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edição de 17 de julho de 2023

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negócios &<br />

sustentabilida<strong>de</strong><br />

Alê Oliveira<br />

Produtos<br />

bio<strong>de</strong>gradáveis,<br />

solução ambiental<br />

ou greenwashing?<br />

Ricardo Esturaro<br />

é escritor, administrador <strong>de</strong> empresas<br />

e especialista em marketing, estratégia<br />

e sustentabilida<strong>de</strong><br />

ricardo@esturaro.com<br />

Ricardo Esturaro<br />

As marcas não estão imunes às críticas e à responsabilida<strong>de</strong><br />

sobre o impacto do <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong><br />

seus produtos na natureza, especialmente no<br />

Brasil, on<strong>de</strong> a gestão <strong>de</strong> resíduos ainda é precária e os<br />

programas <strong>de</strong> coleta seletiva não estão amplamente<br />

implementados.<br />

Uma solução frequentemente adotada é a utilização<br />

<strong>de</strong> produtos e embalagens bio<strong>de</strong>gradáveis. A i<strong>de</strong>ia por<br />

trás disso é que esses materiais se <strong>de</strong>compõem naturalmente<br />

no meio ambiente por meio <strong>de</strong> processos biológicos.<br />

Dessa forma, na teoria, eles não acumulam resíduos<br />

persistentes no solo, na água ou no ar, reduzindo assim<br />

seu impacto negativo no meio ambiente.<br />

No entanto, é importante ressaltar que o termo “bio<strong>de</strong>gradável”<br />

se refere a um material que é <strong>de</strong>gradado<br />

por ativida<strong>de</strong> biológica, porém necessita <strong>de</strong> condições<br />

especificas para a sua compostagem, o que nem sempre<br />

acontece. Isso nos leva a questionar se os produtos bio<strong>de</strong>gradáveis<br />

são realmente uma solução ambiental ou<br />

apenas mais uma forma <strong>de</strong> maquiagem ver<strong>de</strong>, conhecida<br />

como greenwashing, que ocorre quando empresas ou<br />

marcas afirmam ter ações e práticas ambientalmente<br />

sustentáveis, quando na realida<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s são<br />

prejudiciais ao meio ambiente.<br />

Um problema relacionado é que nem todos os materiais<br />

bio<strong>de</strong>gradáveis são a<strong>de</strong>quados para <strong>de</strong>composição<br />

em aterros sanitários. Além disso, mesmo quando<br />

<strong>de</strong>scartados corretamente, os materiais bio<strong>de</strong>gradáveis<br />

vão liberar gases <strong>de</strong> efeito estufa durante o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>composição, contribuindo para o aumento das emissões<br />

<strong>de</strong>sses gases.<br />

Um exemplo preocupante são as sacolas plásticas<br />

bio<strong>de</strong>gradáveis, que po<strong>de</strong>m levar anos para se <strong>de</strong>compor<br />

completamente. Um estudo realizado na Inglaterra<br />

revelou que sacolas plásticas bio<strong>de</strong>gradáveis ainda estavam<br />

intactas três anos após serem enterradas no solo<br />

e no mar. Isso levanta dúvidas sobre a eficácia <strong>de</strong>sses<br />

produtos na redução da poluição plástica.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que o conceito <strong>de</strong> bio<strong>de</strong>gradabilida<strong>de</strong><br />

vai contra o princípio da economia circular, que enfatiza<br />

a reutilização <strong>de</strong> materiais por meio da remanufatura,<br />

reciclagem, reutilização e regeneração da natureza. Em vez<br />

disso, o processo para tornar um material bio<strong>de</strong>gradável<br />

envolve uma série <strong>de</strong> etapas, energia e produtos químicos,<br />

dificultando e encarecendo o que <strong>de</strong>veria ser o objetivo <strong>de</strong><br />

todos: a reciclagem e a reutilização dos materiais.<br />

O maior aliado ambiental para qualquer marca é<br />

incentivar seus consumidores a fazerem o <strong>de</strong>scarte correto<br />

<strong>de</strong> seus produtos. No entanto, o conceito do bio<strong>de</strong>gradável<br />

po<strong>de</strong> dificultar o engajamento do consumidor<br />

em adotar uma atitu<strong>de</strong> ativa e responsável em relação<br />

ao <strong>de</strong>scarte dos produtos e embalagens, uma vez que<br />

a comunicação enfatiza que eles não causam danos à<br />

natureza. Isso po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma incoerência em<br />

termos <strong>de</strong> educação ambiental do consumidor.<br />

Em um mundo on<strong>de</strong> a preocupação com a sustentabilida<strong>de</strong><br />

e a redução do impacto ambiental é cada vez<br />

maior, as empresas e seus <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> marketing<br />

<strong>de</strong>vem ser claros e transparentes em relação aos materiais<br />

utilizados em seus produtos, além <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rem<br />

os benefícios ambientais reais que oferecem.<br />

Além disso, é crucial alinhar a eficiência econômica e<br />

ambiental em todas as etapas do ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um produto,<br />

a fim <strong>de</strong> reduzir o <strong>de</strong>sperdício e maximizar o valor<br />

dos materiais utilizados ao longo <strong>de</strong> todo o ciclo. Esses<br />

conceitos, todos baseados na economia circular, po<strong>de</strong>m<br />

ser os melhores aliados para as empresas aumentarem<br />

a eficiência <strong>de</strong> seus negócios, ao contrário do material<br />

bio<strong>de</strong>gradável que, mais do que uma solução ambiental,<br />

parece ser apenas uma forma <strong>de</strong> greenwashing.<br />

14 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark

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