PME Magazine - Edição 10 - Outubro 2018
Álvaro Covões, diretor-geral da Everything is New, é a figura de capa da 10.ª edição da PME Magazine. Esta entrevista e muito mais aqui.
Álvaro Covões, diretor-geral da Everything is New, é a figura de capa da 10.ª edição da PME Magazine. Esta entrevista e muito mais aqui.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />
CORES PARA TODOS<br />
Ana Rita Justo<br />
ColorADD<br />
Oito anos foi o tempo necessário para que Miguel Neiva<br />
conseguisse transformar a tese de mestrado num<br />
negócio eticamente responsável: criar um código que<br />
permita aos daltónicos identificar as cores. O sucesso<br />
está à vista e já se procura um investidor.<br />
Corria o ano de 1999 quando Miguel Neiva, atualmente<br />
com 49 anos, decidiu avançar para o mestrado. A tese<br />
levou oito anos a ficar concluída, mas resultou num novo<br />
negócio social com um propósito: criar um código que permita aos daltónicos<br />
distinguir as cores. Assim nasceu, em 20<strong>10</strong>, a ColorADD, hoje um<br />
exemplo a seguir entre os negócios eticamente responsáveis.<br />
Miguel terminou a licenciatura em 1993 e montou um estúdio, onde trabalhava<br />
como designer. O ímpeto para fazer o mestrado surgiu por querer fazer<br />
jus às tendências do design inclusivo e por algum medo do desconhecido,<br />
como reconhece.<br />
“A questão do daltonismo surgiu por referência a um colega de escola, mas<br />
também por estigma e certa paranoia de que poderia ficar daltónico. O daltonismo<br />
pode ser adquirido, mas todos tínhamos uma ideia errada do que<br />
era ser daltónico. Era um não assunto, uma limitação que a sociedade não<br />
vê”, lembra o designer.<br />
O mestrado levou-o então a tentar perceber melhor o que era o daltonismo<br />
e, mais importante, o que é que os daltónicos pensavam. O estudo envolveu<br />
146 daltónicos de cerca de 20 países e as conclusões foram contundentes:<br />
“41% dos daltónicos tem dificuldade de integração social, 90% precisa de<br />
ajuda para comprar roupa, 17% só descobriu que era daltónico depois dos<br />
20 anos”.<br />
Assim, Miguel Neiva foi estudar as “linguagens universais” até chegar a uma<br />
solução.<br />
“Fui recuperar o conhecimento adquirido que todos trazemos da escola<br />
em que, com um caixa de guache, tínhamos as três cores primárias, mais o<br />
branco e o preto. Assim as pessoas não têm de aprender nada de novo, têm<br />
apenas de recuperar aquilo que deixaram por não necessitar. Para cada uma<br />
das cores, um símbolo gráfico, que tinha de cumprir uma série de requisitos,<br />
Código aplicado aos lápis Viarco<br />
22<br />
Miguel Neiva criou a ColorADD em 20<strong>10</strong><br />
porque isto tinha de ser para toda a<br />
gente, fácil de integrar na cultura visual<br />
de cada um, fácil de introduzir<br />
em diferentes suportes, técnicas,<br />
dimensões, e fácil de se ligar”, explica<br />
o criador.<br />
Protegida a linguagem e defendida<br />
a tese, Miguel precisava que o seu<br />
método fosse reconhecido pelos<br />
outros e, durante um ano, dedicou-<br />
-se a escrever artigos científicos:<br />
“Já não era eu a dizer isto, era a própria<br />
comunidade científica.”<br />
MAIS DO QUE UM NEGÓCIO<br />
A ColorADD nasce então em 20<strong>10</strong> e<br />
são feitas as primeiras implementações<br />
do código com as tintas CIN.<br />
“Era o parceiro ideal”, recorda, com<br />
alegria estampada no rosto.<br />
O objetivo era e continua a ser que<br />
o código chegue às estimadas 350<br />
milhões de pessoas que não veem<br />
cores corretamente em todo o mundo.<br />
Por isso, o modelo de negócio<br />
tinha de ser simples: o código “não<br />
é exclusivo para ninguém”, reforça<br />
Miguel Neiva. Todas as marcas podem<br />
implementar o código<br />
ColorADD, mediante o<br />
pagamento de uma avença<br />
que é ajustada à dimensão<br />
de cada negócio. Não podem<br />
é ter exclusividade.<br />
“Já nos apareceu um grupo<br />
que pagava dez vezes<br />
mais do que o que pedíamos<br />
para serem os únicos<br />
no setor durante três anos.<br />
Disse que não, porque isto