| SUSTENTABILIDADE | Proibição dos canudos plásticos: a ponta do Iceberg Todos os anos, mais de 13 milhões de toneladas de plásticos chegam aos oceanos 30 |
Em julho, completará um ano desde que a primeira cidade brasileira proibiu o uso dos canudos plásticos em estabelecimentos comerciais. O estabelecimento que for flagrado oferecendo o canudo errado na capital do Rio de Janeiro, será intimado a substituir por versões de papel ou de metal no prazo de 60 dias. Para quem descumprir a lei, as multas podem chegar a R$ 6 mil. A capital carioca levantou a questão e, desde então, outros 22 municípios do Brasil proibiram o uso do produto em bares, restaurantes, hotéis e pensões. Até o momento, apenas os estados do Rio Grande do Norte e do Espírito Santo o baniram completamente. De acordo com a ONG Meu Rio, responsável pela petição virtual que pressionava os vereadores a votarem a favor do projeto, os primeiros resultados têm sido positivos, já que o assunto reverberou em tantos outros lugares. Agora, os próximos passos consistem em trabalhar a questão dos descartáveis, como copos, talheres e pratos. “A ideia é que todos eles sejam substituídos por materiais recicláveis ou reutilizáveis. Os canudos foram só a primeira etapa. Vamos continuar lutando por uma cidade mais limpa e sustentável”, afirma Débora Pio, coordenadora de mobilizações da ONG. Estamos ingerindo resíduos que nós mesmos jogamos nos oceanos” José Henrique Becker, biólogo do Projeto TAMAR de Ubatuba (SP) Muito além dos canudos Segundo especialistas, os canudos representam apenas uma parcela do problema ambiental. O que os tornaram o assunto da vez, no entanto, foi o compartilhamento massivo de um vídeo que mostra uma tartaruga marinha sendo resgatada. Em pleno mar, biólogos estrangeiros levam oito minutos agonizantes para conseguir tirar um canudo plástico de dentro da narina do animal. “Até então, as pessoas não tinham ficado tão incomodadas com o problema. Existem alguns jargões que são muito aplicados a essa realidade, como ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’. Enquanto a pessoa não vê, parece que não é com ela. Na hora em que ela vê, ela se identifica e percebe que pode estar causando aquele problema e se sente incomodada, passando a tomar atitudes diferentes”, afirma José Henrique Becker, biólogo do Projeto TAMAR de Ubatuba (SP). Desde 1980, o Projeto TAMAR visa a proteção das tartarugas marinhas no Brasil. O instituto trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies existentes no país, todas ameaçadas de extinção, atuando nos estados de BA, SE, PE, RN, CE, ES, RJ, SP e SC. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, a cada ano, cerca de 13 milhões de toneladas de plástico de todo o tipo são descartadas nos oceanos, incluindo micropartículas que entram na cadeia alimentar, e prejudicam cerca de 600 espécies marinhas - destas, 15% estão ameaçadas de extinção. Becker afirma que, das 200 tartarugas marinhas resgatadas todos os anos só pelo TAMAR de Ubatuba, pelo menos 45% acabam morrendo, e o mais preocupante é que todas apresentam resíduos plásticos em seu trato digestivo durante a necrópsia. O caso se tornou rotineiro na última década. “O mais comum é a tartaruga comer a sacolinha de supermercado. A ingestão daquele resíduo pode obstruir o trato digestivo do animal. Se isso ocorrer, ela para de comer, vai emagrecendo e enfraquecendo, até morrer. Quando ela come pequenos pedaços continuamente, ela tem a sensação de saciedade, mas não consegue se nutrir”, aponta. Gradativamente, esta tartaruga irá enfraquecer e desencadear outras infecções e doenças – todas geradas pelo mesmo problema. Além dos canudos e das sacolas plásticas, é muito comum encontrar fragmentos de eletrodomésticos, como televisão e liquidificador. No final, esses materiais acabam sendo ingeridos pelos próprios seres humanos. “Isso acontece por que o material não se decompõe apropriadamente e | 31