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Autores: Gleyson da Cruz Pinto1, Raíssa Dias Fares², Viviane Camara Maniero³.<br />
ARTIGO 01<br />
Introdução<br />
As arboviroses são um grupo de doenças virais,<br />
transmitidas por vetores (arthropod-borne<br />
vírus). São reconhecidas pela Organização Mundial<br />
de Saúde (OMS) como um problema global<br />
de saúde pública, em virtude de sua crescente<br />
dispersão territorial e necessidade de ações de<br />
prevenção e controle cada vez mais complexas<br />
(20). A designação dos arbovírus não é somente<br />
relacionada à sua veiculação através dos artrópodes,<br />
mas principalmente pelo fato de seu ciclo<br />
replicativo ocorrer nos insetos. Neste sentido,<br />
para classificar um artrópode como veiculador<br />
de um arbovírus é necessário que este tenha<br />
a capacidade de infectar vertebrados e invertebrados;<br />
de iniciar uma viremia em um hospedeiro<br />
vertebrado por tempo suficiente para<br />
permitir a infecção do vetor invertebrado; e de<br />
iniciar uma infecção produtiva e persistente da<br />
glândula salivar do invertebrado, a fim de fornecer<br />
vírus para infecção de outros hospedeiros<br />
vertebrados (5). Dessa forma, os arbovírus possuem<br />
hospedeiros variados, sejam vertebrados<br />
ou invertebrados, ocasionado doenças em humanos<br />
e em outros animais, sendo constituídos<br />
basicamente de cinco famílias virais:<br />
Bunyaviridae, Togaviridae, Flaviviridae, Reoviridae<br />
e Rhabdoviridae (10).<br />
O vírus da chikungunya (CHIKV) pertence à<br />
família Togaviridae e foi isolado inicialmente<br />
na Tanzânia por volta de 1952 e seu significado<br />
no idioma Makonde quer dizer “aquele que<br />
se curva”, por causar artralgias graves e intensas<br />
nas pessoas acometidas por esta moléstia.<br />
O CHIKV é um vírus de RNA cadeia simples e<br />
sua transmissão ocorre pela picada da fêmea<br />
hematófaga do mosquito Aedes aegypti e Aedes<br />
albopictus (1, 7, 8, 11).<br />
No Brasil, no ano de 2014 foi registrado o primeiro<br />
caso de transmissão autóctone do CHIKV<br />
que foi notificado no estado do Amapá, um ano<br />
após a chegada do vírus as Américas (região do<br />
Caribe), acometendo também outros países da<br />
América do Sul como Paraguai, Suriname e Colômbia<br />
neste mesmo ano (9).<br />
Um surto dessa magnitude é justificado<br />
porque o vírus ainda não havia circulado nas<br />
Américas, portanto não existia imunidade nesta<br />
população. O vírus CHIKV e a estirpe americana<br />
do vetor Aedes aegypti também apresentam<br />
em diversos países um histórico de transmissão<br />
concomitante com a dengue. (20).<br />
Adaptado: Tool for the diagnosis and care of patients with suspected arboviral diseases, PAHO, 2017. O algoritmo acima tem por objetivo auxiliar<br />
os laboratórios que possuem a capacidade de identificar arboviroses como Dengue, Chikungunya e Zika e, desta forma, realizar com maior<br />
precisão o diagnóstico diferencial destas doenças. Desde que, esteja disposto em sua unidade normas de contenção de biosegurança (BSL) para<br />
o adequado manuseio das amostras a nível laboratorial.<br />
No primeiro semestre de 2017 ocorreu um<br />
surto em todos os bairros da capital de Fortaleza.<br />
Com mais de 52 mil casos confirmados<br />
e, além disso, o município apresentou um aumento<br />
de 296% dos casos em relação ao ano<br />
anterior. (17). Nos primeiros três meses do ano<br />
de 2018, os casos de CHIKV no Estado do Rio<br />
de Janeiro cresceram em relação a 2017 e quase<br />
superam os índices do ano anterior. Foram<br />
computados, até o mês de março, 4.262 casos<br />
da doença em todo o estado, em comparação<br />
aos 1.585 casos notificados no mesmo período<br />
do ano anterior. Isso representa um aumento de<br />
aproximadamente 168% dos casos em apenas<br />
um ano e um total de 4.305 pessoas atingidas<br />
pela doença em 2017. (16).<br />
O CHIKV quando infecta o homem possui um<br />
período de incubação médio de 3 a 7 dias, podendo<br />
variar de 1 a 12 dias, surgindo então a “Febre<br />
Chikungunya” que é manifestada clinicamente<br />
com febre de início súbito, poliartralgia intensa<br />
e geralmente simétrica, mialgia, cefaleia, náuseas,<br />
fadiga e exantema de tronco e extremidades<br />
(incluindo palmas e plantas), podendo levar a<br />
morte de pessoas que apresentam alguma comorbidade<br />
ou que se encontram nos extremos de<br />
idades (3). Além disso, foram descritas algumas<br />
complicações graves como miocardite, meningoencefalite,<br />
hemorragia leve e até síndrome de<br />
Guillain-Barré (6). O diagnóstico da Chikungunya<br />
é geralmente clínico, porém o teste definitivo para<br />
a confirmação da doença é feito por técnica molecular<br />
RT-PCR (reação em cadeia da polimerase<br />
por transcriptase reversa) na primeira semana de<br />
doença que caracteriza a fase aguda. São utilizadas<br />
as técnicas de ELISA e teste imunocromatográfico<br />
do tipo POC (point of care) para pesquisar<br />
anticorpos específicos da CHIKV. Existem outros<br />
testes sorológicos que identificam anticorpos<br />
específicos das classes IgM e IgG. A IgM é melhor<br />
detectada a partir do quinto dia de doença,<br />
porém pode estar presente desde o segundo dia<br />
e permanecer elevada de 3 a 6 meses após a infecção.<br />
Por outro lado, a IgG apresenta aumento<br />
de seus títulos em torno do sexto dia de doença,<br />
devendo se realizar uma nova coleta após 15<br />
0 18<br />
<strong>Revista</strong> NewsLab | Ago/Set 2020