou feroz e discriminatoriamente as nossas vidas. Seremos. Mas invadiram-nos, exploram- -nos, violam-nos. Até na intimidade, onde sites especializados, pagando bem, nos farão busca automática de parceira de olhos azuis, morena, 1,63, professora, 87 68 87, agnóstica, sem filhos e com um certo gosto por... filatelismo. Onde iremos parar sem caras para olharmos? nem razões para dirimirmos? nem interlocutores para negociar o desconto? nem almas misericordiosas que nos instalem a ultima app ou o último upgrade que nos permitirá viver sem motorista? Sem carvoeiro? Sem marçano a levar o caixote de compras a casa? Sem a senhora da fava rica e dos caracóis a copo? Que mundo cruel e distorcido. Que servidão. É-me dramático comprar, sem ninguém do outro lado do balcão. Com um sorriso e voz. Caras e funções há, que desapareceram na voracidade de um mundo robótico, à velocidade de 2 gerações. Os frangos nascem hoje já depenados e amanhados, nas prateleiras e arcas congeladoras dos supermercados. Nunca viram chão. Sabemos. É mais prático e higiénico que as velhas lojas de criação. Mas as galinhas de antigamente não me sabiam como estas, a cartão prensado. Carros sem motorista?! Eu gosto tanto de guiar, ao fim da tarde, pelos campos floridos sem fim, em estradas lentas, contigo ao lado. Se me forçarem a entrar amanhã num carro sem volante, eu vou ficar assustadíssimo, confuso e deprimido. Avario. Não obrigado, senhores. Vou de comboio; se ainda houver tal coisa.
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