Edição de 16 de agosto de 2021
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última página<br />
Laura Davidson/Unsplash<br />
Das vantagens<br />
<strong>de</strong> ser pequeno<br />
rodolfo sampaio<br />
Eu sempre trabalhei em agências gran<strong>de</strong>s.<br />
Algumas, gigantes. Multinacionais com<br />
300 e tantos funcionários, on<strong>de</strong> sempre encontrava<br />
nos elevadores algum colega <strong>de</strong> trabalho<br />
que eu ainda não conhecia. Isso fazia<br />
parte do glamour da profissão, ter o cartão <strong>de</strong><br />
visitas <strong>de</strong> uma agência que, muitas vezes, era<br />
mais famosa do que os clientes que atendia.<br />
Eu, redator júnior, levava na carteira <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> cartões, que provavelmente não ia entregar<br />
pra ninguém, mas que impressionavam<br />
meus amigos que era uma beleza, cheio <strong>de</strong><br />
consoantes e “&s” comerciais.<br />
Essas gran<strong>de</strong>s corporações, que no mundo<br />
têm milhares e milhares <strong>de</strong> funcionários<br />
e centenas e centenas <strong>de</strong> clientes, têm<br />
todo valor como gran<strong>de</strong>s celeiros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />
e talentos, mas acabam per<strong>de</strong>ndo<br />
em agilida<strong>de</strong>, tão necessária<br />
num mundo on<strong>de</strong> tudo se acelerou<br />
e a velocida<strong>de</strong> do digital e<br />
das re<strong>de</strong>s sociais fez as <strong>de</strong>cisões<br />
tomadas em pé, no corredor, serem<br />
tão importantes quanto as<br />
tomadas nas salas imponentes<br />
das reuniões <strong>de</strong> board e C-level.<br />
A hierarquia acaba puxando o<br />
freio <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que têm <strong>de</strong><br />
acontecer já, serem colocadas em<br />
prática já. Não po<strong>de</strong>m esperar.<br />
Esperou, o concorrente fez.<br />
Certa vez, trabalhando numa <strong>de</strong>ssas<br />
multinacionais, eu tive <strong>de</strong> esperar um bom<br />
tempo pra trocar minha ca<strong>de</strong>ira, que tinha<br />
perdido uma das rodas e entortado, já que a<br />
autorização precisava atravessar o Atlântico,<br />
provavelmente a barco, e retornar com<br />
o chamegão do financeiro gringo. Aquele<br />
tempo na ca<strong>de</strong>ira bamba foi torturante,<br />
mas me <strong>de</strong>u, pelo menos, a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> apurar meu dom <strong>de</strong> equilibrista.<br />
Brinca<strong>de</strong>iras à parte, <strong>de</strong>vo muito a todas<br />
essas empresas gigantes em que trabalhei.<br />
Foi nelas que, em ca<strong>de</strong>iras com todas as<br />
quatro rodinhas em perfeito estado, construí<br />
minha carreira, <strong>de</strong> estagiário a vice-<br />
-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> criação, criando para marcas<br />
Numa agêNcia<br />
meNor,<br />
coNseguimos<br />
<strong>de</strong>seNhar<br />
uma solução<br />
feita para<br />
o prazo e o<br />
bolso <strong>de</strong> cada<br />
clieNte<br />
internacionais e “batendo bola” com alguns<br />
dos criativos mais premiados do mundo.<br />
Foi bom. Mas tudo mudou. O mundo mudou.<br />
O tempo das coisas mudou.<br />
Hoje, temos a Moma. No nosso escritório,<br />
todo mundo esbarra toda hora em mim<br />
e no Fico Meirelles, meu sócio, mesmo que<br />
não queira. Todos estão perto, o que facilita<br />
as reuniões relâmpago, para as <strong>de</strong>cisões que<br />
são pra já. Aqui, retomei minha paixão cega<br />
por criar. Criar mesmo, como redator, pegando<br />
o job do zero e indo até o produto final.<br />
Nas agências maiores eu acabava não tendo<br />
tempo para isso, já que tinha <strong>de</strong> aprovar<br />
o trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pessoas. Ou seja,<br />
meus clientes tinham o meu critério, mas<br />
não a minha caneta. Na Moma, se você contrata<br />
o Rodolfo e o Fico, você terá o Rodolfo e<br />
o Fico full time.<br />
Na nossa agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
ninguém liga cobrando faturamento,<br />
receita, ebtida. Se queremos<br />
investir em alguma coisa<br />
importante, <strong>de</strong>cidimos em pé, no<br />
café. Lembro que uma vez, num<br />
ano muito bom, em que todos trabalharam<br />
pesado e os resultados<br />
para nós e para os clientes apareceram,<br />
<strong>de</strong>cidimos durante a festinha<br />
<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano dar um décimo-<br />
-quarto salário pra todo mundo.<br />
Fomos lá na frente, pedimos a<br />
palavra e pronto, anunciamos. Isso <strong>de</strong>ixaria<br />
careca muito CFO por aí.<br />
Numa agência menor e mais ágil, conseguimos<br />
<strong>de</strong>senhar uma solução feita especificamente<br />
para o problema, o prazo e o<br />
bolso <strong>de</strong> cada cliente. Nada <strong>de</strong> solução <strong>de</strong><br />
prateleira, esperando o problema chegar.<br />
Cada caso é um caso. Primeiro analisamos<br />
a dor, para <strong>de</strong>pois receitar o remédio. Sem<br />
panaceias. E nenhuma dor é pequena <strong>de</strong>mais<br />
que não mereça a atenção <strong>de</strong> quem a<br />
agência tem <strong>de</strong> melhor para resolvê-la.<br />
Essas são algumas das vantagens <strong>de</strong> ser<br />
pequeno. Ah, as rodinhas das nossas ca<strong>de</strong>iras<br />
também quebram <strong>de</strong> vez em quando.<br />
Mas a gente conserta rapidinho.<br />
Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma<br />
rodolfo@momapro.com.br<br />
38 <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2021</strong> - jornal propmark