12.10.2018 Views

edição de 15 de outubro de 2018

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

última página<br />

bombuscreative/iStock<br />

nada será<br />

como antes<br />

Claudia Penteado<br />

disrupção atingiu <strong>de</strong>finitivamente as<br />

A campanhas eleitorais e o jeito <strong>de</strong> nos<br />

relacionarmos com os candidatos. Como<br />

outras indústrias atingidas em cheio pelo<br />

mundo digital, esta também é uma indústria<br />

que terá <strong>de</strong> se reinventar, por um motivo<br />

muito simples: não há nada mais potente<br />

do que o tempo real. Ao mesmo tempo,<br />

não há nada mais volátil do que a opinião<br />

das pessoas. Durante processos eleitorais,<br />

há pessoas que mudam <strong>de</strong> opinião na hora<br />

<strong>de</strong> apertar o número do candidato diante<br />

da urna eletrônica.<br />

Isso <strong>de</strong>ve mudar a postura <strong>de</strong> todos os<br />

integrantes da imensa roda <strong>de</strong> produtos e<br />

serviços <strong>de</strong> comunicação que orbitam ao<br />

redor das eleições, sejam marketeiros experimentados,<br />

institutos <strong>de</strong> pesquisa, jornalistas,<br />

veículos <strong>de</strong> comunicação em geral.<br />

Neste mundo que já era <strong>de</strong>lineado há mais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos por Henry Jenkins em seu livro<br />

Cultura da Convergência, candidatos<br />

criam os próprios canais<br />

diretos <strong>de</strong> comunicação com as<br />

pessoas, as transformam em veículo,<br />

subvertem a velha lógica do<br />

horário <strong>de</strong> propaganda eleitoral<br />

gratuito. Muita água rolou <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os primórdios <strong>de</strong>ste cenário <strong>de</strong>scrito<br />

por Jenkins, quando o YouTube entrou<br />

o jogo das eleições, suscitando especulações<br />

sobre as consequências <strong>de</strong> dar ao público<br />

“um lugar à mesa” no <strong>de</strong>bate político.<br />

O candidato à Presidência que li<strong>de</strong>rou<br />

as pesquisas do primeiro ao último dia no<br />

primeiro turno teve parcos 8 segundos para<br />

se manifestar no horário eleitoral gratuito<br />

na TV, virou game e lançou um aplicativo<br />

<strong>de</strong> conteúdo, com ví<strong>de</strong>os fresquinhos<br />

e compartilháveis 24 horas por dia. Outro<br />

candidato, que ficou em segundo lugar no<br />

primeiro turno e tinha dois minutos e 23 segundos<br />

<strong>de</strong> propaganda diária na TV aberta,<br />

chegou a trocar mensagens pelo WhatsApp<br />

com uma amiga minha. Po<strong>de</strong> haver algo<br />

mais disruptivo em um processo eleitoral<br />

do que um candidato à Presidência da República<br />

estar acessível via celular?<br />

“O Whatsapp<br />

faz a sMs<br />

parecer<br />

eMbOlOrada”<br />

Se hoje caminhamos para um resultado<br />

eleitoral em que todos per<strong>de</strong>m (como sugeriu<br />

o meme profético <strong>de</strong> Dilma Rousseff,<br />

apenas para colocar um pouco <strong>de</strong> humor<br />

na paisagem), eu diria que o WhatsApp -<br />

ou Zap, como é carinhosamente chamado<br />

- é o gran<strong>de</strong> vencedor das eleições <strong>de</strong> <strong>2018</strong><br />

no Brasil. Juntamente com o celular, que<br />

acompanha <strong>de</strong>z entre <strong>de</strong>z eleitores do país.<br />

Seu uso exacerbado transformou o aplicativo<br />

<strong>de</strong> mensagens em uma gigantesca re<strong>de</strong><br />

social, um verda<strong>de</strong>iro fenômeno com mais<br />

<strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> usuários, um dos maiores<br />

números da re<strong>de</strong> globalmente. Quase<br />

100% das pessoas que possuem celular<br />

no Brasil usam o WhatsApp. Senhoras <strong>de</strong><br />

80 anos usam WhatsApp. Crianças <strong>de</strong> oito<br />

anos também.<br />

São mais <strong>de</strong> 1 bilhão <strong>de</strong> usuários no mundo,<br />

e mais <strong>de</strong> 50 bilhões <strong>de</strong> mensagens enviadas<br />

por dia, em mais <strong>de</strong> 50 idiomas. O<br />

WhatsApp faz a SMS parecer embolorada.<br />

Chego a me assustar quando alguém envia<br />

uma mensagem por SMS, ferramenta dominada<br />

por spams, promoções <strong>de</strong> lojas e restaurantes<br />

e avisos nem sempre<br />

festivos da operadora <strong>de</strong> celular,<br />

do cartão <strong>de</strong> crédito e do banco.<br />

Um verda<strong>de</strong>iro trem fantasma.<br />

No WhatsApp escolhe-se a<br />

tribo que habitará sua lista <strong>de</strong><br />

bate-papo. É um espaço privado,<br />

mais “leve” do que as re<strong>de</strong>s sociais<br />

tradicionais: fala ao pé do ouvido. Ou grita,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> quem usa, claro. Para<br />

os profissionais <strong>de</strong> marketing eleitoral, já<br />

é consi<strong>de</strong>rado estratégico, especialmente<br />

no convencimento <strong>de</strong> eleitores in<strong>de</strong>cisos.<br />

Curiosamente, o aplicativo ficou <strong>de</strong> fora da<br />

regulamentação da campanha política digital.<br />

Com isso, teve espaço <strong>de</strong> sobra para se<br />

tornar o principal veículo <strong>de</strong> disseminação<br />

<strong>de</strong> conteúdos, inclusive toneladas da nossa<br />

velha conhecida fake news. Na guerra <strong>de</strong><br />

opiniões extremadas em que nos metemos,<br />

o WhatsApp virou ferramenta <strong>de</strong> guerrilha<br />

para candidatos e palco <strong>de</strong> muitas brigas<br />

entre pessoas que costumavam até se gostar.<br />

Há muito o que apren<strong>de</strong>r sobre comportamento<br />

humano a partir do WhatsApp.<br />

Margens <strong>de</strong> erro sempre existirão, claro,<br />

porque pessoas são, por essência, imprevisíveis<br />

e volúveis. Mas se há algo certo, em<br />

toda essa experiência que vivemos, é que<br />

nada será como antes.<br />

jornal propmark - <strong>15</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!