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gunya e Mayaro. O genoma dos flavivírus<br />
é um RNA vírus, envelopado, capsídeo icosaédrico<br />
medindo 30nm de diâmetro. Ele<br />
codifica três proteínas estruturais: capsídeo<br />
(C), membrana (M, que é expressa<br />
como prM, o precursor de M), proteína de<br />
envelope (E) e sete proteínas não estruturais:<br />
NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e<br />
NS5. Nos últimos 50 anos, muitos flavivírus,<br />
como os vírus da dengue, e da febre<br />
amarela, exibiram aumentos dramáticos<br />
na incidência, e gravidade das doenças<br />
com grande alcance geográfico a nível<br />
mundial.<br />
Febre Amarela<br />
A febre amarela (FA) é causada por um<br />
arbovírus da família Flaviviridae, gênero<br />
Flavivirus. Apresenta elevado potencial de<br />
disseminação em áreas urbanas que pode<br />
acometer primatas neotropicais atuando<br />
como sentinelas e sinalizando a circulação<br />
do vírus amarílico durante a fase virêmica.<br />
Possui dois ciclos epidemiológicos distintos:<br />
silvestre e urbano.<br />
No ciclo silvestre os principais hospedeiros<br />
são os primatas não-humanos (macacos),<br />
e sua transmissão ocorre a partir de<br />
vetores silvestres como dípteros da família<br />
Culicidae, Haemagogus e Sabethes, e das<br />
espécies H. janthinomys, H. altomaculatus,<br />
H. leucocecalnus e S. choloropterus<br />
(Araújo et al., 2011), onde o homem<br />
participa como um hospedeiro acidental.<br />
Por sua vez no ciclo urbano, o homem é o<br />
único hospedeiro com importância epidemiológica,<br />
e a transmissão ocorre a partir<br />
de vetores urbanos infectados, sendo o<br />
Aedes aegypti o principal.<br />
Durante a epizootia de Febre Amarela<br />
em São Paulo, dos 1.563 casos suspeitos<br />
em seres humanos, 629 foram confirmados<br />
como positivos (40,2%) (Teixeira et<br />
al., 2018). Nas últimas décadas, grandes<br />
epizootias foram notificadas no Brasil em<br />
especial no Rio Grande do Sul. O vírus foi<br />
detectado em 69% dos primatas bugios<br />
das espécies Alouatta elamitans e Alouatta<br />
caraya (Almeida, et al., 2012).<br />
Em 2017 e 2018, foram registradas 950<br />
mortes provocadas em primatas não-humanos<br />
de vida livre (Teixeira et al., 2018).<br />
O vírus da Febre Amarela foi detectado no<br />
Parque Zoológico em pequenos primatas<br />
de sagui de tufos brancos da espécie<br />
Callithrix jacchus, um sagui de tufo preto<br />
da espécie Callithrix penicillata, e em 11<br />
primatas de médio porte como bugios ruivos<br />
da espécie Alouatta clamitans. Dos 28<br />
óbitos de primatas de pequeno porte representados<br />
pelos saguis de tufos brancos<br />
e pretos, apenas um de cada espécie foi<br />
infectado pelo vírus com uma prevalência<br />
de 7,14% (2/28) (Teixeira et al., 2018).<br />
Amostras biológicas de primatas não-<br />
-humanos dos gêneros Callithrix, Alouatta<br />
e Sapajus foram investigadas no exame<br />
post mortem (Araújo et al., 2011). Quanto<br />
ao material a ser destinado ao laboratório<br />
foram coletadas amostras de fígado,<br />
baço, pulmões, cérebro, coração e rins,<br />
para isolamento do vírus em cultura de<br />
tecidos, identificação de anticorpos virais<br />
e detecção do RNA viral. Para análise histopatológica<br />
e imunohistoquímica, os tecidos<br />
foram fixados em formol tamponado<br />
10%, e para análise genética-molecular,<br />
espécimes biológicos foram conservados<br />
em álcool 70% (Teixeira et al., 2018). A<br />
vacina contra a febre amarela é produzida<br />
a partir de vírus vivo atenuado (cepa 17D),<br />
e confere imunidade por 10 anos.<br />
Dengue<br />
O vírus da dengue pertence à família<br />
Flaviviridae, gênero Flavivirus. Existem<br />
quatro sorotipos do vírus: DENV-1, DENV-<br />
2, DENV-3 e DENV-4, que compartilham<br />
65% a 70% de homologia (Zeng et al.,<br />
2018). Epidemiologicamente, as áreas<br />
mais afetadas no mundo são as Américas<br />
do Sul, Central e do Norte, África, Austrália,<br />
Caribe, China, Ilhas do Pacífico, Índia,<br />
Sudeste Asiático e Taiwan (Oliveira, 2019).<br />
O clima quente constitui condições ideais<br />
para a proliferação do mosquito. Um<br />
dos fatores agravantes neste processo é o<br />
acúmulo de água em recipientes que favorecem<br />
a procriação do vetor. A principal<br />
forma de transmissão é pela picada dos<br />
mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.<br />
Há registros de transmissão vertical e<br />
estudos já detectaram o vírus em amostras<br />
de transfusão de sangue.<br />
A infecção por dengue pode ser assintomática,<br />
leve ou causar doença grave, e<br />
o período de incubação é em média de 5<br />
dias, podendo chegar a 10 dias. Historicamente<br />
conhecida como a “febre quebra<br />
ossos” apresenta como primeira manifestação<br />
clínica febre alta (39° a 40°C), de<br />
início abrupto, que geralmente dura de 2<br />
a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça,<br />
dores no corpo e articulações, prostração,<br />
fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e<br />
coceira na pele. Perda de peso, náuseas<br />
e vômitos também são comuns. A forma<br />
grave da doença inclui dor abdominal<br />
intensa e contínua, vômitos persistentes,<br />
sangramento de mucosas, entre outros<br />
sintomas (Oliveira, 2019).<br />
O diagnóstico clínico da dengue deve ser<br />
confirmado laboratorialmente pelo fato<br />
de as manifestações clínicas serem semelhantes<br />
a outras arboviroses. O diagnóstico<br />
laboratorial consiste no isolamento<br />
viral, detecção do antígeno e/ou do ácido<br />
nucleico viral e a pesquisa de anticorpos.<br />
VIROLOGIA<br />
<strong>Revista</strong> NewsLab | Ago/Set 2020<br />
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