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edição de 25 de abril de 2022

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última página<br />

Sebastian Herrmann/Unsplash<br />

a zona da<br />

virtualida<strong>de</strong><br />

Stalimir Vieira<br />

comunicação virou uma enxurrada <strong>de</strong><br />

A entulhos. A menos que você tenha objetivos<br />

muito claros em sua busca, ao acionar<br />

seus meios <strong>de</strong> acesso à informação, será virtualmente<br />

atropelado por uma avalanche <strong>de</strong><br />

mensagens, em que já não se distingue claramente<br />

o que é notícia e o que é propaganda.<br />

Tudo ocupa o mesmo espaço ao mesmo<br />

tempo. Paralelamente, com o acirramento<br />

do <strong>de</strong>bate político, a recorrência a <strong>de</strong>terminados<br />

temas, <strong>de</strong> preferência polêmicos,<br />

transforma a mensagem informativa<br />

em doutrinação com<br />

objetivos eleitorais, gerando um<br />

permanente estado <strong>de</strong> instigação<br />

emocional.<br />

Trata-se sempre <strong>de</strong> algum conceito<br />

a contestar ou a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. A<br />

propaganda, por sua vez, vê-se na<br />

obrigação <strong>de</strong> algum engajamento,<br />

a fim <strong>de</strong> conquistar nichos, engrossando<br />

o caldo propício a enfrentamentos<br />

i<strong>de</strong>ológicos.<br />

A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m com que esse conteúdo circula,<br />

ainda que, em tese, obe<strong>de</strong>cendo a algum<br />

tipo <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>terminação, ao ingressar<br />

no espaço acessível à nossa percepção, per<strong>de</strong><br />

essa característica, e se torna mais um<br />

item a correr pela tela, entre tantos outros,<br />

menos ou mais interessantes, ou absolutamente<br />

<strong>de</strong>sinteressantes.<br />

“A<br />

propAgAndA,<br />

por suA vez,<br />

vê-se nA<br />

obrigAção<br />

<strong>de</strong> Algum<br />

engAjAmento”<br />

Tudo se nivela, <strong>de</strong> um relato científico a<br />

uma piada homofóbica; <strong>de</strong> um comercial<br />

para o Dia das Mães a uma abordagem policial;<br />

<strong>de</strong> uma sugestão <strong>de</strong> viagem a um ato <strong>de</strong><br />

racismo; <strong>de</strong> um gol <strong>de</strong> bicicleta a um avião<br />

arremetendo; <strong>de</strong> uma receita <strong>de</strong> comida a<br />

um flagrante <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. O mundo da<br />

comunicação virtual, percorrido aleatoriamente,<br />

principalmente por quem tem interesses<br />

ecléticos, é uma verda<strong>de</strong>ira zona.<br />

Talvez aí resida o segredo do seu fascínio,<br />

essa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um apanhado geral<br />

do que, na média, estamos nos transformando.<br />

Nesse mundo, tudo é revelado, sem<br />

disfarce, porque é um mundo à feição para<br />

uma exposição inescrupulosa da socieda<strong>de</strong>.<br />

Se no mundo real, há um certo pudor, no<br />

mundo virtual não há nenhum, seja <strong>de</strong> comportamento,<br />

seja <strong>de</strong> opinião. Se no mundo<br />

real há um certo compromisso com a realida<strong>de</strong>,<br />

no mundo virtual, o caminho é livre para<br />

o <strong>de</strong>senho da vida que se <strong>de</strong>sejar.<br />

É um mundo on<strong>de</strong> compromisso<br />

e <strong>de</strong>scompromisso têm o<br />

mesmo espaço e o mesmo tempo,<br />

o mesmo po<strong>de</strong>r e a mesma<br />

tolerância. Fico me perguntando,<br />

certamente como muitos outros,<br />

sobremaneira gente mais<br />

velha, a que diabo <strong>de</strong> situação<br />

isso vai nos levar.<br />

Porque se nós, os mais adultos<br />

e preparados, somos treinados,<br />

com a ida<strong>de</strong>, a separar o joio do trigo, mesmo<br />

aquele joio a que técnicas apuradíssimas<br />

<strong>de</strong>ram forma <strong>de</strong> trigo, o que ocorrerá com as<br />

novas gerações, que se formam sob a tutela<br />

<strong>de</strong>sse permanente estado <strong>de</strong> manipulação e<br />

toda sorte <strong>de</strong> estímulos contraditórios?<br />

Sem contar o fato <strong>de</strong> permanecerem, horas<br />

e dias, plugados a jogos e <strong>de</strong>safios, extensões<br />

humanas <strong>de</strong> seus aparelhos, fazendo<br />

literalmente da virtualida<strong>de</strong> a sua vida.<br />

Para além das questões psíquicas, é preocupante<br />

o que esse <strong>de</strong>sligamento po<strong>de</strong> provocar<br />

no comportamento relativo à vida real.<br />

Hoje, fala-se muito em engajamento. Mas<br />

há muito pouco <strong>de</strong> mobilização. Está todo<br />

mundo ocupado virtualmente, inclusive em<br />

discutir o assunto. Como eu, nesse texto.<br />

Stalimir Vieira é diretor da Base <strong>de</strong> Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

34 <strong>25</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark

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