ChicosO retrato fielNão creias nos meus retratos,nenhum deles me revela,ai, não me julgues assim!Minha cara verdadeirafugiu às penas do corpoficou isenta da vida.Toda minha faceiricee minha vaidade todaestão na sonora face;Naquela que não foi vistae que paira, levitando,em meio a um mundo de cegos.Os meus retratos são váriose neles não terás nuncao meu rosto de poesia.Não olhes os meus retratos,nem me suponhas em mim.Em Velha Poesia (1922)18
Mulheres & LetrasChicos* Emerson Teixeira CardosoQuando o assunto é mulher não falta aoensaísta Guilhermino Cesar um afago: as mulheresgaúchas, segundo ele, participaram ativamentedo processo econômico naquela região, epor isso caminharam precocemente para o magistério,a imprensa, o livro, enfim, para as ocupaçõesliberais.Isto, principalmente levando-se em contaque a escravaria, por lá não medrou como ocorreunas regiões onde dela lançou mão o senhorde engenho. Nem ao açoriano, nem aos colonositalianos ou alemães foram outorgados esses direitos,já que a legislação imperial não permitiao trabalho servil nos lotes da colônia, daí formandopor ali, uma sociedade menos marcadapelo aviltamento do trabalho atribuído ao negro."A mulher era mais parceira do marido doque o seu aí Jesus cercado de mucamas, tafulariase babados" como se expressou no seu"Notícias do Norte", o famoso historiadorO mesmo se pode dizer no que concerneao fazer literário: a primeira pessoa a publicaruma obra em versos na província foi a ceguinhado Rio Grande, Delfina Benigno da Cunha. Seuspoemas, Poesias oferecidas às senhoras riograndenseapareceram em l834.Maria José Barreto, publicando na revistaGuanabara, surgiu também no cenário literáriodo Sul, como exemplo de mulher determinada.Militou na política e na literatura da época, cujacaracterística principal foi a exasperação românticae a ideologia. Outra, que como a primeira,foi adversária dos Farrapos que experimentou osabor de sua pena."de faca na bota", segundo a expressão deGuilhermino Cesar, fundou um jornal:"Belonairada” contra os sectarismos de Momo que nãoera bem o que se poderia chamar de jornal. Seriaantes um Pasquim com o intuito de desancaraqueles que aderiam a folia grossa. Achandopouco, fundou outro, "Idade de Ouro", um dosprimeiros de nossa imprensa.Dentre as poetisas esquecidas de nossa literatura,só uma havia publicado em livro: MariaClemência da Silveira Sampaio. Mas de acordocom fontes fidedignas a gauchinha dos "Versosheroicos", dedicados a d. Pedro I, publicado naimprensa régia, revelava mais senso prático quetalento poético. Mas sobravam lhe conhecimentosdos assuntos de comércio, transportes e lavourado Rio Grande.Como verificamos, a literatura feminina doBrasil nos seus primórdios estava estritamenteligada à vida política e à vida econômica.Em l925, antes de Manuel Bandeira escreveros seus versos a Baco, a Momo e a Vênus naabertura do seu "Carnaval", uma mulher o antecipouem despudor do estro. Era Gilka Machadoque com 22 anos publicou o seu livro de estreia,"Cristais partidos".Nele ela estampou versos assim: "Uma brisasutil, úmida, fria, lassa / erra de quando emquando. É uma noite de bodas/ Esta noite.../ Hápor tudo um sensual arrepio. / Sinto pêlos novento... é a volúpia que passa / Flexuosa, a seroçar por sobre as coisas todas/ tal como umagata errando em seu eterno cio".Com todas essas cousas, pêlos e cios, comoela mesmo dizia teriam sido esses versos escritosanos antes, nos seus treze. Segundo Ruy19
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Entre a luz e as trevasChicos* Kris
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Chicostuação em que, pisando no s
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ChicosJá Werneck diz, por exemplo,
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ChicosSala privêRonaldo Britoano d