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marketing & negócios<br />
BrianAJackson/iStock<br />
De tempos em tempos<br />
lembra-se do óbvio<br />
O dia a dia geralmente é muito<br />
conservador e repetitivo<br />
Rafael Sampaio<br />
Em uma ativida<strong>de</strong> que constantemente<br />
promove sua criativida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> inovação, como a publicida<strong>de</strong>, o dia a dia<br />
geralmente é muito conservador e repetitivo,<br />
além do que é comum a proposição <strong>de</strong><br />
falsas novida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scobertas” que na<br />
realida<strong>de</strong> são abordagens, práticas e soluções<br />
tradicionais <strong>de</strong>vidamente recicladas –<br />
e mesmo sem nenhuma dose <strong>de</strong> evolução.<br />
Não é raro, inclusive, que algumas <strong>de</strong>ssas<br />
novas proposições sejam absolutamente<br />
óbvias e até básicas, que jamais <strong>de</strong>veriam<br />
ser esquecidas ou <strong>de</strong>ixadas à parte, mas<br />
que acabam sendo abandonadas <strong>de</strong>vido à<br />
ânsia <strong>de</strong> propor e usar coisas novas que domina<br />
nossa ativida<strong>de</strong>.<br />
Por isso é comum, no contraponto <strong>de</strong>sse<br />
hábito <strong>de</strong> hipervalorizar o novo, que<br />
<strong>de</strong> tempos em tempos lembre-se do óbvio<br />
– às vezes até mesmo o chamado “óbvio<br />
ululante” disseminado pelas cortantes<br />
crônicas <strong>de</strong> Nelson Rodrigues. Na área <strong>de</strong><br />
mídia, isso é dramaticamente frequente,<br />
pois, por mais que se sofistique e se proponham<br />
novas abordagens, regularmente<br />
alguém encontra o óbvio no meio <strong>de</strong><br />
seu caminho, como muito bem <strong>de</strong>screveu<br />
Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> em um <strong>de</strong> seus<br />
mais famosos poemas.<br />
Recentemente foi lançado um whitepaper<br />
preparado pelo The Drum Studios (especializado<br />
em criação <strong>de</strong> conteúdos para<br />
marcas) e pela martech Gum gum, com o<br />
sugestivo nome <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> contextual:<br />
a nova fronteira, que foi elaborado com<br />
base em pesquisa feita com 116 executivos<br />
do Reino Unido e Estados Unidos responsáveis<br />
pela publicida<strong>de</strong> digital em suas<br />
empresas.<br />
O pretexto para a preparação do documento<br />
foi a entrada em vigor da GPPR na<br />
Europa, que a exemplo da legislação do<br />
estado da Califórnia e também do Brasil,<br />
limita a possibilida<strong>de</strong> dos anunciantes usarem<br />
como estratégia e tática <strong>de</strong> mídia os famosos<br />
algoritmos que cercam os usuários<br />
da internet com uma irritante enxurrada<br />
<strong>de</strong> mensagens com base em seu comportamento<br />
<strong>de</strong> navegação.<br />
Além <strong>de</strong>ssa lei que limita os abusos no<br />
emprego da publicida<strong>de</strong> digital enfrenta-se<br />
os sucessivos escândalos do mau uso dos<br />
dados dos consumidores pelo Facebook,<br />
Twitter e outras re<strong>de</strong>s sociais, que já causaram<br />
redução importante nas verbas a elas<br />
<strong>de</strong>stinadas e a até a inesperada interrupção<br />
do Google+, por sua corporação.<br />
O que o documento propõe é a mais do<br />
que óbvia abordagem secular <strong>de</strong> planejamento<br />
<strong>de</strong> mídia: inserir as mensagens publicitárias<br />
no melhor contexto <strong>de</strong> veículos,<br />
programas e posições, <strong>de</strong> forma a empregar<br />
a melhor <strong>de</strong>mografia, psicografia, geolocalização,<br />
conteúdo no qual estará inserido o<br />
comportamento dos consumidores diante<br />
do meio e <strong>de</strong> sua mensagem.<br />
Tirando a sofisticação do possível uso<br />
matemático <strong>de</strong> requintada mo<strong>de</strong>lagem<br />
estatística para otimizar a proposição do<br />
perfil da mídia a ser utilizada, a essência do<br />
que o documento <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “segmentação<br />
contextual” está nos primeiros textos<br />
técnicos sobre a “publicida<strong>de</strong> científica”,<br />
escrita por Clau<strong>de</strong> C. Hopkins em 1923 –<br />
sim, há quase um século. O documento publicado<br />
neste segundo semestre <strong>de</strong> <strong>2018</strong> no<br />
fundo repassa os conceitos mais básicos <strong>de</strong><br />
mídia, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> promover os serviços<br />
<strong>de</strong> maximização dos investimentos a partir<br />
dos recursos das martechs.<br />
Em situações <strong>de</strong> média ou baixa complexida<strong>de</strong><br />
no panorama <strong>de</strong> mídia, porém,<br />
nada que alguma informação básica e o<br />
velho bom senso não resolva. Em situações<br />
<strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong> e um gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> variáveis possíveis, é evi<strong>de</strong>nte<br />
que o emprego <strong>de</strong> instrumentos analíticos<br />
é bem-vindo. Citado no documento, um<br />
alto executivo <strong>de</strong> agência lembra que, “a<br />
segmentação contextual nunca foi embora,<br />
mas o seu valor está mais tangível <strong>de</strong>vido<br />
ao GDPR. O contexto sempre foi um filtro,<br />
que agora cresce em importância”.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
30 <strong>15</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark