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negócios &<br />
sustentabilida<strong>de</strong><br />
Alê Oliveira<br />
Produtos<br />
bio<strong>de</strong>gradáveis,<br />
solução ambiental<br />
ou greenwashing?<br />
Ricardo Esturaro<br />
é escritor, administrador <strong>de</strong> empresas<br />
e especialista em marketing, estratégia<br />
e sustentabilida<strong>de</strong><br />
ricardo@esturaro.com<br />
Ricardo Esturaro<br />
As marcas não estão imunes às críticas e à responsabilida<strong>de</strong><br />
sobre o impacto do <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong><br />
seus produtos na natureza, especialmente no<br />
Brasil, on<strong>de</strong> a gestão <strong>de</strong> resíduos ainda é precária e os<br />
programas <strong>de</strong> coleta seletiva não estão amplamente<br />
implementados.<br />
Uma solução frequentemente adotada é a utilização<br />
<strong>de</strong> produtos e embalagens bio<strong>de</strong>gradáveis. A i<strong>de</strong>ia por<br />
trás disso é que esses materiais se <strong>de</strong>compõem naturalmente<br />
no meio ambiente por meio <strong>de</strong> processos biológicos.<br />
Dessa forma, na teoria, eles não acumulam resíduos<br />
persistentes no solo, na água ou no ar, reduzindo assim<br />
seu impacto negativo no meio ambiente.<br />
No entanto, é importante ressaltar que o termo “bio<strong>de</strong>gradável”<br />
se refere a um material que é <strong>de</strong>gradado<br />
por ativida<strong>de</strong> biológica, porém necessita <strong>de</strong> condições<br />
especificas para a sua compostagem, o que nem sempre<br />
acontece. Isso nos leva a questionar se os produtos bio<strong>de</strong>gradáveis<br />
são realmente uma solução ambiental ou<br />
apenas mais uma forma <strong>de</strong> maquiagem ver<strong>de</strong>, conhecida<br />
como greenwashing, que ocorre quando empresas ou<br />
marcas afirmam ter ações e práticas ambientalmente<br />
sustentáveis, quando na realida<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s são<br />
prejudiciais ao meio ambiente.<br />
Um problema relacionado é que nem todos os materiais<br />
bio<strong>de</strong>gradáveis são a<strong>de</strong>quados para <strong>de</strong>composição<br />
em aterros sanitários. Além disso, mesmo quando<br />
<strong>de</strong>scartados corretamente, os materiais bio<strong>de</strong>gradáveis<br />
vão liberar gases <strong>de</strong> efeito estufa durante o processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>composição, contribuindo para o aumento das emissões<br />
<strong>de</strong>sses gases.<br />
Um exemplo preocupante são as sacolas plásticas<br />
bio<strong>de</strong>gradáveis, que po<strong>de</strong>m levar anos para se <strong>de</strong>compor<br />
completamente. Um estudo realizado na Inglaterra<br />
revelou que sacolas plásticas bio<strong>de</strong>gradáveis ainda estavam<br />
intactas três anos após serem enterradas no solo<br />
e no mar. Isso levanta dúvidas sobre a eficácia <strong>de</strong>sses<br />
produtos na redução da poluição plástica.<br />
É importante <strong>de</strong>stacar que o conceito <strong>de</strong> bio<strong>de</strong>gradabilida<strong>de</strong><br />
vai contra o princípio da economia circular, que enfatiza<br />
a reutilização <strong>de</strong> materiais por meio da remanufatura,<br />
reciclagem, reutilização e regeneração da natureza. Em vez<br />
disso, o processo para tornar um material bio<strong>de</strong>gradável<br />
envolve uma série <strong>de</strong> etapas, energia e produtos químicos,<br />
dificultando e encarecendo o que <strong>de</strong>veria ser o objetivo <strong>de</strong><br />
todos: a reciclagem e a reutilização dos materiais.<br />
O maior aliado ambiental para qualquer marca é<br />
incentivar seus consumidores a fazerem o <strong>de</strong>scarte correto<br />
<strong>de</strong> seus produtos. No entanto, o conceito do bio<strong>de</strong>gradável<br />
po<strong>de</strong> dificultar o engajamento do consumidor<br />
em adotar uma atitu<strong>de</strong> ativa e responsável em relação<br />
ao <strong>de</strong>scarte dos produtos e embalagens, uma vez que<br />
a comunicação enfatiza que eles não causam danos à<br />
natureza. Isso po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma incoerência em<br />
termos <strong>de</strong> educação ambiental do consumidor.<br />
Em um mundo on<strong>de</strong> a preocupação com a sustentabilida<strong>de</strong><br />
e a redução do impacto ambiental é cada vez<br />
maior, as empresas e seus <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> marketing<br />
<strong>de</strong>vem ser claros e transparentes em relação aos materiais<br />
utilizados em seus produtos, além <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rem<br />
os benefícios ambientais reais que oferecem.<br />
Além disso, é crucial alinhar a eficiência econômica e<br />
ambiental em todas as etapas do ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um produto,<br />
a fim <strong>de</strong> reduzir o <strong>de</strong>sperdício e maximizar o valor<br />
dos materiais utilizados ao longo <strong>de</strong> todo o ciclo. Esses<br />
conceitos, todos baseados na economia circular, po<strong>de</strong>m<br />
ser os melhores aliados para as empresas aumentarem<br />
a eficiência <strong>de</strong> seus negócios, ao contrário do material<br />
bio<strong>de</strong>gradável que, mais do que uma solução ambiental,<br />
parece ser apenas uma forma <strong>de</strong> greenwashing.<br />
14 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark