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Revista SF - Edição 07

Produzida pela equipe de Comunicação e Marketing do Grupo São Francisco, a Revista São Francisco traz assuntos que interessam todos os tipos de público. Nela você vai ter acesso a notícias, dicas e muito entretenimento.

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Foto: Roberto Galhardo<br />

“Quando fui encontrá-lo na sala,<br />

aquele menino, que diziam que<br />

não fazia contato com ninguém,<br />

abriu um sorrisão pra mim e veio<br />

correndo me abraçar”<br />

Tatiana, psicóloga<br />

daquele dia, o casal passou a<br />

ajudar o menino, comprando<br />

fraldas novas e roupas de frio<br />

para o inverno.<br />

A história de Lucas<br />

Quando seus pais adotivos<br />

o conheceram, Lucas<br />

tinha seis anos e era um<br />

garoto extremamente agitado,<br />

não se comunicava com<br />

ninguém, não respondia aos<br />

chamados, usava uma traqueostomia<br />

e guardava uma<br />

história de partir o coração.<br />

O Conselho Tutelar contou<br />

para Tatiana que ele foi<br />

encontrado com um ano de<br />

vida depois de passar uma<br />

semana inteira sem ser alimentado<br />

ou cuidado, já com<br />

a traqueostomia. A irmã<br />

mais velha também estava<br />

com ele e foi levada para<br />

a casa da avó, que alegou<br />

não ter condições de arcar<br />

com os gastos e cuidados<br />

que uma criança especial<br />

demandava.<br />

Diagnosticado com<br />

síndrome alcoólica fetal,<br />

Lucas apresentava danos<br />

físicos e mentais causados<br />

pela exposição ao álcool<br />

enquanto ainda estava no<br />

útero da mãe biológica. Filho de usuários<br />

de drogas, o menino foi levado<br />

ainda bebê para um abrigo da cidade.<br />

Por coincidência ou por destino, foi colocado<br />

para adoção na mesma semana<br />

em que Tatiana e Roberto receberam a<br />

habilitação no Ministério Público.<br />

“Nós falamos que queríamos adotá-<br />

-lo e uma assistente social passou a nos<br />

acompanhar, sempre nos mostrando<br />

que se tratava de um caso delicado. Ele<br />

tinha um histórico médico super extenso<br />

e os médicos tentavam nos desencorajar.<br />

Eu só dizia: me fala o que ele tem e<br />

o resto deixa com a gente, a decisão é<br />

nossa”, relata Tatiana.<br />

Levou pouco mais de um mês todo<br />

o processo, desde conhecer o menino a<br />

passar pelas avaliações com a assistente<br />

social, aproximação e, enfim, levá-lo para<br />

casa. No dia 1 de agosto de 2016 ele estava,<br />

enfim, com sua família e, em novembro<br />

do mesmo ano, foi registrado com o nome<br />

Lucas Gabriel Fagionato Garcia.<br />

Período de adaptação e<br />

de obstáculos vencidos<br />

“A adaptação em casa foi muito difícil.<br />

Ele não atendia a nenhum comando,<br />

ele não estava acostumado com as pessoas<br />

conversando com ele. Um médico<br />

chegou a nos dizer que ninguém nunca<br />

tinha olhado para ele antes. Inclusive,<br />

chegaram a pensar que ele era surdo<br />

e quase colocaram uma prótese nele”,<br />

conta Roberto.<br />

A família logo buscou o atendimento<br />

de profissionais particulares que pudessem<br />

ajudar o desenvolvimento do menino.<br />

Aos poucos, aprendeu a responder<br />

a comandos e diminuiu a agitação. No<br />

entanto, os pais contam que se incomodavam<br />

muito com a traqueostomia.<br />

Como ele se alimentava normalmente,<br />

corria para cima e para baixo,<br />

passaram a se questionar se o uso era<br />

realmente necessário. No atendimento<br />

público, os médicos diziam que ele poderia<br />

retirar só após os 12 anos.<br />

“Descobrimos um especialista em<br />

São Paulo. Não tínhamos dinheiro para<br />

pagar um tratamento particular, mas<br />

precisávamos confirmar. Se fosse aquilo<br />

mesmo, tudo bem, a gente esperava. O<br />

que a gente nunca imaginou era que o<br />

médico fosse se comover tanto com a<br />

história dele, que bancou todo o tratamento,<br />

desde as trocas constantes<br />

da traqueo até a cirurgia para fechar o<br />

buraquinho”, relata a mãe, com os olhos<br />

brilhando de satisfação.<br />

Visitaram o profissional no final de<br />

2017. Em novembro de 2018, Lucas<br />

retirou o tubo e, em janeiro deste ano,<br />

passou pela cirurgia. O procedimento<br />

exigia que a família ficasse pelo menos<br />

20 dias na capital, o que significaria gastos<br />

acima do orçamento e um período<br />

longe do trabalho. Com a ajuda de amigos,<br />

fizeram uma campanha de venda<br />

de pizzas e logo levantaram a quantia<br />

necessária para a viagem.<br />

Lucas recebeu alta em fevereiro e<br />

comemorou com os pais que, finalmente,<br />

poderia dar um mergulho na piscina.<br />

Ainda sem saber falar, ele passa as mãozinhas<br />

da garganta ao queixo, indicando<br />

a novidade.<br />

Com quase 9 anos, já aprendeu a<br />

falar papai e mamãe, desenvolveu o próprio<br />

jeito de se comunicar. É um menino<br />

doce, que pega as pessoas pela mão e as<br />

chama para brincar com seus brinquedos<br />

favoritos: um trenzinho, o Cascão,<br />

e as máscaras do Fofão e do Chaves.<br />

“As pessoas nos falavam que perderíamos<br />

as primeiras experiências de um<br />

bebê adotando uma criança de 6 anos.<br />

Mas a gente vivenciou tanto as primeiras<br />

vezes dele, como a primeira vez em que<br />

ele comeu brigadeiro em uma festa de<br />

criança – ele achava que era pedrinha,<br />

não conhecia chocolate, trocávamos a<br />

fralda dele. Ele era um recém-nascido<br />

de 6 anos”, diz Tatiana.<br />

E o pai, coruja, acrescenta: “Tenho a<br />

impressão de que estamos juntos desde<br />

que ele nasceu, que ele sempre esteve<br />

aqui. Tenho certeza de que ele nasceu<br />

pra gente, porque ele nasceu quando<br />

começamos a tentar engravidar”.<br />

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