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última página<br />
bombuscreative/iStock<br />
nada será<br />
como antes<br />
Claudia Penteado<br />
disrupção atingiu <strong>de</strong>finitivamente as<br />
A campanhas eleitorais e o jeito <strong>de</strong> nos<br />
relacionarmos com os candidatos. Como<br />
outras indústrias atingidas em cheio pelo<br />
mundo digital, esta também é uma indústria<br />
que terá <strong>de</strong> se reinventar, por um motivo<br />
muito simples: não há nada mais potente<br />
do que o tempo real. Ao mesmo tempo,<br />
não há nada mais volátil do que a opinião<br />
das pessoas. Durante processos eleitorais,<br />
há pessoas que mudam <strong>de</strong> opinião na hora<br />
<strong>de</strong> apertar o número do candidato diante<br />
da urna eletrônica.<br />
Isso <strong>de</strong>ve mudar a postura <strong>de</strong> todos os<br />
integrantes da imensa roda <strong>de</strong> produtos e<br />
serviços <strong>de</strong> comunicação que orbitam ao<br />
redor das eleições, sejam marketeiros experimentados,<br />
institutos <strong>de</strong> pesquisa, jornalistas,<br />
veículos <strong>de</strong> comunicação em geral.<br />
Neste mundo que já era <strong>de</strong>lineado há mais<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos por Henry Jenkins em seu livro<br />
Cultura da Convergência, candidatos<br />
criam os próprios canais<br />
diretos <strong>de</strong> comunicação com as<br />
pessoas, as transformam em veículo,<br />
subvertem a velha lógica do<br />
horário <strong>de</strong> propaganda eleitoral<br />
gratuito. Muita água rolou <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
os primórdios <strong>de</strong>ste cenário <strong>de</strong>scrito<br />
por Jenkins, quando o YouTube entrou<br />
o jogo das eleições, suscitando especulações<br />
sobre as consequências <strong>de</strong> dar ao público<br />
“um lugar à mesa” no <strong>de</strong>bate político.<br />
O candidato à Presidência que li<strong>de</strong>rou<br />
as pesquisas do primeiro ao último dia no<br />
primeiro turno teve parcos 8 segundos para<br />
se manifestar no horário eleitoral gratuito<br />
na TV, virou game e lançou um aplicativo<br />
<strong>de</strong> conteúdo, com ví<strong>de</strong>os fresquinhos<br />
e compartilháveis 24 horas por dia. Outro<br />
candidato, que ficou em segundo lugar no<br />
primeiro turno e tinha dois minutos e 23 segundos<br />
<strong>de</strong> propaganda diária na TV aberta,<br />
chegou a trocar mensagens pelo WhatsApp<br />
com uma amiga minha. Po<strong>de</strong> haver algo<br />
mais disruptivo em um processo eleitoral<br />
do que um candidato à Presidência da República<br />
estar acessível via celular?<br />
“O Whatsapp<br />
faz a sMs<br />
parecer<br />
eMbOlOrada”<br />
Se hoje caminhamos para um resultado<br />
eleitoral em que todos per<strong>de</strong>m (como sugeriu<br />
o meme profético <strong>de</strong> Dilma Rousseff,<br />
apenas para colocar um pouco <strong>de</strong> humor<br />
na paisagem), eu diria que o WhatsApp -<br />
ou Zap, como é carinhosamente chamado<br />
- é o gran<strong>de</strong> vencedor das eleições <strong>de</strong> <strong>2018</strong><br />
no Brasil. Juntamente com o celular, que<br />
acompanha <strong>de</strong>z entre <strong>de</strong>z eleitores do país.<br />
Seu uso exacerbado transformou o aplicativo<br />
<strong>de</strong> mensagens em uma gigantesca re<strong>de</strong><br />
social, um verda<strong>de</strong>iro fenômeno com mais<br />
<strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> usuários, um dos maiores<br />
números da re<strong>de</strong> globalmente. Quase<br />
100% das pessoas que possuem celular<br />
no Brasil usam o WhatsApp. Senhoras <strong>de</strong><br />
80 anos usam WhatsApp. Crianças <strong>de</strong> oito<br />
anos também.<br />
São mais <strong>de</strong> 1 bilhão <strong>de</strong> usuários no mundo,<br />
e mais <strong>de</strong> 50 bilhões <strong>de</strong> mensagens enviadas<br />
por dia, em mais <strong>de</strong> 50 idiomas. O<br />
WhatsApp faz a SMS parecer embolorada.<br />
Chego a me assustar quando alguém envia<br />
uma mensagem por SMS, ferramenta dominada<br />
por spams, promoções <strong>de</strong> lojas e restaurantes<br />
e avisos nem sempre<br />
festivos da operadora <strong>de</strong> celular,<br />
do cartão <strong>de</strong> crédito e do banco.<br />
Um verda<strong>de</strong>iro trem fantasma.<br />
No WhatsApp escolhe-se a<br />
tribo que habitará sua lista <strong>de</strong><br />
bate-papo. É um espaço privado,<br />
mais “leve” do que as re<strong>de</strong>s sociais<br />
tradicionais: fala ao pé do ouvido. Ou grita,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> quem usa, claro. Para<br />
os profissionais <strong>de</strong> marketing eleitoral, já<br />
é consi<strong>de</strong>rado estratégico, especialmente<br />
no convencimento <strong>de</strong> eleitores in<strong>de</strong>cisos.<br />
Curiosamente, o aplicativo ficou <strong>de</strong> fora da<br />
regulamentação da campanha política digital.<br />
Com isso, teve espaço <strong>de</strong> sobra para se<br />
tornar o principal veículo <strong>de</strong> disseminação<br />
<strong>de</strong> conteúdos, inclusive toneladas da nossa<br />
velha conhecida fake news. Na guerra <strong>de</strong><br />
opiniões extremadas em que nos metemos,<br />
o WhatsApp virou ferramenta <strong>de</strong> guerrilha<br />
para candidatos e palco <strong>de</strong> muitas brigas<br />
entre pessoas que costumavam até se gostar.<br />
Há muito o que apren<strong>de</strong>r sobre comportamento<br />
humano a partir do WhatsApp.<br />
Margens <strong>de</strong> erro sempre existirão, claro,<br />
porque pessoas são, por essência, imprevisíveis<br />
e volúveis. Mas se há algo certo, em<br />
toda essa experiência que vivemos, é que<br />
nada será como antes.<br />
jornal propmark - <strong>15</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 69