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edição de 25 de março de 2019

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mercado<br />

SXSW faz repensar sobre as tão<br />

negligenciadas relações humanas<br />

Edição <strong>2019</strong> do evento, realizado em Austin, no Texas, no início <strong>de</strong>ste<br />

mês, foi consi<strong>de</strong>rado o mais afetivo e empático <strong>de</strong> todos os tempos<br />

Claudia Penteado<br />

Se no ano passado o SXSW inaugurou<br />

sua etapa interactive com uma palestra<br />

<strong>de</strong> uma psicanalista especializada em<br />

relacionamentos, Esther Perel, este ano<br />

a responsabilida<strong>de</strong> da abertura foi dada a<br />

Brené Brown, especialista em vulnerabilida<strong>de</strong>.<br />

Brené, que é Ph.D em serviço social<br />

e pesquisadora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Houston,<br />

no Texas, <strong>de</strong>dicou vários anos da sua<br />

vida a estudar a vulnerabilida<strong>de</strong>, o medo, a<br />

vergonha e a imperfeição, e com base nisso<br />

escreveu os livros Mais forte do que nunca<br />

e A arte da imperfeição. Figurinha fácil<br />

em eventos TED pelo mundo, Brené abriu<br />

as discussões que envolvem tecnologia,<br />

abordando o reconhecimento da vulnerabilida<strong>de</strong><br />

como essencial para a conexão<br />

e a autenticida<strong>de</strong> das interações pessoais,<br />

resgatando uma fala da escritora e poetisa<br />

Maya Angelou: “O melhor jeito <strong>de</strong> ser livre<br />

é não pertencer a nenhum lugar”. Para<br />

muitos que estiveram em Austin este ano,<br />

e tantos pela primeira vez, o SXSW foi uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, justamente, repensar o<br />

negligenciado lado humano das relações e<br />

a empatia como motor <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e ações.<br />

Muitos retornam este ano do evento com<br />

mais perguntas do que respostas na cabeça,<br />

exercitando o olhar empático, humano,<br />

ético, responsável, e outros aspectos que,<br />

no calor da busca por inovação e disrupção,<br />

se <strong>de</strong>scolaram das discussões.<br />

Marcelo Tripoli, vice-presi<strong>de</strong>nte digital<br />

da McKinsey, que frequenta Austin há 11<br />

anos, fala que houve uma crescente ampliação<br />

da abordagem do tema nos últimos<br />

anos. Para ele, isso vem ocorrendo por dois<br />

motivos. O primeiro é a maturida<strong>de</strong> do<br />

mundo digital e como a tecnologia passou<br />

a afetar a vida das pessoas, a ponto <strong>de</strong> gerar<br />

muitos efeitos colaterais. O “backlash”,<br />

como se diz, inclui movimentos como o da<br />

busca por mais privacida<strong>de</strong>, e os lados éticos<br />

e humanos são acionados para resolver<br />

a <strong>de</strong>manda por uma tecnologia mais responsável.<br />

“O segundo ponto é que estamos<br />

apren<strong>de</strong>ndo, como socieda<strong>de</strong>, a usar a tecnologia<br />

da melhor forma possível, e acabamos<br />

com isso retornando a questões sobre<br />

como fazer, como trabalhar em equipe, <strong>de</strong><br />

um jeito que <strong>de</strong>manda mais interação, colaboração<br />

e confiança entre as pessoas. Não<br />

basta mais a técnica, é preciso saber interagir<br />

com os colegas <strong>de</strong> trabalho, e sem empatia<br />

não se chega a lugar algum”.<br />

Luiz Sanches, chairman e CCO da Almap-<br />

Mariana Novaes: olhar dados com mais humanida<strong>de</strong><br />

BBDO, foi ao SXSW pela segunda vez e<br />

afirma que o lado positivo do festival é fazer<br />

uma reflexão, enxergar os problemas,<br />

enten<strong>de</strong>r tendências e discutir temas. “Depois<br />

do advento das re<strong>de</strong>s sociais e o mergulho<br />

em uma vida nas telas, o pêndulo<br />

volta por conta da reflexão sobre a invasão<br />

<strong>de</strong> dados e da privacida<strong>de</strong> das pessoas.<br />

A melhor palestra que vi foi do músico e<br />

produtor (Joseph Henry) T-Bone Burnett,<br />

que fez um manifesto contra a invasão e<br />

a quebra <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> nas re<strong>de</strong>s sociais<br />

e como as gran<strong>de</strong>s corporações lucram bilhões<br />

se valendo dos dados das pessoas.<br />

A nossa indústria bate no peito bradando<br />

que tem mais dados e conhece mais as pessoas.<br />

Isso passa por um problema ético <strong>de</strong><br />

avaliação. Será que essas pessoas querem<br />

ser conhecidas? Isso faz refletir um bocado”,<br />

disse.<br />

As discussões sobre dados, privacida<strong>de</strong>,<br />

responsabilida<strong>de</strong> e ética também marcaram<br />

a experiência <strong>de</strong> Mariana Novaes, gerente <strong>de</strong><br />

marketing corporativo da Globosat. “Roger<br />

MacNamee, mentor do (Mark) Zuckerberg,<br />

foi o gran<strong>de</strong> nome do evento e fez provocações<br />

muito interessantes sobre o uso indiscriminado<br />

<strong>de</strong> dados que as empresas <strong>de</strong><br />

tecnologia fazem e seus impactos. Por outro<br />

lado, a antropóloga cultural Gigi Taylor (da<br />

Luminosity Research) falou sobre a importância<br />

<strong>de</strong>, no momento em que se tem tantas<br />

informações, trazer conceitos da filosofia,<br />

da antropologia, para olhar os dados <strong>de</strong> forma<br />

mais humana”, apontou. Mais uma vez,<br />

o humano ganhando força nas discussões.<br />

Ver a tecnologia aplicada especialmente a<br />

Poliana Sousa: foco nas pessoas é importante<br />

Fotos: Divulgação<br />

projetos <strong>de</strong> impacto social entusiasmou Carmela<br />

Borst, vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> marketing e<br />

vendas da Infor. Segundo ela, o que difere<br />

o SXSW <strong>de</strong> outros festivais voltados para<br />

marketing e comunicação é a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seguir várias “trilhas” - <strong>de</strong> tecnologia, <strong>de</strong><br />

marcas, <strong>de</strong> tendências, <strong>de</strong> educação. A gama<br />

enorme <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s leva a experiências<br />

muito individuais e personalizadas. E,<br />

mais do que isso, no caso das marcas, para<br />

ela foi interessante enxergar como as tecnologias<br />

mais avançadas <strong>de</strong> IA e realida<strong>de</strong> virtual,<br />

por exemplo, <strong>de</strong> fato se aplicam, e aterrissam<br />

nos negócios. “Eu, pessoalmente,<br />

acredito muito na tecnologia para a transformação<br />

do mundo. Minhas atenções se<br />

voltaram para o impacto social e tudo o que<br />

a tecnologia po<strong>de</strong> fazer. Vi algumas <strong>de</strong>monstrações<br />

em que RV e realida<strong>de</strong> aumentada<br />

têm papéis disruptivos nos negócios, na prática.<br />

O principal que levo comigo já é uma<br />

crença: enxergar o ser humano no centro <strong>de</strong><br />

tudo. Não existe mais BtoB e BtoC, o negócio<br />

é Human to Human mesmo”, comentou.<br />

O foco nas pessoas é especialmente importante,<br />

na visão <strong>de</strong> Poliana Sousa, diretora<br />

<strong>de</strong> marketing da Coca-Cola, para uma<br />

empresa que como a sua passa por um<br />

processo <strong>de</strong> se transformar, entrando em<br />

novas categorias, colocando o consumidor<br />

no centro <strong>de</strong> tudo. “O consumidor é o<br />

maior chefe que a gente tem na construção<br />

das marcas. Por isso, é importante estarmos<br />

antenados a novida<strong>de</strong>s, tendências, o que<br />

tem <strong>de</strong> novo no mundo. No SXSW buscamos<br />

essa oxigenação. Há muitos temas que<br />

po<strong>de</strong>m nos ajudar a construir uma empresa<br />

40 <strong>25</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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