30.12.2022 Views

Jornal das Oficinas 204

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DESTAQUE<br />

EM PORTUGAL, A EXPERIÊNCIA E O CONHECIMENTO NÃO SÃO vaLORIZADOS<br />

E MUITas CHEFIAS TÊM MEDO DE COLOCAR PESSOAS VÁLIDas. COM ESTA<br />

MENTALIDADE A EVOLUÇÃO SERÁ MAIS LENTA<br />

a construção civil ou para a mecânica<br />

automóvel e hoje em dia as coisas<br />

não são assim”. No entanto, refere,<br />

“se abrirmos um curso de chapa e<br />

pintura – na ATEC não temos esta<br />

área – não temos inscrições, talvez<br />

ainda pela ideia mal percecionada de<br />

que as pessoas que iam para esta área<br />

tinham poucos estudos. Uma ideia<br />

errada!”. Pedro Oliveira acredita que<br />

“cabe a nós, setor, estar envolvido,<br />

mostrar as boas práticas e o trabalho<br />

dos bons profissionais que temos”.<br />

Também para Jorge Zózimo, diretor<br />

da T. Academy, “criar o bicho do<br />

automóvel nos jovens” é parte da<br />

solução para o problema da falta de<br />

mão-de-obra. O responsável da empresa<br />

de formação assevera que “os<br />

jovens têm de sentir que é interessante<br />

e que não vão andar constantemente<br />

sujos de óleo e a chapinhar<br />

em lama. As oficinas não são assim,<br />

são muitíssimo boas, na maior parte<br />

dos casos”. Além disso, aponta que<br />

é preciso desmistificar que a colisão<br />

não é um trabalho agreste e que hoje<br />

em dia exige conhecimentos a nível<br />

da engenharia automóvel.<br />

Paralelamente à valorização da profissão,<br />

é, segundo os nossos entrevistados,<br />

absolutamente necessário<br />

proceder a uma revisão <strong>das</strong> remunerações,<br />

motivo que também está a arredar<br />

cada vez mais profissionais <strong>das</strong><br />

oficinas. António Caldeira, do CE-<br />

PRA, advoga “a valorização da mão-<br />

-de-obra”. Assim, os clientes pagam<br />

mais pelos serviços realizados, permitindo<br />

aos empresários pagar mais<br />

aos seus profissionais. Já Jorge Zózimo,<br />

indica como solução a melhoria<br />

da gestão oficinal, pois “acontece<br />

muitas vezes esta ser deficiente, com<br />

muitas horas mortas para os mecânicos.<br />

Andam alguns a limpar oficina,<br />

outros a passear no balcão <strong>das</strong> peças,<br />

outros não têm o trabalho devidamente<br />

organizado e o número de horas<br />

que se perdem em algumas oficinas,<br />

é enorme”. No fundo, repara, “o<br />

número de técnicos de que necessito<br />

poderia ser menor e poderia remunerá-los<br />

melhor. Há margem para aumentar<br />

as condições que temos para<br />

oferecer aos profissionais”. Relevante<br />

também, seria, pelo menos, divulgar<br />

no anúncio de emprego o intervalo<br />

de valores disponíveis para o salário<br />

do funcionário a contratar, um facto<br />

que, para o consultor Manuel Vala<strong>das</strong>,<br />

logo à partida, “não gera motivação<br />

para quem o está a ler”.<br />

Chegar e entrar na verdadeira realidade<br />

do setor nem sequer é o problema,<br />

na opinião de Pedro Oliveira,<br />

da ATEC, que conta que o que desincentiva<br />

os jovens de se manterem<br />

na profissão é aperceberem-se que<br />

têm colegas com “40/50 anos, com<br />

ordenados muito baixos e não querem<br />

isso para o futuro deles, pelo que<br />

procuram ir para outras áreas onde<br />

são mais reconhecidos”.<br />

Novas gerações<br />

Os jovens atuais têm mentalidades<br />

e objetivos diferentes dos profissionais<br />

que entraram no ativo nos anos<br />

70/80/90. Se estes últimos queriam<br />

“estabilidade, um vencimento fixo e<br />

uma ligação à empresa”, como descreve<br />

António Caldeira, do CEPRA,<br />

hoje “um jovem compara qualquer<br />

remuneração e regalia, porque não<br />

há dificuldades de empregabilidade”.<br />

Na verdade, o cenário mais comum<br />

é mesmo a «dança <strong>das</strong> cadeiras», de<br />

empresa em empresa, a ver «quem<br />

dá mais». O desespero dos empresários<br />

para encontrar mão de obra qualificada<br />

é tal, que o que mais acontece<br />

é o «roubo» de profissionais, que é “a<br />

saída mais fácil, ir ao vizinho, oferecer<br />

mais dinheiro e trazer o funcionário”,<br />

como diz Pedro Oliveira, da<br />

ATEC. O responsável não concorda<br />

que exista “escassez de mão de obra<br />

qualificada”, até porque “notamos<br />

que existem muitos interessados em<br />

tirar os cursos de mecatrónica automóvel<br />

que nós tempos. O que reparamos<br />

depois é que o mercado não dá<br />

continuidade a todos esses formandos<br />

que nós colocamos nas oficinas<br />

a estagiar e importa pensar porquê”.<br />

Nestes tempos em que a tecnologia<br />

evolui sem parar, o setor de pós-venda<br />

automóvel precisa cada vez mais<br />

de profissionais preparados para<br />

lidar com os veículos mais recentes<br />

que chegam diariamente às estra<strong>das</strong>.<br />

Os recursos humanos de há 40/50<br />

anos tinham de ter “brio profissional,<br />

orgulho na profissão e deveriam<br />

trabalhar para fazer o correto à primeira<br />

e com verdadeiro entusiasmo”,<br />

diz Jorge Zózimo, que acrescenta que<br />

hoje em dia, a estas caraterísticas se<br />

soma a obrigatoriedade de ter outras<br />

competências técnicas, “formação<br />

continuada, estar up to date com<br />

os produtos que vão reparar… mas<br />

também temos de lhes dar condições<br />

na área onde trabalham: elevadores<br />

como deve de ser, ferramentas de<br />

todo o tipo, ter um ambiente limpo,<br />

observando to<strong>das</strong> as regras de<br />

10 Janeiro I 2023 www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!