| SUSTENTABILIDADE | “O mais comum é a tartaruga comer a sacolinha de supermercado. A ingestão daquele resíduo pode obstruir o trato digestivo do animal. Se isso ocorrer, ela para de comer, vai emagrecendo e enfraquecendo, até morrer.” Foto: Banco de Imagens Projeto Tamar José Henrique Becker, biólogo do Projeto TAMAR de Ubatuba (SP) Empresas aderem à causa Becker afirma que o TAMAR tem substituído os canudinhos em seus centros de visitação e evitado os descartáveis nas áreas de atuação. Além disso, o instituto realiza diversos trabalhos de conscientização do público. Em Ubatuba, por exemplo, foi criado um lixômetro no centro de visitas – um gráfico mostra todo o lixo que é retirado das tartarugas marinhas após elas morrerem. “Mostrar o plástico que saiu de dentro de uma tartaruga que morreu é uma forma de incomodar e fazer com que as pessoas repensem o uso dos plásticos”, diz. Em fevereiro deste ano, a Nescau – uma das marcas mantidas pela Nestlé – firmou parceria com o Projeto TAMAR para criar novas ações e campanhas de conscientização e preservação do meio ambiente. Em paralelo, a marca iniciou uma força tarefa para retirar os canudos plásticos de seus produtos, substituindo-os por canudos de papel biodegradável. As embalagens do Nescau Prontinho, a versão pronta da bebida, já são covai se fragmentando em pedaços cada vez menores. Quando eles estão realmente pequenos, entram na dieta dos animais filtradores – aqueles que filtram a água para retirar o plâncton e outros organismos. Esses filtradores acabam ingerindo o plástico, mas eles servirão de alimentos para peixes maiores que, mais tarde, vão parar na nossa mesa. Ou seja, estamos ingerindo resíduos que nós mesmos jogamos nos oceanos”, diz. O biólogo também explica que a presença desse material no trato digestivo interfere no metabolismo de gordura do animal, gerando gases e fazendo com que eles flutuem, com dificuldades de submergir para se alimentar. Além das tartarugas, albatrozes e cetáceos (como baleias e golfinhos) ficam mais suscetíveis a serem atropelados por embarcações. Em 2030, serão 619 milhões de toneladas E o problema não para por aí. Segundo um estudo feito pela organização Orb Media, das 159 amostras de água potável coletadas em cinco continentes, 83% continham plásticos. Além disso, ao longo das últimas quatro décadas, a quantidade desse tipo de resíduo aumentou em 100 vezes no Oceano Pacífico, a ponto de formar o que se chama agora de ‘sétimo continente’ de plástico, uma vasta massa de lixo à deriva no Pacífico Norte, com uma área que corresponde a um terço 8dos Estados Unidos. Projeções atuais da ONU mostram que a produção global de plástico irá aumentar fortemente nas próximas décadas, podendo atingir 619 milhões de toneladas até 2030. O fato acarreta em outros problemas à vida marinha, além da ingestão desses produtos. “Acontece de encontrarmos tartarugas enroscadas em pedaço de lixo, já vimos animais com argolas no pescoço e têm o crescimento prejudicado por esses objetos”, relata Becker. mercializadas com o novo material. “Essa iniciativa vai retirar mais de 4 milhões de canudos plásticos do mercado só no primeiro ano do projeto. Essa quantidade, se colocada em fila, equivale a uma viagem de ida e volta de Salvador (BA) à Aracaju (SE)”, afirma Fabiana Fairbanks, diretora de bebidas da Nestlé Brasil. De acordo com Fabiana, a meta da Nescau é que 100% de sua produção tenha substitutos ao canudo plástico até 2020. Além da Nestlé, gigantes como Starbucks, McDonald’s e Burguer King aderiram às mudanças e deixaram de oferecer canudos aos clientes ainda em 2018. 32 |
Henrique Becker, biólogo do projeto Tamar de Ubatuba (SP). Alternativas para substituir o canudo plástico: • Beber diretamente do copo; • Canudo de papel - encontrado em lojas de festa e na internet; • Canudo de silicone - flexível e reutilizável; • Canudo de vidro; • Canudo de metal; • Canudo de bambu; • Canudo de palha. Materiais mais encontrados nos oceanos: • Sacolas plásticas; • Eletrodomésticos, como liquidificador e TV; • Canudos plásticos. | 33