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mercado<br />
SXSW faz repensar sobre as tão<br />
negligenciadas relações humanas<br />
Edição <strong>2019</strong> do evento, realizado em Austin, no Texas, no início <strong>de</strong>ste<br />
mês, foi consi<strong>de</strong>rado o mais afetivo e empático <strong>de</strong> todos os tempos<br />
Claudia Penteado<br />
Se no ano passado o SXSW inaugurou<br />
sua etapa interactive com uma palestra<br />
<strong>de</strong> uma psicanalista especializada em<br />
relacionamentos, Esther Perel, este ano<br />
a responsabilida<strong>de</strong> da abertura foi dada a<br />
Brené Brown, especialista em vulnerabilida<strong>de</strong>.<br />
Brené, que é Ph.D em serviço social<br />
e pesquisadora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Houston,<br />
no Texas, <strong>de</strong>dicou vários anos da sua<br />
vida a estudar a vulnerabilida<strong>de</strong>, o medo, a<br />
vergonha e a imperfeição, e com base nisso<br />
escreveu os livros Mais forte do que nunca<br />
e A arte da imperfeição. Figurinha fácil<br />
em eventos TED pelo mundo, Brené abriu<br />
as discussões que envolvem tecnologia,<br />
abordando o reconhecimento da vulnerabilida<strong>de</strong><br />
como essencial para a conexão<br />
e a autenticida<strong>de</strong> das interações pessoais,<br />
resgatando uma fala da escritora e poetisa<br />
Maya Angelou: “O melhor jeito <strong>de</strong> ser livre<br />
é não pertencer a nenhum lugar”. Para<br />
muitos que estiveram em Austin este ano,<br />
e tantos pela primeira vez, o SXSW foi uma<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, justamente, repensar o<br />
negligenciado lado humano das relações e<br />
a empatia como motor <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e ações.<br />
Muitos retornam este ano do evento com<br />
mais perguntas do que respostas na cabeça,<br />
exercitando o olhar empático, humano,<br />
ético, responsável, e outros aspectos que,<br />
no calor da busca por inovação e disrupção,<br />
se <strong>de</strong>scolaram das discussões.<br />
Marcelo Tripoli, vice-presi<strong>de</strong>nte digital<br />
da McKinsey, que frequenta Austin há 11<br />
anos, fala que houve uma crescente ampliação<br />
da abordagem do tema nos últimos<br />
anos. Para ele, isso vem ocorrendo por dois<br />
motivos. O primeiro é a maturida<strong>de</strong> do<br />
mundo digital e como a tecnologia passou<br />
a afetar a vida das pessoas, a ponto <strong>de</strong> gerar<br />
muitos efeitos colaterais. O “backlash”,<br />
como se diz, inclui movimentos como o da<br />
busca por mais privacida<strong>de</strong>, e os lados éticos<br />
e humanos são acionados para resolver<br />
a <strong>de</strong>manda por uma tecnologia mais responsável.<br />
“O segundo ponto é que estamos<br />
apren<strong>de</strong>ndo, como socieda<strong>de</strong>, a usar a tecnologia<br />
da melhor forma possível, e acabamos<br />
com isso retornando a questões sobre<br />
como fazer, como trabalhar em equipe, <strong>de</strong><br />
um jeito que <strong>de</strong>manda mais interação, colaboração<br />
e confiança entre as pessoas. Não<br />
basta mais a técnica, é preciso saber interagir<br />
com os colegas <strong>de</strong> trabalho, e sem empatia<br />
não se chega a lugar algum”.<br />
Luiz Sanches, chairman e CCO da Almap-<br />
Mariana Novaes: olhar dados com mais humanida<strong>de</strong><br />
BBDO, foi ao SXSW pela segunda vez e<br />
afirma que o lado positivo do festival é fazer<br />
uma reflexão, enxergar os problemas,<br />
enten<strong>de</strong>r tendências e discutir temas. “Depois<br />
do advento das re<strong>de</strong>s sociais e o mergulho<br />
em uma vida nas telas, o pêndulo<br />
volta por conta da reflexão sobre a invasão<br />
<strong>de</strong> dados e da privacida<strong>de</strong> das pessoas.<br />
A melhor palestra que vi foi do músico e<br />
produtor (Joseph Henry) T-Bone Burnett,<br />
que fez um manifesto contra a invasão e<br />
a quebra <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> nas re<strong>de</strong>s sociais<br />
e como as gran<strong>de</strong>s corporações lucram bilhões<br />
se valendo dos dados das pessoas.<br />
A nossa indústria bate no peito bradando<br />
que tem mais dados e conhece mais as pessoas.<br />
Isso passa por um problema ético <strong>de</strong><br />
avaliação. Será que essas pessoas querem<br />
ser conhecidas? Isso faz refletir um bocado”,<br />
disse.<br />
As discussões sobre dados, privacida<strong>de</strong>,<br />
responsabilida<strong>de</strong> e ética também marcaram<br />
a experiência <strong>de</strong> Mariana Novaes, gerente <strong>de</strong><br />
marketing corporativo da Globosat. “Roger<br />
MacNamee, mentor do (Mark) Zuckerberg,<br />
foi o gran<strong>de</strong> nome do evento e fez provocações<br />
muito interessantes sobre o uso indiscriminado<br />
<strong>de</strong> dados que as empresas <strong>de</strong><br />
tecnologia fazem e seus impactos. Por outro<br />
lado, a antropóloga cultural Gigi Taylor (da<br />
Luminosity Research) falou sobre a importância<br />
<strong>de</strong>, no momento em que se tem tantas<br />
informações, trazer conceitos da filosofia,<br />
da antropologia, para olhar os dados <strong>de</strong> forma<br />
mais humana”, apontou. Mais uma vez,<br />
o humano ganhando força nas discussões.<br />
Ver a tecnologia aplicada especialmente a<br />
Poliana Sousa: foco nas pessoas é importante<br />
Fotos: Divulgação<br />
projetos <strong>de</strong> impacto social entusiasmou Carmela<br />
Borst, vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> marketing e<br />
vendas da Infor. Segundo ela, o que difere<br />
o SXSW <strong>de</strong> outros festivais voltados para<br />
marketing e comunicação é a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> seguir várias “trilhas” - <strong>de</strong> tecnologia, <strong>de</strong><br />
marcas, <strong>de</strong> tendências, <strong>de</strong> educação. A gama<br />
enorme <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s leva a experiências<br />
muito individuais e personalizadas. E,<br />
mais do que isso, no caso das marcas, para<br />
ela foi interessante enxergar como as tecnologias<br />
mais avançadas <strong>de</strong> IA e realida<strong>de</strong> virtual,<br />
por exemplo, <strong>de</strong> fato se aplicam, e aterrissam<br />
nos negócios. “Eu, pessoalmente,<br />
acredito muito na tecnologia para a transformação<br />
do mundo. Minhas atenções se<br />
voltaram para o impacto social e tudo o que<br />
a tecnologia po<strong>de</strong> fazer. Vi algumas <strong>de</strong>monstrações<br />
em que RV e realida<strong>de</strong> aumentada<br />
têm papéis disruptivos nos negócios, na prática.<br />
O principal que levo comigo já é uma<br />
crença: enxergar o ser humano no centro <strong>de</strong><br />
tudo. Não existe mais BtoB e BtoC, o negócio<br />
é Human to Human mesmo”, comentou.<br />
O foco nas pessoas é especialmente importante,<br />
na visão <strong>de</strong> Poliana Sousa, diretora<br />
<strong>de</strong> marketing da Coca-Cola, para uma<br />
empresa que como a sua passa por um<br />
processo <strong>de</strong> se transformar, entrando em<br />
novas categorias, colocando o consumidor<br />
no centro <strong>de</strong> tudo. “O consumidor é o<br />
maior chefe que a gente tem na construção<br />
das marcas. Por isso, é importante estarmos<br />
antenados a novida<strong>de</strong>s, tendências, o que<br />
tem <strong>de</strong> novo no mundo. No SXSW buscamos<br />
essa oxigenação. Há muitos temas que<br />
po<strong>de</strong>m nos ajudar a construir uma empresa<br />
40 <strong>25</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark