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PME Magazine - Edição 10 - Outubro 2018

Álvaro Covões, diretor-geral da Everything is New, é a figura de capa da 10.ª edição da PME Magazine. Esta entrevista e muito mais aqui.

Álvaro Covões, diretor-geral da Everything is New, é a figura de capa da 10.ª edição da PME Magazine. Esta entrevista e muito mais aqui.

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OUTUBRO <strong>2018</strong> | TRIMESTRAL | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

EDIÇÃO ANO III - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA<br />

DIRETORA: MAFALDA MARQUES<br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Álvaro Covões<br />

COLORADD<br />

CÓDIGO DE CORES<br />

PARA DALTÓNICOS<br />

É SUCESSO EMPRESARIAL<br />

LACS<br />

O HUB CRIATIVO<br />

QUE FALTAVA EM LISBOA<br />

'MILLENNIALS'<br />

SAIBA O QUE ESPERAM<br />

DAS EMPRESAS


FIGURA de DESTAQUE<br />

Olhar 2019 nos olhos<br />

Editorial<br />

p4<br />

Álvaro Covões e a magia da indústria dos espetáculos<br />

p14<br />

Targetway e os desafios da indústria farmacêutica<br />

p16<br />

Vítor Palmela Fidalgo e a propriedade intelectual para <strong>PME</strong><br />

p18<br />

Openbook e a aventura arquitetónica no Brasil<br />

p20<br />

MARL e a modernização de um mercado abastecedor do<br />

século XXI<br />

p22<br />

ColorADD e o código que ajuda os daltónicos a ver a cores<br />

p24<br />

LACS e a comunidade criativa em Lisboa<br />

p27<br />

Nuno Troni e as aspirações da geração millennial<br />

p30 Mara Vicente Figueiredo no Serviço ao Cliente<br />

da Pipedrive<br />

p33<br />

Paulo Leal e os desafios da gestão interina nas empresas<br />

p34<br />

Sonder e a publicidade com pessoas autênticas<br />

p37<br />

25 anos de Listopsis<br />

p38<br />

Web Summit para o terceiro round<br />

p41<br />

Tim Vieira e a inovação disruptiva<br />

Ficha técnica<br />

DIRETORA: Mafalda Marques<br />

EDITORA: Ana Rita Justo<br />

REDAÇÃO: Denisse Sousa<br />

VÍDEO E FOTOGRAFIA: JD Edition, João Filipe Aguiar e Inês Antunes<br />

DESIGN GRÁFICO: Inês Antunes<br />

DIGITAL MANAGERS: Fábio Jesuíno e Ricardo Godinho<br />

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Nuno Troni, Paulo Leal, Tim Vieira e Vítor Palmela<br />

Fidalgo<br />

ESTATUTO EDITORIAL (leia na íntegra em www.pmemagazine.com)<br />

DEPARTAMENTO COMERCIAL<br />

EMAIL: publicidade@pmemagazine.com<br />

PROPRIEDADE: Massive Media Lda.<br />

NIPC: 5<strong>10</strong> 676 855<br />

MORADA SEDE ENTIDADE PROPRIETÁRIA/EDITOR:<br />

Urb. Nova do Tereco, 7 – Tourinha<br />

2665-018 Azueira<br />

REDAÇÃO: LisboaBiz - Av. Engenheiro Arantes e Oliveira, n.3 R/C<br />

1900-221 Lisboa<br />

TELEFONE: 211 934 140 | 96 453 31 02 | 934 952 854<br />

EMAIL: info@pmemagazine.com<br />

N. DE REGISTO NA ERC: 126819<br />

EDIÇÃO N.º: <strong>10</strong><br />

DEPÓSITO LEGAL N.º: 427738/17<br />

ISSN: 2184-0903<br />

TIRAGEM: <strong>10</strong>00 exemplares<br />

IMPRESSÃO: Ondagrafe - Artes Gráficas Lda.<br />

Rua da Serra Nº1, A-das-Lebres, 2660-202, Santo Antão do Tojal<br />

DISTRIBUIÇÃO: Massive Media Lda.<br />

Índice<br />

As perspetivas são moderadas,<br />

pelo que as empresas terão, mais uma vez, de mostrar a sua<br />

resiliência, num ambiente cada vez mais tecnológico, ávido<br />

de mudança e em que o consumidor está, a cada dia, mais<br />

exigente e informado.<br />

Álvaro Covões é a nossa figura de destaque, empresário de<br />

sucesso e diretor-geral da promotora Everything is New. Alguém<br />

que tem dado provas, dia após dia, de conseguir adaptar-se<br />

em pleno ao que o seu público lhe pede.<br />

Irascível quando tem de ser, Álvaro Covões abriu-nos a porta<br />

da empresa que criou em 2007 e que este ano viu o seu festival<br />

de maior sucesso, o NOS Alive, fazer dez anos. Como está<br />

a cultura em Portugal e o que podem os empresários e o Governo<br />

fazer para ajudar esta indústria em Portugal, eis o que<br />

pode descobrir nesta intensa entrevista.<br />

Nesta <strong>10</strong>.ª edição, mostramos alguns negócios diferentes,<br />

como o da farmacêutica Targetway, o novo hub criativo de<br />

Lisboa LACS, ou a Sonder, agência portuguesa de publicidade<br />

que aposta em pessoas autênticas.<br />

Fomos conhecer o atelier de arquitetura Openbook e saber<br />

como está a correr a experiência de internacionalização no<br />

Brasil, e damos também a conhecer os planos de modernização<br />

do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL).<br />

Vítor Palmela Fidalgo, da Inventa International, fala-nos<br />

sobre a importância da proteção da propriedade intelectual<br />

nas empresas, enquanto Nuno Troni, da Randstad, esclarece<br />

o que querem os millennials das empresas e o que podem os<br />

empregadores esperar desta geração tão peculiar.<br />

Paulo Leal, da Argus Performance Partners, escreve sobre<br />

a gestão interina e sobre como podem as empresas tirar benefício<br />

destas situações. Por fim, o business angel Tim Vieira<br />

volta a marcar presença numa edição da <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong>, agora<br />

com um artigo de opinião sobre o impacto da inovação disruptiva<br />

no mercado atual.<br />

Estes são alguns exemplos de negócios e pessoas que souberam<br />

dar o salto para o mundo moderno, numa altura em que<br />

o digital tomou, em grande medida, parte das nossas vidas,<br />

mas onde a ânsia da personalização e da personificação é<br />

cada vez maior.<br />

Fica a deixa para quem sobre isto queira refletir e o desejo de<br />

que em 2019 haja ainda mais empresários a dar o seu contributo<br />

para um Portugal em crescendo.<br />

ANA RITA JUSTO | EDITORA<br />

Corremos a passos largos para<br />

o fim do ano e alguns já olham<br />

para ele com vontade de fazer<br />

balanços. A economia portuguesa<br />

deverá terminar <strong>2018</strong> com um<br />

crescimento acima de 2%, prevendo-se<br />

percentagem semelhante<br />

para 2019.<br />

3


figura de destaque<br />

Ana Rita Justo<br />

João Filipe Aguiar<br />

Nasceu e cresceu no mundo dos espetáculos, com o Coliseu como casa.<br />

Passou pelo mercado cambial até enveredar decididamente pela indústria<br />

com a qual quase se confunde. Álvaro Covões, fundador e diretor-geral da<br />

Everything is New, fala-nos das dificuldades de empreender em Portugal,<br />

de um NOS Alive de sucesso e dos projetos que ainda estão para vir.<br />

“<br />

QUEM DEV<br />

<strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong> – Cresceu no Coliseu<br />

de Lisboa. Como foi ganhando<br />

o gosto pela música?<br />

Álvaro Covões – Fui um privilegiado,<br />

porque nasci dentro do Caldeirão.<br />

A minha família está ligada<br />

ao Coliseu desde os anos 1920,<br />

começou com o meu bisavô, sendo<br />

que eu já sou a quarta geração<br />

e já existe quinta e sexta geração!<br />

Como nasci dentro do Caldeirão –<br />

foi inevitável – apaixonei-me pelo<br />

mundo dos espetáculos. O Coliseu<br />

é uma sala multiusos. É um teatro<br />

de circo que foi fundado em 1890,<br />

nos Estados Unidos estavam os<br />

americanos a desbravar o faroeste.<br />

O que denota que o mundo na época<br />

era mais desenvolvido na Europa<br />

do que no resto dos continentes. É<br />

uma sala gigantesca, onde todo o<br />

tipo de espetáculos se realiza, desde<br />

circo, ópera, concertos, música<br />

clássica, teatro… Até boxe houve!<br />

Há registo de ter havido garraiadas.<br />

O Holiday on Ice passou nos anos<br />

1960 e, obviamente, os grandes<br />

concertos de música portuguesa,<br />

brasileira, pop-rock e congressos,<br />

os célebres congressos do PSD.<br />

O Coliseu é um espaço onde facilmente<br />

aprendemos a gostar de<br />

todo o tipo de artes.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – E chegou a trabalhar<br />

no Coliseu.<br />

A. C. – Sim, tinha o gostinho de<br />

nunca estar parado. Comecei talvez<br />

com 12 anos, no bar do Coliseu, a<br />

lavar chávenas e copos, de repente<br />

já estava no balcão a vender e depois<br />

fui gerente. Foi bom, felizmente<br />

não era uma necessidade, mas,<br />

ao mesmo tempo, fez-me aquilo<br />

que sou hoje: uma pessoa que gosta<br />

de trabalhar. Uma vez, numa noite<br />

do fado, às 5h00 da manhã, dois<br />

jornalistas vieram ao bar e pediram<br />

dois Brandy Casaleiro. Eram dois<br />

4<br />

famosos do Diário Popular. E eles<br />

perguntaram: “Que idade é que tu<br />

tens?”. Respondi que tinha 15 anos<br />

e eles disseram: “E estás aqui a trabalhar<br />

a esta hora?” – hoje em dia<br />

é proibido [risos]. E fizeram uma reportagem<br />

sobre a noite do fado e eu<br />

“O Coliseu é um espaço<br />

onde facilmente<br />

aprendemos a gostar<br />

de todo o tipo de artes”<br />

era a figura central: o menino de 15<br />

anos que às 5h00 da manhã estava<br />

a trabalhar no bar e, ainda por cima,<br />

era da casa! Tive várias experiências.<br />

Sou das poucas testemunhas<br />

de quando houve aquele episódio<br />

do ex-secretariado no Congresso<br />

do PS em que o Salgado Zenha, o<br />

Jorge Sampaio e o Mário Soares<br />

quase se pegaram fisicamente.<br />

Foi no bar. Lembro-me de ouvir as<br />

conversas do Zeca Afonso, no bar.<br />

Quando se está atrás do balcão,<br />

ouvimos muita coisa.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Na faculdade, seguiu<br />

gestão, mas os seus pais queriam<br />

que fosse para medicina…<br />

A. C. – Sim, os meus pais gostavam<br />

que eu fosse médico. E, no 9.º ano,<br />

tínhamos a opção de escolher e eu<br />

escolhi Saúde. Quando vi uma operação<br />

no Hospital de Santa Maria<br />

disse: “Decididamente, é isto que<br />

eu não quero ser”. Ao mesmo tempo,<br />

tinha Introdução à Economia,<br />

que me fascinou. Acabei por seguir<br />

Gestão de Empresas, apesar de o<br />

meu pai dizer: “Ao menos Economia”.<br />

Hoje, gestão é um curso mais<br />

nobre do que era. No meio disto<br />

tudo, estudava, fui muitas vezes<br />

delegado de turma e de curso na<br />

faculdade. No liceu, fui presidente


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

DEVIA GOVERNAR O PAÍS SÃO AS <strong>PME</strong><br />

Álvaro<br />

“<br />

Covões<br />

Álvaro Covões seguiu gestão e trabalhou durante sete anos no mercado cambial<br />

5


figura de destaque<br />

da Associação de Estudantes, na faculdade também<br />

estive na Associação de Estudantes. Cheguei a ser da<br />

Ala Juvenil da Sociedade Histórica para a Imprensa em<br />

Portugal… Sei lá! Eu só inventava coisas para fazer [risos],<br />

além de trabalhar! Já na faculdade, no primeiro<br />

ano, saí de uma noite do fado de direta para um exame!<br />

“SABER PARAR QUANDO ESTAMOS<br />

A PERDER”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Como foi trabalhar nos mercados?<br />

A. C. – Eu era money market dealer, fui um privilegiado,<br />

no tempo em que havia mercado. Trabalhava com escudos<br />

e foi das experiências mais fascinantes que tive<br />

na vida: durante sete anos fiz negócios de milhões. O<br />

negócio era comprar e vender dinheiro. Os bancos, tal<br />

como nós, têm o dinheiro num banco – numa conta no<br />

Banco de Portugal. Como têm de cumprir um depósito<br />

mínimo obrigatório, eram obrigados, consoante tivessem<br />

dinheiro a mais ou a menos, a vender dinheiro. O<br />

meu trabalho era esse. Durante sete anos, fiz centenas<br />

de milhares de negócios ao telefone e nunca ninguém<br />

disse: ‘Não foi bem assim’. Porque os mercados funcionam<br />

a uma rapidez fulminante. A palavra faz parte<br />

dos dez mandamentos do FOREX, a nossa cartilha. É<br />

um trabalho absolutamente vibrante, não há explicação.<br />

E das maiores lições que aprendi nos mercados foi<br />

que, na vida, temos de saber parar quando estamos a<br />

perder, isso é fundamental. Aliás, um cidadão comum,<br />

quando faz um investimento na Bolsa, se comprar<br />

ações a <strong>10</strong> euros e elas baixarem para 7, a tendência<br />

é para comprar mais. Mas não, está a aumentar o problema.<br />

Se elas continuarem a baixar, o prejuízo vai ser<br />

“Eu só inventava coisas para fazer.<br />

Já na faculdade, saí de uma noite<br />

do fado de direta para um exame!”<br />

muito maior. É a síndrome do jogador. É uma lição de<br />

vida muito importante, porque na vida também temos<br />

de saber perder. Não é fácil. É às vezes é melhor cortar,<br />

aceitar o que se perdeu e começar de novo, seja com o<br />

que for, se não pode ser irremediável. Foi o que aconteceu<br />

com o Grupo Espírito Santo.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Foi nisso que pensou quando decidiu<br />

mudar de atividade?<br />

A. C. – Sempre estive neste ramo. A minha primeira experiência<br />

a fazer um espetáculo ainda andava no liceu.<br />

Na faculdade, lembro-me que, no 3.º ano, tinha um<br />

exame de Gestão de Pessoal, e era a primeira vez da<br />

Amália no Coliseu. Chovia copiosamente. E eu a fazer<br />

o exame, a olhar para o relógio para me ir embora, porque<br />

tinha o espetáculo da Amália à noite. A minha vida<br />

foi sempre assim e quando estava na sala de mercados<br />

é quando, quase em simultâneo, crio a Música no Coração,<br />

em 1991. Entrei em dezembro de 1990 para os<br />

mercados. Faço o primeiro Super Bock, Super Rock a<br />

6<br />

trabalhar numa sala de mercados, faço o Vilar de Mouros<br />

de 1996, que foi o regresso do festival, e o Sudoeste<br />

de 1997 ainda na sala de mercados. Fora tudo o resto<br />

que já fazíamos. Até que, de repente, já nem tinha férias,<br />

já não dormia. Então, em 1998 dediquei-me só a<br />

isto.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Como começou a Música no Coração?<br />

A. C. – Portugal, no início dos anos 1990, só tinha um<br />

espetáculo internacional de dois em dois meses. Depois,<br />

no verão, havia duas empresas que lideravam o<br />

mercado, que se digladiavam para fazer dois a três espetáculos<br />

de estádio. Olhando para o mercado, via que<br />

cidades como Madrid, Barcelona, Paris, Amesterdão,<br />

Berlim, todas as grandes cidades da Europa tinham espetáculos<br />

todos os dias. Nós, estando na Europa, tendo<br />

uma cultura comum a caminho da moeda única, havia<br />

uma oportunidade de criar públicos. Depois, como<br />

não conseguimos entrar, porque as empresas tinham<br />

mais credibilidade e mais experiência, éramos sempre<br />

a terceira escolha para os espetáculos de estádio. Foi<br />

aí que decidimos avançar para os festivais. Começa aí:<br />

Super Bock, Super Rock em 1995, Vilar de Mouros em<br />

1996, Sudoeste 1997…<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Porque é que saiu?<br />

A. C. – Foi em 2006. Éramos dois sócios, tínhamos<br />

50/50 e tínhamos opiniões diferentes sobre o futuro<br />

e decidimos cada um seguir o seu caminho. Não foi<br />

nenhuma rutura, ninguém se zangou com ninguém.<br />

Foi uma decisão pura e simplesmente estratégica: um<br />

queria seguir um caminho, o outro queria seguir outro.<br />

Aí, crio a Everything is New e aí vem o NOS Alive.<br />

DIVULGAR NO ESTRANGEIRO<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Começou a Everything is New sozinho?<br />

A. C. – Tinha uma pequena equipa, na altura éramos<br />

cinco – hoje somos 22. E continuei a fazer aquilo que<br />

sabia fazer: promover, ter ideias diferentes… Lembro-<br />

-me quando criámos o projeto da Joana Vasconcelos<br />

no Palácio da Ajuda. Uma lição que aprendi com<br />

o meu guru do Marketing, o Philip Kotler: ele tem um<br />

livro fantástico com outro autor, que se chama Marketing<br />

Lateral, que adorei. O marketing lateral é a forma<br />

de marketing quando esgotamos o mercado. Quando<br />

esgotamos o mercado, como é que podemos aumentar<br />

as nossas vendas? Juntando outro produto e vendendo<br />

a quem não gosta do nosso produto. Por exemplo:<br />

a Kinder vendia chocolate a quem gosta de chocolate.<br />

Como é que posso aumentar as vendas? Vou meter<br />

um brinquedo lá dentro e vender chocolate a quem<br />

não gosta. A Joana Vasconcelos, no Palácio da Ajuda,<br />

é exatamente isso: arte contemporânea, moderna, um<br />

público moderno, mais jovem, [um ambiente] clássico,<br />

património. A minha mulher dizia: “Tu és maluco, isso<br />

é um perigo. A Joana esteve no Museu Berardo, numa<br />

exibição gratuita e teve 120 mil visitantes. Isso vai correr<br />

mal”. E correu muito bem, tivemos 235 mil visitantes<br />

e foi um fenómeno. No NOS Alive, fomos o primeiro


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Ligação de Álvaro Covões ao Coliseu começou com o bisavô<br />

festival no mundo a ter uma zona só para grávidas, são<br />

coisas simples. Às vezes complicamos o que é fácil. No<br />

ano dos Coldplay, era tarde, atendi um telefonema e<br />

era uma jovem que estava muito preocupada e disse:<br />

“Eu comprei o bilhete em setembro, entretanto fiquei<br />

grávida e estou de oito meses. Acha seguro ir ao festival?”.<br />

Aquilo ficou-me na cabeça: como é que nunca<br />

ninguém pensou em ter uma zona só para grávidas?<br />

Hoje temos e é uma zona espetacular. Arranjámos um<br />

parceiro, porque, quando queremos criar mais conteúdos<br />

num evento e não podemos aumentar o número de<br />

espectadores, nem nos interessa aumentar o preço do<br />

bilhete, só conseguimos isso juntando parceiros. Aliás,<br />

na edição de 2017, tivemos uma festivaleira que lhe rebentaram<br />

as águas em pleno concerto dos The XX e foi<br />

para a maternidade. Antes de haver muitos concertos<br />

em Portugal, as pessoas iam a Madrid ver concertos.<br />

Os conteúdos são importantes, então, como é que podemos<br />

aumentar o mercado? Se o país tem dez milhões<br />

de pessoas e os dez milhões não são o nosso mercado,<br />

porque os muito novos, até aos três anos, não são o<br />

nosso mercado, os muito velhos também não. Como é<br />

que podemos aumentar? Atrair pessoas de fora. Temos<br />

feito um trabalho, já há dez anos, de divulgar os nossos<br />

espetáculos no estrangeiro. Hoje, temos um Bob Dylan<br />

na Altice Arena e vendemos 1<strong>10</strong>0 bilhetes no es-<br />

trangeiro, temos um Sam Smith na<br />

Altice Arena e vendemos mais mil<br />

bilhetes no estrangeiro. É comum<br />

vendermos <strong>10</strong>%.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – E no NOS Alive?<br />

A. C. – Cinco a dez por cento. Houve<br />

um ano em que vendemos 30 mil<br />

bilhetes no estrangeiro. Este ano<br />

vendemos 16 mil, porque anunciámos<br />

Pearl Jam em dezembro, no dia<br />

1, no dia 3 estava esgotado. Os estrangeiros<br />

nem tiveram tempo para<br />

comprar! Mesmo assim, 16 mil são<br />

160 aviões! É uma procura constante<br />

de aumentar vendas. Temos<br />

uma filosofia: se tivermos um ponto<br />

de venda que não tenha custos<br />

e se vendermos dois bilhetes já<br />

ganhámos dois clientes. No NOS<br />

Alive fizemos uma coisa diferente:<br />

começámos a vender primeiro<br />

o destino e, já agora, um festival.<br />

Nós esquecemo-nos de que Lisboa<br />

é a única capital da Europa que tem<br />

praia. No NOS Alive, começámos a<br />

vender isso. Na grande Lisboa, de<br />

manhã podes surfar ou ir à praia, à<br />

hora de almoço podes experimentar<br />

a gastronomia portuguesa, ou<br />

visitar os museus, o nosso património,<br />

Sintra, o Palácio do Marquês de<br />

Pombal, o Castelo de São Jorge, o<br />

Mosteiro dos Jerónimos. A música<br />

só começa às 17h00, ao contrário dos outros festivais<br />

na Europa, onde começa às 11h00, ou ao meio-dia. E os<br />

mais afoitos à noite ainda podem ir para o Lux. Isto cria<br />

um produto completamente diferente.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Qual é o seu papel para pôr este festival<br />

de pé?<br />

A. C. – É de presidente da Junta [risos]! É de presidente<br />

da Câmara! Este ano tive essa sensação, deve ser absolutamente<br />

extraordinário ser presidente da Câmara.<br />

Mas é um presidente com mais poderes, porque a<br />

Câmara não superintende em tudo. Num festival, está<br />

tudo debaixo da orientação do presidente da Câmara. É<br />

uma sensação muito interessante, mas ao mesmo tempo<br />

dá-nos a visão de que, de facto, é muito difícil gerir<br />

uma comunidade.<br />

“ESTADO DIZ-NOS<br />

PARA DESISTIRMOS”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Como é que se organiza?<br />

A. C. – Tenho uma boa equipa, um bom planeamento<br />

e depois dormir pouco e trabalhar muito. Mas nos dias<br />

que correm é tudo muito mais difícil: há questões de<br />

segurança e ainda temos outro problema: vivemos num<br />

país em que o Estado tem uma série de entidades que<br />

7


8


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

todos os dias vêm para a rua dizerem-nos<br />

para desistirmos. Há sempre<br />

qualquer coisa que não está<br />

bem, porque há 1850 leis, todos<br />

os anos aparece mais uma norma…<br />

Ainda me lembro quando queriam<br />

fechar o festival porque tínhamos<br />

de ter a análise da água. Uma vez<br />

“Sempre que uma empresa<br />

fecha é sempre o malandro<br />

do empresário que falhou”<br />

queriam fechar os bares num evento<br />

em que tínhamos 30 mil pessoas,<br />

porque faltava um papel. Quando<br />

se fecha um estabelecimento, deixa-se<br />

de praticar atividade económica.<br />

Isto é a mesma coisa do que<br />

dizer: “Desistam”. A minha esperança<br />

é que um dia a sociedade civil<br />

diga: “Não, quem manda somos<br />

nós, não são vocês”. Não sou anarca,<br />

pelo contrário, sou muito pela<br />

democracia e acredito muito na lei.<br />

E como a nossa lei diz que o povo<br />

é soberano, quem manda é o povo,<br />

não podem ser eles – que nem sei<br />

quem são!<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Sente esses entraves<br />

na indústria dos espetáculos?<br />

A. C. – Não só dos espetáculos,<br />

qualquer atividade. É muito difícil<br />

ser-se empresário em Portugal,<br />

tudo é um problema. Paga-se taxas<br />

e impostos por tudo. Quando a<br />

coisa corre bem, somos os melhores<br />

do mundo, quando corre mal,<br />

ninguém quer saber de nós. É diabólico.<br />

É recorrente ver – e é uma<br />

coisa que acho feia – sempre que<br />

uma empresa fecha é sempre o malandro<br />

do empresário que falhou. É<br />

a imagem que se passa. Em Portugal<br />

é muito mais fácil falhar, porque<br />

não temos mercado. É um país tão<br />

pequeno e cada vez tem menos poder<br />

de compra. Não nos podemos<br />

esquecer que, nestes últimos 20<br />

anos, os sucessivos governos, o<br />

discurso do “Os que têm mais é que<br />

Álvaro Covões deixou a Música no Coração em 2016 e criou a Everything is New<br />

têm de pagar, temos de distribuir<br />

pelos que têm menos”, é uma mentira.<br />

Os que têm menos continuam a<br />

ter menos e os que têm mais cada<br />

vez têm menos. Só há uma diferença:<br />

os que têm mais, normalmente,<br />

são os que têm capacidade para<br />

investir, criar emprego, riqueza.<br />

Como não têm, não criam. Resultado:<br />

Portugal vai ser um país cada<br />

vez mais pobre.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Voltando aos espetáculos,<br />

o Álvaro tem sido um dos<br />

defensores da reposição do IVA a<br />

6%.<br />

A. C. – Sim, porque quando o país<br />

precisou de todos os portugueses,<br />

de todas as empresas, de todos os<br />

setores de atividade, em que, de<br />

uma forma generalizada subiram os<br />

impostos, todos disseram que sim.<br />

Se está tudo bem, está na altura<br />

de repor. Num país em que nunca<br />

se falou tanto em cultura como ultimamente,<br />

até já há promessas de<br />

aumentar o orçamento para a cultura,<br />

mas atenção: o primeiro passo<br />

que se tem de dar é tornar a cultura<br />

mais acessível. Se se está a taxar o<br />

acesso à cultura com a taxa intermédia,<br />

estamos a dificultar. O Estado<br />

dá dinheiro ao Teatro São Carlos<br />

e depois cobra 13,5% de IVA, então<br />

[a cultura] é para os mais ricos, não<br />

é para todos. A primeira distribuição<br />

equitativa é baixarem o imposto.<br />

Uma coisa é criação cultural,<br />

outra é usufruição cultural. Quando<br />

se fala em subsídios estamos<br />

a apoiar emprego.<br />

E depois a usufruição? Os<br />

portugueses usufruem?<br />

Os estudos dizem que<br />

não. Segundo o INE, cada<br />

português gastou, em<br />

2016, 8,5 euros em espetáculos<br />

ao vivo, menos do<br />

que qualquer pessoa que<br />

beba mais do que um café<br />

por dia, por semana. Se<br />

formos ver o último estudo<br />

da Comissão Europeia<br />

sobre hábitos culturais,<br />

em 2013, Portugal está<br />

em último lugar na leitura<br />

de livros. Quando se<br />

pergunta a um português<br />

se assistiu a um concerto<br />

de música no último mês<br />

somos o último dos 27 – na altura<br />

eram 27. Só 19% assistiu a um concerto.<br />

Assistiu a um espetáculo de<br />

teatro? Só 13%, 8% ópera ou ballet.<br />

E 40% leram pelo menos um livro. É<br />

o resultado das políticas culturais,<br />

não do PS, PSD, ou CDS ou agora<br />

da gerigonça. É de todos.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Está otimista em relação<br />

à petição para a reposição<br />

do IVA?<br />

A. C. – Num país normal estaria,<br />

mas nunca mais ouvi ninguém falar…<br />

<strong>PME</strong> Mag. – O que gostaria que<br />

fosse feito pela cultura?<br />

A. C. – Gostaria que houvesse uma<br />

premiação para os investidores.<br />

Nós tivemos duas leis absolutamente<br />

democráticas e quase de<br />

Esquerda, feitas pelo Adolfo Mesquita<br />

Nunes, na altura secretário de<br />

Estado do Turismo: [uma] quando<br />

regulamentou o alojamento local,<br />

que deu oportunidade aos portugueses<br />

de criar um rendimento extra,<br />

porque tinham uma casa. Acho<br />

extraordinário que, passados dois,<br />

três anos, as pessoas que assumiram<br />

esse compromisso, que se<br />

financiaram, criaram dívidas, puseram<br />

o seu futuro em risco caso<br />

o mercado não corresponda, de<br />

repente o condomínio pode dizer:<br />

“Não queremos mais o alojamento<br />

local”. Não quer dizer que não<br />

concorde, se calhar dever-se-ia<br />

9


figura de destaque<br />

ter pensado logo nisso, mas no meu entender, por respeito<br />

aos empresários e investidores, a nova lei devia<br />

prever para o futuro e não para o passado. Outra lei foi<br />

quando se liberalizou a criação das agências de viagem<br />

e criou-se as empresas de animação turística que, mais<br />

uma vez, deram oportunidade, num país com muito desemprego,<br />

de os portugueses de qualquer credo, cor,<br />

idade, criarem o seu próprio emprego. Ainda estou na<br />

expectativa de quando vão mudar a lei só para dar aos<br />

ricos…<br />

“GOVERNOS MAL ASSESSORADOS”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – O que mudou na indústria do espetáculo<br />

em Portugal nestes últimos anos?<br />

A. C. – Mudou muita coisa. O Estado falhou completamente,<br />

as atividades em que o Estado meteu o pé,<br />

como a ópera, o bailado, cada vez têm menos público;<br />

vendeu três vezes mais: vendeu 15 milhões de bilhetes<br />

em 2016. Só que o preço médio do bilhete de cinema<br />

era de cinco euros e pouco. O preço médio dos espetáculos<br />

ao vivo era de 17 euros, portanto, não vou acreditar<br />

que os portugueses gostam mais de cinema do que<br />

de espetáculos. É um problema de dinheiro, portanto, é<br />

um problema de IVA.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Acha que o Governo se esqueceu dos<br />

portugueses?<br />

A. C. – Não, acho é que os governos são muito mal assessorados<br />

e não olham para os assuntos de forma objetiva.<br />

Todos estes números são públicos e são feitos<br />

pelo Governo! É o INE que publica. O certo é que, cada<br />

vez que se fala no orçamento da cultura, fala-se sempre<br />

na criação cultural, no apoio à cultura e ninguém<br />

fala na usufruição! O que devemos pensar é: a cultura<br />

chega aos portugueses ou não? Não chega. Se pensarmos<br />

agora: quantos artistas portugueses têm car-<br />

“O primeiro passo que se tem<br />

de dar é tornar a cultura mais<br />

acessível. Se se está a taxar<br />

o acesso à cultura com a taxa<br />

intermédia, estamos a dificultar”<br />

Álvaro Covões defende reposição do IVA a 6% nos espetáculos<br />

as atividades em que a sociedade civil e os empresários<br />

avançaram sozinhos, praticamente sem apoios, sem<br />

nada, venceram, como o pop-rock, os festivais. Podemos<br />

dizer: “Há mais visitantes nos museus”. Mentira: há<br />

mais visitantes estrangeiros nos museus. É bom para<br />

a economia, não para os portugueses. Estive a ver os<br />

números de visitantes da DGPC [n. d. r. Direção-Geral<br />

do Património Cultural], em 2017, e 70% são estrangeiros.<br />

Significa que a DGPC está a crescer, e ainda bem,<br />

mas, mais uma vez, cada português só vai a um museu<br />

de dois em dois anos, cada português só compra bilhete<br />

para um espetáculo ao vivo, onde se inclui circo,<br />

tourada, festivais, concertos, ballet, teatro, ópera… Só<br />

se venderam 4 milhões e 900 mil bilhetes em Portugal<br />

em 2016. Significa que cada português só comprou um<br />

bilhete de dois em dois anos – já nem estou a descontar<br />

os estrangeiros que compram! Depois, vemos que o<br />

problema é de dinheiro e de oferta, porquê? O cinema<br />

<strong>10</strong><br />

reira internacional? Começamos a dizer vários: Vhils,<br />

Bordalo II, Joana Vasconcelos, Carminho, Ana Moura,<br />

Mariza. Nas políticas culturais, que apoios é que existem<br />

para esta gente? Quase nada. Então, onde é que<br />

está o resultado do apoio à criação artística? Não está,<br />

portanto, falhámos. Isso não tem mal nenhum. Falhámos<br />

e devíamos repensar tudo. Não é só um problema<br />

de cultura, é um problema de país. Falhámos na banca.<br />

Neste momento, o maior banco privado português, de<br />

capitais portugueses, é o Montepio Geral. Não tivemos<br />

capacidade, por culpa do Estado, porque não foi capaz<br />

de fazer supervisão. Agora não temos bancos portugueses.<br />

Portanto, quem devia governar o país são as<br />

<strong>PME</strong>, as sobreviventes que, crise ou não crise, pagam<br />

Segurança Social, pagam salários, criam riqueza, criam<br />

economia e depois lá vem mais uma lei…


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Voltando à Everything is New, como é<br />

que a caracteriza?<br />

A. C. – A Everything is New é uma empresa – Deus<br />

queira que continue assim – que tem capitais próprios<br />

positivos, uma empresa saudável. Em 2017 tivemos 24<br />

milhões de euros em vendas e conseguimos entregar<br />

ao Estado sete milhões de euros em impostos. É uma<br />

boa empresa, devia receber medalha de mérito [risos].<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Há tempos, disse em entrevista que a<br />

margem de lucro na empresa podia ser positiva ou<br />

negativa. Isso mantém-se?<br />

A. C. – Como em todas as empresas. Há duas formas<br />

para isso: uma se houver investimento intensivo, o que<br />

aconteceu na Everything is New quando lançou o projeto<br />

que é agora o NOS Alive. Só atingimos o break even<br />

do projeto na quarta edição, portanto, é natural que tenha<br />

afetado os resultados da empresa. O nosso produto<br />

não faz stock. Cada espetáculo é como se fosse uma<br />

empresa: tem princípio, meio e fim. E quando passa a<br />

data do espetáculo já não podemos ter mais nenhuma<br />

receita, portanto, se o resultado foi positivo ou negativo<br />

isso influencia. Obviamente, somos muito afetados<br />

pela economia – se as pessoas têm dinheiro ou não<br />

para comprar – e pelo meio ambiente.<br />

“PATROCINADORES SÃO<br />

MINISTÉRIO DA CULTURA”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Que balanço faz destes 11 anos da empresa<br />

e do NOS Alive?<br />

A. C. – Muito positivo, conseguimos criar um produto<br />

que é mais reconhecido lá fora do que cá dentro – mas<br />

isso é normal. Cá dentro, quem é minimamente atento<br />

à música conhece a generalidade dos festivais, lá fora<br />

conhecem o NOS Alive. Isso dá-nos uma notoriedade<br />

acrescida e é bom, porque sentimo-nos orgulhosos,<br />

não só pelo sucesso do projeto, mas também por contribuirmos<br />

para mostrar que Portugal também sabe fazer<br />

coisas bem feitas. Estamos a falar de um evento que<br />

vende milhares de bilhetes no estrangeiro, é notícia em<br />

todo o mundo, que os artistas querem vir e não foi preciso<br />

dar dois ou três milhões.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Que papel têm os patrocinadores num<br />

evento como este?<br />

A. C. – Os patrocínios são muito importantes, porque<br />

Portugal tem um poder de compra dos mais baixos da<br />

Europa. A única forma que temos para vender bilhetes a<br />

um preço mais acessível é com os patrocinadores, por<br />

isso é que tenho dito muitas vezes que os patrocinadores<br />

são uma espécie de Ministério da Cultura que nos<br />

subsidiam o bilhete.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – E compensa-lhes?<br />

A. C. – Compensa, porque a música é sempre positiva,<br />

ao contrário, por exemplo, do futebol, em que há sempre<br />

uma equipa contra a outra, às vezes até há chatices,<br />

porque acho que estamos a perder a noção das<br />

Empresário faz balanço positivo de dez anos de NOS Alive<br />

regras. Há muitos anos, nos espetáculos também não<br />

havia regras. Hoje não, é um sítio super civilizado, as<br />

pessoas vão com o objetivo único de se divertirem, ninguém<br />

chateia ninguém, é um ambiente super positivo.<br />

Sob o ponto de vista emocional, a experiência é sempre<br />

muito positiva e é uma forma de as marcas, de forma<br />

descontraída, em que as pessoas estão descontraídas<br />

e estão felizes, poderem contactar com os consumidores<br />

e futuros consumidores.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – O Álvaro é das pessoas em Portugal que<br />

ajudou a profissionalizar a indústria dos espetáculos.<br />

A. C. – Contribuímos para uma ampliação. Ela já existia,<br />

de certa forma: o Teatro São Carlos tinha uma equipa<br />

com muito mais gente e mais profissionais do que<br />

agora e havia muito mais teatro. Nunca ninguém fez as<br />

contas, mas num país que se desenvolveu tanto, Lisboa<br />

tem menos teatros hoje do que há 44 anos. Alguma<br />

coisa vai mal na cultura. Este ano, desapareceram mais<br />

três: o Olympia, que o [Filipe] La Féria estava a fazer<br />

obras para ser um teatro, foi vendido para um hotel; o<br />

Odeon vai ser um condomínio fechado e o cinema Paris<br />

também. Fiquei muito contente quando vi o projeto da<br />

Câmara de Lisboa para os terrenos da Feira Popular,<br />

porque a cidade precisa de empresas, de zonas verdes<br />

e de mais habitação. É bom ter mais gente, porque a cidade<br />

tem menos cem mil habitantes do que tinha há 12,<br />

15 anos. Mas esqueceram-se do teatro Vasco Santana,<br />

é sempre menos um… Estamos sem estratégia. A cultura<br />

em Portugal é muito estatizada. Hoje, provavelmente<br />

90% dos teatros são públicos, ou mais! É estranho, não<br />

é? Sendo uma atividade económica, devia ser normal<br />

os privados construírem teatros.<br />

11


12


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Que planos tem para a Everything is New<br />

e para si, como empresário?<br />

A. C. – Nós somos completamente alucinados, a querer<br />

sempre fazer muita coisa. Obviamente, como vivemos<br />

num país em que o Estado diz, “O que o Estado detém,<br />

eu é que mando e está fechado à chave”, temos alguma<br />

dificuldade em avançar com novos projetos. Não deixa<br />

de ser curioso, com as joias reais, que já propusemos<br />

fazer exposições temporárias – apesar de haver finalmente<br />

um projeto para um museu, para uma exposição<br />

permanente – há 28 anos que não são expostas, porque<br />

alguém decidiu, em nosso nome, que têm de estar<br />

fechadas num cofre, como se eles fossem os donos da<br />

coisa. Eu decido sobre as minhas coisas. Quando estou<br />

a decidir sobre aquilo que é de todos, tenho de pensar:<br />

o que é que todos querem? Em 28 anos, podemos<br />

estar a falar de 280 milhões de euros em receitas. Se<br />

somarmos isto tudo para o património geral do Estado,<br />

somos um país pobre, muitas vezes, por termos<br />

pessoas que, em nosso nome, mandam e acham que<br />

aquilo é deles e não nosso. Temos alguma dificuldade<br />

nisso, de resto avançamos. Vamos continuar a fazer<br />

coisas diferentes e nesta criação de públicos e de<br />

conceitos que valorizem o destino Portugal, o destino<br />

Lisboa, o destino Porto, o destino Algarve… Pessoal-<br />

mente, sou uma pessoa realizada, porque a Everything<br />

is New é uma empresa que tem tido sucesso. Temos um<br />

produto premium, o Cirque du Soleil, tantos espetáculos<br />

bons: fazer o Bob Dylan em Lisboa foi fantástico.<br />

Ter trazido a Portugal o Leonard Cohen quatro vezes<br />

nestes últimos anos… O projeto da Joana Vasconcelos<br />

no Palácio da Ajuda: o palácio tinha 40 mil visitantes<br />

por ano, conseguimos levar 235 mil em cinco meses,<br />

foi uma coisa fabulosa. Isso dá uma realização pessoal<br />

muito forte. Paralelamente, estou ligado a um projeto<br />

no Algarve: o Bliss, o Praia na Villa e o Jardim na Villa,<br />

são três produtos premium que valorizam aquela zona e<br />

este ano foram a grande atração do Algarve, apesar de,<br />

mais uma vez, o Estado dizer: “Desistam, desistam!”.<br />

Criámos emprego, atividade económica, valorizámos o<br />

destino e, mais uma vez, fomos xerife de Nottingham e<br />

faturámos para entregar dinheiro ao Estado. Os empresários<br />

em Portugal vestem todos os dias o personagem<br />

de xerife de Nottingham, para cobrar para o príncipe<br />

João. Temos um projeto de um espaço para eventos, se<br />

conseguirmos será o primeiro investimento privado em<br />

Portugal em 44 anos numa sala de espetáculos.<br />

ÁlvaroCovões<br />

Álvaro Covões nasceu a 4 de março de 1963 e é fundador<br />

e diretor-geral da Everything Is New e trabalha na área<br />

da cultura há mais de 35 anos. É, também, fundador<br />

e diretor-geral da The Live Company, agência de viagens<br />

especializada em incoming e venda de pacotes no estrangeiro<br />

para os eventos da Everything Is New.<br />

A Everything Is New tem sido responsável por alguns dos<br />

mais importantes espetáculos realizados em Portugal, de<br />

artistas como AC/DC, Beyoncé, Bon Jovi, Coldplay, Leonard<br />

Cohen, Jennifer Lopez, Madonna, Muse, One Direction,<br />

espetáculos como Violetta e Cirque du Soleil, Festival Fado<br />

(Madrid, Sevilha, Buenos Aires, Bogotá e Brasil) e ainda<br />

exposições temporárias.<br />

É, ainda, responsável pelo mais importante festival nacional,<br />

o NOS Alive, já na <strong>10</strong>.ª edição.<br />

Álvaro Covões é presidente da Associação do Turismo<br />

Militar, do Sub-comité Turismo e Gastronomia do Lide<br />

Portugal; vogal do Conselho de Administração da Fundação<br />

Luso Brasileira; vogal do Conselho de Administração Ricardo<br />

Covões SA (Coliseu); vogal do Conselho Administração<br />

Empresa Recreios Lisbonenses; vogal Conselho<br />

Administração da Sociedade Independente de Radiodifusão<br />

Sonora SA; e gerente da Lusocanal – Radiodifusão (Rádios<br />

Radar, Marginal e Oxigénio).<br />

Foi eleito “Marketeer do ano" nos Prémios Marketeer (2014).<br />

13


CASOS DE SUCESSO<br />

TARGETWAY, INOVAÇÃO NAS FARMÁCIAS<br />

Denisse Sousa<br />

Inês Antunes e Targetway<br />

A Targetway é mais do que apenas uma farmacêutica nacional, é um parceiro da farmácia, que oferece novas<br />

oportunidades de negócio com produtos inovadores e distintos. Conversámos com Pedro Guerreiro, que nos<br />

explica mais sobre os desafios de criar uma farmacêutica em Portugal.<br />

A ideia inicial para a Targetway partiu de um dos seus<br />

sócios fundadores, Pedro Fidalgo, que trazia consigo<br />

experiência na indústria farmacêutica e conhecimentos<br />

do mercado, necessários para construir uma empresa<br />

portuguesa no setor. Adelino Fonseca e Pedro Guerreiro<br />

juntaram-se de seguida, assumindo papéis importantes<br />

na gestão e funcionamento, para que, em março<br />

de 2011, nascesse a Targetway Farmacêutica em toda<br />

a sua força.<br />

No entanto, criar uma marca <strong>10</strong>0% portuguesa na área<br />

farmacêutica não vem sem os seus desafios. O aparecimento<br />

dos medicamentos genéricos, as regulamentações<br />

das margens praticadas, a crise económica<br />

e a presença da Troika no país provocaram situações<br />

financeiras difíceis de ultrapassar para as farmácias<br />

portuguesas. Os desafios da Targetway, ainda assim,<br />

iam muito além disso.<br />

“A Targetway não teve vida fácil porque, sendo um projeto<br />

novo, muitos não acreditaram que, face ao cenário<br />

económico e social da época, houvesse espaço para<br />

uma empresa que quis afirmar-se diferente e inovadora<br />

nas suas propostas”, explica o sócio Pedro Guerreiro.<br />

Para o responsável, foram quatro os desafios que a<br />

empresa teve de enfrentar até atingir a consolidação<br />

de mercado e crescimento, desde aprender a operar<br />

num mercado extremamente competitivo com muitas<br />

<strong>PME</strong> nacionais e internacionais, a lidar com os grandes<br />

laboratórios farmacêuticos que cresciam com cada vez<br />

mais oferta na área dos produtos de venda livre. Passando<br />

por criar e manter a confiança dos principais players<br />

de mercado, algo que se revelou complicado numa<br />

primeira fase. Por fim, talvez o desafio mais complexo<br />

de todos: manter-se na linha da frente no setor.<br />

Criar e manter uma farmacêutica implica desafios próprios<br />

do setor. Desde regras e legislação na distribuição<br />

farmacêutica que se traduzem em procedimentos<br />

e normas muito apertadas nesta atividade. Alvarás,<br />

registos e licenças de comercialização por parte de<br />

entidades como o INFARMED, Direção-Geral de Saúde<br />

ou a Associação Nacional de Farmácias, obrigam<br />

as empresas a contratar profissionais especializados<br />

nessas áreas e a trabalhar com parceiros certificados<br />

14<br />

Camaleon Cosmetics é nova aposta<br />

da Targetway<br />

em serviços tão importantes, como a armazenagem,<br />

transporte ou manuseamento de produtos.<br />

“Temos sempre de ter em conta que estamos a lidar<br />

com produtos de saúde, apesar de não serem medicamentos,<br />

onde fatores como a temperatura de conservação<br />

em armazém pode condicionar seriamente<br />

a qualidade do produto quando chega ao consumidor<br />

final”, aponta.<br />

Apesar dos constantes desafios, para Pedro Guerreiro,<br />

o balanço destes sete anos é bastante positivo, não só<br />

a nível do crescimento do negócio, como a nível a pessoal,<br />

tanto para os sócios como para os colaboradores.<br />

“Quando entramos numa qualquer farmácia no Algarve,<br />

em Trás-os-Montes, na Madeira ou nos Açores e<br />

verificamos que estão lá alguns dos produtos da Tar-


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

getway, quer essa farmácia seja ou não nossa cliente<br />

direta, não conseguimos evitar uma sensação de alegria<br />

imensa porque aquela farmácia e os seus clientes<br />

finais acreditaram que os nossos produtos são importantes,<br />

de qualidade e fazem sentido.”<br />

NOTORIEDADE E RECONHECIMENTO<br />

O facto de trabalharem com grandes distribuidores de<br />

mercado, quer sejam os principais grupos de farmácia,<br />

armazenistas ou líderes nacionais da grande distribuição,<br />

dá à Targetway um capital de notoriedade e<br />

reconhecimento neste mercado. Recentemente, o desenvolvimento<br />

de alguns produtos de marca própria,<br />

nomeadamente na área da repelência de insetos, trouxe<br />

à empresa um reconhecimento adicional no setor.<br />

“A nossa gama de pulseiras repelentes da marca Mosquitino,<br />

com recurso a produção inteiramente realizada<br />

por empresas portuguesas, já nos valeu duas distinções<br />

por parte da Câmara Municipal de Odivelas, cidade<br />

onde a Targetway está sediada desde sempre, com<br />

o prémio de distinção empresarial, em 2017 e <strong>2018</strong>, na<br />

categoria empreendedorismo e inovação. Prémio este<br />

que tem na sua comissão de análise representantes de<br />

algumas importantes entidades supramunicipais do<br />

nosso tecido económico nacional, tais como o IA<strong>PME</strong>I,<br />

a ANJE e a AERLIS.”<br />

OLHAR ATENTO<br />

NA INTERNACIONALIZAÇÃO<br />

“As nossas parcerias, quer europeias, quer nacionais,<br />

foram e são um dos principais pilares da Targetway<br />

para conseguir chegar ao ponto onde nos encontramos”,<br />

assevera Pedro Guerreiro.<br />

A empresa holandesa Novum Pharma foi o primeiro<br />

cliente da Targetway, relação que se mantém até hoje<br />

como um dos principais pilares de venda da empresa.<br />

No entanto, Pedro Guerreiro refere que as parcerias<br />

desenvolvidas com empresas nacionais também são<br />

fundamentais para o caminho da farmacêutica, que se<br />

encontra atualmente em 60% do total de farmácias em<br />

Portugal, de norte a sul do país, Açores e da Madeira.<br />

Para a Targetway, o seu primeiro cliente são as farmácias,<br />

principalmente as que apostam e investem na diferenciação<br />

e que se preocupam em oferecer aos seus<br />

utentes soluções para as suas necessidades de saúde.<br />

Depois, é necessário chegar ao segundo cliente – o<br />

consumidor final. Este é aquele que vai usar o produto<br />

e que vai avaliar a utilidade, qualidade e eficácia do<br />

mesmo.<br />

Pulseiras repelentes já valeram prémios à empresa<br />

A Targetway mantém também atividade em Moçambique<br />

e Angola, mercados de grande potencial para venda<br />

de alguns produtos, uma vez que são mercados com<br />

uma dimensão muito superior à de Portugal. Paralelamente<br />

aos contactos com os países africanos, a farmacêutica<br />

tem desenvolvido com empresas espanholas a<br />

comercialização de alguns dos produtos do mercado<br />

espanhol.<br />

“Temos de continuar<br />

a ser inovadores e arrojados<br />

nas nossas propostas.<br />

Ouvir atentamente os inputs<br />

dos nossos clientes<br />

sobre eventuais carências<br />

que nos são referenciadas<br />

por parte do mercado,<br />

para procurar soluções”<br />

Adelino Fonseca, Pedro Fidalgo e Pedro Guerreiro são os sócios<br />

fundadores da Targetway<br />

Para os próximos anos, Pedro<br />

Guerreiro espera que a<br />

Targetway continue a crescer<br />

no mercado nacional,<br />

quer com novos produtos,<br />

quer com o crescimento da<br />

atual carteira de clientes.<br />

Atualmente, já têm em perspetiva<br />

um novo segmento.<br />

“A área da cosmética tem um<br />

peso muito importante para<br />

a grande maioria das Farmácias<br />

e nós quisemos apostar<br />

também nesse setor, através da distribuição de uma<br />

gama inovadora e muito diferenciada de batons, que<br />

está a ser um sucesso junto dos nossos clientes. Seguramente<br />

este será um projeto ao qual vamos dedicar<br />

muita paixão e empenho durante os próximos anos.”<br />

15


INVESTIMENTO<br />

16<br />

A IMPORTÂNCIA<br />

DA PROPRIEDADE<br />

INTELECTUAL<br />

PARA AS <strong>PME</strong><br />

Vítor Palmela Fidalgo é especialista em propriedade intelectual<br />

Vítor Palmela Fidalgo, IP Director da Inventa International<br />

Inventa Internacional<br />

Conforme é normalmente noticiado, o tecido empresarial<br />

português é composto, na sua maioria, por pequenas<br />

e médias empresas (<strong>PME</strong>). Se, por um lado, esta<br />

realidade não permite uma rápida internacionalização<br />

do negócio e uma influência económica fora de portas,<br />

por outro, é fator de competitividade e crescimento do<br />

emprego.<br />

Contudo, por terem uma menor dimensão e não suportarem<br />

perdas substanciais no seu negócio, as <strong>PME</strong> são<br />

obrigadas a inovar para sobreviverem no mercado. Segundo<br />

um estudo realizado em 2017 pela Cotec, em parceria<br />

com a Deloitte, as <strong>PME</strong> que mais inovam chegam a<br />

lucrar oito vezes mais em comparação com as restantes.<br />

Inovação deve ser, assim, a palavra-chave para as <strong>PME</strong><br />

portuguesas. Não obstante, questionamo-nos sempre<br />

qual a razão de apostarmos tão pouco na proteção da<br />

inovação por direitos de propriedade intelectual. Apesar<br />

de os números da economia portuguesa estarem em<br />

crescendo, em 2017, quando comparado com o ano anterior,<br />

as empresas portuguesas apresentaram menos<br />

nove pedidos de patentes (149 no total) junto do Instituto<br />

Europeu de Patentes, apenas 0,1% dos pedidos de<br />

patentes neste Instituto. Justificar-se-ão estes números<br />

dizendo que os mesmos derivam do baixo número<br />

de habitantes, o que não deixa de ser verdade. Contudo,<br />

tal facto não pode justificar números tão baixos. Países<br />

com menos população, como a Suíça, tiveram, em 2017,<br />

7283 pedidos de patentes junto do Instituto Europeu.<br />

Nem toda a inovação é protegida por direitos de propriedade<br />

intelectual. É verdade. A palavra “inovação”<br />

é polissémica e, mesmo no âmbito empresarial, não é,<br />

automaticamente, sinónimo de ativos intangíveis. Uma<br />

empresa que procura novos mercados para exportar ou<br />

abrir sucursais está, igualmente, a inovar.<br />

Sem embargo, no presente texto procuro abordar a proteção<br />

da inovação enquanto ativo intangível por direitos<br />

de propriedade intelectual. Olhando para o panorama<br />

português, as <strong>PME</strong> parece terem ainda pouca sensibilidade<br />

para a proteção da inovação por direitos de propriedade<br />

intelectual. As justificações são várias: custos,<br />

burocracia, tempo despendido. De todas, a que me parece<br />

mais convincente é aquela que oiço menos vezes:<br />

o desconhecimento por parte dos interessados, rectius<br />

os empresários. Este desconhecimento não está relacionado<br />

com a existência dessa possibilidade de proteção.<br />

Referimo-nos à sensibilidade dos empresários<br />

portugueses para com as vantagens de proteger a sua<br />

inovação através de direitos de propriedade intelectual.<br />

Dada a brevidade do artigo, irei cingir-me a alertar para<br />

duas circunstâncias que tenho observado em alguns<br />

empresários portugueses:<br />

1) Timing para a proteção<br />

Há pouco tempo, quando conversava com um colega da<br />

Alemanha, o mesmo dizia-me que o empresário típico<br />

alemão quase nunca menospreza a importância da propriedade<br />

intelectual no seu negócio. Se existe um ativo<br />

intangível novo, por exemplo, uma invenção, um dos<br />

primeiros passos será dar entrada do pedido de proteção<br />

no Instituto. A criação de um novo produto, utilizando<br />

linguagem de marketeer, envolve como passo inicial<br />

lógico a proteção do bem intelectual.<br />

Na realidade portuguesa isto raramente sucede: o empresário<br />

tenta colocar o produto ou processo com o conceito<br />

inventivo no mercado e, mais tarde, se o mesmo for<br />

viável comercialmente e “der lucro”, faz-se a proteção.<br />

Aliás, diria que esta circunstância não tem sucedido<br />

apenas com os empresários. Muitos investigadores universitários<br />

preferem escrever artigos para revistas científicas<br />

antes de dar entrada do pedido de proteção de<br />

patente. Acontece que, sendo a novidade (absoluta) um<br />

dos requisitos para a proteção da invenção por patente,<br />

a partir do momento que se realiza a divulgação, a mesma<br />

já não poderá ser protegida. Contando que o conceito<br />

inventivo seja um sucesso, em vez da exclusividade<br />

de comercialização de 20 anos, o empresário poderá ter<br />

de lidar com a concorrência a utilizar o seu novo produto.<br />

2) Propriedade intelectual como um ativo patrimonial<br />

A panóplia de direitos de propriedade intelectual é variada.<br />

No âmbito da chamada “Propriedade Intelectual”<br />

temos direitos que protegem obras, como os direitos de<br />

autor; as invenções, que são protegidas por patentes ou<br />

modelos de utilidade; os designs que são protegidos por<br />

desenhos, ou modelos, ou os sinais distintivos do comércio<br />

que podem ser registados como marcas.<br />

Não obstante o objeto de cada um dos direitos, todos<br />

eles têm algo em comum: estando devidamente protegidos<br />

serão um ativo patrimonial da empresa. E, nos<br />

dias que correm, poderão ser mesmo o principal ativo<br />

patrimonial. Sucedem-se vários casos onde entidades<br />

bancárias preferem ter como garantia marcas em vez de<br />

imóveis. Noutros casos, num processo de insolvência<br />

descobre-se que a patente é, afinal, o grande ativo da<br />

empresa que poderá satisfazer os credores. Para além<br />

do mais, sendo um ativo patrimonial o mesmo poderá<br />

ser transacionável, através da transferência da titularidade<br />

para outrem, ou através da sua licença, exclusiva<br />

ou não, recebendo-se royalties para o efeito. Ignorar a<br />

proteção da propriedade intelectual é não acrescentar<br />

ativo patrimonial à empresa e ao negócio, bem como<br />

perder oportunidade de rentabilizar, através da celebração<br />

de negócios jurídicos, o esforço empreendido na<br />

inovação.


INTERNACIONAL<br />

ARQUITETURA CORPORATIVA<br />

PORTUGUESA EXTRAVASA FR ONT<br />

Ana Rita Justo<br />

Openbook Architecture<br />

A Openbook Architecture abriu portas em 2007 e passados<br />

dois anos aventurou-se pelo Brasil. A sua imagem<br />

de marca é a Brandchitecture.<br />

Corria o ano de 2007 quando os arquitetos Rodrigo<br />

Sampayo e João Cortes, colegas de trabalho, decidiram<br />

criar o seu próprio ateliê de arquitetura. Assim nasceu<br />

a Openbook Architecture, uma empresa que assenta o<br />

seu trabalho no desenvolvimento de espaços corporativos<br />

tendo em vista o sucesso das empresas.<br />

Ainda em 2007 se juntou à dupla Pedro Pires e, em 2008,<br />

Paulo Jervell, como sócios. Hoje, a equipa já conta com<br />

35 pessoas, incluindo arquitetos, designers e gestores<br />

de projeto.<br />

A imagem de marca deste ateliê é a Brandchitecture e o<br />

foco é o desenvolvimento de espaços corporativos que<br />

possam ajudar ao sucesso das empresas, tal como explica<br />

o partner Rodrigo Sampayo.<br />

“O processo da Brandchitecture assenta na filosofia de<br />

que uma empresa de sucesso é sempre sustentada por<br />

equipas motivadas e envolvidas no atingimento das metas<br />

da organização”, refere Rodrigo Sampayo, adiantando<br />

que, nesse sentido, “a otimização dos espaços de<br />

trabalho é um dos elementos fundamentais”.<br />

“Mais do que construir e adaptar edifícios e espaços,<br />

Brandchitecture desenvolve e molda conceitos que promovem<br />

o sentido de pertença e a envolvência das equipas<br />

nos seus espaços de trabalho”, sustenta.<br />

Esta é a forma de este ateliê ajudar as empresas a oferecer<br />

melhores espaços corporativos. Entre eles, contam-se<br />

os novos escritórios da Abreu Advogados, em<br />

Lisboa, ou, mais recentemente, a nova sede da KPMG,<br />

também na capital, da qual a Openbook Architecture<br />

está, atualmente, encarregue da arquitetura de interiores.<br />

Este será um espaço de “inspiração clássica”, adianta<br />

Rodrigo Sampayo, com “áreas dinâmicas, flexíveis<br />

e ágeis e, acima de tudo, inspiradoras para a atividade<br />

diária dos colaboradores, clientes e parceiros”.<br />

18<br />

Escritórios da Abreu Advogados, em Lisboa<br />

DE PORTUGAL ATÉ AO BRASIL<br />

De forma natural, surgiu, em 2009, a hipótese de abertura<br />

de escritório fora de Portugal. São Paulo, no Brasil,<br />

foi o local escolhido, tendo em conta a panóplia de


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A<br />

FR ONTEIRAS<br />

Saxo Bank, em São Paulo, é uma das obras da Openbook no Brasil<br />

“clientes internacionais” existente, em particular de um<br />

“grande cliente”, que lançou o desafio. O contexto económico<br />

ajudou à decisão.<br />

“Na altura, o mercado [português] estava a iniciar uma<br />

crise profunda e entendemos ser a altura certa para<br />

avançar para esse processo de internacionalização”,<br />

explica o fundador.<br />

Entre os projetos mais relevantes contam-se a nova<br />

sede da Auto Sueco, em São Paulo, em 2011, e os novos<br />

escritórios do Saxo Bank, também na cidade paulista.<br />

Apesar de toda a operação internacional ser gerida através<br />

de Lisboa, esta nova aventura exigiu adaptações a<br />

uma “forma de trabalhar completamente diferente” da<br />

europeia.<br />

CORPORATE E SAÚDE<br />

DE MAIOR EXPRESSÃO<br />

São várias as áreas em que a Openbook Architecture<br />

se destaca pelos seus projetos, porém, refere Rodrigo<br />

Sampayo, as “áreas de corporate e saúde são, sem dúvida,<br />

as mais representativas”.<br />

Só no ano passado, este ateliê alcançou um volume de<br />

negócios de três milhões de euros, esperando agora reforçar<br />

a sua posição de referência no mercado.<br />

“Assumimo-nos como consultores na otimização do<br />

desempenho operacional dos nossos clientes, onde a<br />

qualidade do objeto arquitetónico se destaca.”<br />

“A racionalidade dos cálculos é muito americanizada,<br />

todas as decisões de projeto assentam no rácio definido<br />

para cada caso. Esta abordagem é completamente diferente<br />

da europeia, onde os cálculos são efetuados um<br />

pouco à posteriori.”<br />

Outra questão a superar, adianta Rodrigo Sampayo, foi<br />

a “complexidade das aprovações”, com “múltiplas entidades<br />

e a sua falta de sincronização, associada a algum<br />

fundamentalismo”. “Foi também um tema que tivemos<br />

de aprender”, revela.<br />

Além do Brasil, a Openbook Architecture tem também<br />

desenvolvido vários projetos em Espanha, Angola e<br />

noutras paragens mais distantes, como o Peru.<br />

Da esquerda para a direita, Pedro Pires, Paulo Jervell,<br />

João Cortes e Rodrigo Sampayo<br />

Os novos escritórios da Nokia, em Alfragide<br />

19


AMBIENTE<br />

MARL APOSTA<br />

NA GESTÃO EFICIENTE DE RESÍDUOS<br />

Ana Rita Justo<br />

MARL<br />

Mercado Abastecedor da Região<br />

de Lisboa aposta na modernização<br />

dos seus processos e numa gestão<br />

de resíduos eficiente e amiga do<br />

ambiente. Concurso público será<br />

lançado para novo contrato entrar<br />

em vigor em 2019.<br />

A completar 18 anos, o Mercado<br />

Abastecedor da Região de Lisboa<br />

(MARL) quer tornar-se num exemplo<br />

de eficiência e modernidade na<br />

logística em Portugal. O plano de<br />

modernização está em curso e parte<br />

importante dele é a gestão de resíduos,<br />

que se quer mais eficiente<br />

para os próximos anos.<br />

“Achamos que é possível e imperativo<br />

melhorar muito ao nível da limpeza<br />

interior e exterior e, depois, melhorar<br />

muito na gestão de resíduos e<br />

na reciclagem.” As palavras são de<br />

Rui Paulo Figueiredo, presidente do<br />

conselho de administração do MARL<br />

e CEO do Grupo SIMAB – que gere o<br />

MARL e os mercados abastecedores<br />

de Braga, Évora e Faro.<br />

Para isso, e na sequência de um estudo<br />

realizado pelo MARL a clientes<br />

e retalhistas, será lançado em breve<br />

um concurso público internacional<br />

tendo em vista a limpeza interior e<br />

exterior do mercado, bem como a<br />

gestão de resíduos.<br />

“No nosso estudo de opinião, metade<br />

deles [n. d. r. dos inquiridos]<br />

assume que traz lixo, material, paletes,<br />

caixas, de tudo um pouco,<br />

para dentro do mercado. Por isso,<br />

também vai passar a ser controlada<br />

a entrada e saída. Com isso esperamos<br />

diminuir de modo substancial<br />

os resíduos”, acrescenta Rui Paulo<br />

Figueiredo.<br />

Só em 2017, adianta Mariana Saldanha,<br />

da direção executiva do Grupo<br />

SIMAB e responsável pelo plano de<br />

20<br />

modernização, o MARL congregou<br />

seis mil toneladas de resíduos, indiferenciados<br />

e orgânicos, pelo que<br />

o plano passa agora por “melhorar a<br />

central de resíduos”, criando “duas<br />

áreas distintas: uma para operadores<br />

e uma para retalhistas”.<br />

MELHORAR<br />

A RECICLAGEM<br />

Os baixos níveis de reciclagem do<br />

MARL também são para melhorar,<br />

pelo que, acrescenta a responsável,<br />

está prevista a criação de um ponto<br />

verde do MARL para que haja uma<br />

“separação eficiente na origem” e<br />

para que a percentagem de reciclagem<br />

aumente dos atuais <strong>10</strong>% para<br />

cerca de metade.<br />

“Se chegarmos aos 50% no final do<br />

próximo ano será muito bom. Hoje,<br />

não conseguimos ter uma separação<br />

eficiente na origem e isso faz<br />

com que a fatura aumente bastante<br />

ao nível dos indiferenciados”, sublinha.<br />

O objetivo é ter uma ilha ecológica<br />

em cada pavilhão do mercado e assim<br />

permitir que tanto os clientes do<br />

MARL como os retalhistas que vêm<br />

comprar ao MARL não espalhem os<br />

seus resíduos pelo mercado, como<br />

atualmente acontece.<br />

No que respeita à contentorização,<br />

Mariana Saldanha adianta que uma<br />

das possibilidades passa por “substituir<br />

contentores por compactadores<br />

e ajustar os equipamentos às<br />

necessidades e ao tipo de resíduos”.<br />

A solução foi inspirada num modelo<br />

usado em Barcelona, refere Rui<br />

Paulo Figueiredo, na sequência de<br />

algumas visitas técnicas internacionais<br />

feitas a outros mercados – além<br />

do de Barcelona, também a Madrid,<br />

Austrália e Paris.<br />

“Se chegarmos aos 50%<br />

no final do próximo ano<br />

será muito bom”<br />

Mariana Saldanha<br />

“Queremos que haja um espaço<br />

próprio nesse ponto verde para depositar,<br />

com possibilidades de adequada<br />

separação e que se possa<br />

fazer essa reciclagem. Em vez de,<br />

quer aqueles que são trazidos do<br />

exterior, quer aqueles que são produzidos,<br />

serem todos depositados<br />

nos mesmos sítios sem a adequada<br />

separação”, reforça o presidente<br />

do conselho de administração, afirmando<br />

que é preciso “criar soluções<br />

em que isso seja positivo para quem<br />

traz, para o MARL e para quem gere<br />

o negócio”.


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Mercado Abastecedor de Lisboa nasceu há 18 anos<br />

SENSIBILIZAR<br />

DENTRO E FORA<br />

Para que isso aconteça, o CEO do<br />

Grupo SIMAB assegura que têm<br />

sido feitos esforços para “envolver<br />

clientes e operadores”. Além de ter<br />

sido reativada a figura do provedor<br />

do cliente, o MARL terá novamente<br />

uma comissão consultiva.<br />

“Vamos ter uma comissão com as<br />

associações que representam os<br />

operadores, com os grandes clientes,<br />

os clientes mais dinâmicos de<br />

atividade económica. Será muito<br />

representativa dos operadores do<br />

MARL e esperamos que eles também<br />

sejam parceiros na modernização,<br />

requalificação e melhoria de<br />

comportamentos”, vinca.<br />

Rui Paulo Figueiredo assume que<br />

“não há uns que são inocentes e<br />

outros que são culpados, o esforço<br />

tem de ser conjunto”. Entre os setores<br />

mais complexos está o de hortofrutícola,<br />

“dada a dimensão”, refere.<br />

Mariana Saldanha acrescenta que<br />

serão feitas campanhas de sensibilização<br />

antes de o novo contrato começar:<br />

uma destinada a operadores<br />

e outra para retalhistas que vêm ao<br />

mercado.<br />

MODERNIZAÇÃO<br />

EM CURSO<br />

Além da gestão de resíduos, o plano<br />

de modernização do MARL está<br />

já em curso, com algumas melhorias<br />

substanciais implementadas, nomeadamente<br />

a colocação do sistema<br />

de CCTV Schneider, bem como<br />

a monitorização dos consumos de<br />

luz, água e gás por telemetria, a mudança<br />

da iluminação para lâmpadas<br />

LED.<br />

“Não há uns que são<br />

inocentes e outros<br />

que são culpados”<br />

Rui Paulo Figueiredo<br />

“Ao mesmo tempo, isto também implica<br />

a modernização da imagem, da<br />

sinalética e a criação de uma rede<br />

de publicidade”, avança Rui Paulo<br />

Figueiredo. Segundo o responsável,<br />

“nos últimos dois anos foram<br />

investidos no MARL 3,6 milhões de<br />

euros".<br />

“Nos últimos dois anos, temos modificado<br />

e modernizado bastante e,<br />

por via do contrato [de gestão de resíduos]<br />

a que estávamos amarrados,<br />

esta era uma área crítica em que<br />

ainda não tínhamos tido uma ação<br />

decisiva. Esse é o objetivo, para<br />

que, a partir de 2019, consigamos<br />

melhorar a qualidade de serviço e<br />

atingir as metas estabelecidas”, diz.<br />

Rui Paulo Figueiredo, presidente<br />

do conselho de administração do MARL<br />

A médio prazo, a eliminação da utilização<br />

do plástico é outro dos objetivos<br />

a ter em conta.<br />

Um plano de modernização que, a<br />

ser bem-sucedido, será depois replicado<br />

nos outros três mercados<br />

geridos pelo Grupo SIMAB.<br />

21


RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />

CORES PARA TODOS<br />

Ana Rita Justo<br />

ColorADD<br />

Oito anos foi o tempo necessário para que Miguel Neiva<br />

conseguisse transformar a tese de mestrado num<br />

negócio eticamente responsável: criar um código que<br />

permita aos daltónicos identificar as cores. O sucesso<br />

está à vista e já se procura um investidor.<br />

Corria o ano de 1999 quando Miguel Neiva, atualmente<br />

com 49 anos, decidiu avançar para o mestrado. A tese<br />

levou oito anos a ficar concluída, mas resultou num novo<br />

negócio social com um propósito: criar um código que permita aos daltónicos<br />

distinguir as cores. Assim nasceu, em 20<strong>10</strong>, a ColorADD, hoje um<br />

exemplo a seguir entre os negócios eticamente responsáveis.<br />

Miguel terminou a licenciatura em 1993 e montou um estúdio, onde trabalhava<br />

como designer. O ímpeto para fazer o mestrado surgiu por querer fazer<br />

jus às tendências do design inclusivo e por algum medo do desconhecido,<br />

como reconhece.<br />

“A questão do daltonismo surgiu por referência a um colega de escola, mas<br />

também por estigma e certa paranoia de que poderia ficar daltónico. O daltonismo<br />

pode ser adquirido, mas todos tínhamos uma ideia errada do que<br />

era ser daltónico. Era um não assunto, uma limitação que a sociedade não<br />

vê”, lembra o designer.<br />

O mestrado levou-o então a tentar perceber melhor o que era o daltonismo<br />

e, mais importante, o que é que os daltónicos pensavam. O estudo envolveu<br />

146 daltónicos de cerca de 20 países e as conclusões foram contundentes:<br />

“41% dos daltónicos tem dificuldade de integração social, 90% precisa de<br />

ajuda para comprar roupa, 17% só descobriu que era daltónico depois dos<br />

20 anos”.<br />

Assim, Miguel Neiva foi estudar as “linguagens universais” até chegar a uma<br />

solução.<br />

“Fui recuperar o conhecimento adquirido que todos trazemos da escola<br />

em que, com um caixa de guache, tínhamos as três cores primárias, mais o<br />

branco e o preto. Assim as pessoas não têm de aprender nada de novo, têm<br />

apenas de recuperar aquilo que deixaram por não necessitar. Para cada uma<br />

das cores, um símbolo gráfico, que tinha de cumprir uma série de requisitos,<br />

Código aplicado aos lápis Viarco<br />

22<br />

Miguel Neiva criou a ColorADD em 20<strong>10</strong><br />

porque isto tinha de ser para toda a<br />

gente, fácil de integrar na cultura visual<br />

de cada um, fácil de introduzir<br />

em diferentes suportes, técnicas,<br />

dimensões, e fácil de se ligar”, explica<br />

o criador.<br />

Protegida a linguagem e defendida<br />

a tese, Miguel precisava que o seu<br />

método fosse reconhecido pelos<br />

outros e, durante um ano, dedicou-<br />

-se a escrever artigos científicos:<br />

“Já não era eu a dizer isto, era a própria<br />

comunidade científica.”<br />

MAIS DO QUE UM NEGÓCIO<br />

A ColorADD nasce então em 20<strong>10</strong> e<br />

são feitas as primeiras implementações<br />

do código com as tintas CIN.<br />

“Era o parceiro ideal”, recorda, com<br />

alegria estampada no rosto.<br />

O objetivo era e continua a ser que<br />

o código chegue às estimadas 350<br />

milhões de pessoas que não veem<br />

cores corretamente em todo o mundo.<br />

Por isso, o modelo de negócio<br />

tinha de ser simples: o código “não<br />

é exclusivo para ninguém”, reforça<br />

Miguel Neiva. Todas as marcas podem<br />

implementar o código<br />

ColorADD, mediante o<br />

pagamento de uma avença<br />

que é ajustada à dimensão<br />

de cada negócio. Não podem<br />

é ter exclusividade.<br />

“Já nos apareceu um grupo<br />

que pagava dez vezes<br />

mais do que o que pedíamos<br />

para serem os únicos<br />

no setor durante três anos.<br />

Disse que não, porque isto


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é para todos. Não posso privar um daltónico de ter acesso<br />

a uma marca porque tenho exclusividade com outra.”<br />

Hoje, graças a essa não exclusividade, são já várias as<br />

marcas e entidades a utilizar o código ColorADD para<br />

melhorar a vida aos seus utilizadores. Ao todo, atualmente<br />

existem mais de 300 parcerias.<br />

No setor da saúde, o Centro Hospitalar de Lisboa Central<br />

utiliza o código nas seringas utilizadas no bloco operatório.<br />

Já o Hospital de S. João, no Porto, foi o primeiro a<br />

adotar o código nas pulseiras de triagem e indicações<br />

dentro daquela unidade.<br />

“41% dos daltónicos<br />

tem dificuldade<br />

de integração social,<br />

90% precisa de<br />

ajuda para comprar<br />

roupa, 17% só<br />

descobriu que era<br />

daltónico depois<br />

dos 20 anos”<br />

A inovação levou Miguel Neiva a ser o primeiro português<br />

a ser integrado na Ashoka, a maior mundial de empreendedores<br />

sociais e foi, inclusive, condecorado, em<br />

2015 pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco<br />

Silva, com a medalha da Ordem de Mérito Empresarial,<br />

na classe empresarial.<br />

NA EDUCAÇÃO E À PROCURA<br />

DE INVESTIDOR<br />

Da ColorADD nasceu, em 2012, a ColorADD Social, um<br />

projeto que tem como objetivo levar para as escolas o<br />

código e assim chegar a cada vez mais pessoas. É a empresa<br />

ColorADD que financia a vertente social, que se<br />

materializa em rastreios de daltonismo e em diversas<br />

atividades. Nos exames nacionais também já se aplica<br />

o código, como ferramenta aumentativa, e até nos manuais<br />

escolares, como o de Físico-química de 8.º ano,<br />

Geografia de <strong>10</strong>.º ano, ou Educação Visual de 5.º e 6.º<br />

anos.<br />

“Assim, o miúdo daltónico deixa de ser descriminado e<br />

passa a ser um super-herói”, advoga.<br />

Uno com código ColorADD<br />

No retalho, o grupo Sonae<br />

já utiliza o código para<br />

identificar o semáforo nutricional<br />

nos produtos comercializados.<br />

Os lápis da<br />

Viarco também servem de<br />

exemplo, o jogo UNO para<br />

daltónicos, comercializado<br />

pela Mattel, foi um sucesso. “Na semana de lançamento,<br />

a Mattel teve um incremento de vendas de 66%”,<br />

afiança Miguel Neiva.<br />

Outras utilizações já estão implementadas, como no<br />

Metro do Porto, nos pontos de reciclagem da Sociedade<br />

Ponto Verde, nas bandeiras de mais de 120 praias da<br />

costa portuguesa, e, recentemente, nos diagramas de<br />

rede da Carris.<br />

Um negócio de sucesso que já valeu vários reconhecimentos<br />

internacionais: a ColorADD foi a primeira empresa<br />

em Portugal a ser considerada uma B Corp, certificação<br />

com origem nos Estados Unidos, atribuída pela<br />

organização B Lab às empresas com um impacto global;<br />

foi selecionada como prática inovadora pelo Zero Project;<br />

a sua app recebeu o prémio de melhor aplicação<br />

mundial na categoria de Inclusão e Empowerment, nos<br />

World Summit Awards, das Nações Unidas.<br />

O projeto já foi, inclusive, testado fora do país, com<br />

enorme sucesso.<br />

Os próximos desafios passam agora por encontrar os<br />

“big players destes setores críticos” – saúde, transportes,<br />

retalho e autarquias – e levar a ColorADD a cada vez<br />

mais pessoas. Isso inclui levar o código também às pessoas<br />

cegas, através do relevo.<br />

A empresa está, também, à procura de um investidor que<br />

ajude a materializar o modelo de expansão “com mais<br />

consistência e assertividade”. O plano foi desenhado<br />

em conjunto com<br />

a consultora Mc-<br />

Kenzie.<br />

“Precisamos que<br />

as empresas olhem<br />

para isto querendo<br />

fazer parte da solução.”<br />

ColorADD Social faz rastreios nas escolas<br />

23


empreendorismo<br />

LACS, O ESPAÇO 'COOL' E CRIATIVO DE LISBOA<br />

Denisse Sousa<br />

LACS<br />

De um espaço abandonado há 25 anos nasceu o novo<br />

cluster cool e criativo de Lisboa. Aberto a tudo e todos,<br />

é aqui que se concentram ideias, cruzam-se contactos<br />

e juntam-se empresas improváveis para projetos<br />

interessantes. Falámos com José Rodrigues, diretor-<br />

-geral do LACS – Lisbon Art Center & Studios, sobre<br />

este novo hot spot da criatividade junto ao Tejo.<br />

Foi no antigo edifício das cantinas<br />

e balneários da administração do<br />

Porto de Lisboa que nasceu o LACS<br />

- Lisbon Art Center & Studios. Após<br />

25 anos de abandono do edifício,<br />

esta pequena pérola em Santos<br />

foi (re)apresentada a investidores<br />

como o projeto LACS: um cluster<br />

criativo para desenvolver a arte e<br />

cultura num espaço de trabalho diferenciado.<br />

Com um investimento<br />

de três milhões de euros, os trabalhos<br />

começaram em maio de 2017,<br />

seguiram-se as obras em setembro,<br />

que terminaram em fevereiro <strong>2018</strong>.<br />

O LACS abriu portas a 19 de março<br />

deste ano, com inauguração oficial a<br />

8 de junho.<br />

“O que nos define é a palavra<br />

Communitivity, que de facto é uma<br />

palavra que não existe,” começa por<br />

explicar José Rodrigues, diretor-<br />

-geral do LACS.<br />

Segundo o dicionário do LACS,<br />

Communitivity nasce da palavra<br />

Community (comunidade) porque o<br />

LACS pretende estabelecer interligações<br />

entre esta e outras comunidades,<br />

nacionais e internacionais.<br />

Communication (comunicação) porque<br />

promove a comunicação através<br />

do diálogo e do networking entre todos<br />

os membros, parceiros e sociedade.<br />

“E Creativity (criatividade), porque<br />

incentivamos e apoiamos a criatividade,<br />

e a inovação, em todas as<br />

suas vertentes, quer singular ou<br />

coletivamente, para estimular o desenvolvimento<br />

de novos talentos.<br />

Estas três palavras juntas, misturá-<br />

24<br />

Foi no antigo edifício da administração do Porto de Lisboa que nasceu o LACS<br />

mos e deu LACS - Communitivity of<br />

Creators”, esclarece.<br />

É aqui que se encontram algumas<br />

das empresas criativas de Lisboa e<br />

parceiros importantes na criação do<br />

LACS: “A EDP Inovação, a Defined<br />

Crowd, Mycujoo e Rock in Rio entre<br />

outros, foram importantes no desenvolvimento<br />

deste projeto “.<br />

Com 5.000 metros quadrados sobre<br />

o Tejo, este cluster dedicado a criativos<br />

e inovadores contempla espaços<br />

de coworking, studios privados,<br />

ateliês, galeria de arte, cafetaria bar<br />

lounge, área de eventos e um terraço<br />

com bar e restaurante com uma vista<br />

360º inspiradora sobre Lisboa.<br />

“O que nos define é a<br />

palavra Communitivity,<br />

que de facto é uma<br />

palavra que não existe”<br />

Composto atualmente por 600 pessoas<br />

espalhadas por 60 empresas, o<br />

LACS é um espaço aberto à sociedade<br />

e espera atrair visitantes e um<br />

variado leque de empresas e profissionais,<br />

que lhes permita alcançar<br />

níveis de criatividade, inovação e<br />

competitividade mais elevados.<br />

“Todas as áreas das indústrias criativas<br />

estão aqui representadas e é<br />

isso que pretendemos. Queremos<br />

desenvolver a economia criativa do<br />

nosso país”, acrescenta José Rodrigues.<br />

Mas o que é, de facto, um cluster<br />

criativo? É um espaço aberto aos<br />

que lá trabalham, desde empreendedores,<br />

pequenas, médias ou empresas<br />

muito grandes, mas também<br />

à sociedade.<br />

‘EU TRABALHO NO LACS’<br />

“Queremos que as pessoas que não<br />

são membros venham cá, que usufruam<br />

do espaço. É um espaço de<br />

trabalho, cultura e lazer. Temos exposições<br />

permanentes, temos uma<br />

cafetaria, um rooftop com restaurante<br />

e bar, ateliês onde temos desde<br />

barbeiro, cabeleireiro a artistas<br />

plásticos…Todos estes espaços são<br />

abertos à comunidade de membros<br />

e não membros.”<br />

É este ambiente criativo que faz do<br />

LACS muito mais do que um simples<br />

local para cowork. É neste ambiente<br />

informal, onde todos se conhecem,<br />

construído com espaços de trabalho<br />

confortáveis e acolhedores<br />

com tecnologia de última geração,<br />

que nasce algo mais do que a palavra<br />

permite. Estar no LACS é usufruir<br />

de serviços comuns, beneficiar<br />

de flexibilidade, oportunidades de<br />

networking, num ambiente único<br />

com crescimento orgânico para gerar<br />

negócio através da partilha de<br />

valores e experiências.<br />

Aqui, entra todo o trabalho que o<br />

cluster faz de criar pontes entre as<br />

empresas e empreendedores espalhados<br />

pelo espaço, através de pequenas<br />

medidas que fazem a dife-


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rença. O informalismo impera,<br />

por isso, as pessoas tratam-se<br />

por ‘tu’.<br />

“Queremos que façam negócio<br />

umas com as outras, queremos<br />

que se aproximem”, vinca.<br />

Não há impressoras próprias,<br />

essas estão distribuídas pelo<br />

edifício para que as pessoas se<br />

possam cruzar. Há copas em<br />

cada piso para que se possam<br />

encontrar e conversar nas suas<br />

pausas.<br />

“A nossa community manager<br />

tem no seu dia-a-dia o desafio de<br />

encontrar as pessoas e pô-las em<br />

contacto umas com as outras. Aqui a<br />

ideia é de as pessoas se imiscuírem,<br />

misturarem-se umas com as outras<br />

e temos já casos de sucesso”,<br />

adianta José Rodrigues.<br />

É o caso da parceria entre a Mycujoo,<br />

uma app portuguesa de transmissão<br />

de jogos de futebol disponível para<br />

todo o mundo, e o Rock in Rio (RiR),<br />

um evento de música. As duas empresas<br />

cruzaram-se nos corredores<br />

do LACS, onde o RiR lançou o desafio<br />

ao Mycujoo de fazerem a transmissão<br />

do evento em streaming.<br />

“Foi um desafio novo para o Mycujoo,<br />

porque nunca tinha transmitido algo<br />

do género. E para o RiR, porque<br />

nunca tinha feito a transmissão do<br />

evento em streaming. Este é um dos<br />

LACS abriu portas a 19 de março deste ano<br />

vários exemplos que temos aqui. E<br />

isto só é possível dentro deste informalismo<br />

do: ‘O que é que fazes? Ah,<br />

fazes isto. Que giro, se calhar podes<br />

fazer isto comigo’. E é isso que nós<br />

queremos”, conclui.<br />

PRÓXIMA PARAGEM: CASCAIS<br />

José Rodrigues olha para o projeto<br />

de Lisboa fazendo um balanço positivo<br />

de todo o trabalho. Atualmente,<br />

encontra-se com a “casa cheia”,<br />

mas continua a ter uma procura muito<br />

grande com pedidos de empresas<br />

e empreendedores para se mudarem<br />

para o LACS.<br />

Agora, o desafio é desenvolver a comunidade<br />

que já tem. As pessoas já<br />

se conhecem, na sua maioria, mas<br />

importa continuar a desenvolver a<br />

estimular o conceito de comunidade.<br />

“Queremos que façam<br />

negócio umas com<br />

as outras, queremos<br />

que se aproximem”<br />

“Este é um projeto que está sempre<br />

em aberto, há sempre algo a fazer,<br />

então nunca estamos acomodados.<br />

Estamos sempre a reinventarmo-<br />

-nos, [a fazer] coisas novas, desafios<br />

para os nossos membros, desafios<br />

para nós próprios... Queremos<br />

estar sempre a construir.”<br />

Com este ímpeto de estar sempre<br />

a construir, nasce o LACS Cascais,<br />

com um investimento a rondar os<br />

dois milhões de euros. Criado num<br />

edifício único, o projeto de Cascais<br />

foi inaugurado em setembro, com<br />

4000 metros quadrados e capacidade<br />

para 600 pessoas, sendo um<br />

espelho da versão lisboeta.<br />

Localizado a <strong>10</strong>0 metros da saída da<br />

autoestrada para Cascais, dispõe<br />

de espaços de coworking, salas de<br />

formação, sala para eventos, galeria,<br />

estúdio de som, ateliês, arrecadações,<br />

espaços de trabalho e para<br />

atividades físicas ao ar livre e cafeteria<br />

com esplanada no jardim.<br />

LACS ocupa 5 000 metros quadrados com vista<br />

para o Tejo<br />

Por agora, Lisboa e Cascais são os<br />

pontos fulcrais destes clusters criativos,<br />

no entanto, com a ajuda dos<br />

quatro empresários portugueses<br />

que investiram no LACS, Gustavo<br />

Brito, Miguel Rodrigues, João Raimundo<br />

e Filipe Botton, com experiência<br />

de negócio e estrutura, o céu<br />

é o limite.<br />

“Estamos a falar de quatro investidores<br />

portugueses com muita experiência<br />

de negócios e com muita<br />

estrutura por detrás deles. Por isso,<br />

é mais natural que pessoas com experiências<br />

como as deles apostem<br />

em projetos de investimento e empresariais,<br />

pensando num plano de<br />

expansão mais rápido, que abranja<br />

um maior território possível, nacional<br />

e internacional. Penso que o<br />

LACS dará em breve notícias muito<br />

boas para o nosso país.”<br />

25


26


RH<br />

OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

O QUE É QUE<br />

OS 'MILLENNIALS' TÊM?<br />

Nuno Troni, diretor de recrutamento especializado<br />

da Randstad Portugal<br />

Randstad Portugal<br />

Ao longo dos últimos anos têm sido inúmeras as discussões<br />

sobre a geração dos millennials: como os gerir,<br />

como os atrair, como os reter e, em especial, como os<br />

conjugar com outras gerações no mercado de trabalho.<br />

Ainda assim, confesso que tenho sérias dúvidas se os<br />

millennials são assim tão diferentes de outras gerações.<br />

Convém recordar que a geração dos millennials é, muito<br />

provavelmente, a melhor preparada do ponto de vista<br />

de formação académica e a que apresenta mais competências<br />

transversais, pelo que o seu contributo, mesmo<br />

quando ainda inexperientes, deve ser valorizado e reconhecido.<br />

São mais qualificados do que a geração anterior,<br />

são nativos digitais e dominam mais línguas. São<br />

desafiadores e questionam, mas conseguimos apontar<br />

uma geração que, nos vinte e poucos anos, não seja assim?<br />

Um dos principais factores que os caracteriza é o imediatismo:<br />

trata-se de uma geração pouco habituada e<br />

com pouca paciência para obter aquilo que quer, seja<br />

informação, feedback ou interacção. Isso traduz-se,<br />

no enquadramento profissional, por uma necessidade<br />

permanente de feedback e por estímulos crescentes e<br />

contínuos que é, na maior parte das vezes, impossível<br />

de acompanhar por parte das empresas.<br />

“A geração dos millennials<br />

é a melhor preparada do ponto<br />

de vista de formação académica"<br />

Outro factor relevante é algum egocentrismo que caracteriza<br />

esta geração. Enquanto as gerações anteriores<br />

perguntavam o que é que podiam fazer pela empresa,<br />

os millennials tendem a perguntar o que é que a empresa<br />

pode fazer por eles. E esta é, na minha perspectiva,<br />

a grande questão em relação aos millennials: exigem e<br />

esperam um projecto profissional em que possam crescer<br />

rapidamente, desenvolver competências, construir<br />

carreiras boomerang e absorver o máximo que as empresas<br />

têm para lhes oferecer, mas em contrapartida,<br />

por norma, antecipam que não vão trabalhar nessa mesma<br />

empresa mais do que dois anos (em média).<br />

Neste sentido, de uma forma geral, as expectativas dos<br />

millennials implicam um investimento significativo por<br />

Nuno Troni é responsável pelo recrutamento especializado<br />

da Randstad Portugal<br />

parte das empresas, sendo que grande parte do retorno<br />

é impossível de ser obtido em dois anos ou menos. O<br />

que fazer então? Recrutar ou reter?<br />

Começando pela atracção, os millennials procuram essencialmente<br />

empresas com um propósito, que tenham<br />

uma missão e não apenas objectivos financeiros. Esta é<br />

uma das razões pela qual sectores anteriormente considerados<br />

como muito atractivos (tal como o sector bancário)<br />

estejam a cair na ordem de preferências – o que<br />

tem impulsionado a aposta no employer branding como<br />

uma das áreas mais desenvolvidas em recursos humanos,<br />

precisamente para responder a esta questão. Por<br />

outro lado, há quem ainda argumente e defenda que a<br />

questão salarial não é uma prioridade, sendo que, pessoalmente,<br />

não podia estar mais em desacordo. Os millennials<br />

procuram bons salários e são consumistas da<br />

mesma forma que as gerações anteriores – têm é apetência<br />

por produtos ou serviços distintos. Considerada a<br />

questão salarial e o propósito da empresa, os desafios a<br />

que vão ser expostos e o que poderão daí retirar – com-<br />

27


RH<br />

petências, experiência ou conhecimento – são também<br />

pontos críticos. Assim, neste caso, empresas que<br />

tenham a possibilidade de oferecer programas de formação<br />

ou carreiras internacionais, estas oportunidades<br />

poderão aumentar fortemente a possibilidade de serem<br />

valorizadas e desejadas pelos millennials. Por sua vez,<br />

no caso do recrutamento desta geração, o digital é incontornável:<br />

a presença em redes sociais é fundamental,<br />

assim como a atenção ao que é dito sobre a empresa<br />

nas diferentes comunidades digitais.<br />

estão mais ágeis e flexíveis. Assim, perceber a evolução<br />

profissional apenas como um movimento de ascensão<br />

vertical é considerado redutor, sendo que actualmente<br />

são os movimentos laterais (um percurso profissional<br />

passando por funções distintas) a base que sustenta<br />

carreiras de sucesso.<br />

“Os millennials procuram essencialmente<br />

empresas com um propósito,<br />

que tenham uma missão"<br />

A retenção apresenta, na minha opinião, desafios mais<br />

complexos. Um dos principais pontos é que as empresas<br />

não são constituídas unicamente por uma só geração,<br />

pelo que a saudável interacção entre as mesmas<br />

é fundamental tanto para o sucesso da empresa como<br />

para a retenção das suas pessoas. Neste sentido, as<br />

melhores práticas apontam para a criação de equipas<br />

multigeracionais, em que os colaboradores mais seniores<br />

partilham o seu conhecimento com os mais novatos,<br />

constituindo normalmente uma abordagem win-win: os<br />

mais seniores apreciam e sentem-se reconhecidos ao<br />

partilhar conhecimento e ao dar feedback, enquanto<br />

os mais novos valorizam esses mesmos momentos de<br />

feedback e de aprendizagem. Assim, não são as equipas<br />

tradicionais (com um chefe e subordinados) que<br />

retém os millennials, mas antes a constituição de equipas<br />

que trabalham por projectos específicos e em que<br />

são todos peers (neste mesmo projecto), sendo que é<br />

na interacção entre todos que se faz a passagem de conhecimento,<br />

a troca de experiências, a aprendizagem e<br />

a criação de redes. Envolver os millennials em projectos<br />

transversais na empresa (projectos fora do seu âmbito/<br />

função habitual) tem-se revelado também como uma<br />

óptima ferramenta de engagement e retenção, uma vez<br />

que é reforçado o seu papel e importância dentro da<br />

empresa, assim como é dada a possibilidade de aquisição<br />

de novos conhecimentos (que tanto valorizam). Relativamente<br />

à função que desempenham, é fundamental<br />

evidenciar, mensurar e reconhecer o impacto que o seu<br />

trabalho tem na empresa.<br />

“As empresas não são constituídas<br />

unicamente por uma só geração,<br />

pelo que a saudável interacção entre<br />

as mesmas é fundamental"<br />

Desta forma, e como resposta a estas mesmas “exigências”,<br />

ao longo dos últimos anos temos assistido a algum<br />

achatamento da estrutura das empresas: se há alguns<br />

anos entre o trainee e o CEO existiam imensos degraus<br />

hierárquicos, hoje a realidade é distinta e as empresas<br />

28<br />

Constituição de equipas por projeto é fator de retenção<br />

Uma empresa que queira recrutar e reter os melhores<br />

deve procurar ter uma proposta de valor muito completa,<br />

assente em várias variáveis e comunicada de forma<br />

transparente e directa. Do ponto de vista de retenção<br />

a comunicação e gestão de expectativas é chave. Na<br />

Randstad há muito que abandonámos as avaliações de<br />

desempenho e adoptámos um sistema a que chamamos<br />

de great conversations, em que convidamos todos os colaboradores<br />

a conversarem, no mínimo trimestralmente,<br />

sobre os temas que consideram relevantes, com a frequência<br />

que acharem adequada e com feedback bidireccional,<br />

de forma a estarmos todos alinhados e com<br />

uma visão comum sobre os desafios com que lidamos.<br />

No meu ponto de vista, esta geração millennial não é<br />

nem melhor nem pior do que as anteriores, ou até do que<br />

as que ainda estão para entrar no mercado de trabalho.<br />

Apresentam, sim, características que têm que ser compreendidas<br />

para que possamos ajustar a forma como<br />

interagimos e a gerimos. As competências, aptidões naturais<br />

ou skills necessárias para determinada função ou<br />

projecto são, obviamente, fundamentais para o sucesso<br />

do processo. Contudo, na minha opinião, o factor decisivo<br />

quando recruto são os valores e a ética de trabalho.<br />

Se estes não estiverem alinhados com a cultura da<br />

empresa e com os restantes colaboradores, por muito<br />

competente que o candidato possa ser o sucesso será<br />

seguramente menor. Pertença a que geração for.<br />

*Nota: este artigo foi escrito ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico.


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

29


BI<br />

Denisse Sousa<br />

Pipedrive<br />

Mara Vicente<br />

ASSUME Serviço ao Cliente<br />

da Pipedrive<br />

Mara Vicente Figueiredo foi nomeada Global<br />

Head of Customer Support da Pipedrive para<br />

Portugal. Com esta nomeação, Mara passará a<br />

colaborar na estratégia de desenho do serviço<br />

ao cliente e a liderar a equipa global de apoio<br />

ao cliente nas suas diferentes geografias e<br />

valências. Esta nova direção orientada para o<br />

cliente, coloca-o no centro de toda a estratégia<br />

para a empresa.<br />

Mara Vicente Figueiredo, nova Global Head of Customer Support da Pipedrive<br />

Time Out Market tem nova<br />

diretora de marketing<br />

Catarina Cabral, até aqui responsável<br />

de marketing da Cabify Portugal,<br />

assume a direção de marketing do Time<br />

Out Market. A nova responsável conta<br />

já com uma experiência de dez anos na<br />

área do marketing e da comunicação.<br />

Neves de Almeida tem novo<br />

responsável de comunicação<br />

Jorge Magalhães Afonso é o novo<br />

Communications Manager da consultora<br />

de recursos humanos Neves de Almeida,<br />

transitando da redação dos jornais<br />

i e Sol. Com experiência de 16 anos na<br />

área do jornalismo, Magalhães Afonso<br />

passa a integrar a equipa da consultora.<br />

Alexandra Sequeira de Carvalho<br />

nos RH s da Sport TV<br />

A Sport TV nomeou Alexandra Sequeira<br />

de Carvalho diretora de<br />

recursos humanos do canal de<br />

desporto português, que este anocelebra<br />

20 anos. O seu desafio reside<br />

na “construção da estratégia<br />

de gestão de recursos humanos” da<br />

marca.<br />

30


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

João Fernandes É novo<br />

presidente da Região<br />

de Turismo do Algarve<br />

João Fernandes assumiu a presidência<br />

da Região de Turismo do Algarve<br />

(RTA), sucedendo a Desidério<br />

Silva. O ex-vice-presidente da RTA<br />

tomou posse em julho com mandato<br />

para os próximos cinco anos.<br />

Clara Branco na coordenação<br />

de consultoria da EAD<br />

A EAD – Empresa de Arquivo de<br />

Documentação, pioneira e líder de<br />

mercado em soluções de gestão<br />

documental, contratou Clara Branco<br />

para coordenar os serviços de consultoria<br />

da companhia.<br />

Tiago Matias é o novo 'talent<br />

associate manager' da ITEN<br />

A ITEN, empresa do grupo Claranet,<br />

anunciou a contratação de Tiago Matias<br />

como talent associate manager da<br />

área de Talent & Training.<br />

UPS nomeia novo 'manager' para<br />

Portugal e Espanha<br />

Fernando Falcón, um veterano com<br />

17 anos de percurso na empresa,<br />

passa a ser responsável por mais<br />

de 1.300 colaboradores, bem como<br />

pelas operações, desenvolvimento<br />

de negócio e estratégia da UPS para<br />

toda a Península Ibérica.<br />

Catarina Tendeiro assume RH<br />

da Ageas Portugal<br />

Com mais de 20 anos de experiência<br />

na área dos recursos humanos, a<br />

nova diretora de recursos humanos<br />

do Grupo Ageas Portugal conta com<br />

um vasto background direcionado<br />

para a modernização, digitalização e<br />

profissionalização de processos de<br />

recursos humanos.<br />

BWM Portugal<br />

tem novo diretor-geral<br />

O italiano Massimo Senatore vai assumir<br />

o cargo de diretor-geral em<br />

dezembro, na sequência das alterações<br />

efetuadas na direção da BMW.<br />

Aos 48 anos e depois de 16 anos na<br />

BMW Itália, sucede a Mário Fernandos<br />

no cargo.<br />

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32


MEDIR PARA GERIR<br />

OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

GESTÃO INTERINA NOS NEGÓCIOS<br />

Paulo Leal, partner da ARGUS Performance Partners<br />

ARGUS Perfomance Partners<br />

Começamos por clarificar o conceito de gestão interina. A prática de Interim Management<br />

(IM) ou colocação temporária de executivos pode ser resumida como a incorporação<br />

de um (ou mais) executivo(s) externo(s) à empresa, com elevada experiência de<br />

gestão e de direção ou com determinada competência específica, para levar a cargo:<br />

uma tarefa executiva concreta, durante um prazo pré-determinado, com um conjunto<br />

de objetivos previamente definidos.<br />

As características comuns a estes profissionais são a experiência acumulada em lugares<br />

de gestão de topo e a vontade de trabalhar por projeto. De acordo com um estudo<br />

Paulo Leal (ARGUS)<br />

do Institute of Interim Management, 34% dos recursos procuram variedade e 22% flexibilidade. Acima de tudo, a opção<br />

pelo IM permite aos recursos serem donos do seu tempo e das suas agendas, e ao mesmo tempo, colocar a sua<br />

energia e experiência ao serviço das empresas. São profissionais altamente qualificados e com competências para<br />

liderar os processos transformacionais ou disruptivos essenciais para o crescimento e evolução das organizações.<br />

O QUE É QUE DIFERENCIA OS INTERIM MANAGERS<br />

- São independentes, não fazem parte da “política” da empresa, permitindo uma visão isenta e tomar medidas que<br />

os quadros da empresa poderiam ter dificuldade em tomar;<br />

- São profissionais seniores, com muitos anos de experiência de direção de primeira linha ou administração nas<br />

áreas de negócio ou de gestão para as quais são chamados a desempenhar funções;<br />

- São transformacionais, ou seja, desempenham normalmente missões de mudança, desenvolvimento de negócio,<br />

gestão de crise ou processo de reestruturação;<br />

- São focados no tempo. O IM deverá estar disponível muito rapidamente para uma missão e tem um calendário de<br />

projeto pré-definido, devendo entregar dentro do prazo acordado.<br />

QUANDO É QUE SE UTILIZA O INTERIM MANAGEMENT<br />

Se a solução “clássica” de utilização de IM é a substituição temporária de um executivo, por ausência do quadro da<br />

empresa, doença, licença de maternidade ou saída súbita, cada vez mais é uma solução que as empresas adotam<br />

para fazer face a processos transformacionais ou disruptivos, nomeadamente:<br />

1. Processos de reestruturação – Empresa em situação financeira difícil, com perda de volume de negócios ou com<br />

prejuízo, falta de competitividade no mercado, etecetera;<br />

2. Melhoria de performance – O mercado desenvolve-se a uma velocidade vertiginosa, pelo que se torna necessário<br />

às empresas manterem-se sempre na liderança da inovação com o lançamento de novos produtos, entrada em<br />

novos mercados ou abertura de novos canais comerciais;<br />

3. Fundos de investimento ou Private Equity – O IM aparece em diversos países como apoio aos fundos de investimento,<br />

seja numa fase de análise do ativo para potencial investimento, na implementação de um processo de reestruturação<br />

(primeiros <strong>10</strong>0 dias) ou desenvolvimento de negócio ou até, em algumas situações, gerindo as empresas<br />

objeto do investimento, atuando como Managing Partner;<br />

4. Gestão de projeto – A correta e atempada implementação de projetos, seja o lançamento de uma nova fábrica,<br />

seja um processo de transformação digital, requer, muitas vezes, competências específicas que as empresas não<br />

detêm, socorrendo-se nesse caso do IM para desempenhar, por exemplo, funções de PMO.<br />

As empresas de IM, como a ARGUS Performance Partners, têm nas suas bases de dados dezenas de recursos com<br />

experiência e conhecimento específico, que poderão endereçar virtualmente qualquer desafio. Ao fazer parte da<br />

rede internacional do WIL Group tem ainda acesso a mais de 35.000 CV em todo o mundo.<br />

São diversas as vantagens para as empresas: acesso a profissionais com elevada experiência e uma missão, estratégica<br />

para a empresa; vinculação temporária, resultando num custo variável; retorno do investimento com resultados<br />

mensuráveis num tempo normalmente curto; rapidez na identificação do recurso e início do projeto; trabalho por<br />

objetivos, o que implica produtividade, compromisso e dedicação; visão externa, trazendo frescura e objetividade.<br />

Em Portugal, uma vez que a gestão interina é uma prática recente, existe espaço para novas abordagens. Do lado<br />

dos recursos, cada vez mais os profissionais seniores pretendem trabalhar em projetos, pelo que é hoje possível<br />

encontrar uma quantidade interessante de recursos experientes disponíveis para endereçar estes desafios.<br />

Do lado das empresas, e num tecido empresarial de médias empresas, é notória a necessidade de recursos executivos<br />

profissionais para empreender processos de reestruturação ou de desenvolvimento de negócio. As soluções<br />

de IM são a melhor resposta para, em complemento da estrutura societária e/ou da gestão, aportar competências<br />

às empresas que as permitam crescer e responder aos desafios de um mundo cada vez mais global e competitivo.<br />

33


marketing<br />

UM MUNDO CHEIO DE PESSOAS AUTÊNTICAS<br />

Denisse Sousa<br />

Sonder<br />

Para Frederico Canto e Castro, o mundo da publicidade era recheado de<br />

pessoas inautênticas. Ainda na faculdade, imagina o conceito e funda a<br />

Sonder, sem ter experiência ou conhecimento do mundo dos negócios. De<br />

uma mente jovem e inovadora nasceu assim a agência de publicidade para<br />

pessoas autênticas e líder de mercado em Portugal.<br />

“A Sonder nasce quando eu estava na faculdade<br />

a tirar curso de gestão e tivemos<br />

que fazer um trabalho de grupo em que<br />

estudávamos uma empresa em todos os<br />

seus setores e escolhemos a empresa de<br />

publicidade do meu pai.”<br />

A história começa assim, explica Frederico<br />

Canto e Castro, ou Fred, como gosta<br />

que o chamem. Um trabalho de faculdade<br />

que rapidamente se transformou no mote<br />

para uma empresa única e irreverente.<br />

Com um pouco de pesquisa, Fred percebeu<br />

que o mercado da publicidade estava<br />

em mudança, que as agências não estavam<br />

a conseguir acompanhar e que havia<br />

a oportunidade de criar um projeto de<br />

acordo com os seus princípios.<br />

Assim nasce a Sonder em 2014, uma empresa<br />

cujo propósito é ajudar as marcas<br />

a criar publicidade mais verdadeira, mais<br />

real, ao dar a possibilidade de colocarem<br />

pessoas autênticas como estrelas dos<br />

seus anúncios para o mundo inteiro, seja<br />

em televisão, em mupis, ou nas redes sociais.<br />

Frederico Canto e Castro criou a Sonder em 2014<br />

Mas, o que é isso de ser uma pessoa autêntica?<br />

Segundo o dicionário Sonder,<br />

significa saber quem se é e o que o diferencia<br />

dos outros, vivendo a sua autenticidade<br />

ao máximo.<br />

34<br />

“Sabes aquilo que te diferencia<br />

dos outros e, em vez de esconderes<br />

isso por medo de seres julgado,<br />

tu vives essa diferença. Vives<br />

essa falha nos dentes, esse cabelo<br />

branco, essa tatuagem, essas sardas,<br />

ser alto ou baixo – o quer que<br />

seja”, explica o fundador.<br />

Sonder [son.der ou sond'er] - nome; pessoa autêntica<br />

DA SALA DE AULA PARA O MUNDO DOS NEGÓCIOS<br />

Com apenas 19 anos e sem ideia de como gerir um negócio, criar uma<br />

empresa ou o que eram finanças, gerir recursos humanos ou operações,<br />

Fred lançou-se naquele que considera ser o maior desafio de<br />

todos: começar a Sonder. No entanto, não se deixou abalar pela falta<br />

de experiência.<br />

“Acredito que não nascemos grandes, mas sim que nos tornamos<br />

grandes pelo caminho, por isso, prefiro colocar desafios muito mais<br />

elevados do que o meu grau de competência atual e depois arranjar<br />

maneira de suprimir esse gap ao adquirir essas competências, onde<br />

quer que seja.”<br />

Para o jovem empresário, o melhor de estar à frente de uma empresa<br />

como esta é o impacto que consegue criar na vida das pessoas. Para<br />

Fred, não há ninguém que não passe pela Sonder e não fique uma<br />

pessoa diferente. Vê nesta transformação a fuga à formatação a que<br />

as pessoas são obrigadas quando entram nas empresas, abrindo um<br />

espaço onde, com o tempo, as pessoas começam a descobrir-se, a<br />

aceitar-se e a viver de forma diferente.<br />

que ace


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

“Traz-me uma alegria e diversão muito grande estar à frente de um<br />

projeto ambicioso, em que estamos sempre a aprender, a experimentar<br />

coisas novas e a inovar. É uma aprendizagem muito grande e dá-<br />

-nos a oportunidade de criar algo em que acreditamos.”<br />

Os sonders são os agenciados, que<br />

são levados para todos os cantos<br />

do mundo. A empresa está, neste<br />

momento, a dar os primeiros passos<br />

em Barcelona, mas já está no<br />

Porto e em Lisboa. Até ao momento,<br />

a Sonder trabalha com mais<br />

de 30 clientes nas mais diversas<br />

áreas e conta com três mil sonders<br />

“Sabendo que o ser humano tem uma<br />

necessidade de expressão tão grande,<br />

quanto mais as empresas tentam aprisioná-lo<br />

dentro de regras, mais frustrado<br />

esse ser fica e menos vai produzir. Na<br />

minha opinião, quer para o bem das pessoas,<br />

quer para o bem da empresa, quanto<br />

mais as pessoas se puderem libertar e serem<br />

quem realmente são, mais felizes vão<br />

estar e mais vão trabalhar”, advoga.<br />

E é com a mira nessa autenticidade que a<br />

empresa caminha a largos passos para o<br />

futuro. Espera até ao fim do ano consolidar<br />

as operações em Lisboa e Barcelona,<br />

mantendo a liderança na primeira e percebendo<br />

como chegar ao topo na segunda<br />

cidade. Em relação à expansão para mais<br />

mercados, Fred olha apenas para algumas<br />

cidades na Europa, mas é importante<br />

saber como, com quem e quanto custará<br />

essa internacionalização.<br />

“Estamos a falar<br />

de pessoas que não são<br />

atores, nem modelos"<br />

de todas as idades, géneros e etnias.<br />

Para um agenciado, junta-se<br />

a possibilidade de ter uma experiência<br />

única e de faturar um valor<br />

médio de 800 euros por um dia de<br />

trabalho.<br />

“Estamos a falar de pessoas que<br />

não são atores, nem modelos e é<br />

isso que oferecemos: uma experiência nova e o dinheiro. E, claro, há<br />

pessoas que querem fazer parte da Sonder porque procuram impactar<br />

o mundo de alguma forma.“<br />

têntica que aceita as suas diferenças e vive-as intensamente<br />

No portefólio da Sonder, conta-se um anúncio para a UEFA que passou<br />

na final da Liga dos Campeões em 2017, a Coca-cola, a H&M na<br />

campanha com o David Beckham, a Lamborghini, a Nike, a Amazon,<br />

ou o Instagram, que foi a primeira campanha em Barcelona assinada<br />

em Sonder.<br />

Recentemente, a Sonder colocou Vítor, antigo sem-abrigo que já filmou<br />

quatro anúncios com a agência, na capa da Vogue de junho.<br />

ADN AUTÊNTICO E INFORMAL<br />

O ambiente da Sonder é igual às suas pessoas, autêntico e informal.<br />

Para Fred, dar a liberdade aos seus colaboradores para serem autênticos<br />

ajuda-os a tornarem-se melhores profissionais e, por consequência,<br />

mais motivados a seguir o ADN da empresa.<br />

Para Fred, os balanços destes anos de<br />

trabalho refletem-se numa aprendizagem<br />

gigantesca e em laços que se criaram<br />

dentro da empresa.<br />

“Fizeram-se muitas amizades aqui dentro,<br />

conheci a minha namorada aqui. Impactamos<br />

imensas vidas, damos oportunidade<br />

a imensas pessoas de ter uma experiência<br />

única de ganhar dinheiro para poderem<br />

perseguir outras experiências e estamos a<br />

quebrar estereótipos.”<br />

Para trabalhar na agência é necessário<br />

também ter um gosto pelo desafio e<br />

motivação para o crescimento. A Sonder<br />

procura pessoas que se sintam entusiasmadas<br />

por um desafio grande e difícil, que<br />

consigam transformar esse objetivo numa<br />

causa em que acreditam.<br />

“Estamos a criar impacto no mundo, nas<br />

pessoas que trabalham connosco e em<br />

todo o nosso ecossistema e estamos a<br />

aprender muito. Estou orgulhoso do que<br />

construímos até hoje, mas claramente há<br />

muito mais pela frente. Ainda somos muito<br />

pequenos para aquilo que eu gostava.”<br />

35


experiencE<br />

- <strong>Edição</strong> <strong>2018</strong> em PORTUGAl -<br />

Programa global de fomento<br />

ao e-commerce<br />

6 meses<br />

de imersão<br />

20 empresas<br />

selecionadas<br />

Palestras, workshops e mentorias com os melhores<br />

profissionais do mercado nacional e internacional<br />

Participa em www.ecommerceexperience.co<br />

- PARTICIPANTES -<br />

- iniciativa -<br />

- APOIO LISPOLIS A EMPREENDEDORES -<br />

36<br />

Startup Voucher<br />

Ideias<br />

Startup Visa<br />

Startups extracomunitárias<br />

Vale Incubação<br />

Startups com menos de 1 ano


tecnologia<br />

OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

UM QUARTO DE SÉCULO DE LISTOPSIS<br />

Denisse Sousa<br />

Listopsis<br />

A Listopsis nasceu há 25 anos com um ADN resiliente<br />

e inovador na sua estratégia de negócios, mesmo em<br />

cenários difíceis. Graças a uma equipa unida e vontade<br />

de se manter no topo, a Listopsis prosseguiu o seu<br />

caminho tornando-se <strong>PME</strong> Líder, <strong>PME</strong> Excelência e<br />

Empresa Aplauso.<br />

Vocacionada para a comercialização de equipamentos,<br />

soluções e serviços de impressão, a Listopsis celebra<br />

em <strong>2018</strong> 25 anos de mercado. Empresa com capital<br />

<strong>10</strong>0% português, especializada na prestação de serviços<br />

de automatização de negócio, gestão documental,<br />

soluções de impressão e implementação de infraestrutura<br />

informática.<br />

Esta tecnológica rege-se pela personalização das soluções<br />

tecnológicas ao nível da informática, cópia e impressão,<br />

imagem e projeção, como forma de garantir às<br />

empresas acesso e tratamento da informação de acordo<br />

com as suas necessidades.<br />

Com mais de 3000 clientes e 9700 equipamentos instalados,<br />

esta <strong>PME</strong> procura manter-se no topo da sua<br />

atividade, apostando na qualidade como fator de diferenciação,<br />

inovação, no progresso e, essencialmente,<br />

na sua equipa.<br />

Numa retrospetiva dos últimos 25 anos, Laurentina Gomes,<br />

administradora e fundadora do grupo português<br />

Liscic/Listopsis, que partilha a liderança da empresa<br />

com o CEO Joaquim Guerreiro, recorda a decisão de<br />

adquirir uma empresa no Porto e lançar a Listopsis em<br />

Braga, em 2008, ano caracterizado pela crise financeira<br />

no país, como um dos maiores desafios que a empresa<br />

enfrentou na sua história.<br />

“Tratou-se de um enorme desafio, porque no Porto precisávamos<br />

de transformar uma empresa com reduzida<br />

identidade e recursos humanos desmotivados numa<br />

empresa dinâmica com espírito de startup em Braga,<br />

criar uma empresa de raiz e assim relançarmos o negócio<br />

na região Norte”, explica a administradora.<br />

Atualmente, conta com cerca de 60 colaboradores distribuídos<br />

por Lisboa, Porto e Braga. A promoção do<br />

cumprimento de objetivos, a criação de oportunidades e<br />

a solução para problemas estão na ordem do dia. Como<br />

grupo moderno e dinâmico que é, a Listopsis, assegura a<br />

administradora, dá valor à inovação e proatividade, procurando<br />

sempre a melhor pessoa para o melhor cargo.<br />

“Garantir que mantemos as equipas empenhadas nos<br />

objetivos e promover o espírito de partilha, autonomia<br />

e rapidez na decisão, sempre orientados para encontrar<br />

as melhores e mais diferenciadoras soluções para os<br />

nossos clientes, é essencial para o sucesso de qualquer<br />

empresa e um desafio constante”, conclui Laurentina<br />

Gomes.<br />

ENFRENTAR DESAFIOS<br />

Listopsis conta com mais de 3000 clientes<br />

Para Laurentina Gomes, ser uma mulher à frente desta<br />

empresa com 25 anos é uma tarefa de grande responsabilidade,<br />

uma vez que o sucesso da mesma depende<br />

de quem a lidera. Acredita que as empresas estão num<br />

mundo cada vez mais global, onde a promoção da diversidade<br />

e equilíbrio na liderança são fundamentais para o<br />

sucesso.<br />

“O sucesso de uma empresa depende consideravelmente<br />

das capacidades de liderança dos seus gestores,<br />

por isso, há que saber enfrentar os desafios e adaptarmo-nos<br />

às contantes mudanças, sem receios e com<br />

confiança, acreditando que só assim é possível alcançar<br />

o sucesso”, sublinha.<br />

A responsabilidade social também é uma das forças<br />

desta empresa, através da promoção de uma consciência<br />

social nos seus colaboradores, por forma a criar um<br />

sentimento solidário muito forte, comprometendo todos<br />

os colaboradores com estes valores. A Listopsis apoia<br />

também um conjunto de instituições, através da oferta<br />

de equipamentos e serviços tecnológicos para melhoria<br />

de processos.<br />

“O sucesso de uma empresa<br />

depende consideravelmente<br />

das capacidades<br />

de liderança dos seus gestores”<br />

Laurentina Gomes<br />

Fundadora e administradora da Listopsis<br />

De futuro, a administradora admite manter a estratégia<br />

de crescimento, tornando-se novamente empresa detentora<br />

dos títulos <strong>PME</strong> Líder, desde 2001 até ao presente,<br />

<strong>PME</strong> Excelência, pelo IA<strong>PME</strong>I, entre 1998 e 2000,<br />

e participante do programa Empresa Aplauso, do banco<br />

Millennium BCP.<br />

“Com uma equipa comprometida com a satisfação dos<br />

nossos cientes e parceiros, confiante e com vontade de<br />

inovar e fazer mais e melhor, continuaremos a trabalhar<br />

para ter mais metas para concretizar, mais prémios para<br />

conquistar. “<br />

37


Agenda<br />

Denisse Sousa<br />

26 A 29<br />

FIL, Lisboa<br />

OUTUBRO<br />

GRANDES ESCOLHAS |<br />

VINHOS & SABORES<br />

O Grandes Escolhas | Vinhos<br />

& Sabores, a grande feira de<br />

referência do setor em Portugal,<br />

acontece de 26 a 29 de outubro.<br />

O evento surge como uma<br />

mais-valia para consumidores,<br />

profissionais, e fãs dos vinhos e<br />

sabores de Portugal.<br />

Mais informações em:<br />

www.grandesescolhas.com<br />

5 A 8 NOVEMBRO<br />

WEB SUMMIT<br />

DE VOLTA<br />

FIL, Lisboa<br />

O maior evento de tecnologia do<br />

mundo está de volta a Lisboa e,<br />

mais uma vez, conta com convidados<br />

de luxo, entre eles António<br />

Guterres, secretário-geral<br />

da ONU, Brad Smith (Microsoft)<br />

ou o futebolista Ronaldinho. Durante<br />

quatro dias, mais de mil<br />

oradores procuram inspirar e dar<br />

conselhos a empreendedores de<br />

todo o mundo na Web Summit.<br />

Mais informações em:<br />

www.websummit.com<br />

12 A 14<br />

NOVEMBRO<br />

CONTABILIDADE ANALÍTICA -<br />

GESTÃO DE PRODUÇÃO<br />

AIP-CCI, Lisboa<br />

30<br />

Com este curso pretende-se proporcionar<br />

uma visão integrada dos<br />

conceitos, técnicas e estratégias<br />

mais utilizadas na Gestão da Produção.<br />

Mais informações em:<br />

www.aip.pt<br />

OUTUBRO<br />

DIGITAL MARKETING,<br />

ANALYTICS & INTELLIGENCE<br />

CCIP, Lisboa<br />

Esta formação destina-se a todos os<br />

profissionais com funções ou projetos<br />

na área do marketing digital, que<br />

pretendam aprofundar a sua experiência<br />

em analytics.<br />

Mais informações em:<br />

www.ccip.pt<br />

38


OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

14<br />

NOVEMBRO<br />

PORTUGAL EXPORTADOR<br />

FIL, Lisboa<br />

É o maior evento exclusivamente dedicado à<br />

exportação que se realiza em Portugal, criado<br />

para as principais entidades de apoio à internacionalização.<br />

O Portugal Exportador é um evento<br />

de networking por excelência<br />

Mais informações em:<br />

www.portugalexportador.pt<br />

16<br />

NOVEMBRO<br />

QUANTO VALE UMA IMAGEM DE SUCESSO<br />

Núcleo da ANJE de Lisboa e Vale do Tejo, Algés<br />

A ANJE organiza o curso "Quanto vale uma imagem<br />

de sucesso" a 16 de novembro. Esta formação<br />

procura transmitir aos seus participantes<br />

as diferentes formas de usar a palavra e o<br />

storytelling para transformar e vender a imagem.<br />

Mais informações em:<br />

www.anje.pt<br />

NOVEMBRO<br />

FEIRA INTERNACIONAL DE CABO VERDE<br />

Praia, Cabo Verde<br />

A Feira Internacional de Cabo Verde junta empresários<br />

de todos o mundo que queiram investir no<br />

arquipélago. Este evento promove o que de melhor<br />

se faz em Cabo Verde e nas dez ilhas.<br />

Os interessados podem inscrever-se em:<br />

www.fic.cv<br />

MISSÃO EMPRESARIAL AO PERU<br />

Lima, Peru<br />

14 A 18<br />

2<br />

DEZEMBRO<br />

Esta missão empresarial multissetorial é destinada<br />

a todas as empresas portuguesas que pretendam<br />

exportar ou investir neste mercado. As<br />

inscrições estão abertas até 9 de novembro.<br />

Mais informações em:<br />

www.ccip.pt<br />

39


CONTEÚDOS | Publirreportagem<br />

PUBLICIDADE | <strong>Edição</strong> papel e digital<br />

BANNER | Site de notícias<br />

NEWSLETTER eletrónica<br />

STAND | Exposição<br />

CONTACTOS | Networking<br />

40


OPINIÃO<br />

OUTUBRO <strong>2018</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

INOVAÇÃO DISRUPTIVA PASSADA E FUTURA<br />

Tim Vieira, CEO da BraveGeneration<br />

BraveGeneration<br />

A inovação disruptiva não é um termo novo, pois surgiu<br />

em 1997. Garanto que esta terminologia é usada<br />

desde que os humanos existem.<br />

Estas são apenas algumas das primeiras e mais básicas,<br />

mas igualmente importantes, inovações do<br />

passado: o primeiro fogo (há 600.000 anos), o desenvolvimento<br />

da roda (3500 a. C.), o alfabeto (2700<br />

a. C.), a imprensa (1439) e o desenvolvimento da Penicilina<br />

(1928). Todos esses exemplos poderiam ser<br />

classificados como Inovações Disruptivas, que mudaram<br />

toda a maneira de viver e não apenas setores<br />

ou indústrias.<br />

Mas voltando agora ao significado de Inovação Disruptiva,<br />

que foi aplicado desde 1997. Temos de nos<br />

concentrar nas empresas que surgiram com melhores<br />

soluções para os maiores utilizadores do mercado.<br />

Normalmente, são startups ágeis e agressivas<br />

que, no início, encontram uma solução para um grande<br />

mercado e, em seguida, expandem-se para assumir<br />

a maior parte do mercado.<br />

Se olharmos para o passado, acredito que houve muitas<br />

inovações disruptivas que juntas mudaram a nossa<br />

vida e a nossa humanidade para sempre. Exemplo<br />

disso é o automóvel modelo T Ford. Embora não seja<br />

o primeiro automóvel, foi o primeiro a ser produzido<br />

em grande escala e capaz de ser uma alternativa ao<br />

uso de cavalos como solução de transporte. Todos os<br />

outros automóveis até então especializaram-se num<br />

pequeno segmento de mercado e eram altamente limitados<br />

devido ao preço e à oferta. Henry Ford criou,<br />

sem dúvida, um novo mercado devido aos seus baixos<br />

preços e aos números de produção.<br />

"Houve muitas inovações<br />

disruptivas que mudaram<br />

a nossa vida e a nossa<br />

humanidade para sempre"<br />

Tim Vieira foi um dos ‘tubarões’ no programa televisivo Shark Tank<br />

A Inovação Disruptiva nem sempre foi tão fácil de<br />

identificar como o exemplo anterior da Ford. Nos últimos<br />

80 anos, tivemos inúmeras inovações disruptivas<br />

que aconteceram sem que nos apercebêssemos.<br />

Digo isso porque, nos últimos 80 anos, a esperança<br />

de vida passou de meros 40 anos para mais de 72<br />

anos. Devido a essas inovações disruptivas, nenhum<br />

país do mundo diminuiu a esperança média de vida<br />

ou aumentou as taxas de mortalidade infantil. Assim,<br />

podemos comprovar que, graças à Inovação Disruptiva<br />

aplicada a uma ampla área de campos, melhorámos a<br />

qualidade de vida da humanidade em larga escala.<br />

Agora, com os olhos postos no futuro, questiono: como<br />

e onde a Inovação Disruptiva pode acontecer e causar o<br />

maior impacto, para quem e por quem? Acredito que continuaremos<br />

a impulsionar as inovações disruptivas daqui<br />

para a frente, já que estamos a entender melhor o conceito.<br />

Também estamos mais preparados para lançá-las devido<br />

aos novos canais de distribuição direta. Os nossos clientes<br />

também estão mais abertos a experimentar novas soluções<br />

e produtos, e a perdoar e a esquecer mais rapidamente,<br />

permitindo uma experiência mais ousada de soluções.<br />

"Os nossos clientes estão mais abertos<br />

a experimentar novas soluções<br />

e produtos e a perdoar e a esquecer<br />

mais rapidamente"<br />

Empresas pequenas ou startups também estão em posição<br />

de ter os seus serviços ou produtos a impactarem uma<br />

grande escala de consumidores. Muitas empresas estabelecidas<br />

estão a concentrar-se em segmentos de mercado<br />

específicos ou em localizações geográficas que podem não<br />

crescer no futuro. Com o aumento do mercado da classe<br />

média – sendo o maior na Ásia e na África –, muitas novas<br />

oportunidades surgirão para as empresas que conseguirem<br />

responder aos requisitos desses mercados com eficiência<br />

no futuro.<br />

Acredito que as pequenas, médias startups irão liderar o caminho<br />

e serão alvo de potenciais aquisições pelos grandes<br />

players estabelecidos. O passado da sua empresa não será<br />

tão importante como o futuro. O seu leque de talentos será<br />

mais importante do que a sua configuração de distribuição,<br />

pois isso pode ser e será terceirizado na maioria dos casos.<br />

A velocidade no mercado será mais importante do que o ser<br />

41


OPINIÃO<br />

perfeito, o que ainda é uma grande luta para a maioria<br />

das empresas.<br />

Não será fácil garantir o sucesso, pois as barreiras de<br />

entrada estão a cair constantemente à medida que os<br />

requisitos financeiros são reduzidos, com a criatividade<br />

e o talento a tornarem-se a nova moeda para garantir o<br />

sucesso e o apoio. Também acredito que, muitas vezes,<br />

a Inovação Disruptiva quase acontece por engano, já<br />

que diferentes rotas são levadas pelas empresas à medida<br />

que progridem com as suas estratégias. Às vezes,<br />

o objetivo final não será conhecido até que seja atingido<br />

um momento “Eureka”.<br />

A grande vantagem das startups em relação às empresas<br />

já estabelecidas é que não estarão à procura de<br />

inovações para melhorar produtos ou serviços para os<br />

clientes ou consumidores. Estarão focadas, a analisar a<br />

Inovação Disruptiva para abrir novos mercados de consumidores<br />

ou clientes, recorrendo a produtos ou serviços<br />

que não existiam antes de desenvolvê-los.<br />

Todo o novo problema é uma oportunidade<br />

para a inovação disruptiva<br />

florescer e responder a uma nova<br />

exigência ou reduzir um risco.<br />

A verdade é que já estamos cientes de algumas das inovações<br />

disruptivas que estão a ser trabalhadas, mas a<br />

maioria será quase surpresa e muitas parecer-nos-ão<br />

tão simples que diremos: “por que não pensei nisto antes”.<br />

As melhores inovações disruptivas respondem às<br />

exigências humanas básicas para uma grande escala da<br />

população. Estas podem estar a mudar com o tempo, à<br />

medida que o mundo se torna mais rico e mais antigo.<br />

Todo o novo problema é uma oportunidade para a inovação<br />

disruptiva florescer e responder a uma nova exigência<br />

ou reduzir um risco.<br />

42<br />

Inovação ajuda empresas a descobrir novos mercados<br />

A Pirâmide de Necessidades de Maslow é um ótimo<br />

exemplo de onde a Inovação Disruptiva tem o maior<br />

impacto, mostrando que quanto maior a necessidade,<br />

maior o impacto. Esta pirâmide está sempre a mudar à<br />

medida que as populações se movem da camada inferior<br />

para a superior, fazendo com que as exigências e as necessidades<br />

mudem também. Com o WiFi, as redes sociais<br />

e as viagens, surgem nesta pirâmide novas oportunidades<br />

para os inovadores disruptivos.<br />

A velocidade no mercado será mais<br />

importante do que o ser perfeito,<br />

o que ainda é uma grande<br />

luta para a maioria das empresas"<br />

Acredito firmemente que há enormes oportunidades<br />

para os disruptores do futuro em áreas como a Educação,<br />

assim como na forma como trabalhamos, como<br />

comemos, como viajamos, como passamos férias e, em<br />

última análise, como vivemos e até mesmo como morremos.<br />

Eu acredito que os países e os governos precisam<br />

de se tornar Inovadores Disruptivos na forma como governam.<br />

Não posso prometer muito, mas posso dizer que o mundo<br />

será um lugar muito diferente daqui a 80 anos e isso<br />

deve-se, principalmente, à Inovação Disruptiva. Cada<br />

inovação garantirá que respondemos às necessidades,<br />

permitindo que todos nós tenhamos as nossas necessidades<br />

satisfeitas. Os recursos são limitados, mas as<br />

necessidades não!!!! Especialmente porque nós, como<br />

um todo, temos mais recursos para responder às nossas<br />

necessidades básicas e queremos que estas sejam satisfeitas<br />

de maneira mais eficiente no futuro.


PT-BIO-03<br />

Agricultura Portugal

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