Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FELIPE TURLÃO<br />
Não existem soluções mágicas<br />
para que os veículos<br />
que nasceram na mídia impressa<br />
voltem a crescer, mas,<br />
pelo menos nos Estados Unidos,<br />
já há claros sinais <strong>de</strong> que<br />
isso <strong>de</strong>ve acontecer, <strong>de</strong> acordo<br />
com Jeffrey Cole, CEO do Center<br />
for the Digital Future, braço<br />
<strong>de</strong> pesquisa da USC Annenberg<br />
School. Ele foi convidado<br />
do IAB Brasil para o primeiro<br />
Connecting Lea<strong>de</strong>rs, ocorrido<br />
neste mês <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> em São<br />
Paulo.<br />
“Existem apenas três maneiras<br />
para os consumidores adquirirem<br />
conteúdo. O número<br />
um é pagar por ele, o número<br />
dois é aceitar publicida<strong>de</strong>, e o<br />
número três é roubá-lo. Mesmo<br />
as pessoas que roubam reconhecem<br />
que este não é um<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio muito bom.<br />
Então, existem apenas as duas<br />
primeiras escolhas ou uma<br />
combinação. Se os brasileiros<br />
não querem pagar paywalls, a<br />
única opção é a publicida<strong>de</strong>”,<br />
afirma o especialista, ao ser<br />
questionado sobre mo<strong>de</strong>los<br />
possíveis para os veículos impressos<br />
no país.<br />
Os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> acordo com Cole, po<strong>de</strong>m ser<br />
formatos diretos ou compartilhamento<br />
<strong>de</strong> informações sobre<br />
hábitos <strong>de</strong> compra e <strong>de</strong>mais<br />
dados sobre os usuários. “No final<br />
das contas, as pessoas terão<br />
<strong>de</strong> pagar, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong><br />
outra. Sem isso, não há como<br />
o conteúdo ser criado e mantido”,<br />
diz. “Nos Estados Unidos,<br />
a única alternativa para pagar<br />
paywalls e publicida<strong>de</strong> são os<br />
bilionários que compram jornais<br />
para serem bons cidadãos.<br />
Isto é o que Jeff Bezos fez com o<br />
Washington Post. Mas, lembramos,<br />
mesmo ele ainda tem uma<br />
paywall”, completa.<br />
Mas o que, <strong>de</strong> fato, po<strong>de</strong><br />
transformar hábitos e fazer<br />
com que as pessoas consi<strong>de</strong>rem<br />
investir em informação <strong>de</strong> quamídia<br />
Especialista aponta publicida<strong>de</strong> e<br />
paywall como soluções para impresso<br />
Jeffrey Cole, da USC Annenberg School, <strong>de</strong>staca que gran<strong>de</strong>s jornais,<br />
como o New York Times, estão batendo recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assinaturas digitais<br />
Jeffrey Cole: “Se os brasileiros não querem pagar paywalls, a única opção é a publicida<strong>de</strong>”<br />
lida<strong>de</strong>, ainda mais em tempos<br />
<strong>de</strong> fake news? Segundo Cole, já<br />
existe um movimento nos Estados<br />
Unidos muito por conta<br />
da ascensão <strong>de</strong> Donald Trump.<br />
“Vimos que, sob Trump, as<br />
pessoas agora percebem que a<br />
qualida<strong>de</strong> da informação é importante.<br />
É por isso que o New<br />
York Times, o Washington Post<br />
e o Wall Street Journal estão<br />
quebrando recor<strong>de</strong>s com assinaturas<br />
digitais”, avalia. “Mais<br />
que mo<strong>de</strong>los, o que realmente<br />
precisa mudar é que os cidadãos<br />
têm <strong>de</strong> acreditar que a<br />
informação genérica não é boa<br />
o suficiente. Nos EUA, eles passaram<br />
a acreditar que escrever<br />
e editar profissionais é tão importante<br />
que vale a pena pagar.<br />
Essa é a única solução real para<br />
a solução dos problemas”.<br />
Um dos maiores problemas<br />
para se compreen<strong>de</strong>r o valor do<br />
bom conteúdo, hoje, são as fake<br />
news. Não há uma solução imediata<br />
para elas, mas o que tem<br />
“Sob Trump, aS<br />
peSSoaS agora<br />
percebem que<br />
a qualida<strong>de</strong> da<br />
informação é<br />
imporTanTe”<br />
<strong>de</strong> acontecer, segundo Cole, é<br />
que as pessoas se habilitem a<br />
apoiar a mídia em que confiam,<br />
e não aquela que apenas dá suporte<br />
às visões <strong>de</strong> mundo que<br />
elas já possuem. “É um passo<br />
muito gran<strong>de</strong> para ser dado. Por<br />
isso, é um problema tão difícil<br />
<strong>de</strong> se resolver”, resume Cole.<br />
“Historicamente, nem brasileiros,<br />
americanos ou pessoa <strong>de</strong><br />
qualquer outra nacionalida<strong>de</strong><br />
são bons em separar boas informações<br />
das ruins”, reconhece.<br />
Para conteúdos <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> streaming será dominante<br />
no futuro, mas a i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> pagar para ver filmes e séries<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> players não<br />
Divulgação<br />
parece fazer muito sentido, na<br />
análise <strong>de</strong> Cole. “A era da televisão<br />
linear, observando quando<br />
outras pessoas dizem para<br />
você assistir, está morrendo e<br />
tudo será sob <strong>de</strong>manda. Mas o<br />
mo<strong>de</strong>lo OTT (over-the-table)<br />
não precisará ser sempre pago.<br />
Acredito que uma família média<br />
só estará disposta a pagar<br />
por três ou quatro serviços <strong>de</strong><br />
pagamento por ví<strong>de</strong>o, no máximo”,<br />
avalia. Assim, na prática,<br />
uma parte do streaming será<br />
paga, e outra parte po<strong>de</strong>rá ser<br />
ofertada mediante oferta <strong>de</strong><br />
publicida<strong>de</strong>.<br />
“Acreditamos firmemente<br />
que o streaming, parte <strong>de</strong>le por<br />
meio <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pagamento,<br />
é o futuro do conteúdo.<br />
Nossos estudos mostram que,<br />
para pessoas com menos <strong>de</strong> 30<br />
anos, apenas 20% <strong>de</strong> sua televisão<br />
é ao vivo. Os outros 80%<br />
são gravados ou transmitidos. E<br />
dos 20% que são ao vivo, quase<br />
todos são esportes”, informa.<br />
36 <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark