26
RH OUTUBRO <strong>2018</strong> WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM O QUE É QUE OS 'MILLENNIALS' TÊM? Nuno Troni, diretor de recrutamento especializado da Randstad Portugal Randstad Portugal Ao longo dos últimos anos têm sido inúmeras as discussões sobre a geração dos millennials: como os gerir, como os atrair, como os reter e, em especial, como os conjugar com outras gerações no mercado de trabalho. Ainda assim, confesso que tenho sérias dúvidas se os millennials são assim tão diferentes de outras gerações. Convém recordar que a geração dos millennials é, muito provavelmente, a melhor preparada do ponto de vista de formação académica e a que apresenta mais competências transversais, pelo que o seu contributo, mesmo quando ainda inexperientes, deve ser valorizado e reconhecido. São mais qualificados do que a geração anterior, são nativos digitais e dominam mais línguas. São desafiadores e questionam, mas conseguimos apontar uma geração que, nos vinte e poucos anos, não seja assim? Um dos principais factores que os caracteriza é o imediatismo: trata-se de uma geração pouco habituada e com pouca paciência para obter aquilo que quer, seja informação, feedback ou interacção. Isso traduz-se, no enquadramento profissional, por uma necessidade permanente de feedback e por estímulos crescentes e contínuos que é, na maior parte das vezes, impossível de acompanhar por parte das empresas. “A geração dos millennials é a melhor preparada do ponto de vista de formação académica" Outro factor relevante é algum egocentrismo que caracteriza esta geração. Enquanto as gerações anteriores perguntavam o que é que podiam fazer pela empresa, os millennials tendem a perguntar o que é que a empresa pode fazer por eles. E esta é, na minha perspectiva, a grande questão em relação aos millennials: exigem e esperam um projecto profissional em que possam crescer rapidamente, desenvolver competências, construir carreiras boomerang e absorver o máximo que as empresas têm para lhes oferecer, mas em contrapartida, por norma, antecipam que não vão trabalhar nessa mesma empresa mais do que dois anos (em média). Neste sentido, de uma forma geral, as expectativas dos millennials implicam um investimento significativo por Nuno Troni é responsável pelo recrutamento especializado da Randstad Portugal parte das empresas, sendo que grande parte do retorno é impossível de ser obtido em dois anos ou menos. O que fazer então? Recrutar ou reter? Começando pela atracção, os millennials procuram essencialmente empresas com um propósito, que tenham uma missão e não apenas objectivos financeiros. Esta é uma das razões pela qual sectores anteriormente considerados como muito atractivos (tal como o sector bancário) estejam a cair na ordem de preferências – o que tem impulsionado a aposta no employer branding como uma das áreas mais desenvolvidas em recursos humanos, precisamente para responder a esta questão. Por outro lado, há quem ainda argumente e defenda que a questão salarial não é uma prioridade, sendo que, pessoalmente, não podia estar mais em desacordo. Os millennials procuram bons salários e são consumistas da mesma forma que as gerações anteriores – têm é apetência por produtos ou serviços distintos. Considerada a questão salarial e o propósito da empresa, os desafios a que vão ser expostos e o que poderão daí retirar – com- 27