Chicos - 69 de 13.07.2022
Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar gratuitamente nossas edições. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar gratuitamente nossas edições.
A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
- TAGS
- chicos
- literatura
- cataguases
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Chicos
a casa voltou a brilhar com a limpeza e com
o sol. As janelas abertas e a música denunciavam
pedacinhos de alegria espalhados na
sala, na cozinha, nos quartos.
Orlando até estranhou o dia em que
chegou para pegar as crianças e ela nem deu
as caras. Cantava alto dentro de casa e por lá
ficou cantarolando o refrão de uma música
alegre. Nem parecia mais com a mãe e com
a avó que cantavam baixinho. Depois ligou:
era pra ele deixar os meninos mais tarde no
domingo. Não estaria em casa na hora combinada.
Ele ficou intrigado, incomodado, tentou
se aproximar para saber o que estava
acontecendo, telefonou, passou por lá no
meio da semana com a desculpa de ver as
crianças, mas ela não deu chance. A danadinha,
faceira, agora era só mistério. Suportou
comentários de toda sorte, cantadas inoportunas,
mas se recuperou e está bem feliz.
Não se abala mais e nem se encolhe diante
de cochichos e olhares maldosos. Cabeça erguida
e sorriso no rosto, segue toda dona de
si. Até andei me lembrando de quando arranjei
um novo emprego anos atrás. Foi uma
luta, demorou muito, mas valeu a pena. Es-
* José Vecchi de Carvalho
tou lá até hoje, é certo que tenho uns probleminhas
vez por outra, mas é bem melhor
que o anterior. Jerusa também suturou os
rasgos da ingratidão, deixou de lado o fardo
que lhe pesava os ombros, e foi cedendo espaço
à minha constante presença.
Orlando, agora, anda de bronca comigo,
tem me evitado e, quando nos encontramos
por acaso, me olha com cara feia, parece
rosnar qualquer coisa que não entendo,
nem quero. Nunca tive afeição nenhuma por
ele, e agora, então...
E lá vem ela toda cheia de si. Arrasta
um perfume de loção pós-banho arrebatador.
E também uma multidão de olhares atrás do
seu passo insinuante, um requebro pra lá de
tentador. E eu? Bem, eu fico enciumado ao
vê-la atrair tantos olhares. Me encolho acabrunhado,
até ela me abraçar e fazer carícias
e declarações que nunca ouvira antes de ninguém.
Aí a coisa muda, esqueço o mundo lá
fora, chego a pensar que estou sonhando,
que não mereço tanta felicidade e vou deixando
as coisas seguirem ao jeito e ao gosto
de Jerusa.
Nasceu em Cataguases, após morar por muito tempo em Viçosa vive
hoje em Paula Candido todas cidades mineiras. Coautor de A casa da
Rua Alferes e outras crônicas (2006), e autor de Duas Cruzes (contos
2018), Contradança (contos 2020) e Cada gota de silêncio (contos 2021)
58