Jornal das Oficinas 204
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DESTAQUE<br />
EM PORTUGAL, A EXPERIÊNCIA E O CONHECIMENTO NÃO SÃO vaLORIZADOS<br />
E MUITas CHEFIAS TÊM MEDO DE COLOCAR PESSOAS VÁLIDas. COM ESTA<br />
MENTALIDADE A EVOLUÇÃO SERÁ MAIS LENTA<br />
a construção civil ou para a mecânica<br />
automóvel e hoje em dia as coisas<br />
não são assim”. No entanto, refere,<br />
“se abrirmos um curso de chapa e<br />
pintura – na ATEC não temos esta<br />
área – não temos inscrições, talvez<br />
ainda pela ideia mal percecionada de<br />
que as pessoas que iam para esta área<br />
tinham poucos estudos. Uma ideia<br />
errada!”. Pedro Oliveira acredita que<br />
“cabe a nós, setor, estar envolvido,<br />
mostrar as boas práticas e o trabalho<br />
dos bons profissionais que temos”.<br />
Também para Jorge Zózimo, diretor<br />
da T. Academy, “criar o bicho do<br />
automóvel nos jovens” é parte da<br />
solução para o problema da falta de<br />
mão-de-obra. O responsável da empresa<br />
de formação assevera que “os<br />
jovens têm de sentir que é interessante<br />
e que não vão andar constantemente<br />
sujos de óleo e a chapinhar<br />
em lama. As oficinas não são assim,<br />
são muitíssimo boas, na maior parte<br />
dos casos”. Além disso, aponta que<br />
é preciso desmistificar que a colisão<br />
não é um trabalho agreste e que hoje<br />
em dia exige conhecimentos a nível<br />
da engenharia automóvel.<br />
Paralelamente à valorização da profissão,<br />
é, segundo os nossos entrevistados,<br />
absolutamente necessário<br />
proceder a uma revisão <strong>das</strong> remunerações,<br />
motivo que também está a arredar<br />
cada vez mais profissionais <strong>das</strong><br />
oficinas. António Caldeira, do CE-<br />
PRA, advoga “a valorização da mão-<br />
-de-obra”. Assim, os clientes pagam<br />
mais pelos serviços realizados, permitindo<br />
aos empresários pagar mais<br />
aos seus profissionais. Já Jorge Zózimo,<br />
indica como solução a melhoria<br />
da gestão oficinal, pois “acontece<br />
muitas vezes esta ser deficiente, com<br />
muitas horas mortas para os mecânicos.<br />
Andam alguns a limpar oficina,<br />
outros a passear no balcão <strong>das</strong> peças,<br />
outros não têm o trabalho devidamente<br />
organizado e o número de horas<br />
que se perdem em algumas oficinas,<br />
é enorme”. No fundo, repara, “o<br />
número de técnicos de que necessito<br />
poderia ser menor e poderia remunerá-los<br />
melhor. Há margem para aumentar<br />
as condições que temos para<br />
oferecer aos profissionais”. Relevante<br />
também, seria, pelo menos, divulgar<br />
no anúncio de emprego o intervalo<br />
de valores disponíveis para o salário<br />
do funcionário a contratar, um facto<br />
que, para o consultor Manuel Vala<strong>das</strong>,<br />
logo à partida, “não gera motivação<br />
para quem o está a ler”.<br />
Chegar e entrar na verdadeira realidade<br />
do setor nem sequer é o problema,<br />
na opinião de Pedro Oliveira,<br />
da ATEC, que conta que o que desincentiva<br />
os jovens de se manterem<br />
na profissão é aperceberem-se que<br />
têm colegas com “40/50 anos, com<br />
ordenados muito baixos e não querem<br />
isso para o futuro deles, pelo que<br />
procuram ir para outras áreas onde<br />
são mais reconhecidos”.<br />
Novas gerações<br />
Os jovens atuais têm mentalidades<br />
e objetivos diferentes dos profissionais<br />
que entraram no ativo nos anos<br />
70/80/90. Se estes últimos queriam<br />
“estabilidade, um vencimento fixo e<br />
uma ligação à empresa”, como descreve<br />
António Caldeira, do CEPRA,<br />
hoje “um jovem compara qualquer<br />
remuneração e regalia, porque não<br />
há dificuldades de empregabilidade”.<br />
Na verdade, o cenário mais comum<br />
é mesmo a «dança <strong>das</strong> cadeiras», de<br />
empresa em empresa, a ver «quem<br />
dá mais». O desespero dos empresários<br />
para encontrar mão de obra qualificada<br />
é tal, que o que mais acontece<br />
é o «roubo» de profissionais, que é “a<br />
saída mais fácil, ir ao vizinho, oferecer<br />
mais dinheiro e trazer o funcionário”,<br />
como diz Pedro Oliveira, da<br />
ATEC. O responsável não concorda<br />
que exista “escassez de mão de obra<br />
qualificada”, até porque “notamos<br />
que existem muitos interessados em<br />
tirar os cursos de mecatrónica automóvel<br />
que nós tempos. O que reparamos<br />
depois é que o mercado não dá<br />
continuidade a todos esses formandos<br />
que nós colocamos nas oficinas<br />
a estagiar e importa pensar porquê”.<br />
Nestes tempos em que a tecnologia<br />
evolui sem parar, o setor de pós-venda<br />
automóvel precisa cada vez mais<br />
de profissionais preparados para<br />
lidar com os veículos mais recentes<br />
que chegam diariamente às estra<strong>das</strong>.<br />
Os recursos humanos de há 40/50<br />
anos tinham de ter “brio profissional,<br />
orgulho na profissão e deveriam<br />
trabalhar para fazer o correto à primeira<br />
e com verdadeiro entusiasmo”,<br />
diz Jorge Zózimo, que acrescenta que<br />
hoje em dia, a estas caraterísticas se<br />
soma a obrigatoriedade de ter outras<br />
competências técnicas, “formação<br />
continuada, estar up to date com<br />
os produtos que vão reparar… mas<br />
também temos de lhes dar condições<br />
na área onde trabalham: elevadores<br />
como deve de ser, ferramentas de<br />
todo o tipo, ter um ambiente limpo,<br />
observando to<strong>das</strong> as regras de<br />
10 Janeiro I 2023 www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com